domingo, 23 de abril de 2017

Midnight Oil - Diesel and Dust [1987]


Por Micael Machado

Corria o ano de 1987, e a Atlântida FM, a única "rádio rock" a chegar até a pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul onde eu morava então (e que permanece no ar até hoje, embora com um perfil já diferente) foi dominada por uma música introduzida por uma melodia onde várias vozes entoavam ao mesmo tempo algo como "tchu-ru-tchu-ru-tchu-ru-ru" repetidas vezes. Pouco tempo depois (ou antes, já não recordo), outra música do mesmo grupo invadiu as ondas daquela estação, desta vez questionando "como podemos dormir enquanto nossas camas queimam?". Do alto dos meus treze anos, eu nunca havia ouvido falar daquela banda (e de muitas outras, sejamos honestos),  mas, assim que descobri se chamar Midnight Oil, e que o disco que continha as duas faixas (a primeira chamada "The Dead Heart", e a segunda "Beds Are Burning") possuía como título Diesel and Dust, aproveitei a primeira oportunidade que tive de ir até uma cidade vizinha onde havia uma boa loja de discos e adquirir aquela bolachona (uma das primeiras que tive), em uma das decisões mais acertadas que já tomei, e que causou um caso de paixão por esta obra que permanece intacto mesmo passados quase trinta anos daquela ocasião.

Ao contrário do que eu pensava então, Diesel and Dust estava longe de ser a estreia do Midnight Oil. Sexto registro completo do grupo australiano formado em 1976 e composto, à época, por Peter Garrett nos vocais, Martin Rotsey e Jim Moginie nas guitarras (com o segundo também se dedicando aos teclados), Peter Gifford no baixo (o qual deixaria a banda ainda antes do lançamento do disco, sendo substituído por Bones Hillman) Robert Hirst na bateria, o álbum foi o responsável por consolidar o nome do quinteto nas paradas mundiais, mas eles estavam longe de ser meros desconhecidos, especialmente em seu país natal, onde sua popularidade já era bastante destacada. Tanto que, ao longo de boa parte do ano de 1986, o grupo se dedicou a uma turnê intitulada "Blackfella/Whitefella", onde percorreu os confins da Austrália ao lado das bandas Gondwanaland e Warumpi Band, dois grupos formados por músicos de origem aborígene (a população indígena original do país), e que serviu para divulgar as dificuldades que esta população enfrentava para conseguir sobreviver em seu país natal (como ocorre com muitos indígenas em todo o continente americano).

Midnight Oil em 1987, posando no meio do deserto australiano

A turnê foi crucial para o conceito das letras do próximo registro do Midnight Oil (o mesmo disco do qual estamos tratando aqui), as quais servem para chamar a atenção não só dos australianos, mas do mundo inteiro para as agruras de toda uma raça, a começar pela própria "The Dead Heart" (quarto lugar nas paradas da Austrália, e décimo-primeiro lugar na "Billboard Mainstream Rock Tracks" dos Estados Unidos), cujo título é uma expressão tradicional que faz referência ao imenso deserto que domina boa parte do continente australiano, e onde a maioria da população aborígene reside. A preocupação com a causa indígena continua na roqueira "Warakurna", minha faixa favorita no álbum (cujo título faz referência a uma pequena comunidade aborígene visitada pela banda durante a turnê "Blackfella/Whitefella"), na rápida "Bullroarer" (nome de um instrumento típico daquela comunidade, e que foi utilizado nesta faixa), na própria "Beds Are Burning" (que chegou ao sexto lugar das paradas australianas, inglesa e norte-americana, e que pede a devolução de terras da Austrália para sua população original), na tipicamente oitentista "Sell My Soul" (que trata dos aborígenes que deixam suas comunidades originais para conviver nas cidades dos "homens brancos"), na empolgante "Gunbarrel Highway" (que acabou censurada nos Estados Unidos, e não faz parte das versões em vinil e cassete da obra, infelizmente, visto ser melhor que algumas faixas da versão "oficial" de Diesel and Duste na sinistra (e meio gótica) "Whoah", onde os aborígenes se voltam à religião dos "colonizadores", a qual não lhes dá a atenção necessária.

Outras causas defendidas pelo grupo ao longo de sua carreira aparecem também nas letras das demais faixas do disco, como a preocupação com o meio-ambiente e o futuro do planeta (em "Arctic World", que tem a melodia conduzida por violões e um sentimento mais tristonho ao longo de sua audição), os direitos dos trabalhadores ("Sometimes", onde os operários são explorados por "canibais de terno e gravata", e que apresenta melodias que remetem à surf music), questões políticas de seu país natal (na animada "Dreamworld", que foi lançada em single e ganhou um vídeo) e tópicos pacifistas e anti-guerras  (em "Put Down That Weapon", um rock mais marcado, com destaque para a linha de baixo, além de um belo refrão onde os teclados assumem a frente da melodia, também lançada como single e recebendo um vídeo de divulgação). O curioso é que, mesmo as letras sendo tão importantes para o contexto geral do álbum, no encarte original era bastante difícil compreendê-las e entender seus significados (especialmente quando se tem apenas treze anos e não existe algo como a internet para lhe ajudar a buscar todas estas informações, as quais só vim a descobrir muitos anos depois), visto que a arte do mesmo foi toda feita de modo a parecer que os textos foram escritos no papel com um óleo bastante viscoso, que "escorre"e "pinga" aqui e ali, e torna tudo bastante difícil de ser lido.

Detalhe do encarte original de Diesel and Dust, cuja arte dificulta a leitura das letras

Como disse, felizmente anos depois a internet deixou tudo mais fácil, e hoje é bastante fácil termos acesso ao conteúdo dos textos de Diesel and Dust, suas traduções e significados, e darmos ainda mais importância a esta verdadeira obra prima do rock australiano, que em 1989 foi considerado pela prestigiada revista Rolling Stone como o décimo-terceiro melhor disco da década de 1980, e listado como "número um" no livro "100 Best Australian Albums", lançado em 2010, e que em 2008 ganhou uma "Legacy Edition" que vem com um DVD de bônus, o qual contém os vídeo clipes de "The Dead Heart" e "Beds are Burning", além de um documentário sobre a citada turnê "Blackfella/Whitefella". Já o Midnight Oil continuou acumulando hits e prestígio até 2002, quando anunciou sua separação, vindo o vocalista Peter Garrett a se dedicar à política de seu país natal, chegando a ser eleito para um cargo equivalente ao de Senador na Austrália, e depois assumindo a pasta de ministro do meio ambiente do país.

Para surpresa geral, em 2016 o quinteto anunciou seu retorno, com uma excursão mundial que iniciará com cinco datas no Brasil entre abril e maio deste ano, da qual a primeira data será dia 25 deste mês na cidade de Porto Alegre, onde certamente estarei presente, cantando, a plenos pulmões, não só os grandes clássicos da carreira da banda, mas também (espero eu) muitas faixas de Diesel and Dust, um dos primeiros discos a chamar minha atenção ainda na adolescência, e que permanece no meu coração até hoje! Que este dia chegue logo, para que eu e muitos outros fãs possamos novamente cantar de forma emocionada o tão conhecido "tchu-ru-tchu-ru-tchu-ru-ru" de uma das grandes faixas da década de 1980! Há de ser épico!

Contracapa da versão original em vinil, sem a faixa "Gunbarrel Highway"

Track List:

1. Beds Are Burning
2. Put Down That Weapon 
3. Dreamworld 
4. Arctic World
5. Warakurna
6. The Dead Heart
7. Whoah
8. Bullroarer
9. Sell My Soul
10. Sometimes 
11. Gunbarrel Highway

Ramones Too Tough To Die [1984]


Por Micael Machado

As coisas não andavam lá muito boas para os Ramones em 1983. Seus últimos álbuns não tinham se saído muito bem em termos de vendas, o baterista Marky Ramone havia sido afastado devido a seus problemas com o álcool, bandas confessamente influenciadas pelos brothers de Nova Iorque começavam a chamar a atenção e ultrapassar comercialmente seus inspiradores com sua interpretação mais vigorosa do punk rock conhecida como hardcore (assim como as primeiras bandas de thrash metal também estavam despontando pelo mundo), e, para piorar tudo, o guitarrista Johnny Ramone havia sido espancado por um sujeito (ao que consta, chamado Seth Macklin, membro da banda Sub-Zero Construction) na madrugada de quatorze de agosto daquele ano, e acabou parando no hospital com uma fratura no crânio, sendo submetido a uma operação e ficando com sua vida seriamente arriscada. Três meses depois, com a cabeça raspada e usando um capacete de beisebol como proteção, Johnny estava de volta à ativa, e decidido a provar que o seu grupo também podia competir com talento e competência no mesmo campo dos novos grupos que se espalhavam pela Grande Maçã, como a cidade natal da banda é conhecida.

A dupla de produtores Ed Stasium e Thomas Erdelyi (Tommy Ramone, primeiro baterista do grupo, recentemente falecido), que já haviam comandado os trabalhos no disco Road To Ruin, de 1978, foi chamada de volta para coordenar as gravações do novo álbum, o qual marcaria a estreia em estúdio do novo baterista, Richie Ramone (Richard Reinhardt, também conhecido como Richard Beau, ex-membro dos Velveteens). Com Johnny ainda se recuperando de seu trauma, e o vocalista Joey Ramone entrando e saindo de hospitais por causa de sua saúde (que nunca foi muito boa ao longo de toda a carreira do quarteto, mas na época andava um pouco pior), a maior parte do trabalho de composição acabou caindo sobre Dee Dee Ramone, e o baixista, é claro, não decepcionou!

Um dos registros feitos durante a sessão de fotos para a capa. Aqui, a banda aparece visível: Joey, Richie, Dee Dee e Johnny

Se a ideia era mostrar que os Ramones sabiam fazer música pesada tão bem quanto os "novatos" de sua vizinhança, a faixa de abertura, "Mama's Boy" (de Johnny, Dee Dee e Tommy), servia perfeitamente de exemplo, assim com a faixa título, cujo nome foi inspirado pelo incidente pelo qual o guitarrista havia passado, mas também servia para provar a determinação do grupo em não desistir, apesar dos fracassos recentes e da falta de um maior sucesso comercial. Já composições como "Wart Hog" (cuja letra, cantada por Dee Dee, não era citada no encarte original, sendo substituída por um grande ponto de interrogação), "Endless Vacation" (uma das coisas mais velozes gravadas pelos brothers em sua carreira, e também vociferada pelo baixista) e até mesmo a instrumental "Durango 95" (única do tipo na discografia do grupo, e que teve seu título inspirado por um restaurante frequentado pela banda, o qual, por sua vez, se inspirou no carro dirigido por Malcolm McDowell no filme "Laranja Mecânica", de 1971) provavam claramente que o quarteto também era capaz de tocar um punk rock tão rápido e agressivo quanto qualquer agrupamento novato de Nova Iorque. Os discos seguintes deixariam isto ainda mais evidente, mas estas cinco faixas já bastavam para que Johnny provasse o seu ponto quanto à relevância e ao lugar dos Ramones no cenário da musica à época. Cabe citar que as três últimas faixas citadas foram aquelas deste álbum que contaram com a colaboração do guitarrista em sua composição (as duas primeiras ao lado de Dee Dee), assim como a de abertura e "Danger Zone", outra faixa rápida e veloz, porém não tão próxima do hardcore quanto as demais contribuições de Johnny para o disco.

Parte do encarte original de Too Tough to Die. Bem acima à direita, o ponto de interrogação que substituía a letra de "Wart Hog"

Duas composições exclusivas de Dee Dee, "I'm Not Afraid of Life" e "Planet Earth 1988", são bem mais sombrias do que o restante do material, tanto musical quanto liricamente. Elas passam um sentimento de pessimismo quanto ao futuro do planeta e de seus habitantes, assim como a única contribuição de Richie para o repertório, "Humankind", a qual, apesar de se encaixar perfeitamente no conceito de punk rock (embora um pouco mais pesada que o padrão, conforme o conceito de Johnny para o álbum), está longe de ser uma faixa alegre e divertida, especialmente quando prestamos atenção à sua letra. Joey, apesar de não estar em sua melhor forma em termos de saúde, também arranjou espaço para contribuir, escrevendo o exemplo perfeito de poppy punk chamado "Daytime Dilemma (Dangers of Love)" ao lado do guitarrista Daniel Rey, e a quase rockabilly "No Go", que emanava o bubblegum da década de 1950 no encerramento do lado B do disco.

Duas composições totalmente fora do contexto "hardcore" de Too Tough to Die acabaram também se incluindo dentre seus pontos mais altos. Fechando o lado A, a descaradamente pop "Chasing the Night" (uma parceria de Joey e Dee Dee, com a ajuda do baixista Busta Cherry Jones, que tocou, entre outros, com Gang Of Four e Talking Heads) soava completamente deslocada quando comparada ao restante do track list, além de apresentar os teclados e sintetizadores de Jerry Harrison, também dos Talking Heads. Mas, curiosamente, esta faixa encontrava parceria na primeira música do lado B, "Howling at the Moon (Sha-La-La)", único single e vídeo retirado do álbum, e que teve o envolvimento, em sua produção, do músico Dave Stewart, da banda Eurythmics, agenciada pela mesma equipe de gerenciamento dos Ramones, e sugerido pelo empresário dos brothers à época, Gary Kurfirst. Foi Stewart quem trouxe o tecladista do Tom Petty and the Heartbreakers, Ben Tench, para tocar na faixa, que atingiu a modesta posição de número 85 na parada britânica (o single não foi lançado nos Estados Unidos). Já o álbum, cuja capa teve seu conceito inspirado pelo mesmo filme "Laranja Mecânica" que deu nome para "Durango 95", e que apresenta apenas a sombra dos músicos em frente a um fundo azul, em um "erro" causado por uma falha dos flashes durante o registro das fotos para as capas (em outras fotografias daquela sessão a banda é perfeitamente visível), apesar de sua qualidade, conseguiu naufragar nas paradas ainda mais do que seus antecessores, não passando da posição 171 da Billboard.

Contracapa da versão original em vinil de Too Tough to Die

Em 2002, a gravadora Rhino lançou uma edição "expandida e remasterizada" do disco, que acrescentou outras doze faixas às treze composições originais. Dentre elas, o excelente cover para "Street Fighting Man", dos Rolling Stones, e a poppy punk "Smash You" (outra composição de Richie), ambas "lados B" da versão de doze polegadas do single para "Howling at the Moon (Sha-La-La)". Há também as inéditas "Out Of Here" (música em mid tempo onde a voz de Joey, infelizmente, ficou muito baixa na mixagem final) e "I'm Not an Answer", mais veloz e selvagem do que a versão que aparece no relançamento de Pleasant Dreams, e que, aqui, conta com vocais a cargo de Dee Dee, assim como as versões demo de "Planet Earth 1988", "Danger Zone" e "Too Tough to Die", que mostram que o baixista era perfeitamente capaz de encarar os microfones neste novo estilo musical que os Ramones estavam abraçando. As demais faixas desta edição são demos para musicas que acabaram integrando o track list original de Too Tough to Die, e, apesar de interessantes (especialmente "Howling at the Moon", totalmente descaracterizada sem a presença dos teclados, e "Endless Vacation", com Dee Dee entoando repetidamente "Deutschland" ao seu final), não consigo apontar destaque maior para nenhuma delas em relação às versões "oficiais".

Too Tough to Die (que também conta com a presença do guitarrista Walter Lure, dos Heartbreakers, como músico de apoio em algumas faixas) marcaria o início da colaboração de Richie Ramone com o quarteto de Nova Iorque, na minha opinião (e parece que apenas para mim) o melhor período dos brothers, onde a influência do hardcore foi primordial para a criação dos meus dois discos favoritos na carreira do grupo, Animal Boy, de 1986, e Halfway to Sanity, de 1987, embora, assim como no disco de 1984, o grupo também mostrasse outras facetas de sua sonoridade ao longo dos sulcos destes três vinis, os quais, infelizmente, ainda carecem de um maior apreço e compreensão por parte do fãs do conjunto. Um fato, a meu ver, incompreensível!

"On my last leg, just gettin' by, halo round my head, too tough to die..."

Contracapa da versão expandida de Too Tough to Die

Track List:

1. Mama's Boy

2. I'm Not Afraid of Life

3. Too Tough to Die

4. Durango 95

5. Wart Hog

6. Danger Zone

7. Chasing the Night

8. Howling at the Moon (Sha-La-La)

9. Daytime Dilemma (Dangers of Love)

10. Planet Earth 1988

11. Humankind

12. Endless Vacation

13. No Go

Faixas Bônus da edição expandida de 2002:

14. Street Fighting Man

15. Smash You

16. Howling at the Moon (Sha-La-La) (Demo Version)

17. Planet Earth 1988 (Dee Dee vocal version)

18. Daytime Dilemma (Dangers of Love) (Demo Version)

19. Endless Vacation (Demo Version)

20. Danger Zone (Dee Dee vocal version)

21. Out of Here

22. Mama's Boy (Demo Version)

23. I'm Not an Answer

24. Too Tough to Die (Dee Dee vocal version)

25. No Go (Demo Version)

domingo, 2 de abril de 2017

Plebe Rude - Nação Daltônica [2014]


Por Micael Machado

Depois de oito anos sem apresentar um registro de inéditas, a Plebe Rude lançou em 2014 seu sexto disco, Nação Daltônica, uma mostra da relevância e da importância do quarteto originado em Brasília para o rock nacional. Os fundadores Philippe Seabra (guitarra e vocais) e André X (baixo e vocais) se fizeram acompanhar pelo guitarrista e vocalista Clemente Nascimento (também membro dos Inocentes, na banda desde 2004) e pelo estreante baterista Marcelo Capucci (que se uniu ao grupo em 2011), e gravaram um disco que reafirma a essência do som da Plebe.

Considerada uma das primeiras formações punk do país (ao lado do Aborto Elétrico), a música do quarteto sempre foi mais do que o estilo delimita, incorporando elementos do pós-punk, do pop rock e do folk ao longo de sua trajetória. Nação Daltônica traz um pouco de tudo isso em suas dez faixas (que perfazem pouco menos de trinta e seis minutos), mostrando a integridade de Philippe, o principal compositor da banda. Até mesmo a capa, que intencionalmente remete a Nunca Fomos Tão Brasileiros (segundo disco do grupo, de 1987), parece querer reafirmar que, mesmo passados tantos anos, a Plebe ainda é a mesma, desde o som até a temática contestadora das letras, como se percebe em "Anos de Luta", que critica a apatia da atual geração de "roqueiros" do país, onde a música não é o mais importante, mas sim a fama e o sucesso instantâneo, ainda que para isso seja preciso aceitar as "regras do jogo" impostas pela TV e pelas rádios, e onde tudo vira apenas "entretenimento no final" (em uma mensagem parecida com a de "Minha Renda", do EP de estreia do grupo).

A Plebe Rude atual: Clemente Nascimento, André X, Philippe Seabra e Marcelo Capucci

Com o baixo guiando a melodia, a agitada "Que Te Fez Você" é um dos destaques do track list, ao lado de "Mais Um Ano Você" (versão em português para "Will You Stay Tonight?", da banda inglesa de The Comsat Angels, e que, ao expurgar os chatos teclados eletrônicos da versão original, acabou ficando bem mais interessante do que esta), da legitimamente pós-punk "Rude Resiliência" e de "Tudo Que Poderia Ser", composição que traz em seu arranjo todas as características típicas da Plebe Rude, e que ganha aqui sua versão "oficial" de estúdio, visto já ter aparecido antes no ao vivo Rachando Concreto, de 2011.

Se a semi-balada "(Go Ahead) Without Me" (com letras em inglês) teve todos os instrumentos tocados exclusivamente por Philippe, a linda "Sua História" contou com a participação da Orquestra Filarmônica de Praga, enriquecendo ainda mais o arranjo de uma das melhores faixas do disco. "Retaliação", a faixa de abertura, tem um ritmo mais cadenciado, quase marcial, enquanto "Quem Pode Culpá-lo?" lembra algumas bandas da cena "alternativa" atual (e poderia facilmente marcar presença nas rádios, caso estas se interessassem em tocar música de qualidade em sua programação) e "Três Passos", que fecha o trabalho, é a única deste registro a contar com os vocais de Clemente em dueto com Seabra.

Contracapa de Nação Daltônica

Nação Daltônica nos faz lembrar de um tempo onde o rock brasileiro era contestador, instigante e relevante, e não dominado por aglomerações "indie" com tendências "modernosas" e sonoridade derivativa e enfadonha! Que saudades!

Track List:

01. Retaliação
02. Anos de Luta
03. Mais Um Ano Você
04. Que Te Fez Você
05. Sua História
06. Rude Resiliência
07. Quem Pode Culpá-lo?
08. Tudo Que Poderia Ser
09. (Go Ahead) Without Me
10. Três Passos