segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Review Exclusivo: Pearl Jam (Porto Alegre, 11 de novembro de 2011)




Por Micael Machado
Fotos por Kelen Meirelles


Os leitores do blog já devem saber da minha paixão pelo Pearl Jam, já expressa em alguns textos aqui na Consultoria do Rock. Pois sexta feira, 11/11/11 (data cabalística!), tive o prazer de assistir ao grupo ao vivo mais uma vez, e confirmar que, sim, eu adoro mesmo o PJ! 


Já havia presenciado um show da banda em 2005, no Gigantinho, na mesma capital gaúcha. Seis anos depois, o quinteto formado por Eddie Vedder (vocais e guitarra), Stone Gossard e Mike McCready (guitarras), Jeff Ament (baixo) e Matt Cameron (bateria) – acrescidos, já a algum tempo, do tecladista Kenneth “Boom” Gaspar (que tocou com uma enorme bandeira do Brasil pendurada em seu teclado) – estava de volta à Porto Alegre, desta vez tocando no estádio do EC São José (o famoso “Zequinha Stadium”, como o mesmo ficou conhecido após ser divulgado com esse nome no site oficial do REM quando do show da banda no mesmo local em 2008). Naquela ocasião, o show só não foi perfeito porque o grupo não executou “Black”, minha canção favorita deles, sendo o show a que assisti o único da turnê sul-americana onde a mesma não foi tocada. 



Agora, o Pearl Jam retornava ao RS para encerrar a parte brasileira da turnê “PJ 20” (que passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, comemorando os vinte anos do conjunto), e prometendo muitos sucessos em shows de mais de duas horas e meia de duração. De quebra, ainda trazia como open act os californianos do X, lendas do punk americano, estilo que vocês sabem o quanto é caro para mim.


A abertura com a Wannabe Jalva

Mas antes de curtir os americanos, tivemos de ultrapassar o show de abertura dos gaúchos da Wannabe Jalva. Com músicas que lembram (segundo alguns) o estilo do Franz Ferdinand, a banda foi prejudicada pela péssima qualidade do som, onde tudo soava embolado e o vocal era praticamente incompreensível. Em meia hora de espetáculo, o quarteto apresentou músicas próprias que não chegaram a levantar a galera, embora tenham sido tratados com respeito pelos presentes ao local.

Pouco mais de meia hora depois do término da atração de abertura, subiu ao palco o X. Liderados por Excenne Cervenka (vocais), o quarteto, apesar dos trinta e quatro anos de carreira, era praticamente um desconhecido para mim. Sem muita enrolação, iniciaram seu set com uma mistura de rockabilly e punk que soou imensamente agradável depois do alternativo da banda anterior. Sempre pensei que o som do grupo fosse muito mais punk, mas, pelo que ouvi (e gostei muito) nesta noite, os californianos soam muito mais Cramps do que Ramones, com solos e riffs simples mas eficientes, e uma empolgação e sangue nos olhos difícil de encontrar em outras bandas com tanto tempo de estrada. Apesar da maioria das canções ser cantada pelo baixista John Doe, a baixinha Excenne marcava sua presença no palco com algumas dancinhas esquisitas e muita animação. A qualidade do som estava muito melhor do que a do show anterior, e os quarenta e cinco minutos a que tiveram direito passaram muito rápidos, com todo o povo se divertindo, curtindo e aplaudindo muito ao final de cada música.



Particularmente, a única canção que reconheci foi um cover de “Soul Kitchen”, dos Doors, em versão muito mais acelerada e punk que a original dos conterrâneos e padrinhos do X, além da anunciada “Breathless”, original de Jerry Lee Lewis. Mas a força das músicas contagiava mesmo quem não as conhecia, e foi um belo show para esquentar as turbinas. Na última música, "Devil Doll", o quarteto chamou Eddie Vedder ao palco para dividir os vocais com Excenne e Doe, causando um enorme frenesi na plateia, e antecipando o que estava por vir. Memorável!



Eddie Vedder cantando com o X

Mais alguma espera e, às nove e vinte da noite (vinte minutos depois do previsto, como é de praxe no Brasil), uma introdução pré-gravada acompanhava a entrada dos músicos de Seattle no palco. Preparado para alguma canção mais lenta no início (como foi “Long Road”, no show de 2005), fui surpreendido logo de cara por “Why Go”, a primeira das músicas de Ten que eles tocariam nessa noite. Logo ao primeiro acorde, as vinte mil pessoas presentes ao estádio pularam e cantaram ao mesmo tempo, praticamente ofuscando o som perfeito (melhor ainda que o do X) que vinha do palco. Foi também logo na música de abertura que McCready tocou o primeiro dos muitos solos memoráveis executados ao longo do setlist, para alegria dos verdadeiros roqueiros presentes ao espetáculo! 

Para manter a galera acesa, o PJ emendou “Do The Evolution”, mais uma música bastante conhecida. Com o jogo ganho logo no início, foi a hora de iniciar o passeio pelos “lados B” da discografia do grupo, como é comum a banda fazer em seus shows, com “Severed Hand” iniciando esta trajetória, logo interrompida pela aguardada “Corduroy”. Até ali, conservava o meu longo cabelo preso atrás da cabeça, mas tive de soltá-lo e “bater cabeça” alucinadamente como se estivesse em um show do Slayer. E a noite estava só começando.

O Pearl Jam no palco

“Got Some” não recebeu a devida atenção do público, e a linda balada “Low Light” pode ter empolgado apenas a alguns poucos, mas serviu para mostrar que nem só de “pauleiras” é composta a música do quinteto, sendo o primeiro de muitos momentos “românticos” com que os casais presentes ao local seriam presenteados ao longo do show. “Given To Fly” colocou todo mundo em polvorosa novamente, e “Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town” novamente acalmou o pessoal. Foi indescritível a emoção de ouvir esta música naquele momento, uma das quais eu mais me identifico no longo repertório do PJ, em muito por causa da letra, meio piegas, mas belíssima. 

Qualquer emoção que tenha aflorado na balada anterior (e foi muita!) foi substituída pela euforia logo ao primeiro acorde de “Even Flow” um dos maiores sucessos do quinteto. Novamente o público presente ao estádio dava mostras do poder de sua voz, com a banda visivelmente satisfeita pela resposta do público de Porto Alegre. Até ali, Eddie (que passou o show inteiro bebendo vinho, assim como em 2005) já havia se dirigido ao público em sua engraçada tentativa de ler os textos em português que trazia escrito em diversas folhas, anunciando que este era o último show no Brasil, que agora lembravam que os brasileiros eram o melhor público do mundo, e que voltariam logo ao nosso país.

A garra de Vedder no microfone, com Ament nos backings

“Unthought Known” e “Present Tense” foram reconhecidas apenas pelos verdadeiros fãs, mas, quando Stone Gossard pegou um violão e executou os dois primeiros acordes de “Daughter”, muita gente expressou verbalmente sua satisfação, logo seguida pelo resto da multidão, quando a banda efetivamente iniciou a execução de mais um clássico do repertório do grupo. A sua parte do meio, sempre afeita à inclusão de covers diversos, desta vez foi intercalada com a conhecida (pelos fãs) “It’s Ok!”, e alguns gritos de “Hey Ho! Let’s Go”, mote dos Ramones, ídolos da banda e de muitos dos presentes. “1/2 Full” novamente “quebrou” a empolgação da maioria dos presentes, logo retomada com a execução de “Wishlist”. “Rats” foi uma enorme surpresa, uma música maravilhosa, mas que é uma espécie de “lado C” dentre as canções do grupo, escondida no track list de Vs e dificilmente executada ao vivo. Um legítimo “Lado B” veio na forma da aclamada “State Of Love And Trust”, e então chegamos ao ponto alto do show para este que vos escreve: com seis anos de atraso, finalmente os acordes de “Black” começavam a soar em um show do Pearl Jam ao qual eu estava presente! Se “Elderly” por pouco não me levou às lágrimas, “Black” fez o serviço com facilidade. Podem rir de mim, mas aquela melodia e (principalmente) aquela letra me atingem de tal forma que é impossível segurar a emoção que ela gera. E a execução foi perfeita, com a inclusão do trecho “we belong together” presente na versão do acústico MTV, além de todos os “tchururus” a que a música tem direito. O meu melhor momento em um show ao longo de 2011 estava completo, e fiquei com a alma lavada e enxaguada (ainda que pelas lágrimas, mas tudo bem)!

Momento do show

Ao final da música (e de quase oitenta minutos de espetáculo!), o Pearl Jam deixou o palco, com muitos acreditando ser este o final do show. Acontece que esta pausa se faz necessária devido ao fato de o grupo, já há muito tempo, disponibilizar seus shows para compra (ou download pago) através de seu site. Sendo assim, uma interrupção se faz necessária antes de a capacidade de tempo de um CD ser preenchida, para que não haja interrupções nas músicas dos mesmos, em uma atitude de respeito ao seu público por parte do PJ. 

Logo todos estavam de volta ao palco, com Eddie anunciando em português que aquela data era o aniversário de sua mulher, Jill, e pedindo ao público que cantasse parabéns para ela, da qual sentia muitas saudades. O público iniciou a cantar em inglês, mas Eddie puxou uma versão em português do meio de seus escritos, sendo logo seguido por todos os presentes. Emocionante! Vedder ainda abriu um espumante no palco, e dedicou a próxima música, “Just Breathe” (outra ilustre desconhecida para grande parte dos presentes), para sua esposa.

Eddie Vedder no telão!

Anunciada como “um pedido especial”, veio “Oceans”, também do primeiro disco, seguida por “Comatose”. Eddie então disse que a sua primeira vinda ao Brasil havia sido dez anos atrás com os Ramones, e dedicou “Light Years” ao falecido guitarrista do grupo, Johnny Ramone. A homenagem seguiu com “I Believe In Miracles”, cover do quarteto novaiorquino, em outro ponto alto do show. 

The Fixer”, conhecida de boa parte do pessoal devido à boa exposição na rádio que fez a promoção do show, levantou ainda mais a galera, e, quando Vedder meio indecisamente tocou os acordes iniciais de “Rearviewmirror”, outro ápice do show estava para chegar. Sempre gostei muito dessa música, e as viagens que a sua seção intermediária permite levam tanto a banda quanto a audiência próximos ao êxtase. A parte oficial do show chegava ao final, mas claro que ainda faltava muita coisa.

Eddie Vedder em momento guitarrista

Após o tradicional “vai e volta”, a surpreendente “Last Kiss” iniciou o bis, com toda a multidão cantando os versos do conhecido refrão, seguida por outro momento mágico em uma noite com tantos pontos altos: a execução de “Better Man”, com Eddie sozinho ao violão fazendo os acordes iniciais, e iniciando o verso “Waiting...”, para a galera continuar em uníssono a partir daí. Toda a primeira parte até o final do refrão foi executada com o vocalista atendo-se somente ao violão, e a multidão cantando os belos versos da canção (aliás, como é comum nos shows do PJ). De arrepiar todos os pelos do corpo! Após o “ô, ô, ô” do final do refrão, Vedder iniciou a parte do “talking to herself”, com a banda finalmente entrando a partir de “memories back...”, para então complementar a canção, sempre com a galera cantando junto. “Crazy Mary” (onde o longo duelo teclado/guitarra no meio da musica foi quase tão emocionante quanto o de 2005) foi outro momento de êxtase para este redator (embora muita gente tenha ficado boiando nessa fascinante canção), e então a banda acabou de vez com as poucas energias que nos restavam: emendou sem perdão “Jeremy” e “Alive”, dois dos maiores clássicos dos seus vinte anos de estrada, e que fizeram pular até mesmo as folhas do gramado artificial do Estádio. Antes de “Jeremy”, Vedder conduziu ao palco um garoto, sua irmã e um cunhado (segundo o vocalista explicou ao microfone, porque ele “estava o show inteiro na grade, e ele queria fazer com que o garoto ficasse mais confortável"). Depois de algumas fotos e abraços, os dois foram conduzidos a cadeiras sobre o palco, de onde assistiram ao resto da apresentação. Quando o telão os focava a partir daí, a irmã do garoto aparecia invariavelmente se debulhando em lágrimas, demonstrando a emoção que todos ali sentiam.

Em outro momento do show

Antes que nos recuperássemos do choque da dobradinha de Ten, a conhecida cover de Neil Young “Rockin’ In A Free World” veio indicar que o espetáculo estava acabando (com Eddie passeando pelo meio do público, através de corredores instalados no gramado do estádio para dividir o público e, segundo se comentava, evitar incidentes como o da tragédia de Roskilde, em 2000, onde nove fãs do grupo morreram pisoteados após um tumulto), não sem antes apresentar mais uma surpresa: “Indifference”, mais uma canção pouco conhecida do público geral. Como sempre, “Yellow Ledbetter” encerrou a apresentação, com as luzes do estádio acesas e Mike McCready ficando sozinho no palco para terminar a canção, não sem antes fazer referência à linda “Little Wing”, do conterrâneo de Seattle Jimi Hendrix. 

Terminadas as duas horas e cinqüenta minutos do espetáculo, ficaram algumas certezas: que o Estádio do Zequinha é mesmo um lugar ideal para este tipo de espetáculo; que Eddie Vedder é um artista de imenso carisma e capacidade de comunicação com a plateia, além de ser um baita vocalista (coisa que qualquer fã do PJ está cansado de saber); que o Pearl Jam seria uma baita jam band se resolvesse seguir esse caminho, graças ao talento de seus músicos, capazes de proporcionar enormes e prazerosas viagens instrumentais a seus fãs; que a banda tem um enorme respeito por seus fãs, não repetindo repertórios show após show, e tocando sempre o que está a fim de tocar, sem esquecer dos “cavalos de batalha” favoritos dos fãs; que mesmo se você tiver algo contra o Pearl Jam, basta vê-los ao vivo em um espetáculo como esse que será convertido à qualidade e honestidade da música do quinteto; e que Porto Alegre havia, com certeza, presenciado o melhor show de rock do ano (e eu, um dos melhores da minha vida).


Este que vos escreve, antes do início do show

Cheguei em casa depois da uma e meia da manhã, cansado e com um grande sorriso no rosto. Mas não tem problema. Afinal, como diz a canção, “I’m still alive”

Set List: 

Why Go
Do The Evolution
Severed Hand
Corduroy
Got Some
Low Light
Given To Fly
Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
Even Flow
Unthought Known
Present Tense
Daughter (Crowd Improv/Blitzkrieg Bop/It's Ok Tag) 
1/2 Full
Wishlist
Rats
State Of Love And Trust
Black

Intermission 

Just Breathe
Oceans
Comatose
Light Years
I Believe In Miracles (Ramones cover) 
The Fixer
Rearviewmirror

Encore: 

Last Kiss (Wayne Cochran cover) 
Better Man
Crazy Mary (Victoria Williams cover) 
Jeremy
Alive
Rockin' in the Free World (Neil Young cover) 
Indifference
Yellow Ledbetter

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