domingo, 28 de março de 2021

Pit Passarell - Praticamente Nada [2020]


Por Micael Machado

O músico Pit Passarell fez história no Heavy Metal nacional como fundador, principal compositor, baixista e depois vocalista do grupo paulistano Viper, responsável por alguns dos mais emblemáticos registros do gênero já lançados no país. Mas o artista também possui um lado mais leve, e suas composições de estilo mais próximo ao BRock dos anos 80 vem aparecendo aqui e ali em discos de outros grupos (principalmente o Capital Inicial, aproximação que se aprofundou ainda mais com a entrada do irmão de Pit, o guitarrista Yves Passarell, para a banda de Brasília em 2001) desde o final do século passado, pelo menos, além de compor boa parte do disco Tem pra Todo Mundo, lançado pelo próprio grupo original de Pit em 1996. Pois, em 2020, o ainda integrante do Viper resolveu juntar algumas destas composições a outras ainda inéditas, e lançar seu primeiro registro solo, intitulado Praticamente Nada, em um belo disco de "rock nacional", como atesta uma espécie de "obi" que acompanha a edição em CD lançada pelo selo Encore Music com apoio do site Wikimetal. Nesta empreitada, Pit se dedica apenas aos vocais, tendo a companhia de Flávio Simões no baixo, Wesley Maldonado na bateria, Cris Simões nos teclados e violões (além de assinar a produção do álbum), e conta com a presença dos guitarristas Eduardo Simões, Sílvio Vartan e Augusto Nogueira (além do já citado Yves) se alternando nas guitarras (infelizmente, o encarte não especifica quem toca em qual faixa).

Mais da metade do repertório já apareceu ao longo da carreira do Capital Inicial, sendo certamente as mais conhecidas as faixas "O Mundo" (escolhida como o primeiro single de divulgação de Praticamente Nada, tendo aparecido em Atrás dos Olhos, de 1998, e que na versão do autor soa bastante curiosa sem o característico "tchu ru ru" da introdução, substituído por um interessante fraseado de guitarra) e "Depois da Meia-Noite", inicialmente lançada em Das Kapital, de 2010 (e que aqui ganha um arranjo um pouco mais pesado que a versão do grupo candango). "Algum Dia", que apareceu com destaque no disco Rosas e Vinho Tinto, de 2002, ganha um novo arranjo, com a presença de violões e um vocal mais agressivo por parte de Pit, enquanto "Instinto Selvagem" (que já tinha uma atmosfera quase punk com o Capital, mas que ganha mais "sujeira" aqui, além de um excelente solo de guitarra) e "Seus Olhos" (que se distancia da forma mais pop do registro dos brasilienses, sem se descaracterizar totalmente, e também lançada como single) são duas faixas que apareceram em Gigante!, lançado em 2004. "Vamos Comemorar" (outra de Das Kapital) e "Poucas Horas" (do disco Saturno, de 2012) ganham letras diferentes na versão de seu compositor original, especialmente a segunda, que manteve praticamente apenas o seu refrão marcado pelo característico e repetitivo "tudo vai ficar bem". Para o meu gosto, estas "novas" versões com Pit acabam soando mais agradáveis que as "antigas", pois não possuem um viés tão "pop rock" quanto aquelas registrada pelo grupo de Brasília, além da voz de Pit ser bem mais "roqueira" que a de Dinho Ouro Preto, se encaixando melhor à cara mais "pesada" que o compositor deu às suas próprias versões.

Pit Passarell: o músico que fez história com o Viper lança seu primeiro registro solo, apostando no rock nacional.

Algumas faixas já haviam sido registradas por outros projetos capitaneados por Passarell, como o Metanol (com quem o músico gravou "Revolução na Cidade", que apresenta uma certa pegada punk) e os The Lucratives, banda formada por boa parte dos músicos envolvidos no CD, e com quem Pit lançou, ainda em 2008, além de algumas das faixas que também integram Praticamente Nada citadas no parágrafo acima, a veloz "Veloset", uma das duas únicas faixas deste álbum com versos em inglês (a outra é a semi balada "Love of My Life", única cuja maioria das frases principais são gravados na língua que consagrou a banda principal de Pit). A balançada  "A Minha Vida Vai Ser Bem Melhor" (com algo de rock clássico dos anos 50 no refrão), a faixa título e a cadenciada "Que Seja Eterno o Nosso Amor" (lançada como segundo single de Praticamente Nada) - estas duas, composições que, apesar de também apresentarem algo de punk rock em seu arranjo, não se diferenciam tanto assim de outras músicas compostas por Pit e já registradas anteriormente pelo Capital - são as únicas das quais não consegui encontrar um registro anterior, e servem, assim como as demais faixas do álbum, para mostrar que Passarell tem um dom para compor faixas marcantes não só no heavy metal clássico que o consagrou, mas também na seara do rock nacional de viés mais oitentista (e, cabe dizer, a quantidade de refrões marcantes que este disco apresenta é, sem dúvidas, muito acima da média).

Praticamente Nada não é (nem pretende ser) um disco de Heavy Metal, e, se você for um "metaleiro" com a mente mais fechada a outros estilos, sugiro que fuja da audição deste álbum. Mas, se, como eu, tiver alguma ligação com o BRock dos anos 80, ou for fã do estilo musical do próprio Capital Inicial, certamente encontrará aqui um álbum bastante agradável de ouvir. Confira!

Contracapa de Praticamente Nada 


Track List:

1. Veloset

2. Algum Dia

3. Praticamente Nada

4. O Mundo

5. Seus Olhos

6. Instinto Selvagem

7. Poucas Horas

8. Vamos Comemorar

9. Revolução na Cidade

10. Que Seja Eterno o Nosso Amor

11. Depois da Meia-Noite

12. A Minha Vida Vai Ser Bem Melhor

13. Love of My Life