domingo, 14 de maio de 2023

Resenha de Show: Titãs Encontro - Porto Alegre/RS, 06/05/2023


Por Micael Machado
Fotos por Tóia Oliveira e Chico Lisboa, encontradas na página "Titãs Encontro" do facebook

Atenção: este não é um relato minucioso da apresentação da banda paulista Titãs em solo gaúcho no início de maio, mas sim um desabafo de um fã frustrado com o descaso e o desrespeito da produtora com seus clientes (que é como eles nos veem, aparentemente), e com a própria banda, por permitir que o show acontecesse nas circunstâncias narradas. Caso você queira se informar sobre aspectos técnicos ou visuais da apresentação, sinta-se livre para procurar outra matéria.

Os leitores mais assíduos do site já devem saber da minha relação de amor/ódio com os Titãs. Se, por um lado, sou um entusiasta da fase mais "pesada" da banda, de discos como Titanomaquia, Nheengatu ou os clássicos Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, por outro, execro quase por completo o lado mais "suave" que a banda adotou em vários momentos da carreira, especialmente depois do sucesso do álbum MTV Acústico, quando descobriram que a sonoridade mais "família" dava mais grana que a "rebelde", e passaram a entupir nossos ouvidos de sacarinas descartáveis como "É Preciso Saber Viver" (versão para uma canção de Roberto Carlos), "Epitáfio", "Por Que eu Sei que é Amor" e tantas outras... além disso, a relevância do grupo em termos mercadológicos vem caindo ano a ano, chegando ao ponto de seu mais recente registro, Olho Furta-Cor, do ano passado, ter sido lançado apenas em meio digital, com um registro "físico" em CD vindo ao mundo apenas este ano, de forma independente, e vendido, pelo menos a princípio, exclusivamente no site da banda (com tiragem inicial de apenas mil cópias, o que, convenhamos, para uma banda da importância dos Titãs, é muito pouco)...

Foi por isso que o anúncio da turnê Titãs Encontro em 2022 me alegrou tanto. A "reunião" da formação clássica da banda nos anos 1980 (à exceção, claro e infelizmente, do guitarrista Marcelo Fromer, morto em 2001), com os cantores Branco Mello, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos (no show, também responsável pelo saxofone em algumas músicas), Sérgio Britto (também tecladista) e Nando Reis (também baixista), além do guitarrista Tony Bellotto e do baterista Charles Gavin pela primeira vez desde 2012 (naquela ocasião, para comemorar os trinta anos do grupo; agora, para comemorar os quarenta) foi motivo para atrair meu interesse desde o primeiro momento, e o fato do local escolhido para o show ser o Estádio Beira Rio, com sua excelente estrutura e acústica já elogiada até pela equipe da banda inglesa The Who (que se apresentou no local em 2017), deixava tudo pronto para uma noite inesquecível para os fãs da banda. Com o início da turnê no final de abril, e a divulgação do repertório focado quase exclusivamente nos "clássicos" da década de 80 (apenas quatro das trinta e duas músicas apresentadas não são deste período) aumentou ainda mais o sorriso, e a expectativa para uma grande noite estava formada.

Os Titãs no palco em Porto Alegre

Infelizmente, não foi o que aconteceu. Pouco mais de uma semana antes da data prevista, a produtora 30 Entertainment anunciou a troca de local "por conta de questões técnicas e de logística", saindo do Estádio Beira Rio para o Estacionamento da Fiergs. Sim, você leu bem: a troca foi de um ESTÁDIO DE FUTEBOL para um ESTACIONAMENTO. Quem iria ao show passou da oportunidade de estar em um local com cadeiras, cobertura, boa visão do palco e acústica elogiável para um estacionamento ao ar livre, sem cadeiras, e com uma acústica reconhecidamente péssima em vários dos eventos anteriores já ocorridos lá. Além disso, quem mora ou conhece Porto Alegre sabe que a Fiergs fica no fim do mundo dobrando à esquerda, sendo um local de dificílimo acesso, longe da região central da cidade, e sem a mínima estrutura para eventos deste tipo. Como um local destes pode ter uma "logística" melhor que um estádio padrão FIFA, alguém me explica? Para piorar, a semana foi de chuvas intensas na capital gaúcha, e a previsão para a noite do show não era diferente, então, todo mundo já se preparou para um banho épico (ao estilo "Rolling Stones em PoA 2016" - quem foi lembra) e muitos pontos a menos no quesito "diversão" (que, nos tempos bicudos de hoje, cada vez mais "é solução, sim").

Depois de muita reclamação na internet por parte dos fãs e de desistências e devoluções de ingressos (algo que, segundo relatos, foi bem difícil de ocorrer) por parte de muitos, cerca de 20 mil otários, quer dizer, fãs (incluindo este que vos escreve) eram esperados na "arena' (como Sérgio Britto chamou o local em certo momento do show, sendo que o pior é que não o fez de forma irônica) na data marcada. Com a apresentação marcada para às 21 horas, saí de casa às 16h (se fosse no Beira Rio, sairia pelo menos às 18h), felizmente com o tempo nublado, mas sem chuva, e rumei para o centro da cidade, atrás do transporte "especial" que a prefeitura de Porto Alegre prometeu disponibilizar para o evento. Chegando ao local marcado para o embarque (divulgado dias antes nos principais sites de informação do RS), fui informado de que os mesmos só estariam funcionando a partir das 19h (!), e que a alternativa seria pegar um ônibus "de linha" em outro local para chegar até a FIERGS. Caminhei até o ponto indicado, esperei uns quinze minutos, e embarquei em um ônibus "normal", que fez um trajeto pelo meio de bairros e avenidas levando o pessoal para casa após um dia de passeio ou trabalho, gente que, provavelmente, nem sabia que uma das bandas mais importantes do rock nacional se apresentaria na cidade naquela noite, e não os "fãs" que assistiriam ao show em um local próximo do final da linha daquele transporte. Quase cinquenta minutos depois, finalmente desci em frente ao local da apresentação, já passadas as dezoito horas, horário previsto para abertura dos portões, e que, pelo visto, foi cumprido, pois já não haviam filas quando cheguei à FIERGS.

Após comprar uma capa de chuva de um ambulante que vendia camisetas "piratas" por 80 reais na porta do evento, adentrei ao estacionamento, passei por um dos (poucos) banheiros químicos disponibilizados (sendo que o Beira Rio tem uma estrutura muito melhor neste aspecto), conferi o preço extorsivo dos produtos disponibilizados na barraca de merchandising localizada em um dos cantos do local (100 reais um boné e 130 uma camiseta) e fui procurar um local para assistir ao show. Consegui ficar próximo (mas não grudado) à grade que separava a pista "VIP" da "Comum" (como meu ingresso original era para as cadeiras superiores do estádio, fui "transferido" para a pista comum - que foi nomeada pela produtora como "Pista Flores" -, enquanto quem tinha ingresso para as cadeiras inferiores pôde ficar na pista VIP, chamada de "Pista Vip Diversão"), e com uma visão relativamente boa do palco, levando-se em conta que a pista VIP ainda estava bem vazia e não haviam muitas pessoas na minha frente.

Os Titãs reunidos em Porto Alegre

Lá pelas dezenove e trinta a chuva recomeçou a cair, e quem, como eu, tinha uma capa de chuva guardada (as mesmas estavam sendo vendidas no interior do evento pelos ambulantes que também vendiam água e cerveja, obviamente a preços extorsivos, como é comum neste tipo de evento), sacou das mesmas e as vestiu. Pouco depois do horário marcado das 20h, iniciou o show de abertura da banda Colomy (que conta, nos vocais e violões, com a presença de Sebastião Reis, filho de Nando), que, em seus pouco mais de quarenta e cinco minutos no palco, pareceu agradar ao público presente (ainda não em sua totalidade), agradeceu à oportunidade aos Titãs e à produtora (agradecimento este ao qual se seguiu uma enorme vaia do encharcado público presente), e foi responsável por uma tocante declaração de Sebastião, que disse estar sendo um sonho ver os Titãs com esta formação, pois ele mesmo nunca havia visto a banda nesta configuração antes. Nem você nem a maioria dos presentes, Tião!

Entre o show de abertura e o principal, ainda houve tempo para um longo anúncio da produtora no telão principal (havia este principal ao fundo e um em cada lateral do palco) exaltando seus feitos e realizações, anúncio este que mal ouvi, pois as vaias do pessoal encobriram o que vinha do palco. Vinte minutos depois do horário marcado (com a chuva caindo incessantemente e vaias já sendo ouvidas aqui e ali pelo público), os "barulhinhos eletrônicos" da introdução de "Diversão" se fizeram ouvir, com o telão ficando totalmente branco e os sete membros da banda entrando um a um no palco, ficando alinhados contra o telão, apenas com suas silhuetas aparecendo (em uma imagem muito semelhante à que abre esta matéria). Confesso que foi emocionante, ainda mais quando o famoso produtor (e ex-baixista dos Mutantes) Liminha se juntou ao grupo na segunda guitarra, "substituindo", de certa forma, Marcelo Fromer. Eu já havia assistido todos os outros juntos na turnê de Titanomaquia (disco que, infelizmente, não teve nenhuma canção apresentada no show), mas nunca havia assistido Arnaldo Antunes no palco (nem solo, nem em algum de seus vários projetos). Pois já na segunda música ele assume o microfone e, após perguntar "onde fica o Brasil?", interpretou "Lugar Nenhum" como se ainda estivéssemos em 1989.

Depois de Sérgio cantar "Desordem" (e agradecer ao público pela presença de todos mesmo debaixo de chuva e pela compreensão em relação à troca de local - eu não compreendi não, Britto), o microfone ficou com Branco Mello, que fez um emocionante discurso onde disse que tirou um tumor do pescoço e metade da laringe, mas que estava ali, vivo, e cantando para nós. É claro dizer que a voz do cantor ficou "prejudicada" depois da cirurgia é redundância (por vezes, saia de sua garganta pouco mais que um sussurro, apesar do esforço do músico), mas a garra e a vontade de Branco em estar ali compensavam este "problema técnico" (em outros momentos do show, quando Arnaldo ou Paulo estavam no vocal principal, Nando concentrado no baixo e Sérgio em seus teclados, e a voz de Branco era necessária para os backing vocals, esta dificuldade do cantor também aparecia de forma mais evidente, embora ninguém ali estivesse realmente ligando para isso).

Momento da apresentação dos Titãs em Porto Alegre

Nando cantou "Igreja" com Arnaldo no palco fazendo os backings (nos anos 80, ele saia nesta hora, por não concordar com a temática da música), e os hits foram se sucedendo, com os vocalistas se revezando frequentemente ao microfone, e não fazendo "blocos " de músicas para cada um, como em turnês anteriores do grupo como sexteto ou quinteto. Meus "momentos" favoritos na primeira parte ficam, sem dúvidas, com a dobradinha "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" e "Nome aos Bois" (onde Nando incluiu o nome do ex-presidente Bolsonaro à lista de calhordas e facínoras elencados na letra, o que fez com que o público - e eu mesmo - emendasse um "Hey, Bolsonaro, vai tomar no c*" depois da canção, embora alguns poucos vaiassem a atitude do pessoal). As duas foram seguidas por "Eu Não Sei Fazer Música" e "Cabeça Dinossauro", interpretadas por Branco, seguidas por um vídeo com imagens da banda em momentos gravados durante as turnês da década de 1980, o qual serviu para os roadies prepararem o palco para a anunciada "parte acústica" do show.

Britto anunciou então que fariam algumas canções em um formato mais "intimista e acústico, pois este álbum foi muito importante para nós", e iniciou "Epitáfio", no que, acredito, tenha sido o "início" de verdade do show para muitos presentes ali. O final desta parte acústica trouxe Arnaldo de volta ao palco (ele não estava nas primeiras canções desta seção) junto à cantora Alice Frommer, filha de Marcelo e que, de certa forma, representava o pai nesta reunião. Foi pouco depois da moça iniciar "Toda Cor" que a capa plástica de chuva e o cansaço de estar há horas em pé me cobraram seu preço, pois me senti mal, sentei no chão e cheguei quase a desmaiar. Felizmente, como estava próximo à grade, alguém avisou aos seguranças do outro lado, que notificaram a equipe médica presente no local, e rapidamente apareceram alguns bombeiros que me colocaram em uma cadeira de rodas e me levaram ao posto médico da pista comum. Lá, fui muito bem atendido, e, assim que me retiraram (a meu pedido) a capa plástica que eu vestia, já me senti muito melhor, meu corpo pareceu "respirar" de novo, e, após algum tempo (e algumas músicas apenas "ouvidas" e não "assistidas"), eu já estava em condições de voltar para a pista, não para a "muvuca" onde eu estava antes, mas para um local mais afastado e, como disse o médico do posto, mais "arejado" do que o meio da pista. Comentei com ele que, se estivesse no Beira Rio, isto não teria acontecido e eu não estaria no posto médico, pois eu estaria sentado nas cadeiras e seco debaixo da cobertura do estádio, e ele disse que isto teria acontecido comigo e com a maioria dos que passaram por ali naquela noite, muitos também sentindo os efeitos do calor provocado pela capa plástica e a falta de hidratação adequada, como, acredito, foi o meu caso.

Quando saí do posto, a chuva, felizmente, já havia quase parado (embora a água acumulada em certos pontos já chegasse quase a cobrir os tênis que eu usava), e a banda interpretava "Televisão", com Arnaldo nos vocais. Pude, assim, mesmo que de longe, assistir ao final da apresentação, e ao bis, que iniciou com a "Introdução por Mauro e Quitéria" do disco Õ Blésq Blom, que, claro, levou à interpretação de "Miséria", música que a segue no disco. "Família" (com Nando nos vocais) e "Sonífera Ilha" (anunciada por Paulo como "nosso primeiro sucesso") fecharam as quase duas horas e meia de show, em uma noite marcante para todos os que acompanham a banda há décadas, mas que merecia ter ocorrido em um local com uma estrutura melhor tanto de som (que até estava bastante aceitável ao longo de toda apresentação, tanto no show dos Titãs quanto no da Colomy) como de acomodação para o pessoal.

Final da apresentação em Porto Alegre

Na saída do show (depois de rejeitar comprar o "copo oficial' do evento por 25 reais, sendo que no início era 30) quase perco o ônibus "especial" disponibilizado pela prefeitura, que saiu hiper lotado do local e, depois de uns quarenta minutos, deixou a todos no Mercado Público no centro da capital gaúcha, já passado (e bem) da meia noite de domingo (quem conhece o local, sabe da insegurança que rola por ali, especialmente neste horário. Teria sido mais fácil e mais seguro ter nos deixado na Rodoviária, mas a Prefeitura e a empresa que comanda o trânsito da cidade não pareceram concordar com esta ideia). Felizmente, rapidamente um táxi "apareceu" no local (que, àquela hora, não conta com pontos de táxi ou lotação nem perto dali) e pude embarcar rumo à minha casa em segurança, chegando ao lar depois de toda a minha "aventura" já perto da uma da manhã. Valeu a pena? Bem, diria que, apesar dos pesares, antes da parte acústica consegui me divertir bastante, mas, se as circunstâncias fossem as mesmas, não repetiria de forma nenhuma a experiência. Agora, se você for fã da banda e tiver a oportunidade de assistir a esta aula de nostalgia em um local adequado e com boa estrutura (sonora e de acomodações - saudades Beira Rio), recomendo que não perca este show! Tirando os percalços, vale a pena, sim!

Set List (anunciado antes do show, mas, pelo que lembro, foi este mesmo):

1. Diversão

2. Lugar Nenhum

3. Desordem

4. Tô Cansado

5. Igreja

6. Homem Primata

7. Estado Violência

8. Pulso

9. Comida

10. Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas

11. Nome aos Bois

12. Eu Não Sei Fazer Música

13. Cabeça Dinossauro


Acústico:


14. Epitáfio

15. Cegos do Castelo

16. Pra Dizer Adeus 

17. Toda Cor (com Alice Frommer)

18. Não Vou me Adaptar (com Alice Frommer)


Segunda parte elétrica:


19. Marvin

20. Go Back

21. É Preciso Saber Viver

22. 32 Dentes

23. Flores

24. Televisão

25. Porrada

26. Polícia

27. AA UU

28. Bichos Escrotos


Bis


29. Introdução por Mauro e Quitéria

30. Miséria

31. Família

32. Sonífera Ilha 

domingo, 7 de maio de 2023

The Clash – Combat Rock + The People's Hall [2022]


Por Micael Machado

Combat Rock, lançado em 1982, é o quinto álbum de estúdio da banda britânica The Clash, e seu maior sucesso comercial (tanto em número de vendas quanto em posições nas paradas, onde alcançou a segunda posição na Inglaterra e a sétima nos Estados Unidos) ainda hoje. Vindo de uma verdadeira "exploração sonora" em termos de estilos musicais na forma de seu álbum anterior, o triplo Sandinista!, de 1980, o grupo continuou e incrementou ainda mais as experimentações neste registro, o qual deixaria para a história duas das mais conhecidas músicas da carreira do grupo, as faixas "Rock The Casbah", que eu sempre considerei como uma espécie de "filha tardia" da época da disco music (algo bastante estranho para uma banda que iniciou no movimento punk, convenhamos), e que foi quase que inteiramente composta, tocada e gravada pelo baterista Topper Headon durante as sessões de gravação para o álbum, e "Should I Stay Or Should I Go?", possivelmente a música mais conhecida do Clash fora do "circuito" de seus seguidores mais habituais (e a única faixa onde o baixista Paul Simonon consegue algum destaque ao longo do álbum).

O disco ainda contém no seu lado A (isto nos bons tempos do vinil, claro) duas outras faixas que eu sempre considerei como destaques, a "roqueira" "Know Your Rights" (um dos poucos lembretes em todo o álbum, ainda que sem muita convicção, de que a banda tinha um passado ligado ao punk rock) e o reggae malemolente de "Straight To Hell", uma das melhores letras do disco, e que teria uma versão ampliada lançada muitos anos depois no box set Clash On Broadway, já resenhado aqui no site.

No restante das composições, temos algumas das melhores letras da carreira do grupo, com muita acidez e críticas a tudo e a todos, mas com ênfase à Guerra do Vietnã e ao declínio moral da sociedade norte-americana à época. Uma pena, para mim, que o cuidado do grupo com as letras não se reflita nas músicas, pois, se as duas faixas restantes do Lado A, a "chacoalhada" e repetitiva "Car Jamming" e a "quase reggae" "Red Angel Dragnet", com participação nos vocais do MC Kosmo Vinyl (amigo de longa data da banda e seu manager eventual, e que reproduz durante a música algumas falas do personagem de Robert De Niro no filme Taxi Driver), se deixam ouvir sem maiores problemas (mas também sem maiores emoções), dos sulcos do lado B pouca ou quase nenhuma coisa se aproveita...

O Clash no pôster que acompanha a edição de quarenta anos de Combat Rock: Paul Simonon, Topper Headon, Joe Strummer e Mick Jones

"Overpowered By Funk" é uma tentativa dançante de fazer um "funk de branco com um pouco de hip hop", estilo este representado por um proto-rap ali pelo meio executado pelo grafiteiro Futura 2000, amigo do grupo e que se apresentava ao vivo com a banda pintando "backdrops" no fundo do palco desde a turnê europeia do ano anterior. "Atom Tan" possui um interessante riff de guitarra, cuja repetição e a falta de maior "animação" no ritmo da faixa acaba cansando o ouvinte ainda antes da metade de sua duração (de apenas dois minutos e meio). "Sean Flynn" (o protesto da banda contra a captura e possível morte do jornalista de mesmo nome pelos vietcongs no Camboja) é uma experiência psicodélica musical, aumentada pelos sopros do músico convidado Gary Barnacle, mas cujos efeitos da viagem podem não ser tão agradáveis assim quando chegamos ao final. "Ghetto Defendant" (com participação especial nos vocais do poeta beat Allen Ginsberg) quase me faz repensar a ideia de que o Clash nunca gravou um reggae ruim na carreira, mas acaba se salvando na média, enquanto "Inoculated City" lembra algumas faixas medianas já gravadas em Sandinista!, o que, no contexto das faixas de Combat Rock, acaba não sendo tão ruim. São estas duas composições que me impedem de afirmar que o lado B deste disco é um total desperdício de vinil, pois o encerramento com a lenta e repetitiva "Death Is A Star" não empolga ninguém, com sua melodia levada ao piano (tocado pelo músico convidado Tymon Dogg, que já havia participado em Sandinista!, e que futuramente faria parte da banda Joe Strummer and The Mescalerose os vocais mais falados que cantados de Joe Strummer.

Sendo assim, o fato deste ser o álbum de maior sucesso comercial da carreira da banda é, para mim, quase incompreensível (a turnê de divulgação de Combat Rock levou o grupo a excursionar pelos Estados Unidos abrindo para o The Who, com um show no Shea Stadium em Nova Iorque, a 13 de outubro de 1982, sendo lançado oficialmente como um disco ao vivo da banda em 2008), ainda mais que a versão "oficial" nem é a "melhor" versão que o álbum poderia ter, pois, bem no início das gravações que resultariam no disco, o grupo se instalou no People's Hall, um estúdio localizado no squat do movimento Frestonia, formado por moradores sem teto de Londres que ocuparam casas abandonadas em uma certa área da capital inglesa, e tentaram a independência do país para sua comunidade. Um álbum duplo chamado Rat Patrol from Fort Bragg, com produção do guitarrista Mick Jones, chegou a ser gravado ali, mas tanto o restante da banda, quanto seus empresários e o pessoal da gravadora, acabaram rejeitando a versão final montada pelo músico, o que o levou a um estado de frustração que culminaria em sua demissão do grupo poucos meses depois (para registro, o baterista Topper Headon também seria demitido da banda devido ao seu crescente vício em heroína, isto antes ainda do lançamento de Combat Rock). Para tentar "salvar" o resultado das gravações feitas no squat, a gravadora contratou o renomado produtor Glyn Johns para "retrabalhar" as faixas já gravadas, o que foi feito nos Electric Lady Studios de Nova Iorque, com participação dos membros da banda, exceto Jones, que, praticamente, não participou deste processo de "desconstrução" da obra que ele havia criado.

Em 2022, a gravadora Columbia anunciou o lançamento de uma edição especial em CD duplo e vinil triplo para comemorar os quarenta anos do álbum, chamada Combat Rock + The People's Hall, além de um compacto de 7 polegadas com duas colaborações inéditas do Clash com o cantor britânico Ranking Roger (versões alternativas para "Rock The Casbah" e "Red Angel Dragnet"). Como muitos, imaginei que, finalmente, o "rejeitado" Rat Patrol from Fort Bragg finalmente seria "oficializado", mas, infelizmente, não foi isto o que aconteceu.

Capa do disco bônus The People's Hall

As três primeiras faixas de The People's Hall (ou o lado A da versão em vinil) são um desperdício quase tão grande quanto o lado B do disco original. A faixa de abertura, "Outside Bonds", consiste em quase cinco minutos de conversas aleatórias e sons de tráfico registrados, como o nome diz, no lado de fora do Cassino Bonds de Nova Iorque, onde o grupo fez uma estadia de 17 noites em sequência durante a turnê de Sandinista! em 1981, em um dos momentos mais importantes da carreira da banda. "Radio Clash" é uma versão alternativa da faixa lançada apenas em single em 1981 (e que já apontava a tendência da sonoridade mais "dançante" que apareceria no álbum de 1982), e "Futura 2000" é uma versão alternativa para o single "The Escapades of Futura", lançado em 1982 pelo artista Futura 2000 (o mesmo que participa de "Overpowered By Funk"), onde ele faz um rap sobre uma base funk/hip hop executada pelo Clash.

A coisa melhora bastante no lado B de The People's Hall, pois, mesmo que o ritmo "malemolente" de "First Night Back In London" (que não me empolga tanto assim) e que o reggae "Radio One" (com vocais do músico jamaicano Mikey Dread) não sejam exatamente uma novidade (pois uma versão da segunda já havia aparecido como lado B do single "Hitsville U.K.", em 1980, enquanto a primeira foi lado B do single "Know Your Rights” ainda em 1982), e que "Long Time Jerk" já houvesse aparecido em compilações posteriores da banda (além de ser originalmente o lado B do single "Rock The Casbah"), a qualidade das três é bem superior às músicas do outro lado do vinil, ainda mais quando acrescidas dos outtakes "He Who Dares Or Is Tired" (excelente instrumental com marcantes passagens de saxofone, suponho eu que, novamente, a cargo de Gary Barnacle, pois as notas de produção deste registro são quase nulas ou inexistentes) e "The Fulham Connection" (faixa que abriria Rat Patrol...anteriormente conhecida pelo nome "The Beautiful People Are Ugly Too", e que, mesmo em seu formato demo, e com um timbre de teclado "fuleiro" e bem próximo do ridículo, ainda é melhor que pelo menos sessenta por cento do disco oficial lançado em 1982).

No lado C da versão em vinil, temos a excelente "Midnight To Stevens", faixa "perdida" das sessões do squat, mas que havia sido "recuperada" para o já citado box set Clash On Broadway, além de versões alternativas para "Sean Flynn" e "Know Your Rights", e do que teria sido a segunda faixa do disco Rat Patrol..., a divertida "Idle In Kangaroo Court", previamente conhecida pelo nome "Kill Time", outra que precisava apenas de uma atualização nos timbres de teclado e algumas linhas mais impactantes de guitarra para ter posição de destaque no disco "oficial" lançado após a "intervenção" de Glyn Johns, mas que, assim como "The Beautiful People Are Ugly Too", inexplicavelmente acabou ficando de fora da seleção final.

Apesar de lançado em vinil duplo, o lado D de The People's Hall não traz nenhuma faixa (não sendo nem mesmo o que se costuma chamar de "etched", quando uma figura é "impressa" no vinil para marcar que ele está vazio... o lado D simplesmente não apresenta nada em sua superfície...), com certeza para não tornar o track list diferente da versão em CD duplo. Apesar de eu compreender os motivos da gravadora, esse tipo de atitude das companhias sempre me irrita, pois quem compra o produto em vinil paga um preço bem diferenciado (sempre para cima), e merecia um tratamento mais adequado ao custo do mesmo. Poderiam, por exemplo, ter incluído as duas músicas do compacto lançado junto com esta edição, ou a versão "completa" de "Straight To Hell" presente no box set, ou algum dos "lados Bs" do single "Radio Clash" (todos versões alternativas da faixa original, mas que, mesmo assim, ao menos preencheriam este lado do disco), ou a versão original de "Inoculated City" (que incluía uma sátira a um comercial do limpador de vasos sanitários 2000 Flushes, cuja empresa, à época, ameaçou processar a banda, o que a fez retirar este trecho da composição final, embora a versão original tenha aparecido em alguns bootlegs), ou algumas das muitas versões demos do "infame" Rat Patrol from Fort Bragg que permanecem inéditas ainda hoje. Enfim, haviam várias opções para preencher este lado D, mas a mais fácil (e, a meu ver, preguiçosa) acabou sendo a escolhida.

Contracapa da versão em CD do disco bônus The People's Hall

Preguiçosa também parece ter sido a atuação da área de arte da gravadora para este lançamento. Apesar de contar com envelopes individuais para cada vinil (todos reproduzidos na versão em CD, e trazendo algumas fotos inéditas da banda, sendo o do primeiro vinil uma reprodução da versão original do encarte de 1982) e de um enorme pôster do grupo (na versão em vinil, o mesmo tem o tamanho de seis capas normais), as notas de produção das faixas bônus, como disse, são muito fracas, e ficamos sem saber quem toca o quê, quem produziu, quem compôs o quê, em resumo, essas informações "técnicas" que pouco acrescentam ao produto final, mas que são tão importantes ao colecionador realmente dedicado. Pelo que poderia ter sido, Combat Rock + The People's Hall acaba sendo um tanto decepcionante ao final da audição, mas acaba "oficializando" alguns momentos realmente interessantes da história do Clash para seus fãs. Além de mostrar, mais uma vez, que, com as faixas que haviam sido registradas para Rat Patrol from Fort Bragg, o quarteto poderia ter saído do Electric Lady com um disco muito melhor do que Combat Rock, algo que, infelizmente, não aconteceu (fato que se repete pela segunda vez nesta edição de quarenta anos). Lamentável.

Track List (versão em CD):

Combat Rock

1. Know Your Rights

2. Car Jamming

3. Should I Stay Or Should I Go?

4. Rock The Casbah

5. Red Angel Dragnet

6. Straight To Hell

7. Overpowered By Funk

8. Atom Tan

9. Sean Flynn

10. Ghetto Defendant

11. Inoculated City

12. Death Is A Star


The People's Hall

1. Outside Bonds

2. Radio Clash

3. Futura 2000

4. First Night Back In London

5. Radio One

6. He Who Dares Or Is Tired

7. Long Time Jerk

8. The Fulham Connection

9. Midnight To Stevens

10. Sean Flynn

11. Idle In Kangaroo Court

12. Know Your Rights

Rainbow – Live In Japan [2015]

Por Micael Machado

Mais um dos muitos bootlegs do Rainbow "oficializados" pelo chefão Ritchie Blackmore entre 2013 e 2016 ganhou edição nacional (em CD duplo, pela gravadora Shinigami Records) neste recente ano de 2022. Editado pela primeira vez nos formatos CD duplo e DVD apenas no Japão em 2015 (com uma versão em um box com um vinil triplo e um CD duplo ganhando as prateleiras europeias em 2018, e outra apenas com as três bolachonas lançada no mesmo mercado no ano seguinte), Live In Japan registra a apresentação do grupo no famoso Budokan, em Tóquio, a 14 de março de 1984, na segunda noite da turma naquela cidade em sequência (e a última data de uma turnê de três dias pelo país), naquela que viria a ser a última performance oficial do Rainbow antes do retorno de Ritchie (e do baixista Roger Glover) ao Deep Purple naquele mesmo ano (e antes do "ressurgimento" do grupo em 1993, com uma formação totalmente diferente), retorno este que, curiosamente, já estava sacramentado mesmo antes destes últimos concertos serem realizados pela banda, e que seria oficialmente anunciado algumas poucas semanas depois do final desta excursão.

Ao contrário de outro lançamento desta "leva" de bootlegs que já resenhei para o site (o do show de Boston em 1981), nesta apresentação aqui, ao longo de 22 faixas (ou excertos) em uma hora e quarenta e cinco minutos, a banda (formada, então, pelo mesmo time que havia gravado Bent Out of Shape no ano anterior, ou seja, Joe Lynn Turner nos vocais, David Rosenthal nos teclados, Chuck Burgi na bateria, o já citado Roger Glover no baixo e o chefão Ritchie Blackmore nas guitarras, reforçados, como em datas anteriores, pelos backing vocals das cantoras Dee Beale e Lin Robinson) apresenta um repertório muito mais focado na "era-Turner" do Rainbow, com músicas mais adequadas ao seu estilo vocal (e à tendência AOR que Ritchie vinha progressivamente agregando à sonoridade do grupo) do que aqueles de excursões anteriores. Vide a abertura (após uma intro de teclados quase progressivos e do tradicional trecho de "Over The Rainbow" retirado do filme "O Mágico de Oz"), com a sensacional "Spotlight Kid" (com destaque para o solo de teclado de David e a marcante presença dos backing vocals femininos), a clássica "I Surrender", um dos maiores sucessos comerciais deste período da banda, e que aqui inicia com um trechinho de seu refrão ao teclado, ou de outras como a veloz "Can't Happen Here" ou a agitada "Power", uma composição muito legal, apesar de extremamente comercial. Chamam a atenção também algumas faixas que dificilmente tiveram versões "ao vivo" divulgadas antes em discos oficiais do Rainbow, como "Death Alley Driver", uma das minhas composições favoritas da "fase Turner", e que já ganha destaque aqui pelas linhas iniciais da bateria (bem mais agressivas que boa parte do material deste disco), e onde a presença das moças dos backing vocals no refrão também é bem marcante, com o solo de Ritchie sendo a cereja do bolo, em uma das melhores performances do guitarrista ao longo CD (sendo que David também tem um curtinho destaque logo antes da retomada dos versos iniciais), "Miss Mistreated", uma faixa bem AOR e comercial, com Joe se dirigindo ao público com algumas frases em japonês no seu início, e as quatro faixas saídas de Bent Out of Shape, disco praticamente ignorado (para mim, com toda razão) pelo grupo em seus retornos posteriores nas décadas seguintes, com destaque para a rápida "Fire Dance", que aparece aqui em uma versão mais pesada que a de estúdio, e para "Stranded", a qual, após alguns improvisos com a plateia ali pelo meio, traz alguns trechos de "Hey Joe" (aquela mesma), para depois voltar à interação com o público e encerrar em "grande estilo" com a presença repetida de seu característico refrão (as outras duas faixas do disco de 1983 presentes são o single "Street Of Dreams", que pode causar doses altas de glicemia em diabéticos que porventura a ouvirem, e a veloz "Fool For The Night", em uma versão que, para o meu gosto, carece de mais agressividade).

O Rainbow no palco do Budokan em 1984

Não faltam também alguns clássicos das encarnações anteriores do grupo, como "All Night Long" (antecedida por uma versão abreviada da linda "Maybe Next Time", originalmente intitulada "Vielleicht Das Nächste Mal (Maybe Next Time)" no disco Difficult to Cure), a qual, em seus quase dez minutos de duração, ganha muitos improvisos da banda, um trecho (bem curtinho) do refrão de "Woman From Tokyo" ali pelo meio e um longo trecho de interação entre Joe e a plateia japonesa, ou uma versão abreviada de "Catch The Rainbow", sem aquela longa sequência de solos no final presente nos tempos de Ronnie James Dio, sendo esta outra faixa na qual os backing femininos ganham destaque, mas que não chega a causar aqueles "calafrios emocionais" das versões com o saudoso "nanico" vocalista ao microfone. Há também espaço para um solo de teclado (sem muita "exibição de técnica e habilidade", como tantas vezes costumava ocorrer na década de 1970, mas com alguns efeitos sonoros que, tenho certeza, pareciam "revolucionários" à época), um furioso solo de guitarra do chefão Ritchie (onde, acompanhado pela bateria acelerada, o músico improvisa aquilo que seria um "esqueleto de composição" melhor que muitas das músicas "oficiais" desta fase da banda), o qual é seguido por um solo de bateria de quase cinco minutos, que, como quase sempre acontece nesses casos, deve ter sido mais interessante de assistir do que de ouvir (embora a segunda parte do mesmo seja bem legal, com alguns efeitos percussivos interessantes por parte de Burgi), além de algumas lembranças da época de Ritchie e Roger em seus tempos de Deep Purple, como os trechinhos de "Blues" (um tema instrumental relativamente curto que Richie executava ao vivo desde a época de sua banda anterior, e que aqui ganha uma certa "interação" maior dos teclados com a guitarra do chefão) ou "Lazy", cuja introdução instrumental (bem mais rápida que qualquer uma executada antes pelo Deep Purple que eu conheça) é seguida por um curto trecho (pouco menos de um minuto e meio) da clássica "Since You've Been Gone" (outra das poucas músicas do CD não gravadas originalmente por Turner), a qual, finalmente, leva ao final do show com a surpreendente "Smoke On The Water", mega clássico da banda anterior de Ritchie e Roger, cujo primeiro verso inteiro é levado a capella por Joe, com a banda entrando "de mansinho" a partir do segundo verso, para, então, "detonar" tudo depois do segundo refrão, com a presença de mais um inspirado solo do chefão, e com a música terminando em um inesperado "fade out" da plateia japonesa entoando seu refrão, ao invés do tradicional "arrasa quarteirão" que tradicionalmente encerra as versões ao vivo da banda que a registrou originalmente, e indicando, ao menos para mim, que edições (sabe-se lá quantas) foram feitas sobre a gravação original deste show...

Mas, é claro, tudo o que foi falado acima é facilmente superado em termos de qualidade quando tratamos da versão de "Difficult To Cure" presente aqui, onde o grupo aparece acompanhado por uma orquestra sinfônica, dirigida pelo maestro Takashi Hiroi, neste clássico baseado na nona sinfonia de BeethovenQuando ouvi esta versão pela primeira vez na coletânea Finyl Vinyl, mais de vinte e cinco anos atrás, fiquei impressionado pela junção da banda com a orquestra, a qual realmente adiciona muito à composição, além de ter direito a um longo trecho "solo" ao longo da execução da mesma (trecho este que, ao que consta, foi totalmente composto e escrito pelo tecladista David Rosenthal), coisa a qual eu não estava acostumado a ouvir em discos de rock à época. Pois esta execução deste clássico continua impressionante ainda hoje, ainda mais que a versão presente aqui é diferente daquela encontrada na coletânea, a qual teve o solo de guitarra regravado em estúdio por Ritchie Blackmore. Arrisco a dizer que ela, sozinha, vale a aquisição deste CD. Se ainda não a conhece, ouça e confira!

Roger Glover e Ritchie Blackmore no palco do Budokan em 1984

O interessantíssimo encarte que acompanha a versão digipak nacional aponta em seu texto que apenas "Spotlight Kid" já havia sido disponibilizada oficialmente antes (na já citada coletânea Finyl Vinyl), com outras duas faixas presentes em um box de 2014 (as quais acredito serem "Fool For The Night" e "Smoke On The Water", presentes no box A Light In The Black 1975-1984, de 2015, e não de 2014 como diz o texto, caixa que também traz uma versão para "Difficult To Cure" gravada na mesma data, mas a qual não sei se conta com o solo original ou com o regravado). Achei este dado curioso, pois o track list de Finyl Vinyl informa que as versões de "I Surrender" e "Miss Mistreated" presentes ali também foram registradas no Budokan naquele março de 1984. Seriam elas do show da noite anterior a este? Não consegui confirmar esta informação na internet...

Os dois shows da capital japonesa foram gravados e filmados com a intenção do lançamento de um álbum duplo posteriormente, mas a Polydor, selo ao qual tanto o Rainbow quanto o Deep Purple estavam ligados à época, preferiu "segurar" o lançamento destes registro para não afetar aquilo que acreditava que viria a ser o "retorno triunfal" do Púrpura Profundo, lançado na forma do disco Perfect Strangers ainda naquele mesmo ano. Como disse, estas gravações só viriam a ser disponibilizadas oficialmente (e apenas no Japão, inicialmente) apenas em 2015, sendo que, hoje em dia, a versão do DVD é facilmente encontrada em sites como o Youtube, mas a versão remasterizada do áudio presente nestes CDs é bem superior à dos vídeos que encontrei, o que torna ainda mais atraente a aquisição deste lançamento, o qual, tanto pelo repertório como pela performance da banda, a qual, ainda que apareça no auge de sua fase AOR, aparentando estar tocando "com o freio de mão puxado" (até devido a saberem que aqueles concertos na Terra do Sol Nascente eram apenas "burocráticos", com tudo acabando logo em seguida para a banda), sem a mesma empolgação e entusiasmo dos dias de Dio ou mesmo de Graham Bonnet, soando bem mais "contida" em relação às suas encarnações anteriores (sendo que mesmo Ritchie não arrisca muitos solos "incendiários" aqui como costumava fazer em outros tempos), ainda consegue soar empolgante e de audição extremamente interessante, o que acaba fazendo deste, pelo menos até agora, o melhor registro ao vivo de Joe Lynn Turner à frente do Rainbow já disponibilizado oficialmente no mercado. Se você gosta da banda, e especialmente desta fase do grupo, não deixe de conferir. Seus ouvidos lhe agradecerão, com toda a certeza!

Contracapa da versão nacional de Live In Japan

Track List:

CD 1

1. Intro

2. Spotlight Kid

3. Miss Mistreated

4. I Surrender

5. Can't Happen Here

6. Catch The Rainbow

7. Power

8. Keyboard Solo

9. Street Of Dreams

10. Fool For The Night

11. Difficult To Cure

12. Guitar Solo

13. Drum Solo

CD 2

1. Blues

2. Stranded (Incl. Hey Joe)

3. Death Alley Driver

4. Fire Dance

5. Maybe Next Time

6. All Night Long (Incl. Woman From Tokyo)

7. Lazy

8. Since You've Been Gone

9. Smoke On The Water