domingo, 16 de junho de 2013

Alice In Chains - The Devil Put Dinosaurs Here [2013]


Por Micael Machado

Quando o vocalista Layne Staley faleceu, em 2002, parecia que seria o fim do Alice in Chains. O guitarrista Jerry Cantrell engrenou uma reconhecida carreira solo (em certos momentos acompanhado do baterista Sean Kinney e do baixista Mike Inez, os outros componentes do grupo), e todos pensavam que a trajetória de um dos maiores ícones do movimento grunge estava acabada. Mas, em 2006, o guitarrista e vocalista William DuVall juntou-se aos antigos membros, e o quarteto de Seattle renasceu das cinzas, lançando em 2009 o excelente Black Gives Way to Blue, que dignamente deu continuidade à carreira da "Alice Acorrentada".

Quatro anos depois, chega o momento do segundo álbum com William, aquele que pode indicar a validade ou não deste retorno. Para os fãs da banda, após a audição de The Devil Put Dinosaurs Here, só deve restar uma certeza: o Alice in Chains voltou para ficar, e reclamando o seu lugar no pódio do rock mundial!

Alice in Chains 2013: Mike Inez, William DuVall, Jerry Cantrell e Sean Kinney

Sem grandes mudanças de estilo em relação ao que já foi feito antes na carreira dos americanos, a faixa "Hollow" (primeiro single liberado na internet) abre os trabalhos com um sabor conhecido daqueles que acompanham o grupo desde a década de 1990. O ritmo semi-arrastado, o timbre e o peso da guitarra de Jerry, e as vozes em dueto deste e de DuVall deixam claro que o quarteto ainda é o mesmo. Como que reafirmando esta constatação, "Pretty Done" dá continuidade ao track list, soando como algo saído do auto-intitulado terceiro disco, e apresentando um marcante refrão, característica aliás que aparece com frequência ao longo das outras faixas deste álbum.

"Stone", o segundo single do play, abre com um marcante riff de Inez, logo seguido pela timbragem tradicional das guitarras de Cantrell e DuVall. O vocalista (que cada vez mais divide esta posição com Jerry) continua soando, pelo menos em estúdio, muito parecido com o antigo cantor do grupo, o que só tende a deixar as composições ainda mais familiares aos fãs do Alice in Chains, especialmente aqueles que sempre gostaram dos duetos característicos do quarteto, e que aparecem em profusão ao longo deste disco.

Detalhes do CD e da arte do encarte, com as inicias AIC feitas em ossos

Os momentos acústicos que marcaram presença em diversos momentos ao longo da carreira da banda aparecem pela primeira vez em "Voices", que soa como uma sobra do EP Jar of Flies, de 1994. Esta característica surge também na melódica "Scalpel" e em "Choke", faixa que encerra o disco, como que para reafirmar que o Alice in Chains ainda é a mesma banda da época em que o Grunge dominava as paradas. Algo que também fica claro na faixa título (forte candidata a melhor música deste trabalho, e cujo início lembra muito a clássica "Love, Hate, Love", do primeiro disco, Facelift, de 1990) e em "Lab Monkey", que possui um trecho onde Cantrell usa o pedal wah-wah com maestria.

"Low Ceiling" é um dos primeiros sopros de "novidade" no disco, com uma sonoridade meio sessentista que quase soa alegre, apostando mais na melodia que no peso. "Breath on a Window" e "Phantom Limb" (cujo riff lembra bastante o Black Sabbath) colocam um pouco mais de velocidade no cardápio musical da banda (claro que ao estilo do Alice in Chains, ou seja, perto de qualquer banda de metal melódio estas canções seriam consideradas 'lentonas"), mas "Hung on a Wire" recoloca a melancolia e a depressão em primeiro plano novamente, com DuVall (ou seria Cantrell?) fugindo um pouco do estilo "cópia de Layne" nos versos iniciais.

 A capa do álbum e suas figuras "escondidas"

The Devil Put Dinosaurs Here (cuja capa apresenta uma arte onde um segundo crânio de dinossauro, invertido em relação ao principal, pode ser visto quando observado pelo ângulo correto, e cuja intersecção dos dois forma uma figura onde alguns enxergam uma referência ao demônio do título) não é nenhuma ruptura com o passado da banda, e pode até ser considerado "mais do mesmo" por aqueles que não estiverem tão familiarizados assim com a carreira do quarteto. Mas, para mim, é suficiente para colocá-lo dentre os melhores álbuns do ano até aqui, fácil, fácil!

"Come to me... All planned out... Offering a wonderful peace of mind worth buying"

Track list:

1. "Hollow"
2. "Pretty Done"
3. "Stone"
4. "Voices"
5. "The Devil Put Dinosaurs Here"
6. "Lab Monkey"
7. "Low Ceiling"
8. "Breath on a Window"
9. "Scalpel"
10. "Phantom Limb"
11. "Hung on a Hook"
12. "Choke"

sábado, 8 de junho de 2013

DVD: Pixies - loudQUIETloud [2006]


Por Micael Machado

"Os Pixies surgiram em Boston em 1986, e fizeram algum sucesso. Seis anos depois, se separaram em meio a raiva e ressentimentos. Desde então, mesmo com seus integrantes quase não se falando, tornou-se uma das mais influentes bandas de todos os tempos. Em 2004, os Pixies voltaram!"

E é a história deste retorno que você acompanha neste DVD, do qual a citação acima foi retirada (e que tem o subtítulo "a film about the Pixies"). Em mais ou menos 75 minutos, a reunião de Black Francis (Charles para os íntimos, vocais e guitarra), Kim Deal (baixo e backing vocals), Joey Santiago (guitarra solo) e David Lovering (bateria) é mostrada em forma de documentário, desde o primeiro ensaio até o último show da turnê de 2004. O título é uma expressão empregada certa vez para descrever a música do grupo, calma ("quiet") em suas estrofes, mas alta e feroz ("loud") nos refrões, em uma estrutura que influenciou fortemente Kurt Cobain, do Nirvana, só para citar um de seus seguidores. O resultado após assistirmos ao filme é, para os fãs da banda, fascinante e revelador!

O grupo brindando ao retorno, em cena do documentário

Se, após a separação, Kim havia obtido sucesso com o Breeders, e Charles manteve uma bela carreira solo sob a alcunha de Frank Black, David e Joey estavam na pior, o primeiro vivendo de shows de mágica e dos minguados royalties que recebia de seus tempos como um pixie, e o segundo (com uma esposa grávida à época do retorno) trabalhando com trilhas sonoras e shows como músico de apoio, além de ter dirigido um documentário inacabado quando do início das filmagens (e cuja trilha contaria com a contribuição de seus colegas de banda, como vemos no decorrer do filme). Para eles, o retorno veio em boa hora, mas para os dois principais membros do grupo (cujas desavenças levaram à separação em 1992), nem tudo foi assim tão fácil, algo que o filme deixa bastante claro.

Se, fora do palco, os quatro mal se falam (Kim chega a viajar em um ônibus separado do restante da banda, sempre ao lado de sua irmã Kelley Deal, guitarrista dos Breeders, e que acompanhou a turnê inteira a pedido da baixista), quando entram em cena e as músicas começam a ser apresentadas (poucas, é verdade, mas todas com legendas em inglês e muitas em versões completas, como "U-Mass", "Gouge Away", "In Heaven", "Cactus" e "Monkey Gone To Heaven"), é impossível não ser contagiado pelo talento da banda. Ainda que sem tocar juntos há anos, o entrosamento é perfeito, tanto que Charles declara, logo no começo do filme, que "parece que nunca nos separamos" para descrever como estava sendo o retorno. 

Pixies ao vivo

Mas o foco aqui não é a música, e sim o dia a dia de quatro pessoas que significam muito para tantas pessoas, mas parecem ter enormes dificuldades em carregar este fardo. A tensão da vida na estrada não é fácil para eles, e os diretores Steven Cantor e Mathew Galkin não se furtaram de mostrar este lado dos bastidores. Assim, podemos ver Joey chorando pela saudade dos filhos (o menor nascido em meio à turnê), Kim lutando contra as drogas e o álcool (substâncias com as quais David se envolve de cabeça, além de ter que lidar com a doença e a morte do pai em meio à parte europeia da excursão, com ele sem poder estar próximo de sua família), enquanto Charles tenta manter uma atitude "não estou nem aí para nada", quando na verdade também tem de lidar com seus próprios demônios, como a busca de uma gravadora para lançar seu disco solo (gravado em meio à excursão, e o qual acredito que viria a ser Honeycomb, de 2005) e a descoberta da gravidez de sua esposa.

Todos os shows da turnê tiveram ingressos esgotados muito rapidamente (a banda chega a ganhar um quadro com os dizeres "o show com os ingressos vendidos mais rápido na história da Brixton Academy" em uma das cenas), e percorreu a Europa e os EUA durante o ano de 2004. O público mostrado é sempre fanático pelos Pixies, e a atenção devotada por eles é retribuída pelo grupo, que aparece várias vezes autografando itens e mais itens e tirando fotos com fãs de todas as idades, todos sempre com uma palavra de incentivo e agradecimento pelo retorno, que, felizmente, não se resumiu a esta turnê. Como o filme explica, apenas seis meses depois do último show na cidade de Nova Iorque, o grupo voltou a se apresentar regularmente, e, embora ainda não tenha registrado nenhum disco inédito (apenas o single digital “Bam Thwok” viu a luz do dia), continua na ativa, sempre atraindo muitos seguidores por onde passa.

Joey Santiago, Kim Deal, David Lovering e Black Francis, em sessão de fotos mostrada no filme

Nos extras, quase meia hora de cenas deletadas, que mergulham ainda mais na intimidade dos membros da banda, além da possibilidade de assistir ao documentário com os comentários dos quatro músicos, estes, infelizmente, sem legendas!

Lançado no Brasil pela gravadora Coqueiro Verde, loudQUIETloud é um belo filme para quem gosta do estilo musical do grupo, e uma obra que deve ser obrigatoriamente assistida pelos fãs do Pixies. Se tiver a oportunidade, não desperdice!

"In heaven, everything is fine..."