domingo, 20 de janeiro de 2013

Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte II)

Mercyful fate em 1993: Michael Denner, Snowy Shaw, Timi Hansen, King Diamond e
Hank Shermann

Por Micael Machado

Em 1992, após ouvir as novas composições de Michael Denner para sua banda Zoser Mez (que também contava com Hank Shermann e Timi Hansen), o vocalista King Diamond propôs o retorno do Mercyful Fate. Após algumas ligações telefônicas, tudo estava pronto para a volta, a não ser a falta de um baterista (Kim Ruzz, que ocupou este posto nos primeiros discos, não foi sequer cogitado, pois não tinha uma boa relação pessoal com Denner e King). O amigo Morten Nielsen foi escalado para a posição, e o grupo estava pronto para renascer.

Confira agora a segunda parte da discografia comentada do Mercyful Fate!

In the Shadows [1993]

O álbum de retorno foi o primeiro pela nova gravadora, a Metal Blade, após anos com a Roadrunner. Apesar de levemente diferente dos dois clássicos primeiros discos, acabou sendo muito bem aceito pelos fãs, com os clipes para as faixas "Egypt" (uma das melhores composições da carreira do grupo) e "The Bell Witch" ajudando a torná-las os destaques do track list, junto com a faixa título. Apesar de creditado no encarte, o baterista Snowy Shaw não participou das gravações, que contaram com Morten Nielsen em todas as faixas (Morten não teve condições de fazer a turnê devido a um problema no joelho, e Snowy, que já havia tocado na banda solo de King, assumiu o posto). A temática satânica foi substituída quase que inteiramente por letras relatando contos de terror, mais ou menos como King fazia em sua carreira solo, porém sem ser um disco conceitual. Bons exemplos disso são as longas e climáticas "The Old Oak" e "Legend of the Headless Rider", baseada no conto "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça". "A Gruesome Time" foi composta para o Zoser Mez, enquanto "Thirteen Invitations" e a instrumental "Room of Golden Air" (com passagens de violão e teclados em seu arranjo) acabam sendo pouco lembradas, apesar de sua qualidade. "Is That You, Melissa?" encerra o track list regular, retomando a história da bruxa Melissa, presente na faixa título do primeiro LP, em uma música em muitos aspectos parecida com aquela. A edição em CD ainda conta com uma faixa bônus para lá de especial, a regravação de "Return of the Vampire" (chamada "Return of the Vampire... 1993") com a participação de Lars Ulrich, do Metallica, na bateria (ele que também é dinamarquês, e era fã da banda desde o começo). Durante a turnê de promoção foi lançado o EP The Bell Witch, que conta com a faixa que lhe dá nome, a citada "Is That You, Melissa?", e quatro clássicos gravados ao vivo em 1993 na cidade de Los Angeles. O Mercyful Fate estava de volta com tudo!


Time [1994] 

O único álbum de estúdio com Snowy Shaw marcou também a estreia do baixista Sharlee D'Angelo no Mercyful Fate, substituindo Timi Hansen, que deixou a banda por motivos particulares. Apesar da sonoridade geral ser um pouco mais leve que a de In The Shadows, este foi também o disco que atraiu novamente minha atenção para o grupo (depois da decepção com o vinil de Don't Break The Oath, como relatei na primeira parte), graças ao clipe para "Witches' Dance", que passava no saudoso Fúria Metal, da MTV. As letras continuaram contando histórias de terror, como as de "The Afterlife", "Lady in Black" (um dos destaques), "Nightmare Be Thy Name" (que também ganhou clipe) ou "The Mad Arab", baseada nos contos de H. P. Lovecraft, embora "My Demon" e "Angel of Light" retomem alguns dos antigos conceitos, a segunda referindo-se especialmente aos da faixa "The Oath", do segundo álbum. King mais uma vez gravou alguns teclados, como os que aparecem na quase sinfônica faixa título, uma composição diferente dentro da carreira do grupo. As faixas "The Preacher" e "Mirror" (com mais peso que as anteriores) completam o track list, que se encerra com a variada e enigmática "Castillo del Mortes", com letra em inglês apesar do título. No final da turnê deste disco, o grupo veio ao Brasil pela primeira vez (ao lado da banda solo de King Diamond), em 1996, onde se apresentaram no festival Monsters Of Rock em São Paulo, além de realizarem outras quatro apresentações no país. 


Into the Unknown [1996]

Após a intro "Lucifer" (uma espécie de "Pai Nosso" satânico), Into the Unknown começa com tudo, com a veloz "The Uninvited Guest", que ganhou um clipe de divulgação. No geral mais pesado que o anterior, o disco marca a estreia do baterista Bjarne T. Holm, e é o mais bem sucedido da banda até o momento, comercialmente falando, tendo como destaques, para mim, a faixa título (com algumas guitarras limpas no arranjo), "Fifteen Men (And a Bottle of Rum)" (com o baixo bem destacado), "Holy Water" (novamente com conceitos anti-cristãos na letra) e a continuação de "The Mad Arab", do disco anterior, aqui chamada "Kutulu (The Mad Arab, Part 2)" (com alguns toques de música árabe no seu arranjo). "Deadtime" começa apenas com King cantando sozinho, a capella, para então passar a uma música pesada, mas bastante melódica. As pesadas "The Ghost of Change" e "Under the Spell", junto com a variada "Listen to the Bell", completam o track list, que na versão japonesa apresenta a cover para "The Ripper", do Judas Priest, gravada para um tributo à banda britânica chamado Legends of Metal: A Tribute to Judas Priest, lançado no mesmo ano. Um bom disco, que vale a audição.


Mercyful fate sem Michael Denner: Bjarne T. Holm, Sharlee D'Angelo, King Diamond,
Hank Shermann e Mike Wead


Dead Again [1997] 

Durante a turnê de Into the UnknownMichael Denner decidiu sair do grupo por motivos familiares, indicando Mike Wead como seu substituto. Desta forma, Dead Again foi o primeiro álbum do Mercyful Fate sem o guitarrista, que deixou sua marca nas mentes e corações de todos os fãs da banda pelo mundo. "The Night" foi a música escolhida para receber um clipe de divulgação, mas os destaques vão para "Torture (1629)" (cuja letra trata de uma mulher torturada pela Santa Inquisição), "Since Forever" (que parece saída da carreira solo de King) e a insana faixa título, a música mais longa da carreira da banda, com quase quatorze minutos e muitas partes diferentes. Enquanto algumas faixas são mais diretas, como "Fear", "Banshee" (que trata da lendária criatura que lhe dá nome) e "Sucking Your Blood" (que tem por tema os vampiros), outras são cheias de climas e mudanças de ritmo, como a "satânica" "The Lady Who Cries" (que tem um refrão contagiante), "Mandrake" (que fala sobre a raiz da mandrágora), ou "Crossroads", que encerra o disco de forma abrupta, deixando o ouvinte com a sensação de que houve algum problema com o CD (isto foi feito de forma intencional pela banda para provocar o ouvinte, causando-lhe uma certa perturbação, como se algo muito errado tivesse ocorrido). Felizmente, a saída de Michael Denner não comprometeu a qualidade da música do quinteto, e Dead Again é um dos melhores álbuns gravados depois do retorno do Mercyful Fate, e merece ser conferido!


9 [1999]

O nono full lenght da banda (contando os álbuns The Beginning e Return of the Vampire), gravado no ano de 99... Parecia claro que o título do novo disco tinha de ser 9, número que, para completar, tem diversos simbolismos no ocultismo, assunto do qual King sempre foi um apreciador. Pois o (até agora) último registro do Mercyful Fate não deixou por menos. Com faixas bastante velozes como "Insane", "House on the Hill" e a "satânica" "Burn in Hell", os destaques ficam para a faixa título"Last Rites" (com um ritmo empolgante) e "Church of Saint Anne" (com um riff excelente, que lembra o Black Sabbath da fase Dio). "Sold My Soul", mais cadenciada, destaca o baixo de Sharlee D'Angelo, e "Buried Alive", apesar de bastante pesada, conta com alguns efeitos de passarinhos cantando tanto no início quanto no final, algo bastante curioso em um disco do Mercyful Fate. "The Grave" e "Kiss the Demon" completam o track list, que na versão japonesa teve uma faixa bônus, "S.H.", um curto tema instrumental. Um bom disco, mas que não supera o anterior.


Os membros do Mercyful fate ao lado do Metallica no show do Fillmore em 2011



Após a turnê de divulgação para 9, King se concentrou em sua banda solo, tendo a companhia do guitarrista Mike Wead. Hank Shermann e Bjarne T. Holm uniram-se a Michael Denner para formar o Force of Evil, enquanto Sharlee D'Angelo juntou-se ao Arch Enemy. Desde 2005, King trabalha em algumas fitas VHS que ganhou de um fã, na tentativa de compilar um DVD com apresentações da banda, algo que ainda não saiu do papel. Em 2008, a formação que gravou os dois primeiros discos (sem o baterista Kim Ruzz) se reuniu para gravar dois temas para o jogo "Guitar Hero: Metallica", tendo Bjarne na bateria, mas apenas uma faixa foi efetivamente usada no game. As regravações chegaram a sair em um Picture Disc de edição limitada, com as faixas rebatizadas de "Evil 2009" e "Curse of the Pharaohs 2009". Outra reunião (sem Bjarne) ocorreu em 2011, no show comemorativo aos trinta anos do Metallica, no Fillmore de San Francisco. 

Existem duas coletâneas do Mercyful Fate no mercado, A Dangerous Meeting, lançada em 1992 (que reúne material tanto do grupo quanto da banda solo de King Diamond) e The Best of Mercyful Fate, de 2003. Ambas são boas portas de entrada para o som do grupo, ao lado dos clássicos dois primeiros discos. O vocalista sempre afirmou que a banda não acabou, estando apenas "hibernando", então resta a esperança de ainda vermos o grupo lançar algum material novo por aí! Afinal, não se pode quebrar o juramento, certo?

domingo, 6 de janeiro de 2013

Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte I)




Por Micael Machado

Surgido na Dinamarca em 1981, com músicos oriundos de grupos como Brats, Black Rose e Danger Zone, o Mercyful Fate tornou-se, com o passar dos anos, uma das bandas mais influentes do cenário do Heavy Metal mundial. Após algumas demos, foram convidados a participar da coletânea Metallic Storm em 1982, com a música "Black Funeral", que veio a ser sua estreia em vinil. Logo depois, com a formação estabilizada em King Diamond (vocais), Hank Shermann e Michael Denner (guitarras), Timi Hansen (baixo) e Kim Ruzz (bateria), conseguiram um contrato para a gravação de um EP. Era o começo da trajetória de uma das mais importantes bandas dinamarquesas da história, além de ser das mais polêmicas também. Trajetória esta que você confere a partir de agora no Discografias Comentadas!

Mercyful Fate EP [1982]

Também conhecido como Nuns Have No Fun, o primeiro EP tem apenas quatro músicas, mas já deixava claro o potencial daquele então novato grupo. O riff e o solo que abrem "Doomed by the Living Dead" (bem como o restante da faixa) e a fúria de "A Corpse Without Soul"  fizeram com que estas duas canções se tornassem clássicos da carreira do Mercyful Fate. A também excelente "Nuns Have No Fun" e a mais cadenciada "Devil Eyes" acabam sendo mais esquecidas pelos fãs, mas também possuem muitas qualidades. As letras de cunho anti-cristão ou de temática obscura (e por vezes lembrando a atmosfera dos filmes de terror), os solos e riffs da dupla de guitarristas e, principalmente, os vocais de King (indo do mais alto falsete ao próximo do gutural com facilidade, em um ponto que sempre foi algo tipo "ame ou odeie" na carreira da banda) acabaram conquistando muitos seguidores, e abriram caminho para o primeiro full lenght no ano seguinte.

Melissa [1983] 

Apenas sete faixas foram o suficiente para gravar o nome do Mercyful Fate como um dos mais importantes do Heavy Metal mundial. Lançadas no mesmo ano dos discos de estreia do Metallica e do Slayer, canções como "Evil", "Curse of the Pharaohs", "Into the Coven", "Black Funeral" e o épico "Satan's Fall" conquistaram seguidores mundo afora, com seus riffs e solos impressionantes, e a temática sombria de suas letras, mantendo os tópicos obscuros e deixando ainda mais clara a filosofia satanista de King (que era, e ainda é, um seguidor de Anton La Vey, o fundador da Church Of Satan nos EUA). A longa e atmosférica faixa título tomou o nome de um crânio humano real que King usava durante suas apresentações, e que acabou roubado durante a turnê do disco. "At the Sound of the Demon Bell" acaba sendo a canção menos lembrada deste debut, mas também tem bastante qualidade, com muitas variações. Em 2005, foi lançada uma edição remasterizada comemorativa aos vinte e cinco anos do álbum, com muitas faixas bônus e um DVD extra. Melissa é um dos clássicos do Heavy Metal, e, se você gosta do estilo e nunca o escutou, compense esta falha imediatamente!

Don't Break the Oath [1984]

Com o próprio tinhoso na capa avisando para "não quebrar o juramento", e ainda mais trabalhado em termos de arranjos, Don't Break the Oath é considerado por muitos como o ponto alto da carreira do Mercyful Fate. Embora eu prefira o primeiro álbum, é impossível não reconhecer a qualidade de faixas como "A Dangerous Meeting", "Nightmare", "Desecration of Souls", "Gypsy" e "Welcome, Princess of Hell". Lembro de ter este disco em vinil nacional, lançado, se não estou enganado, pelo selo Combat Records. A gravação era horrível, e fez com que eu me afastasse da banda por um bom tempo. Apenas na era do CD foi que descobri como este disco era bom, com a melhor sonoridade que as cópias neste formato trouxeram. Voltando ao track list, a assustadora "The Oath" tem em sua introdução teclados executados pelo próprio King Diamond, e "To One Far Away" é uma curta e triste peça instrumental com base feita pelo violão e apenas algumas vocalizações feitas por King, algo diferente na carreira da banda até então. "Night of the Unborn" é uma faixa que não é muito lembrada pelos fãs, e a clássica "Come to the Sabbath" encerra outro marco na carreira da banda e do Heavy Metal mundial. Audição obrigatória!

Mercyful Fate nos anos 80



The Beginning [1987] 


Reunindo as quatro faixas do primeiro EP ao lado B do single "Black Funeral" (a música "Black Masses", um outtake do álbum Melissa) e a três faixas gravadas ao vivo para o programa "The Friday Rock Show", da BBC Radio One ("Curse of the Pharaohs", "Evil" e "Satan's Fall"), esta é uma coletânea lançada pela gravadora Roadrunner após a dissolução do grupo em 1985. Para muitos, foi a primeira chance de ouvir o Mercyful Fate ao vivo, apesar de ser em um ambiente sem plateia como o do estúdio da rádio, e, só por isso, o álbum já mereceria certo destaque. A edição em CD (com uma capa diferente) ainda conta com a faixa bônus "Black Funeral", presente na coletânea Metallic Storm, a estreia da banda em disco, que no encarte tem creditada a presença do guitarrista Benny Petersen (que na época estava no lugar que seria de Michael Denner), algo que, ao que consta, não ocorreu, pois Hank teria gravado todas as guitarras nesta faixa. The Beginning é um lançamento para completistas, mas altamente indicado àqueles que não conseguirem ter acesso ao raro EP de estreia na versão original. Confira sem medo!

Return of the Vampire [1992]

Outra coletânea, desta vez mais interessante que a anterior. Reunindo antigas demos do grupo (algumas com a presença efetiva do guitarrista Benny Petersen, no único disco oficial a contar com sua presença, outras ainda dos tempos do Brats, banda da qual King e Hank participaram)  tem como curiosidades as versões originais de faixas como "Curse of the Pharaohs", "A Corpse without Soul", "Desecration of Souls" (aqui chamada "On a Night of Full Moon"), "A Dangerous Meeting" (ainda com  o nome "Death Kiss") e "Return of the Vampire", que só sairia oficialmente no disco In the Shadows, com um arranjo diferente. "Burning the Cross" era a única música do Mercyful Fate a não ter sido regravada depois, visto que as faixas que completam o track list ("Leave My Soul Alone", "M.D.A." e "You Asked for It", que serviria de base para "Black Masses", presente em The Beginning) faziam parte da demo tape do Danger Zone, um grupo formado por alguns membros do Mercyful, mas que existia em paralelo à banda, e tem um estilo diferente do característico som "malvado" dos dinamarqueses. Vale pela curiosidade de se ouvir uma banda ainda iniciante, mas já carregada de talento.

Mercyful Fate em 1983: Hank Shermann, Michael Denner, Timi Hansen, Kim Ruzz  e King Diamond (em uma de suas raras fotos sem maquiagem ou óculos escuros)

Durante a turnê de Don't Break the Oath, especialmente após sua primeira passagem pelos EUA, Hank Shermann passou a ter outros gostos musicais, além de usar roupas brancas ou de cor clara no palco (em contraste com as cores escuras usadas pelos outros integrantes). Quando King e ele se reuniram para trabalhar no terceiro álbum do Mercyful Fate, ficou clara a incompatibilidade musical que os novos gostos de Hank haviam colocado entre os dois principais compositores da banda, e o vocalista decidiu por acabar com o grupo. Hank formou o Fate, com quem gravou vários discos, e King partiu para uma carreira solo, tendo a seu lado Michael Denner e Timi Hansen (o baterista Kim Ruzz, que não tinha um bom relacionamento pessoal com King e Michael, acabou virando carteiro). 

No começo dos anos 1990, Hank, Michael e Timi se uniram em um projeto chamado Lavina, que daria origem ao Zoser Mez, o qual inclusive chegou a lançar um disco. Denner convidou King para ouvir o material que ele preparava para o segundo álbum de sua nova banda, e o vocalista, ao ouvir as músicas, acabou achando a qualidade do material muito boa. Isto foi o estopim para a volta do Mercyful Fate, como você confere na segunda parte desta Discografia Comentada: Mercyful Fate!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Melhores de 2012: Por Micael Machado



Por Micael Machado

Em termos de qualidade nos lançamentos, este foi um ano ainda melhor que 2011. Algumas bandas consagradas (como Van Halen ou Kiss) resolveram arregaçar as mangas e voltar ao batente, e até os jurássicos Rolling Stones colocaram música nova no mercado. Outros grupos, que lançam material novo mais regularmente, também foram ao trabalho, e o resultado foi uma verdadeira enxurrada de bons álbuns, em uma época onde se diz aos quatro ventos que a venda de discos (especialmente os de rock) estão cada vez menores. 

Claro que não se pode escutar tudo o que surgiu nas lojas (físicas ou virtuais), sendo assim, seguem os discos que se destacaram dentre aqueles aos quais consegui dar atenção em 2012. Sei que, assim como ocorreu no ano passado, em 2013 irei ouvir muita coisa lançada este ano e que mereceria estar nesta lista. Mas, até lá, esta é a minha seleção:

Álbuns do ano



 Rush - Clockwork Angels


Se ano passado o trio canadense foi eleito por mim como a maior decepção, muito foi pela decisão de adiar o lançamento deste álbum. Felizmente, a espera valeu a pena, e aquilo que o single de 2010 (com "Caravan" e "BU2B") prometia acabou se cumprindo, no melhor álbum do Rush desde Counterparts, de 1993. Músicas como "The Anarchist", "The Garden" ou a faixa título mostram que os velhinhos, pelo menos em estúdio, ainda mandam muito bem, e tem condições de nos brindar com canções técnicas e complexas, mas ainda capazes de nos emocionar. Embora todo o conceito lírico seja bastante difícil de entender (e um livro sobre ele vem por aí para nos ajudar), a parte musical é irretocável, assim como praticamente toda a carreira do grupo! Longa vida ao Rush!



Joey Ramone - Ya Know?

O segundo álbum póstumo de Joey Ramone é composto de um catadão de demos ("Life's A Gas", "Make Me Tremble"), músicas já lançadas em EPs (a versão original de "Merry Christmas-I Don't Want to Fight Tonight") e faixas deixadas inacabadas pelo vocalista dos Ramones, e retrabalhadas por gente que sempre foi próxima do grupo, como os produtores Ed Stasium e Daniel Rey, ou o irmão de Joey, Mickey Leigh. O resultado é sensacional, e, embora algumas músicas apresentem aquele estilo "ramônico" de ser ("Rock 'n Roll Is the Answer", "There's Got to Be More to Life") ou sejam típicas baladas como só Joey era capaz de criar ("Waiting for that Railroad"), canções como "Seven Days of Gloom" ou (principalmente) "Cabin Fever" mostram que o saudoso cantor era capaz de muito mais que "três acordes e basta", como muitos pensam. Joey faz muita falta ao mundo da música hoje em dia, e, se a discografia dos Ramones já não servisse para evidenciar esta frase, este disco é uma prova disso. RIP, man!


Vintersorg - Orkan

Andreas Hedlund e Mattias Marklund esperaram apenas um ano depois do ótimo Jordpuls para dar continuidade a sua carreira. Orkan ("Furacão", em sueco) dá continuidade a uma saga de quatro álbuns dedicados aos elementos essenciais da natureza (terra, ar, fogo e água). Musicalmente mais próximo de álbuns como Cosmic Genesis (2000) ou Visions from the Spiral Generator (2002), o grupo retoma as características progressivas daquela fase em mais um registro de destaque em sua discografia, a ser apreciado por aqueles que o acompanham há tempos. Ouça "Istid", "Ur stjärnstoft är vi komna" ou a faixa título, e comprove.


Toy Dolls - The Album After the Last One

Levou oito anos para Olga e seus comparsas voltarem ao estúdio e gravarem o sucessor de Our Last Album? (2004). O tempo não mudou em nada as características da banda, e o resultado, felizmente, é puro Toy Dolls, em um álbum com letras divertidas, todos aqueles backing vocals característicos, Olga mandando muito bem na guitarra (como sempre, aliás - e não consigo entender como um guitarrista desse naipe nunca aparece naquelas listas de "melhores" que surgem de tempos em tempos) e, desta feita, algumas bonus tracks acústicas que, não só são hilárias, mas mostram que o talento desses ingleses não depende apenas de distorções ou efeitos para ser ouvido. "Credit Crunch Christmas", "Sciatia Sucks" ou "Dirty Doreen" são belos acréscimos à discografia do grupo, e farão a festa dos fãs da banda mais divertida do mundo. Confira sem medo!


Soulfly - Enslaved

Seja com o Soulfly ou com o Cavalera Conspiracy, Max Cavalera vem, ano após ano, lançando discos de altíssima qualidade no mercado. Enslaved tembém é desse tipo, afastando-se cada vez do nu metal dos primeiros discos do Soulfly e se aproximando de um thrash veloz e brutal. Confira "Gladiator", "Plata O Plomo" ou a abertura com "Resistance" e comprove que, mais uma vez, Max acertou no alvo! Recomendadíssimo!
Neil Young - Psychedelic Pill

Neil se reuniu em estúdio com o Crazy Horse pela primeira vez desde 2003 (ou 1996, visto que o guitarrista Frank "Poncho" Sampedro não participou das gravações de Greendale) e, não contente em gravar apenas um álbum de canções tradicionais dos Estados Unidos (o também recomendado Americana), lançou também este épico duplo de oito canções, onde duas tem mais de dezesseis minutos e uma terceira passa dos vinte e sete. O que se espera de Neil e do Cavalo Doido em músicas assim são solos e mais solos de guitarras, amparados pela base segura e precisa que o baixista Billy Talbot e o baterista Ralph Molina propiciam. Pois é exatamente isto que se encontra em "Driftin' Back", "Ramada Inn" ou "Walk Like a Giant". Musicalmente próximo a lançamentos como Broken Arrow ou Ragged GloryPsychedelic Pill é mais um grande álbum na carreira do canadense, e um belo presente a seus fãs.



Focus - Focus X

Dez anos depois do álbum que marcou sua efetiva volta à ativa, o jurássico grupo holandês Focus lança seu décimo disco de estúdio, mostrando que ainda tem muita lenha a queimar. Com o terceiro guitarrista diferente desde o retorno (o talentoso Menno Gootjes, que chegou a tocar ao lado de van Leer nos anos 90), capa desenhada pelo consagradíssimo Roger Dean (responsável pela arte de grupos como Yes, Asia e Budgie, dentre muitos outros), música com letra em latim ("Hoeratio") e até participação especial do cantor Ivan Lins (em "Le Tango"), os "velhinhos" Thijs van Leer (teclados, flauta e vocalizações) e Pierre van der Linden (bateria), ao lado do baixista Bobby Jacobs (com o grupo desde o retorno), provam mais uma vez a importância da banda para o cenário progressivo mundial. Confira "Father Bachus", "Amok In Kindergarten" ou a própria "Focus 10" e comprove!



Violeta de Outono - Espectro

E o posto de melhor disco de inéditas registrado por um grupo brasileiro em 2012 vai merecidamente para os paulistanos do Violeta de Outono. Seguindo o estilo adotado em Volume 7, seu registro anterior (de 2007), a banda segue mais progressiva que psicodélica, e lançou um disco que vai fazer a festa dos fãs do estilo. A longa "Formas-Pensamento", a bela "Dia Azul" e a oitentista "Claro Escuro" são apenas três das excelentes faixas que compõem Espectro, recomendado a todos aqueles que curtem um prog com doses de lisergia. A viagem é certeira!



Chris Robinson Brotherhood - Big Moon Ritual 

Em mais uma das longas pausas do Black Crowes, o vocalista Chris Robinson juntou um grupo de amigos para se divertir e passar o tempo. A coisa ganhou corpo, e virou um grupo efetivo, ou uma fraternidade, como o nome sugere. Não fosse pela presença do cantor, eu poderia jurar que Big Moon Ritual é um daqueles discos gravados no final dos anos sessenta e esquecidos em alguma gaveta de gravadora, pois o disco é pura psicodelia californiana, como se saído diretamente do Fillmore de San Francisco em pleno 1967. Com longas e viajantes sete canções, tem tudo para agradar tanto aos fãs do estilo quanto aos saudosos fãs dos Corvos Negros. Ouça "Tulsa Yesterday", "Star or Stone" ou "Reflections on a Broken Mirror" e embarque nessa viagem, cujo destino é a satisfação e um sorriso enorme ao final da audição! E o melhor é que o grupo já lançou um segundo disco, The Magic Doorapenas três meses depois de seu primeiro registro! Corra atrás!


Graveyard - Lights Out

O segundo álbum dos suecos do Graveyard, Hisingen Blues, foi algo que deixei passar em 2011, vindo a conhecê-lo somente este ano. Desta forma, não desperdicei a oportunidade de conferir este Lights Out assim que soube de sua existência. Embora não tão bom quanto seu antecessor, é um disco raro no atual mercado musical, trazendo as referências setentistas do hard rock para o século 21, porém sem esbarrar na mesmice de muitas bandas de stoner rock por aí. Confira as pauladas "Endless Night" e "Goliath", ou a viajante "Hard Times Lovin'", e não irá se arrepender!





O show The Wall, de Roger Waters

Melhor notícia: O grande número de shows no país
(especialmente em Porto Alegre)

2012 foi, sem dúvidas, o ano a que mais assisti a shows na vida. Desde grandes espetáculos como o aguardadíssimo "The Wall" de Roger Waters, passando pelos consagrados Dream Theater, Nightwish, Linkin Park, Anthrax e Slash, por ocasiões históricas como os retornos de Viper, Planet Hemp e Los Hermanos (além do surpreendente sarau de Arnaldo Baptista), e chegando a lendas do rock como Robert Plant, Rick Wakeman ou Jack Bruce, e aos reconhecidos (mas nem tão famosos) Jello Biafra e Creedence Clearwater Revisited, foi um ano mágico em termos de momentos que ficarão na memória por um bom tempo. Mesmo com os salgados (e por vezes proibitivos, como no caso do Kiss) preços dos ingressos, estive presente a espetáculos que, muitas vezes, não tinha sequer esperança de assistir, e pude cobrir tudo para você, leitor do Consultoria do Rock. 2013 vem aí, e, se tudo der certo, estaremos presentes a ainda mais concertos inesquecíveis! Quem sabe, encarar novamente lendas como Metallica ou Iron Maiden (desta vez, espero, em um local adequado a seu tamanho), ou então enfrentar pela primeira vez o monstro chamado Slayer, os sobreviventes do grunge Alice In Chains ou os novatos do Ghost, todos estes já confirmados para o Rock In Rio em setembro? Sonhar não custa nada!



Ambiente do Metal Open Air


Pior notícia: Metal Open Air

Era para ser a consagração do Heavy Metal no Brasil, e a prova de que o estilo está espalhado pelos quatro cantos da país, e não apenas em São Paulo, como muitos pensam. O festival de São Luís do Maranhão deveria mostrar à grande mídia a força do público headbanger brasileiro, muitas vezes tratado como imbecil e retardado por pessoas que não tem nenhuma intimidade ou conhecimento deste tipo de público. Infelizmente, tudo deu errado, e o Brasil virou motivo de piadas tanto pelos detratores do metal no país quanto por aqueles que entendem do assunto lá fora, chegando a abalar a credibilidade que os produtores sérios levaram anos para construir. Foi um fato lamentável, e que deve servir de lição para que futuros aventureiros não tenham oportunidade de repetir este fiasco em anos vindouros! Que se aprenda com os erros,para não repeti-los jamais!




Viper ao vivo

Surpresa: o retorno de bandas e artistas nacionais ao palco

Viper, Los Hermanos, Planet Hemp, Bacamarte, Arnaldo Baptista, Sagrado Coração da Terra, Titãs (que, pelo menos nos concertos, voltou ao som mais visceral da época de Cabeça Dinossauro - que ganhou turnê e DVD ao vivo para comemorar os trinta anos do grupo - e Titanomaquia) e até o Mutantes da fase Tudo Foi Feito Pelo Sol (particularmente, meu disco favorito da banda) foram alguns dos grupos que retornaram aos palcos em 2012, seja para longas turnês pelo país, seja para shows específicos em ocasiões especiais, para alegria e regozijo de seus seguidores. O que espero é que estas "voltas" não se restrinjam aos palcos, e revelem novos discos de estúdio, algo a que os verdadeiros fãs sempre esperam com ansiedade! Fiquemos no aguardo!



Linkin Park - Living Things

Decepção: Linkin Park - Living Things

Se ao vivo o grupo se mostrou relevante e capaz de agradar ao seu público, como pude conferir no Gigantinho, o mais recente disco de estúdio do Linkin Park deixou um gosto amargo naqueles que são fãs mas não são fanáticos pela música dos americanos. Tudo bem que a qualidade de seus discos vem decaindo a cada lançamento, mas praticamente esquecer das guitarras e privilegiar efeitos eletrônicos e ritmos mais dançantes ao invés do rock de antigamente (ainda que misturado ao rap e ao hip hop) não foi uma boa ideia, e rendeu um álbum pavoroso, que merece ser esquecido. Curioso que a maioria das músicas, ao vivo, ganhou arranjos bastante interessantes, por vezes com duas guitarras onde no álbum não há sequer uma. Talento para se recuperar o grupo tem, resta aguardar que coloquem sua música nos trilhos novamente e voltem a produzir álbuns relevantes como no começo da carreira.

outros destaques

Therion - Les Fleurs Du Mal
Ministry - Relapse
Ian Anderson - Thick as a Brick 2
Neil Young - Americana
Metallica - Beyond Magnetic