sábado, 12 de outubro de 2019

Neil Young + Stray Gators - Tuscaloosa [2019]


Por Micael Machado

Em 1972, o canadense Neil Young lançou o álbum Harvest. Seguindo a linha mais acústica e "calma" de seu antecessor, After the Gold Rush, de 1970, Harvest foi gravado quase em sua totalidade na cidade norte-americana de Nashville, ao lado de experientes músicos de estúdio, cuja combinação foi batizada por Young de The Stray Gators, além de alguns convidados especiais aqui e ali. Com o sucesso do disco, Neil queria que Danny Whitten, do Crazy Horse, se juntasse ao grupo para a turnê de divulgação, mas, após poucos ensaios, ficou claro que o guitarrista não estava em condições de cair na estrada, devido a abusos de "substâncias" como álcool e drogas. Young então deu um dinheiro a Danny para que ele voltasse para casa e colocasse a vida em dia, dispensado-o da banda.

Whitten morreria de overdose na noite seguinte ao seu afastamento do grupo...

Como o show não pode parar, Young (vocais, guitarra, piano e harmônica), Ben Keith (pedal steel, slide guitar e vocais), Jack Nitzsche (piano e vocais), Tim Drummond (baixo) e Kenny Buttrey (bateria) entraram em uma excursão onde os shows consistiam basicamente de um set acústico inicial com algumas seleções de músicas presentes em HarvestAfter the Gold Rush com outros registros da carreira de Young, e um segundo set elétrico predominantemente de músicas inéditas, desconhecidas por praticamente todos os presentes na plateia (e, por vezes, até por alguns dos músicos). A tristeza pela perda de Danny, o abuso das tais "substâncias" por parte de todos, e a péssima recepção do público às músicas novas, fizeram com que a turnê virasse um verdadeiro pesadelo, com Buttrey abandonado o barco na metade, sendo substituído por Johnny Barbata, que já havia tocado, dentre outros, com Crosby, Stills, Nash & Young e o Jefferson Airplane.

Neil Young e os Stray Gators, durante a excursão de 1973

Mesmo com todos os problemas, a digressão acabou eternizada no álbum ao vivo Time Fades Away, de 1973, contando com oito daquelas músicas inéditas que a banda de Young interpretava na segunda parte do show. Apesar de bem recebido pela crítica, o registro já foi citado pelo canadense como "o pior disco" que ele já gravou (um enorme exagero, logicamente), e por um longo tempo foi o único de sua enorme discografia a não ser disponibilizado oficialmente em CD, com as pavorosas lembranças daqueles tempos atormentando Neil desde então.

Surpreendentemente, em janeiro deste ano Young anunciou que pretendia lançar um álbum ao vivo com registros inéditos daquela excursão. Assim, Tuscaloosa veio ao mundo em junho de 2019, contendo parte da apresentação de Neil e os Stray Gators originais na cidade que lhe dá nome, no estado norte-americano do Alabama, a 05 de fevereiro de 1973, anteriormente, portanto, a todas as faixas registradas em Time Fades Away (com exceção de "Love in Mind", gravada em 1971). Deste registro, aliás, apenas a faixa título e "Don't Be Denied" se repetem em Tuscaloosa, com o álbum também sendo dividido em uma parte acústica e outra elétrica, como nos shows da turnê que lhe deu origem.

Para os não-iniciados (ou para aqueles que não conhecem tão bem a discografia do bardo canadense), as grandes "pepitas" estão na parte acústica, com uma espetacular sequência de clássicos presentes em Harvest, além de uma linda versão da faixa título de After the Gold Rush e uma rara interpretação ao vivo de "Here We Are in the Years", do disco de estreia da carreira solo de Neil Young, que leva o seu nome. Para os já convertidos, as jóias estarão na parte elétrica, onde, além das duas faixas já citadas (em versões diferentes daquelas presentes no álbum de 1973, especialmente "Don't Be Denied", minha favorita neste novo registro, com quase três minutos a mais que a versão original), estão presentes músicas que só seriam lançadas oficialmente em 1975, no álbum Tonight's the Night, e raramente interpretadas ao vivo desde então (sendo que "Lookout Joe" sequer faz parte do track list de Roxy: Tonight's the Night Live, álbum lançado em 2018 e que traz a interpretação ao vivo de quase todas as faixas presentes em Tonight's the Night), além de uma acachapante versão para "Alabama", outro clássico presente em Harvest.

Contracapa de Tuscaloosa

Produzido pelo próprio Young ao lado de Elliot Mazer, e lançado tanto em CD quanto em vinil (além das hoje obrigatórias versões nas plataformas digitais, inclusive o youtube, onde o canadense colocou o álbum na íntegra em seu canal oficial), Tuscaloosa é uma excelente adição à série de "registros de arquivo" que Neil Young vem lançando nos últimos tempos, e é aquisição obrigatória aos fãs de sua obra, pois, com o benefício da passagem do tempo, várias de suas faixas vieram a se tornar em clássicos de sua trajetória musical, e, mesmo aquelas consideradas "menores" dentro de sua longuíssima discografia, atraem a atenção por raramente serem executadas ao vivo depois desta digressão. Infelizmente, cabe a mim registrar que a quase sempre obrigatória recomendação da aquisição do disco na versão em vinil acaba não cabendo aqui, pois, apesar do mesmo ser duplo, o lado "D" da obra não possui músicas, sendo substituído por uma gravação do nome de Neil Young e do grupo, além de uma gravura de uma mão fazendo o sinal da paz (algo incompreensível, pois o próprio Young chegou a afirmar que existem faixas registradas neste show que não foram incluídas neste disco, como "The Loner" ou "On The Way Home", que poderiam muito bem ter sido acrescidas como "bônus" nesta versão, completando assim o vinil). Além disto, como a transição entre a parte acústica para a parte elétrica ocorre no meio do lado "B", e não há uma pausa entre elas, a mesma acaba ficando um tanto "abrupta", soando estranho aos ouvidos uma faixa com violões ser seguida logo em sequência por outra eletrificada, sem uma "preparação" de parte da banda para que a mudança ocorra. Ou talvez tudo isso seja apenas a reclamação de um fã chato, que preferia ter em mãos ainda mais registros de uma noite que, pelo menos durante a audição de Tuscaloosa, parece ter sido extremamente prazerosa!

"Son, don't wait until the break of day/Because you know how time fades away"

Track List:

1. Here We Are in the Years
2. After the Gold Rush
3. Out On the Weekend
4. Harvest
5. Old Man
6. Heart of Gold
7. Time Fades Away
8. Lookout Joe
9. New Mama
10. Alabama
11. Don't Be Denied

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Inocentes - Cidade Solidão [2019]



Por Micael Machado

Com carreira iniciada no início da década de 1980, o grupo paulista Inocentes é, desde sempre, um dos principais nomes do movimento punk brasileiro. Formado atualmente por Clemente Nascimento (voz e guitarra), Ronaldo Passos (guitarra), Anselmo Monstro (baixo) e Luis "Nonô" Singnoretti (bateria), o quarteto lançou especialmente para o Record Store Day deste ano (ocorrido a 13 de abril) o EP Cidade Solidão, através da gravadora Hearts Bleed Blue (HBB), com seu formato físico inicialmente apenas em vinil de sete polegadas (com quatro músicas em pouco mais de treze minutos, sendo três inéditas e uma regravação), apresentando uma canção extra na versão disponível nas principais plataformas digitais.

Dentre as inéditas, a abertura com "Donos das Ruas" apresenta um punk rock rápido e "pegado", que parece ter saído diretamente de alguma demo esquecida dos primeiros anos da banda, característica, aliás, bastante relevante ao longo da audição do EP, excetuando-se, claro, a produção (a cargo de Wagner Bernardes), que é extremamente melhor e mais cuidadosa do que as daquela época. Clemente chegou a declarar a respeito da bolachinha que ela "olha para o passado como inspiração para seguir em frente", sendo "uma atualização do que seria feito no começo da carreira, com a mesma energia e criatividade, trazendo elementos novos sem se distanciar das raízes”.

Os Inocentes: Clemente Nascimento, Anselmo Monstro, Ronaldo Passos e Luis Singnoretti

"Fortalece", a segunda faixa, mantém a aura oitentista, apesar de ser um pouco mais lenta que a anterior. Já a composição mais cadenciada do registro (e, para mim, seu maior destaque) é a faixa título, que fecha a versão em vinil, e que já me ganhou no coro de "ô-ô-ô" do início, totalmente oitentista em seu espírito e execução (estivesse ela presente no EP de estreia do grupo, ou mesmo no seu primeiro álbum, não destoaria em nada do repertório, a não ser pelos solos de guitarra que apresenta, bem mais técnicos do que aqueles que o grupo executava na época).

O track list do vinil é completado com uma nova versão para "Escombros", presente originalmente no álbum Ruas, de 1996. Segundo Clemente, a escolha se deu por ser uma canção que a banda e o público gostam muito, "só que, na época em que 'Escombros' foi gravada, em 1996, a banda não tinha a rodagem que tem hoje. Agora conseguimos registrá-la da maneira que queríamos, e o resultado ficou ótimo, a música ganhou vida novamente". Sem muitas mudanças no arranjo, a nova versão ganhou uma produção que a faz soar melhor que a original, tendo os vocais mais destaque nesta nova faixa, e o refrão ganho a adição de backing vocals que tornaram esta regravação mais atraente que sua antecessora. Já a faixa extra disponível inicialmente apenas nas plataformas digitais (mas depois lançada também em uma versão em CD) é uma cover para "Terceira Guerra", do Fogo Cruzado (presente originalmente na lendária coletânea Sub, de 1983), o que ajuda a consolidar a aura oitentista do EP, sendo, logicamente, muito melhor gravada que a versão original, mas mantendo a urgência e o espírito punk rock desta.

Contracapa da versão em vinil de Cidade Solidão

Cidade Solidão pode ser apenas um lançamento "menor" na longa carreira dos Inocentes, mas tem credenciais para ser mais um item marcante na prateleira dos fãs da banda e dos apreciadores de um punk rock na linha old school do estilo. Se este for o seu caso, prepare o pogo, e aqueça os vocais para acompanhar os coros das músicas do quarteto. A diversão, com certeza, será garantida.

Track List:

1. Donos das Ruas

2. Fortalece

3. Escombros

4.Cidade Solidão

5.Terceira Guerra (Fogo Cruzado) *Bônus das versões digitais e em CD

quarta-feira, 24 de julho de 2019

The Completers - Silence [2017] / Unspoken Signals [2018]


Por Micael Machado

Tem vezes em que a simples experiência de ir a um show de uma banda que se goste pode trazer descobertas incríveis para sua vida. No final de maio deste 2019, o grupo espanhol Belgrado se apresentou em Porto Alegre, tendo por banda de abertura o quarteto local The Completers, do qual eu nunca tinha ouvido falar antes, apesar de morarmos na mesma cidade. Curioso por conhecer o som de meus conterrâneos, fui ouvi-los em uma das várias plataformas digitais onde suas músicas estão disponíveis, e fiquei agradavelmente surpreso com o que conheci!

Assim como o Belgrado, o The Completers investe no pós-punk como estilo de suas canções. Mas não é aquele pós-punk arrastado, tristonho e sombrio característico do estilo, mas sim aquela vertente mais rápida e energética que aparece por vezes na discografia de um Joy Division ou um Sisters Of Mercy (e na maior parte dos registros do próprio Belgrado, só para manter uma relação de comparação). Iniciando seus trabalhos em 2015, e atualmente formado por Felipe Vicente (vocais, guitarra e teclados), Jonas Dalacorte (guitarras), Lucas Richter (baixo) e Guilherme Chiarelli Gonçalves (bateria), o grupo já possui dois registros de estúdio, o compacto Silence, de 2017, e o EP Unspoken Signals, do ano seguinte.

Versão em vinil do compacto Silence b/w Be Gone

Oficialmente intitulado Silence b/w Be Gone, o compacto de estreia tem no lado A da versão em vinil (lançada pelo selo Yeah You!, também de Porto Alegre) a faixa "Silence", bem mais rápida do que se esperaria de um grupo de pós-punk, mas ainda assim com uma certa melancolia e uma atmosfera sombria tão características do estilo. Chama atenção o trabalho das guitarras, com solos muito expressivos e tons bem oitentistas (época do auge do estilo adotado pelo quarteto), além de uma marcante linha de baixo, característica que se repete na canção do lado B, "Be Gone", que se mostra menos virulenta e mais "tristonha" que sua colega de bolacha, mas igualmente atraente. Em ambas, chama a atenção a semelhança do timbre de voz de Felipe com o de Ian Curtis, do Joy Division, embora passe longe de uma cópia ou imitação do mesmo, algo que, convenhamos, seria bem difícil de ser alcançado (ressaltando ainda que esta semelhança não é, de forma alguma, um demérito ao cantor, que fique bem claro).

O EP Unspoken Signals e seu lindo trabalho gráfico

Já o EP Unspoken Signals (lançado em um belíssimo vinil vermelho pelo selo gaúcho Thrash Unreal Records, da cidade de Santa Cruz do Sul) possui a faixa título no lado A , e ao primeiro acorde se nota uma grande diferença em relação ao compacto anterior: a presença do sintetizador de Vicente, totalmente ausente no primeiro registro do grupo. Também em mid-tempo, a faixa ganha tons mais góticos com o novo instrumento, ampliado pelo uso de alguns efeitos de eco na voz de Felipe, que já não soa tão derivativa da de Ian, recursos que ajudam a tornar a canção com uma sonoridade mais "própria" do grupo do que de suas fontes de inspiração. O lado B abre com a instrumental "Words (Never Again)", o mais curto (com pouco mais de dois minutos e meio) e tristonho registro da carreira do grupo até aqui, sendo o exemplo perfeito do que se convencionou chamar de "rock gótico" nestas paragens, com o baixo à frente dos instrumentos (em uma timbragem que imediatamente remete à de Peter Hook em seus tempos de New Order), uma bela "cama" de teclados e a guitarra conduzindo uma melodia sombria e delicada, pontuada pelo belo trabalho de bateria. Fechando a bolacha, "Flowers" é a faixa que mais remete ao trabalho anterior, tanto pela velocidade elevada em relação à suas colegas de track list, quanto pela ausência do teclado, tão marcante nas demais faixas do EP. Impossível ouvir esta canção e não imaginá-la na discografia de um Echo and the Bunnymen ou em um dos primeiros registros do The Cure. Cabe ainda ressaltar o capricho e a preocupação do selo com a parte gráfica da versão em vinil, com as letras e a ficha técnica disponíveis em formatos que lembram uns cartões postais, algo diferente e muito criativo elaborado pelo grupo junto à artista Lucia Marques, e que realmente serve como um diferencial para o trabalho do quarteto.

The Completers ao vivo: Jonas Dalacorte (guitarras), Lucas Richter (baixo), Guilherme Chiarelli Gonçalves (bateria) e Felipe Vicente (vocais, guitarra e teclados), em foto registrada pela agência Clickante no citado show de abertura para a banda Belgrado no Bar Agulha em Porto Alegre, dia 24 de maio de 2019, e retirada de postagem feita na página oficial do evento.

Como fica claro pela leitura do texto, o The Completers não procura esconder suas influências nem reinventar a roda, mas dá continuidade com dignidade e qualidade à história de um estilo que já não anda tão em alta neste final da segunda década do século XXI. Pelo que apresentaram naquela apresentação citada lá no começo da matéria, o grupo possui muitas outras canções tão boas quanto estas esperando por um registro oficial em um álbum completo de estreia (ou mesmo uma nova leva de EPs). Que este não demore a chegar, e que o futuro traga boas venturas aos meus conterrâneos gaúchos!

Track List:

Silence b/w Be Gone

1. Silence
2. Be Gone

Unspoken Signals

1.Unspoken Signals
2.Words (Never Again)
3.Flowers

sábado, 15 de junho de 2019

Os Replicantes - Libertà [2018]


Por Micael Machado

Demorou oito anos, mas finalmente a banda punk mais importante do Rio Grande do Sul soltou um novo disco de estúdio. Lançado no final de 2018 de forma independente pelo selo gaúcho Marquise 51, e produzido por Davi Pacote ao lado dos membros do grupoLibertà é, de acordo com a wikipedia, o nono disco de inéditas d'Os Replicantes, e o segundo com os vocais de Júlia Barth, que assumiu o posto no final da década passada (o resto da formação continua com os fundadores Cláudio Heinz na guitarra e Heron Heinz no baixo, além do baterista Cleber Andrade, com o grupo desde o final dos anos oitenta).

Algumas faixas já eram bem conhecidas por quem acompanha o quarteto de perto, como a quase "bubblegum" "O Futuro" (que já havia aparecido antes no disco A volta dos que não foram, de 2001, e que ganha aqui uma nova versão, acredito eu que como homenagem póstuma à sua autora, a artista plástica gaúcha Cláudia Barbisan, falecida em 2015 após anos lutando contra um câncer, e cuja voz aparece tanto na versão antiga quanto nesta), a variada Solução De Contorno” (que inicia com um ritmo quebrado e "estranho", mas logo ganha a velocidade de um caminhão descontrolado indo ribanceira abaixo, e que já havia aparecido na coletânea Volume 11, lançada em 2016 para comemorar os onze anos de funcionamento do estúdio gaúcho Dubstudio), a veloz "Não Me Leve A Mal" (que parece saída dos primeiros discos do grupo, e que ganhou um vídeo clipe de divulgação), a "ramônica" "Cobertor" e a impactante (tanto musical quanto liricamente) faixa título, três faixas que já haviam aparecido (ao lado de uma regravação em francês para "Corrida Espacial", do disco de estreia) em um EP com o nome do grupo lançado de forma quase artesanal pela banda em 2015.

Os Replicantes: Júlia Barth, Cleber Andrade, Heron Heinz e Cláudio Heinz

Dentre as "novidades", destaque para a contagiante abertura com "Bergamotas" (um punk rock mais "tradicional", se é que esta palavra cabe ao estilo), a pesada (para os padrões da banda) "Nightmares" (uma das poucas músicas da carreira dos gaúchos com letras em inglês, e que apresenta um dos melhores refrões do disco), e a mais cadenciada "Nada É Por Acaso", com um refrão cuja letra não esconde a origem gaúcha de seus intérpretes.

Claro que, como toda banda punk que se preze, a parte lírica é tão importante aqui quanto a musical. Assim, dentre temas que tratam de relacionamentos mal resolvidos, desilusão com o futuro e críticas às dificuldades e mazelas sociais do país e da sociedade (uma delas um verdadeiro "tapa na cara" daqueles que se consideram "ativistas" e "engajados", mas não passam de paspalhos manipulados e ridículos, retratados com bom humor pela banda na divertida "Punk de Boutique"), ganham destaque os temas de cunho feminista trazidos ao universo do grupo, acredito eu, pela vocalista Júlia. Se no disco de 2010 tínhamos "Maria Lacerda", agora ganhamos a contundente "Feminicídio", com uma letra impactante sobre a condição da mulher na sociedade atual (cabe lembrar que o mesmo tema aparece brevemente também na faixa título, embora com uma evidência um pouco menor). Ainda na questão das letras, gostaria de citar um trecho de “Solução De Contorno” com o qual concordo plenamente: "show punk que se preze não tem área VIP" (e todo show que se preze deveria ser assim, acrescento eu).

Capa, CD e encarte de Libertà

Fecha o track list de Libertà (que teve a arte criada por Fábio Alt, onde se destaca o encarte com várias ilustrações remetendo a temas como o filme "Psicose", a capa do disco London Calling, do Clash, e ícones como Joana D'Arc e o famoso quadro "A Liberdade guiando o povo", ligado à Revolução Francesa) a bela homenagem a Júpiter Maçã, na regravação da sua "Síndrome de Pânico", onde os conterrâneos do autor conseguiram traduzir a psicodelia e a lisergia da original para o universo punk do quarteto, em mais um dos destaques de um álbum que, até pelo tempo de maturação e elaboração, acaba sendo mais robusto e de fácil assimilação que o anterior (onde os "Repli" contavam há pouco tempo com Júlia, que desde então já fez inúmeros shows e turnês com os "guris", aumentando, obviamente, o entrosamento do "time"). A se lamentar apenas a curta duração do play (em torno de 34 minutos), e a ausência da faixa "O Inverno Está Chegando", lançada como single virtual ainda no calor dos protestos contra o governo ocorridos em 2013, e que poderia fazer parte deste novo disco, dando assim a chance dos colecionadores como eu a terem em "formato físico" nas suas estantes. Mas estas são questões menores, que não abalam a qualidade de Libertà, mais um destaque na discografia de uma das mais relevantes e históricas formações musicais do Rio Grande do Sul. Que o próximo disco não demore tanto a chegar!

Track List:

1. Bergamotas
2. Punk de Boutique
3. Nightmares
4. Libertà!
5. Feminicídio
6. O Futuro
7. Nada É Por Acaso
8. Solução De Contorno
9. Cobertor
10. Não Me Leve A Mal
11. Síndrome de Pânico

domingo, 10 de março de 2019

King Crimson - Live at the Orpheum [2015]


Por Micael Machado

Em 2008, o grupo progressivo inglês King Crimson fez aquela que deveria ser sua última turnê, celebrando seu quadragésimo aniversário. Tendo em seu line up o sempre presente Robert Fripp nas guitarras, sintetizadores e soundscapes (equipamentos eletrônicos que produzem as famosas sonoridades ambientais conhecidas como "Frippertronics"), o cantor e vocalista Adrian Belew, o baterista e percussionista Pat Mastelotto, o baixista e "sticker" (como se chama o instrumentista que toca Chapman Stick, alguém sabe?) Tony Levin (retornando ao grupo após quase dez anos) e um segundo baterista, Gavin Harrison (ex-integrante do Porcupine Tree), o então quinteto se apresentou em poucas datas na Europa antes de entrar em um hiato que, para Fripp, deveria ser definitivo, devido à sua eterna briga com as gravadoras e o mundo empresarial da música (motivo que já o havia feito parar com as atividades da banda algumas vezes antes). Mas, em 2011, Fripp começou a fazer jams despretensiosas com o cantor e guitarrista Jakko Jakszyk, então membro de um grupo tributo ao King Crimson chamado 21st Century Schizoid Band, onde também tocava o saxofonista e flautista Mel Collins, que já havia integrado o Rei Escarlate entre 1970 e 1972, registrando três discos de estúdio e um ao vivo com o grupo. Jakszyk, Fripp e Collins lançaram o álbum A Scarcity of Miracles em maio daquele ano, tendo na "cozinha" a ajuda dos já citados Levin e Harrison. O registro excitou os fãs do King Crimson, que passaram a especular uma volta da banda aos palcos, fato que foi confirmado pelo líder Fripp em 2013.

A nova formação do sempre mutante legado carregado por Fripp seria composta pelo quinteto responsável por A Scarcity of Miracles, com o acréscimo do antigo companheiro Pat Mastelotto e de um terceiro baterista, Bill Rieflin, ex-colaborador de grupos tão díspares quanto Ministry, R.E.M. e Swans, e que, nesta encarnação do KC, ficaria também responsável por alguns dos trechos de teclados. Este septeto ficaria conhecido como "The Seven-Headed Beast" (algo como "A Besta de Sete Cabeças", em tradução livre), e excursionou por 20 datas nos Estados Unidos no final de 2014, em uma turnê chamada "The Elements of King Crimson". Dois destes shows ocorreram em 30 de setembro e 1 de outubro daquele ano no Teatro Orpheum, em Los Angeles, na California, e foram lançados em janeiro de 2015 (coincidindo com o quadragésimo-sétimo aniversário do grupo) sob o nome Live at the Orpheum, em uma edição dupla que compreende um CD e um DVD-Áudio (ambos com o mesmo conteúdo), além de uma versão limitada em vinil de 200 gramas (e repertório igual ao do CD).


"A Besta de Sete Cabeças": Tony Levin, Gavin Harrison, Mel Collins, Bill Rieflin, Robert Fripp, Pat Mastelotto e Jakko Jakszyk

Se, por um lado, este disco ao vivo deve ser bastante saudado, por trazer faixas que o grupo não interpretava ao vivo desde o início da década de 1970 (além do retorno de Collins e Levin a um disco do King Crimson), por outro, vários motivos poderiam ser citados para colocá-lo como uma grande decepção. O maior deles, sem dúvida alguma, é sua curta duração (meros 41 minutos, muito pouco para tanta expectativa gerada pelo anúncio do álbum, sendo que sabe-se hoje que os dois shows foram gravados na íntegra, e poderiam ter sido lançados em sua versão completa, se Fripp assim desejasse), seguido de perto pelo fato de que as duas músicas inéditas presentes no enxuto track list são, na verdade, curtos e desinteressantes trechos instrumentais. "Walk On: Monk Morph Chamber Music", uma delas, é uma simples intro do show, unindo sonoridades geradas pelos Frippertronics, sons aleatórios de flauta e de uma orquestra afinando, conversas entre os músicos e até um trecho falado de uma conhecida "faixa escondida" presente nas edições originais do álbum Islands, de 1971, e que apareceu depois nas edições comemorativas lançadas em CD. Já "Banshee Legs Bell Hassle", a outra "novata", compreende pouco mais de um minuto e meio de barulhinhos percussivos feitos pelos três bateristas, em uma vinhetinha sem muito sentido, pois a força da união de tão talentosos instrumentistas fica longe de ser demonstrada aqui. A única outra canção não lançada na década de 1970 presente no registro, "The ConstruKction of Light" (faixa título do álbum de 2000) também soa decepcionante, não pela primorosa execução (que agrega inéditos trechos de sopro em seu arranjo, em um acréscimo muito bem vindo à música), mas por estar presente apenas em sua curta parte instrumental inicial. Quando a expectativa para a entrada da letra escrita por Belew é interrompida pelo final da faixa, fica uma sensação amarga em quem ouve Live at the Orpheum, pois o gosto de "quero mais" é impossível de se fazer presente nesta hora.

Felizmente, o restante do disco é de fazer sorrir de orelha a orelha qualquer fã mais devoto do Rei Escarlate. "One More Red Nightmare", originalmente presente no álbum Red, de 1974 (particularmente, o meu preferido dentre a vasta discografia do grupo), surge maravilhosa, com destaque para o peso e a força das três baterias, que finalmente se faz presente neste disco, além das passagens de sopro de Collins, especialmente no primeiro solo de sax. Lamentavelmente, faltam aquelas passagens no prato tão marcantes no início da versão de estúdio, e a voz de Jakszyk soa aguda demais perto da perfeição e da força da versão original, registrada pelo saudoso John Wetton, algo que não chega a tirar o brilho de uma das melhores composições da chamada "trilogia elétrica" do King Crimson. Fechando o lado "A" do vinil, como fazia no citado Islands"The Letters" é bastante fiel à versão de estúdio, embora apresente um solo de sax mais longo que aquele registrado décadas atrás por Collins, e falte algo do peso nas guitarras que a faixa original possui. Jakszyk se sai bem melhor aqui, pois seu registro de voz não fica tão distante do de Boz Burrell (cantor da primeira versão), ganhando destaque na parte a capella ao final da canção, e, ao longo do arranjo, o peso e a força das três baterias novamente se faz presente, sem nunca soar "embolado" ou "atropelado", algo que poderia facilmente acontecer com músicos menos tarimbados que os presentes aqui.


Interior da capa gatefold da versão em vinil de Live at the Orpheum

O lado "B" do vinil (ou as duas últimas músicas do CD) também são só alegria. Outra faixa originalmente presente em Islands"Sailor's Tale" sempre foi uma das minhas favoritas da fase inicial do Rei Escarlate, em muito graças à sua vibrante linha de baixo, reproduzida aqui com perfeição por Levin, mas também graças a um sentimento de "perigo" e de aparente desordem que o arranjo produz, e que consegue ser mantido nesta versão, além de alguns pequenos improvisos aqui e ali por parte de Collins. O "ameaçador" mellotron da faixa de estúdio acaba fazendo falta na parte final, mas a guitarra de Jakko e os sopros de Mel conseguem, de alguma forma, compensar esta "perda", com a guitarra de Fripp (penso eu que seja dele) solando alucinadamente ao fundo, e só não transformando esta na melhor faixa de Live at the Orpheum porque o disco se encerra com a maravilhosa "Starless", música que também termina o lado "B" do já citado Red. A maior obra prima já lançada pela banda, esta suíte é um dos grandes clássicos do rock progressivo, e já teve várias versões ao vivo lançadas ao longo dos anos (várias delas presentes na caixa Road to Red, sobre a qual já tratei aqui no site, em matéria que, infelizmente, o site UOL retirou do ar), mas todas elas gravadas ainda com David Cross ao violino. Quem já as ouviu, sabe que o arranjo é bem diferente daquele presente em Red, gravado sem a presença do violinista. Sendo assim, esta é a primeira versão registrada ao vivo com o arranjo de estúdio, onde os sopros de Collins ganham bastante destaque ao longo da execução da faixa (como no registro de 1974, onde ele também esteve presente). Nem a diferença entre os timbres vocais de Jakko e Wetton, nem a evidente desaceleração do trecho final da parte instrumental intermediária (pouco antes da retomada do tema inicial), nem mesmo a sentida ausência do peso do baixo presente no encerramento da composição original conseguem estragar este clássico, que acaba sendo o grande destaque deste belo registro ao vivo do King Crimson.

Live at the Orpheum acabou sendo o único registro da turnê de 2014, mas esta encarnação em septeto ainda participaria dos álbuns Live in Toronto, de 2016 (gravado em 2015 e lançado como parte do Collectors Club do King Crimson) e do box set Radical Action to Unseat the Hold of Monkey Mind, um compilado  de apresentações ao vivo da turnê de 2015 lançado também em 2016. No mesmo ano, Rieflin precisou se afastar da turnê, sendo substituído pelo baterista Jeremy Stacey, da Noel Gallagher's High Flying Birds, mas retornou no ano seguinte, apenas como tecladista, transformando o grupo em um octeto, no que passou a ser conhecida como a encarnação chamada de "Double Quartet", ou "Duplo Quarteto", em tradução livre. A formação do período sem Rieflin está presente no EP ao vivo Heroes e no CD triplo Live in Vienna, ambos de 2017, e o "Double Quartet" aparece em Live in Chicago, lançado no final do mesmo ano, além de continuar na estrada ao longo deste 2018. Seria muito sonhar com uma apresentação da banda aqui por estas terras tropicais? Tomara que não!



Contracapa de Live at the Orpheum

Track List:

1. Walk On: Monk Morph Chamber Music
2. One More Red Nightmare
3. Banshee Legs Bell Hassle
4. The construKction of light
5. The Letters
6. Sailor's Tale
7. Starless

CJ Ramone - American Beauty [2017]


Por Micael Machado

Christopher Joseph Ward passou a fazer parte dos Ramones em 1989, sendo imediatamente "rebatizado" como CJ Ramone, e permanecendo como baixista e eventual vocalista do quarteto nova-iorquino até o encerramento das atividades do grupo, em 1996. Após tentativas de continuar em evidência participando de bandas como Los Gusanos e Bad Chopper, CJ embarcou em uma carreira solo iniciada com o álbum independente Reconquista, de 2012, seguido por Last Chance to Dance, de 2014, voltando sua música à sonoridade tradicional de seus tempos ao lado dos "brothers" de sua banda mais famosa. American Beauty, de 2017 (lançado nas versões CD, vinil preto e em uma linda edição limitada em vinil colorido pela gravadora Fat Wreck Chords, de propriedade do músico Fat Mike, do NOFX, sendo o segundo registro de CJ por este selo), dá continuidade à trajetória do músico, que mais uma vez se fez acompanhar pelas lendas do punk rock Steve Soto (ex-Adolescents, infelizmente falecido em junho deste ano) e Dan Root (ex-Tender Fury e também membro do Adolescents) nas guitarras, além do baterista Pete Sosa (ex-integrante do Roger Miret And The Disasters), em um disco que certamente agradará à enorme e saudosa legião de fãs dos Ramones.

Dan Root, Steve Soto, CJ Ramone e Pete Sosa, a formação que gravou American Beauty

Músicas mais rápidas como a energética "Let's Go" (que abre os trabalhos e é um dos destaques do álbum), “Girlfriend In A Grave Yard" (onde a guitarra solo tem um pezinho na surf music da década de 1950), "Steady As She Goes" e "Run Around" são similares às faixas com CJ nos vocais que encontramos nos discos dos Ramones de Mondo Bizarro para a frente. "You'll Never Make Me Believe" e "Moral To The Story" são mais cadenciadas, mas também não soariam deslocadas no meio do track list destes mesmos álbuns, sendo que a última tem uma vibe bem anos 60 que frequentemente aparecia nas composições da ex-banda de Ramone, e que aqui ainda é enfatizada por um interessantíssimo solo de guitarra.

"Be A Good Girl" soa como uma daquelas semi-baladas cheias de romantismo que Joey costumava compor para os Ramones, e não é difícil imaginar Dee Dee na composição e nos vocais da agressiva "Yeah Yeah Yeah". O riff inicial de "Without You" (com participação especial da cantora Kate Eldridge, do Big Eyes) lembra muito o de "The KKK Took My Baby Away" (embora a canção seja mais lenta que a dos "brothers"), e a semi-balada "Before The Lights Go Out" tem ali no meio uma parte "chupinhada" na cara dura de "I Want You Around", outra composição da ex-banda de CJ. Até mesmo um cover de Tom Waits aparece no disco ("Pony", que conta com trompetes mariachi em seu arranjo), remetendo a "I Don't Want to Grow Up", gravada "você-sabe-por-quem" no álbum ¡Adios Amigos!, de 1995. Para fechar o track list do disco (e, no caso do vinil, o lado A do mesmo), temos a acústica "Tommy's Gone", curta e bela homenagem a Tommy Ramone, baterista original e depois produtor por muitos anos daquele tal quarteto tão falado até aqui, infelizmente falecido em 2014.

A linda (e rara) versão limitada em vinil colorido de American Beauty

Se você procura por originalidade e pelos "novos bons sons" do rock atual, fique longe de American Beauty. Mas, se você quer escutar algo empolgante, com um astral "para cima" e divertido, além de bem composto, gravado (em parceria entre CJ e o produtor e engenheiro Paul Miner) e tocado, com melodias agradáveis e refrões pegajosos (do tipo que você já se pega cantando junto depois de uma única audição), além de emular perfeitamente a sonoridade da melhor banda de rock que já passou por este planeta, então pode se entregar sem medo, pois este é o álbum recomendado para você. Valeu, CJ, e que mais discos assim venham por aí!

Contracapa da versão em vinil de American Beauty

Track List:

1. Let's Go
2. Yeah Yeah Yeah
3. You'll Never Make Me Believe
4. Before The Lights Go Out
5. Girlfriend In A Graveyard
6. Tommy's Gone
7. Run Around
8. Steady As She Goes
9. Without You
10. Be A Good Girl
11. Moral To The Story
12. Pony

Nëcro - Adiante [2016]


Por Micael Machado 

Em uma certa quinta feira no final do ano de 2016, fui até um bar de Porto Alegre conferir a estreia na cidade do trio islandês The Vintage Caravan, pela qual nutria grande expectativa. Na abertura do show, além da banda local Wolftrucker, um outro trio também fazia sua primeira performance em um palco da cidade. Os Alagoanos da Nëcro fizeram um show matador com duração de pouco menos de cinquenta minutos (que, inclusive, pode ser conferido na íntegra aqui), me empolgando tanto que logo comprei, das mãos dos próprios músicos, o CD autointitulado que vendiam no local, e que o trio, meio embaraçado e surpreso pelo "assédio", não se furtou de autografar para mim. O que eu não sabia então é que este já era o segundo lançamento do grupo (que iniciou suas atividades em 2009, ainda sob o nome Necronomicon), e que, à época, eles já estavam com um terceiro disco pronto para ser lançado no mercado, o que ocorreria em dezembro daquele ano, sob o epíteto de Adiante.

Thiago Alef (bateria), Lillian Lessa (baixo e voz) e Pedro Ivo Salvador (guitarras, violão, teclados e voz) - estes dois últimos, curiosamente, em funções invertidas em relação ao álbum anterior - tem uma sonoridade totalmente ligada à década de 1970, com bastante influência da psicodelia (como já entrega a própria capa, em uma bela arte assinada por Cristiano Suarez), mas também incorporando passagens do hard rock do início daqueles anos, e muito da sonoridade do rock brasileiro do final daquele período, como atestam as faixas "Orbes" (abertura do disco e um de seus maiores destaques), "Viajor" (escolhida como segundo single de divulgação) e "Entropia", que lembram os melhores momentos de grupos como Casa das Máquinas, O Terço, Tutti-Frutti ou as faixas mais aceleradas do Som Nosso de Cada Dia, por exemplo. Mas o trio não se furta de "pesar" a mão quando preciso, como acontece em "Azul Profundo", cujo início lembra bandas como Buffalo, Mountain ou Dust, inclusive com excelentes passagens de Hammond para ajudar na viagem para décadas atrás, e que, com mais de sete minutos, é a faixa mais longa e "viajante" do disco, além de contar com um dos melhores solos de Pedro Ivo em todo o registro. Já em "Espelhos e Sombras", um pouco mais lenta que suas colegas de track list, o peso (nem tão pesado assim) chega a lembrar (de longe) as músicas mais doom do Black Sabbath, além de ser a única a contar com trechos na letra que não são em português (sendo estes em espanhol, e não no inglês que o grupo utilizou em algumas faixas de seus discos anteriores).

Nëcro em ação no citado show de Porto Alegre, em foto retirada da página do facebook da banda: Lillian Lessa, Thiago Alef e Pedro Ivo Salvador

A faixa título tem uma surpreendente guitarra slide e tons de ritmos nordestinos no arranjo, além de uma parte mais psicodélica onde as seis cordas lembram as faixas mais "viajantes" do disco de estreia da Jimi hendrix Experience, e o encerramento do álbum se dá com a excelente "Deuses Suicidas", hard rock pesado e rápido que se configura no melhor momento do álbum, sendo, acertadamente (na minha opinião), escolhida como primeiro single de divulgação para Adiante.

Em pouco mais de 36 minutos, o Nëcro registrou um dos melhores discos do rock brasileiro nesta segunda metade da década, o qual, para alegria dos que apreciam o formato, foi lançado em vinil pelo selo Abraxas no começo deste 2018, em uma bela edição cuja pré-venda dava direito a "brindes" como pôsteres e camisetas do trio, um nome ao qual se deve prestar bastante atenção no cenário atual do rock nacional, e do qual espero pérolas ainda melhores no futuro. Aguardemos!

Contracapa de Adiante

Track List:

1. Orbes
2. Adiante
3. Azul Profundo
4. Viajor
5. Entropia
6. Espelhos e Sombras
7. Deuses Suicidas