domingo, 25 de agosto de 2013

Discografias Comentadas: Transatlantic


Por Micael Machado


Formado em 1999 pelo tecladista e guitarrista Neal Morse (então membro do Spock's Beard) e pelo baterista Mike Portnoy (então integrante do Dream Theater), o supergrupo Transatlantic deveria ter em seu line up o guitarrista do Fates Warning, Jim Matheos, mas problemas com a agenda deste levaram a dupla ao guitarrista sueco Roine Stolt (do Flower Kings). Com a chegada do baixista Pete Trewavas (do Marillion), o quarteto partiu então para a gravação de seu primeiro álbum, e, a partir daí, firmar o seu nome como uma das maiores bandas do rock progressivo no século XXI, registrando até aqui três discos de qualidade indiscutível para os fãs do estilo!

Embarque conosco a partir de agora em uma viagem pela discografia comentada deste fenomenal Transatlântico!

STMPe [2000]

Com um título formado pelas iniciais de cada membro (além do "e" presente ao final do nome de todos), o primeiro registro do quarteto veio cercado de expectativas, e não decepcionou quem esperava por uma obra prima do estilo progressivo, sendo considerado por muita gente como um dos principais lançamentos do gênero após o seu auge na década de 1970. Com trinta e um minutos divididos em seis partes diferentes, a suíte "All Of The Above" inicia os trabalhos apresentando o que seria característico da obra do Transatlantic dali em diante: muitas variações rítmicas, virtuosismo, belos arranjos vocais (todos os músicos contribuem nos coros), além do equilíbrio no holofote para os quatro instrumentistas, sem um destaque maior para nenhum deles. O movimento inicial, chamado "Full Moon Rising" (que se repete ao final) talvez seja um dos mais aclamados pelos fãs na carreira do grupo, enquanto "Undying Love" é mais emotivo, e a parte intitulada "October Winds" se encarrega de demonstrar as habilidades de cada músico. A outra suíte do disco (com pouco mais de dezesseis minutos) é "My New World", outra que se tornou clássica perante os fãs, com seu início épico, os vocais principais a cargo de Stolt, um refrão grudento e, claro, muitas mudanças de andamento e virtuosismo por parte de todos, com destaque para o trecho instrumental que começa próximo aos dez minutos, e dura pouco mais de noventa segundos. As outras duas faixas são mais "comuns" em termos de duração (embora ambas ultrapassem os seis minutos), sendo elas a linda e emotiva balada "We All Need Some Light" (levada ao violão por Stolt, com os vocais perfeitos de Morse, e que talvez seja uma das faixas da discografia do grupo que menos explora o virtuosismo dos músicos, conseguindo, mesmo assim - ou talvez justamente por isso - tornar-se uma das favoritas dos fãs nos concertos futuros), e "Mystery Train", que, apesar de agitada e empolgante, é a faixa que menos me agrada neste lançamento. O track list se encerra com a cover para "In Held (Twas) In I", original do Procol Harum, que, com seus mais de dezessete minutos, pode não superar a versão dos ingleses, mas encerra com perfeição o primeiro registro desta super banda. Uma edição limitada também foi lançada, contendo um segundo disco com versões alternativas para "We All Need Some Light" e "My New World" (que também tem uma versão demo, chamada "My Cruel World") e covers para "Honky Tonk Women", dos Rolling Stones, e "Oh! Darling", dos Beatles. Há também uma rara edição chamada STMPe: The Roine Stolt Mixes, com o mesmo track list, porém em novas mixagens. A turnê de promoção ao álbum pelos EUA resultou no lançamento de Live in Americaem 2001, ao vivo que saiu em CD duplo e em DVD.

Bridge Across Forever [2001] 


Após a grande repercussão da estreia, o Transatlantic não podia deixar a qualidade cair, e voltou com um álbum ainda mais progressivo, apresentando apenas quatro faixas em quase setenta e sete minutos. Beirando os vinte e sete minutos, a suíte "Duel with the Devil" (dividida em cinco partes) abre os trabalhos, e é um dos destaques da carreira do grupo, com seu começo épico, uma parte bastante empolgante lá pelos dez minutos (com um show de Morse nos teclados), além de, perto dos quinze minutos, contar com o saxofone do músico convidado Keith Mears (a faixa também conta com o convidado Chris Carmichael na viola e violino). O movimento intitulado "You're Not Alone" conta com Stolt nos vocais, e é mais calmo e viajante, enquanto o movimento final ("Almost Home") retoma a melodia inicial, além de apresentar os backing vocals do coral The "Elite" Choir. Um clássico do quarteto, rivalizando com a outra suíte do álbum, "Stranger in Your Soul", com trinta minutos divididos em seis partes, iniciando mais lenta e calma com "Sleeping Wide Awake", passando depois para "Hanging in the Balance", uma das mais pesadas composições do grupo, chegando a lembrar o lado heavy metal do Dream Theater. No outro extremo, o movimento "Awakening the Stranger" apresenta um prog mais sinfônico, propício a uma bela viagem, que deságua em "Slide" (outra que lembra o Dream Theater, desta feita pelas variações e seu caráter essencialmente progressivo) e no movimento que dá título à faixa, que retoma trechos das partes anteriores. Após um trecho de silêncio, os últimos dois minutos e meio desta magnífica composição são dedicados a uma jam, que na verdade é a continuação do fade out aplicado ao final da segunda música do álbum, intitulada "Suite Charlotte Pike". Esta, com quase quinze minutos e dividida em cinco partes, tem um início também em forma de jammantendo esta característica ao longo de todo o primeiro movimento, alternando depois para uma composição mais progressiva, apesar de incluir toques de rockabilly (graças ao piano de Morse) e até um groove funkeado entregue pela cozinha em certa parte. Cabe notar que o quarto movimento desta suíte, "Motherless Children/If She Runs (Reprise)", retoma a melodia do início de "Duel with the Devil", embora menos imponente, e que o movimento "Lost and Found Pt. 1" tem sua segunda parte no meio de "Stranger in Your Soul", caracterizando uma intencional interligação entre as composições do disco. "Bridge Across Forever", a faixa que dá título ao play, é a mais curta (pouco mais de cinco minutos e meio), consistindo em uma tocante balada levada pelo piano de Morse. A edição limitada conta com um segundo disco com as demos para "Dance with the Devil" e "Roine's Demo Bits", além de um "Studio Chat" e covers para "Shine On You Crazy Diamond", do Pink Floyd, "Smoke on the Water", do Deep Purple, e "And I Love Her", dos Beatles. A turnê de divulgação contou com Daniel Gildenlöw (Pain of Salvation) como um quinto membro, nos teclados, guitarras, percussão e vocais, e gerou o álbum ao vivo Live in Europe, lançado em CD duplo e DVD. Em outubro de 2002, Neal Morse deixou tanto o Transatlantic quanto o Spock's Beard, iniciando uma carreira solo com músicas de cunho religioso, e decretando o final do supergrupo, pois, segundo Portnoy, "seria impossível continuar sem Neal". Felizmente, o último capítulo do quarteto ainda não estava escrito, e, em 2009, foi anunciada oficialmente uma reunião, e planos para um terceiro trabalho de estúdio.

Neal Morse, Pete Trewavas, Roine Stolt e Mike Portnoy

The Whirlwind [2009]

Oito anos depois, o supergrupo estava de volta, e ainda mais megalomaníaco! Com apenas uma faixa totalizando 77 minutos e 56 segundos, The Whirlind é
exagerado e longo mesmo para os padrões do progressivo, o que não significa que sua qualidade não seja enorme! Dividida em doze movimentos, a suíte leva o estilo apresentado nos álbuns anteriores ao extremo, tendo trechos pomposos ("Overture"), sinfônicos (partes de "Is It Really Happening?" e "Dancing With Eternal Glory"), pesados (partes de "On The Prowl" e "Lay Down Your Life"), coisas próximas do pop (partes de "A Man Can Feel" e "Out Of The Night"), baladas sentimentais ("Rose Colored Glasses" e partes da citada "Is It Really Happening?") e muito virtuosismo (como em partes de "Evermore" e da instrumental "Pieces Of Heaven"), sendo um perfeito resumo da proposta musical do quarteto. Para melhorar, ainda há a edição especial dupla, onde o segundo disco apresenta quatro músicas inéditas, com destaque para os quase dez minutos de "Spinning", que possui um longo trecho instrumental bastante progressivo, apesar da levada mais pop da parte cantada, e para os quase nove minutos de "Lending A Hand", com uma melodia que parece saída diretamente da psicodelia inglesa dos anos 60, sendo as outras duas a bela balada "For Such A Time" e a "esquisita" "Lenny Johnson", que nunca me agradou muito, além de covers para "The Return of the Giant Hogweed", do Genesis, "A Salty Dog", do Procol Harum, "Soul Sacrifice", da Santana Band, e um medley de "I Need You", do America, com a canção dos Beatles também intitulada "I Need You". Há ainda uma outra edição que acrescenta ao pacote um DVD com um documentário de quase duas horas, registrando o processo de gravação do álbum! A turnê de divulgação (que mais uma vez teve Daniel Gildenlöw como músico convidado) gerou dois lançamentos, Whirld Tour 2010: Live in London (2010), que saiu em CD triplo e DVD duplo, e o box More Never Is Enough: Live In Manchester & Tilburg 2010 (2011), que apresenta um CD triplo (com o show de Manchester) e um DVD duplo (com a apresentação de Tilburg e alguns extras) - detalhe: nos três shows registrados nestes álbuns, o disco The Whirlind é executado na íntegra, sendo creditado como uma faixa única, sem a indicação da divisão em partes, como ocorre no CD de estúdio.

Transatlantic ao vivo com Daniel Gildenlöw (ao fundo)

Embora creditado a Neal Morse como artista solo, também foi lançado (em 2003) um álbum chamado Transatlantic Demos, com faixas registradas apenas por Morse entre 1992 e 2000, e que, retrabalhadas junto aos demais membros, viriam a aparecer nos dois primeiros discos do grupo.

Em março deste ano, o site oficial anunciou que o quarteto se reuniria em maio para as gravações do quarto disco de estúdio, o qual, segundo suposições, terá cinco faixas (sendo duas suítes), além de uma edição especial com covers diversos. A previsão é de que ele seja lançado apenas em 2014, então, só nos resta aguardar o que estes mestres do progressivo atual têm a nos apresentar neste novo trabalho! Mas de uma coisa podemos ter certeza: no que depender da capacidade destes quatro instrumentistas, será mais um clássico do estilo!

Asia - Live In Sao Paulo 2007 [2010]


Por Micael Machado
(Fotos por Juliano Henrique Dantas, retiradas da resenha do show no site whiplash.net)

Sabe quando seu time contrata um monte de craques mas, quando eles entram em campo, por algum motivo a equipe não rende o esperado e os resultados são pífios? O Asia é mais ou menos assim. Afinal, a formação original do grupo é quase um dream team do rock progressivo setentista (o guitarrista Steve Howe veio do Yes; o baixista e vocalista John Wetton passou pelo King Crimson, o Family e o UK, só para citar alguns; o baterista Carl Palmer integrou o Emerson, Lake and Palmer; e o tecladista Geoff Downes era metade do Buggles, e também fez parte do Yes no maravilhoso disco Drama). Mas, quando se uniram para formar o conjunto, estes respeitáveis músicos optaram por uma linha musical voltada para o AOR, com leves (e poucos) toques de progressivo, visando o sucesso nas rádios FM, algo que conseguiram logo na estreia, em 1982.

Entre altos, baixos e mudanças de integrantes, o grupo comemorou vinte e cinco anos em 2007 com uma turnê mundial, reunindo os membros originais citados acima e passando pelo Brasil em março daquele ano, realizando um espetáculo no Rio de Janeiro no dia 21 e outro na cidade de São Paulo no dia 23. É o áudio do show desta última data que está presente no CD Live In Sao Paulo 2007 (sem o til mesmo), lançado em 2010 pela gravadora ST2 (apesar de, na capa frontal, constar o ano de 2008 como o da gravação, a data correta é 2007, como está na lombada - uma pequena falha de um encarte, no mais, bastante simples e conciso, que ainda comete a gafe de nomear "Only Time Will Tell" como "Only Time Can Tell").


John Wetton e Steve Howe ao vivo em São Paulo em 2007

Registrado poucos dias depois da apresentação que rendeu o CD e DVD Fantasia: Live in Tokyo, de 2007, este disco duplo de excelente qualidade sonora (na capa consta a inscrição "Official Bootleg", o que já é alguma coisa) tem tudo para agradar aos fãs do grupo. Afinal, além da rara "Ride Easy" (lado B do single "Heat of the Moment", de 1982, e também presente no EP Aurora, lançado em 1986 apenas no Japão) e de duas faixas do segundo álbum, Alpha, de 1983 ("The Smile Has Left Your Eyes" e "Don't Cry", ambas em versões acústicas), ao longo das quase duas horas do show temos a execução na íntegra do primeiro disco do conjunto, Asia, de 1982, até hoje o mais conceituado entre os seguidores do quarteto., e que rendeu ao menos dois hits indiscutíveis nas rádios de todo o mundo, as clássicas "Only Time Will Tell" (que chegou a ser trilha sonora das famosas propagandas do cigarro Hollywood durante a década de 1980 aqui no Brasil) e "Heat of the Moment", duas canções que demonstram claramente que a música pop não é, de forma alguma, sinônimo de música ruim. Ainda mais quando tocada por músicos tão talentosos quanto estes agora senhores.

Falar da capacidade musical de cada membro do grupo é desnecessário, pois todos são ases em seus instrumentos. Não tem como destacar apenas um deles durante a execução deste CD, pois os quatro estavam em ótima forma nesta noite, sendo que, como sempre, Carl Palmer demonstra boa parte de sua habilidade em um curto solo durante "The Heat Goes on" (não listado na capa), enquanto Geoff Downes também dá mostras do que sabe ao final de "Cutting It Fine", conduzindo sozinho boa parte da canção. John Wetton é o único membro da banda a não ter um momento solo, pois Steve Howe executa sozinho sua "The Clap", perfazendo um dos melhores trechos do CD, afinal, trata-se de um verdadeiro clássico de sua carreira.


Geoff Downes e Carl Palmer ao vivo em São Paulo em 2007

O problema do Asia é que sempre se espera mais dos músicos do quarteto, e, embora a qualidade das canções e os sempre bem-vindos cacoetes prog que aparecem aqui e ali, suas composições não são "aquela" maravilha que os quatro conseguiram fazer em suas bandas de origem. Prova disso é que, nesta excursão, escolheram registrar versões "a la Asia" para hits das formações anteriores dos integrantes do grupo. "The Court of the Crimson King", do King Crimson (que, curiosamente, não conta com Wetton nos vocais da versão original, mas sim com Greg Lake, depois membro do ELP e que também tocou com o Asia por um tempo) e "Video Killed The Radio Star", do Buggles, ficaram bastante aceitáveis, sem grandes arroubos instrumentais ou mudanças drásticas de arranjo. Já "Fanfare For The Common Man", de Aaron Copland (registrada com sucesso pelo Emerson, Lake and Palmer) dá destaque à guitarra de Howe, instrumento que, obviamente, não está presente na versão da ex-banda de Carl Palmer, e que adiciona ainda mais brilho a este hino, em duelos com os teclados de Downes que nos deixam sonhar em como seriam as músicas do ELP se Jimi Hendrix tivesse mesmo se juntado à banda antes de morrer, como conta a lenda. O único ponto negativo nestas regravações fica com "Roundabout", hino do Yes que recebeu um arranjo mais lento do que o original, e que não caiu bem na voz grave de Wetton, totalmente contrastante com a angelical voz aguda de Jon Anderson, vocalista da versão de estúdio (caso alguém não saiba!).


A banda no palco do Credicard Hall em 2007

Live In Sao Paulo 2007, apesar de possuir quase o mesmo track list de Fantasia: Live in Tokyo, será, acredito eu, bastante interessante para os fãs do conjunto, especialmente aqueles que estiveram presentes ao Credicard Hall naquela sexta feira de 2007. Devido às músicas escolhidas, serve também como uma bela porta de entrada ao universo musical do grupo para os que não o conhecem ainda. A estes, deixo apenas um aviso: não se empolguem muito, afinal, o apelido de "Azia" que o quarteto recebeu por aqui não é de todo infundado.

Only Time Will Tell...

Track List:

Disco I:

1. Time Again
2. Wildest Dreams
3. One Step Closer
4. Roundabout
5. Without You
6. Cutting It Fine / Bolero
7. The Clap
8. Fanfare For The Common Man
9. The Smile Has Left Your Eyes
10. Don´t Cry

Disco II:

1. Court Of The Crimson King
2. Here Comes The Feeling
3. Video Killed The Radio Star
4. The Heat Goes On
5. Only Time Will Tell
6. Sole Survivor
7. Ride Easy
8. Heat of The Moment

Deep Purple - Now What?! [2013]



Por Micael Machado

Em um ano onde todos estão falando do retorno aos estúdios do Black Sabbath, outro membro da Santíssima Trindade do rock pesado também resolveu lançar material novo na praça. Trata-se do Deep Purple, que coloca no mercado seu décimo-nono álbum de estúdio, intitulado Now What?!. A própria existência do disco é uma grande surpresa, pois a banda havia anunciado várias vezes durante a quase interminável turnê de divulgação para Rapture of the Deep (o mais recente álbum de estúdio antes deste, lançado em 2005) que não tinha intenção nem interesse de lançar um novo produto neste formato. Felizmente, os músicos mudaram de ideia, e nos apresentam um dos melhores trabalhos registrados desde a entrada do guitarrista Steve Morse no line up do jurássico agrupamento britânico.


Se o baterista Ian Paice e o baixista Roger Glover (que desta vez abriu mão de seu papel de produtor, tarefa que ficou a cargo do reconhecido Bob Ezrin) continuam com a musicalidade e o talento de sempre, Morse aparece bem mais contido, com menos evidências nos solos (que viram os teclados de Don Airey saltar para primeiro plano) e algumas poucas linhas realmente marcantes. Já Ian Gillan, que muitos acusam de não conseguir mais cantar as músicas do Purple ao vivo, pelo menos em estúdio encontrou um registro adequado à sua combalida voz, e apresenta um trabalho digno e interessante, embora longe daquilo que ele fazia nos anos setenta (algo que, convenhamos, seria bastante difícil para um senhor de 68 anos). Conhecendo os limites de suas cordas vocais, Gillan não faz feio em nenhum momento, e consegue até mesmo abrir mão dos registros "dobrados" que marcaram alguns discos no passado, soando desta forma bastante natural e agradável.


Steve Morse, Ian Gillan, Ian Paice, Don Airey e Roger Glover, em foto presente no encarte

Mas, sem dúvidas, o grande destaque deste novo álbum é o tecladista Don Airey, que parece ter finalmente encontrado seu lugar na banda em seu terceiro registro com ela. Com linhas marcantes e solos excepcionais, como os da suingada "A Simple Song" (cujo começo engana ao parecer uma simples balada), o da agitada "Hell to Pay" (lembrando os executados pelo saudoso Jon Lord nos discos dos anos setenta), música presente no primeiro single do álbum ao lado da balada emocional "All the Time in the World", que se equipara a muitas outras da fase Morse, ou mesmo o da quase enfadonha "Blood from a Stone", balada com um toque jazzy onde Morse também executa um belo solo. Além disso, as dobras guitarra/teclado voltaram a aparecer, mais notadamente na balançante "Bodyline", de letra sacana e que também traz de volta a fórmula de ter um solo de um dos instrumentos colado ao solo do outro, algo que também ocorre em "Weirdistan", onde o de Airey é um dos mais estranhos que já o vi executar.



A balançada "Vincent Price" (que traz alguns efeitos na voz de Gillan, assim como a citada "Weirdistan") apresenta linhas mais "macabras" de teclado, além da presença destacada da steel guitar do músico convidado Mike Johnson (que também aparece em "All The Time In The World", sendo que outros três músicos fazem participações em outras faixas, além dos estudantes da Nimbus School of Recording Arts, que fazem o coral em "Hell to Pay"). Com toda a justiça, "Vincent Price" foi escolhida como segundo single do álbum, cujo lado B apresenta a inédita "First Sign of Madness", sobra das sessões do álbum anterior. Mas o grande destaque de Now What?! é "Uncommon Man", faixa com tons épicos inspirada parcialmente em "Fanfare for the Common Man", obra talvez mais conhecida pela versão gravada pelo grupo Emerson, Lake and Palmer, e que apresenta mais uma vez um trabalho excepcional da parte de Airey.


Cena extraída do DVD da edição especial

O track list é completado pelas medianas "Out of Hand" (com uma bela intro a cargo de Airey) e "Après Vous" (bastante agitada, mas que não sai do lugar comum), sendo que a edição dupla especial ainda apresenta a faixa bônus "It'll Be Me" (um cover para a canção escrita pelo compositor americano Jack Clement, e lançada pela primeira vez em um compacto de 1957 de Jerry Lee Lewis, o próprio "Killer", lenda do rock mundial), além de um DVD com pouco mais de vinte minutos de uma interessante entrevista com o grupo, falando sobre o processo de composição e gravação do álbum, além de outros aspectos da carreira, junto a uma versão alternativa para "All the Time In The World" (que nem soa tão diferente assim da oficial) e duas faixas gravadas ao vivo em local e data não especificados no encarte, sendo estas uma versão de "Perfect Strangers" que não se sobressai ante outras live versions da música lançadas antes, e outra para "Rapture of the Deep", a qual soa muito bem, possivelmente por não ser uma canção à qual estejamos ainda acostumados a encontrar em lançamentos oficiais.



Now What?! mantém a trajetória ascendente desta formação, iniciada no álbum Bananas, de 2003, e que vem apresentando um registro melhor que o outro desde então. Da fase com Steve Morse, só não consegue superar o imbatível Purpendicular, mas este contava com a presença do insuperável mestre Jon Lord, a quem, aliás, este disco novo é dedicado. Se Lord deixa cada vez mais saudades a nós, fãs de seu trabalho, o Púrpura Profundo mostra que está vivo e bem, com muita lenha ainda para queimar, e disposto a não parar tão cedo! Que assim seja!


Contracapa da edição dupla

"Time does not matter. Time is all we have!"


Track List:

1. A Simple Song
2. Weirdistan
3. Out of Hand
4. Hell to Pay
5. Bodyline
6. Above and Beyond
7. Blood from a Stone
8. Uncommon Man
9. Après Vous
10. All the Time in the World
11. Vincent Price

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Review Exclusivo: Angra (Porto Alegre, 01 de agosto de 2013)


Por Micael Machado

Em maio de 2012, foi confirmada a saída do vocalista Edu Falaschi da banda Angra, algo que já vinha sendo cogitado por algumas pessoas desde a participação do grupo no Rock In Rio, no mês de setembro do ano anterior. Sem anunciar um substituto oficial, o grupo convidou o italiano Fabio Lione (Rhapsody of Fire, Vision Divine, Labyrinth) para uma participação especial no cruzeiro 70000 Tons Of Metal no começo deste ano, e para outra no festival Live 'N' Louder em abril. A partir daí, o quinteto anunciou uma turnê comemorativa dos vinte anos de Angel's Cry, álbum de estreia dos paulistas, da qual a apresentação na capital gaúcha na noite desta quinta feira (com produção das empresas Abstratti e Urânio, a quem agradeço a dedicação e atenção) foi a segunda parada, para um bom público reunido no tradicional Bar Opinião, um dos melhores locais da cidade para eventos deste tipo.

Sastras, uma das bandas de abertura

Antes da apresentação principal, tivemos a presença dos grupos gaúchos Sastras e Datavenia, sendo o primeiro um quinteto da cidade de Butiá, interior do estado, que apresentou composições próprias consistindo em um metal pesado com boas doses de melodia, com letras em português tratando de lendas e "causos" da história do Rio Grande do Sul, as quais infelizmente ficaram um pouco prejudicadas pelo ajuste do som, que não permitia que as mesmas fossem compreendidas claramente em meio ao volume dos instrumentos, dentre os quais a guitarra de Eduardo Martinez, do Hangar, que participou como convidado ao longo de toda a apresentação. Já o segundo é um quarteto de Frederico Westphalen, cidade ao norte do RS, que apresentou composições próprias de um thrash pesado com toques de death metal, além de covers para músicas de grupos como Metallica, Pantera (seguramente uma das maiores influências dos rapazes), Black Label Society e Megadeth, cuja "A Tout Le Monde" levantou a galera que já estava presente no local. As duas bandas demonstraram bastante competência, podendo ser indicadas como boas promessas do novo metal gaúcho.

O grupo Datavenia na abertura para o Angra

Com pouco mais de meia hora de atraso em relação ao horário indicado, uma versão para o hino britânico "Jerusalem" (que já foi gravado por vários artistas, como por exemplo o cantor Bruce Dickinson) começou a rolar no PA, para logo a atração principal entrar em cena detonando com "Angels Cry" e "Nothing to Say", duas composições consagradas pelo público. Em épocas de informação instantânea na internet, aqueles que haviam tido a oportunidade de assistir aos vídeos gravados no show do Rio de Janeiro poucos dias antes não se surpreenderam com a alta qualidade da apresentação de Fabio, mas, para muitos, era nítida a surpresa com a performance do italiano. Mas, sobre ele, falaremos mais adiante.

Angra no palco do Opinião

Entre as duas, Fabio disse que iria falar "um pouquito de espanhol, um pouco de português, inglês e italiano", línguas que misturou ao longo de toda a noite, seja para apresentar as canções, seja para elogiar ao público e à própria banda, a qual considerou como uma das maiores do mundo, além de uma das mais importantes da América Latina, algo no qual está coberto de razão. O show continuou mesclando músicas já consagradas (como "Lisbon", "Millenium Sun" - onde o guitarrista Kiko Loureiro executou algumas linhas de teclado, fato que iria se repetir em "Winds of Destination", sendo que, nas demais composições, o mesmo foi executado em playback, algo que tirou um pouco a espontaneidade da apresentação, mas não chegou a atrapalhar a mesma - ou "Rage of Waters", que contou com Rafael Bittencourt nos vocais principais - Fabio disse que não conhece bem o álbum Aqua, no qual a faixa está presente, e que por isso o guitarrista era quem deveria cantá-la, tarefa na qual até se saiu bem, embora seu alcance seja um tanto limitado) com gratas surpresas, como "Time" (há tempos ausente do set list, e que seguramente voltou por causa das comemorações ao álbum de estreia), "Gentle Change" ou "Waiting Silence".

Após "Wings of Reality", o palco foi preparado para a parte acústica do show, tendo apenas Rafael e Kiko em cena, além de uma menina que saiu da pista para ficar sentada entre os dois. Bittencourt explicou que as músicas da banda normalmente são compostas primeiro ao violão, e que eles gostariam de mostrar alguns desses arranjos para o público. Como na apresentação feita na capital carioca citada antes, tocaram então "Reaching Horizons" (com Rafael nos vocais), "Late Redemption" (com os vocais divididos entre a dupla) e "Make Believe", com Kiko Loureiro assumindo o microfone. O único acréscimo em relação ao primeiro show da turnê foi a presença de "Queen Of The Night" encerrando esta parte, sendo que, segundo Bittencourt (que assumiu os vocais também nesta), a canção foi ensaiada apenas umas poucas vezes, o que não foi impeditivo para que a versão soasse perfeita. Além disso, os dois guitarristas aproveitaram esta parte para agradecer a todos os músicos que já passaram pelo Angra, citando-os nominalmente, e dizendo que "todos agregaram seus valores à banda, e que ter trabalhado com eles lhes dá muito orgulho", em uma atitude bastante louvável.

Momento acústico do show

De volta ao palco, a mais que competente cozinha formada pelo baterista Ricardo Confessori e pelo baixista Felipe Andreoli (que foram precisos mas até um pouco discretos ao longo da noite), além de Lione, executou junto à dupla das guitarras a também surpreendente "No Pain for the Dead", para encerrar a apresentação principal com "Evil Warning", faixa também presente na estreia, e outra "novidade" no set list, que, sabiamente, "passeou" por todos os álbuns da banda. Mas claro que o público não os deixaria partir tão facilmente, então o quinteto retornou para detonar de vez com o que restara das forças dos presentes (que cantaram e agitaram muito em praticamente todas as músicas apresentadas) com as clássicas "Nova Era" (precedida pela intro "In Excelsis"), "Rebirth" e "Carry On" (que teve os vocais divididos entre Lione e Bittencourt), encerrando de vez a apresentação e mandando todos ali de volta para casa ostentando um enorme sorriso.

Se a competência de todos os instrumentistas é mais que conhecida, ficou a comprovação do talento do italiano Fabio Lione, para mim e grande estrela da noite. Com enorme carisma, simpatia e educação, o cantor se encaixou perfeitamente ao grupo paulista, executando com facilidade aparentemente extrema as linhas vocais das músicas registradas em estúdio por Andre Matos (cujos tons originais sempre foram, reconhecidamente, um incômodo para Edu Falaschi), além de superar por vezes os registros do segundo vocalista do quinteto, como na introdução de "Silence and Distance", onde demonstrou um pouco de seu enorme talento sozinho no palco, apenas com o playback do piano ao fundo. Se Rafael e Kiko tiveram algumas oportunidades de tomarem conta do microfone (deixando claro que, apesar de não fazerem feio, não tem a habilidade suficiente para serem os vocalistas principais da banda, algo que talvez nem desejem), Fabio dominou completamente o palco, com uma performance digna de um grande frontman, e mostrando que, se fosse efetivado no posto, seria um ganho enorme para o Angra. Vamos aguardar o que o destino trará para a grupo, sendo que Lione deixou um pouco de esperança em todos os presentes, ao anunciar a certa altura que "na próxima volta falo mais português", deixando aberta a possibilidade de uma nova turnê com o grupo. Que assim seja.

Momento do show

Por enquanto, assista a um dos demais shows desta turnê (que segue agora com datas no restante do Brasil e na América Latina), pois, com certeza, não irá se arrepender.

"So carry on, it's time to forget the remains from the past, to carry on" 

Set List

1. Intro
2. Angels Cry
3. Nothing to Say
4. Waiting Silence 
5. Time 
6. Lisbon 
7. Millennium Sun 
8. Winds of Destination
9. Gentle Change 
10. The Rage of the Waters 
11. Silence and Distance
12. Wings of Reality 
13. Reaching Horizons (acoustic)
14. Late Redemption (acoustic)
15. Make Believe (acoustic)
16. Queen Of The Night (acoustic)
17. No Pain for the Dead 
18. Evil Warning 

Encore:

19. In Excelsis 
20. Nova Era 
21. Rebirth 
22. Carry On 

Tapete Persa - O Pesadelo é Sempre Maior na Minha Cabeça [2011]


Por Micael Machado

Surgida em 2004, a banda gaúcha Tapete Persa (formada por Gabriel Bertolo – voz, Rafael Linck e Sandro Silveira - guitarras,  Pedro Scherer – baixo e Matias Jardim – bateria) está lançando seu terceiro EP, e tem no currículo a participação no "Festival Ibero Americano Walmart Sounds U>Rock 2010", onde representou o Brasil vencendo mais de 500 bandas que concorriam com ela à vaga. O quarteto da cidade de Gravataí não pode, portanto, ser chamado de novato, mas só os conheci há pouco tempo, através deste O Pesadelo é Sempre Maior na Minha Cabeça, lançado em outubro de 2011.

Quatro músicas em pouco mais de dez minutos são o suficiente para o grupo mostrar o seu valor, com um rock and roll vigoroso de pegada quase hardcore, e letras de protesto em português. A produção de Sandro Silveira e a mixagem e masterização a cargo de Chuck Hipolitho (Vespas Mandarinas, ex-Forgotten Boys) deixaram todos os instrumentos altos e claros, sem soarem embolados como muitas vezes ouvimos em discos independentes, fazendo com que as composições caiam muito bem em nossos ouvidos.

O quinteto Tapete Persa

A música de abertura, "Pólvora", parece ser aquela na qual o grupo aposta as suas fichas para atingir ao alvo desejado. O áudio soa melhor produzido do que as outras faixas, o arranjo está melhor trabalhado, as partes de guitarra melhor construídas, o vocal recebe mais atenção do que no restante do EP (inclusive com alguns efeitos bem legais), e até um indignado discurso da deputada Cidinha Campos contra os políticos corruptos aparece no meio da canção, reforçando a letra de protesto da mesma. Porém, apesar de me lembrar o trabalho do Kleiderman (projeto que contava com Sérgio Britto e Branco Mello, dos Titãs, e que eu curto muito), e de ser muito bem tocada e arranjada, é a que menos me agradou no disco. Quando comparada às demais, me parece muito "planejada", e não sinto a "identidade" da banda nela, a não ser que as outras músicas é que sejam as "diferentes". 

Se for assim, que pena, pois "Babuíno" (que ganhou um clipe em forma de historinha quatro vezes maior que sua duração!) e "Aquele Cara" são, a meu ver, os grandes destaques do EP. A primeira, em pouco mais de um minuto, mostra tudo o que um bom hardcore tem de ter: um riff legal de guitarra, letra indignada, vocal berrado e backing vocals muito bem encaixados! A segunda (e seus parcos dois minutos e pouco) segue a mesma linha, chegando a me lembrar algo de Dead Kennedys em seu arranjo, e, embora um pouco inferior à anterior, tem tudo para agradar aos fãs do estilo, com a abertura destacando o baixo de Scherer e os vocais ainda mais gritados! Excelentes composições, as quais recomendo com entusiasmo!

"Outra Notícia", a faixa que fecha o álbum, segue a linha "rock and roll sujo" de grupos como Stooges e MC5 (ou dos citados Forgottten Boys), e também desperta interesse, embora não tenha me agradado tanto quanto as duas faixas que formam o "recheio" da bolachinha. Com seu interessante refrão e algumas partes de guitarra muito bem boladas, teria tudo para fazer sucesso nas "rádios rock" do país, caso estas não fossem movidas à jaba de gravadoras e amigos. 

Contracapa do EP

O disco pode ser baixado gratuitamente no site oficial do grupo, mas você ficará sem o encarte, que, embora seja relativamente simples, foi muito bem pensado, contendo quase todas as informações necessárias sobre o trabalho, além das curtas mas relevantes letras, as quais merecem ser ouvidas, assim como a música do Tapete Persa. Confira!

Track List:

1. Pólvora
2. Babuíno
3. Aquele Cara
4. Outra Notícia

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ghost - Infestissumam [2013]


Por Micael Machado


O segundo disco da banda sueca Ghost (agora também conhecido como Ghost B.C., por motivos legais relativos ao território norte-americano) veio precedido de enorme expectativa, em muito devido ao falatório em torno de seu álbum de estreia, Opus Eponymous, que agradou a um grande séquito de ouvintes e ofendeu a alguns poucos. Mas a primeira faixa liberada, "Secular Haze", causou espanto com o seu ritmo próximo ao de uma valsa, coisa que o clipe tosco não ajudou a melhorar, apesar do excelente refrão e do lado B do single contar com uma cover para a nada óbvia "I'm a Marionette", dos conterrâneos do ABBA, e que nesta versão tem na bateria o americano Dave Grohl (Foo Fighters, ex-Nirvana), em uma participação até discreta, mas muito superior à executada pelo baterista oficial do sexteto, um dos cinco "Nameless Ghouls", que agora são acompanhados pelo vocalista Papa Emeritus II, que "sucedeu" ao Papa anterior, embora ambos sejam interpretados pela mesma pessoa, que muitos julgam ser Tobias Forge, que já tocou com bandas como o Subdivision, o Repugnant e o Crashdïet.

A segunda faixa lançada, "Year Zero", tem um andamento que me lembra algo da disco music dos anos 70, mas seu refrão (novamente excelente) e seu interessante clipe (com algumas cenas de nudez, e que dá uma "pista" de quem seriam os instrumentistas do grupo) ajudaram a atrair meu interesse (o single da mesma apresenta no lado B uma ideia interessantíssima e original, a faixa "Orez Raey", nada mais nada menos que a própria "Year Zero" na íntegra, mas rodada ao contrário, em algo que infelizmente resultou aquém do que eu julgava possível). Mas, pensava eu, estas duas composições deixavam claro que a banda parecia estar se afastando a passos rápidos da mistura de Mercyful Fate com Blue Öyster Cult e black metal oitentista de seu primeiro disco. Não é bem assim.

Papa Emeritus II e os "Nameless Ghouls"

"Infestissumam", a faixa título (pouco mais que uma vinheta introdutória), abre o álbum com cantos gregorianos satânicos e um ritmo interessante, com a característica bateria marcada presente nas músicas do grupo, e um trabalho de teclados mais destacado do que o presente no lançamento anterior. "Per Aspera Ad Inferi", a segunda faixa, também se encaixa no que se esperaria da sonoridade dos suecos, com um marcante riff de guitarra em destaque, e outro refrão forte, algo que, aliás, é constante ao longo da audição. "Depth of Satan's Eyes" também não se afasta muito do estilo adotado na estreia do sexteto, e "Jigolo Har Megiddo" é, possivelmente, a composição que mais escancara a influência do BÖC no som do Ghost, podendo estar presente facilmente em qualquer disco dos americanos lançados na segunda metade dos anos 70. 

As letras continuam sendo um ponto forte na mística do grupo, e permanecem satânicas e blasfemas, embora pareçam mais amadurecidas do que as quase caricatas frases de Opus Eponymous (e foi uma grande bola fora da gravadora não incluir um encarte com as mesmas, algo que, aparentemente, só está disponível lá fora em uma edição "deluxe", que conta também com a inédita "La Manta Mori" e a citada cover do ABBA, além do clipe para "Secular Haze"). Mas, apesar disso, há, sim, algumas mudanças na sonoridade do Ghost, como as que aparecem em "Ghuleh/Zombie Queen". Dividida em duas partes, na primeira soa como uma balada gótica em tons funéreos, apresentando algumas linhas de teclados saídas diretamente da California psicodélica dos anos 60. Na segunda metade, a música volta ainda mais no tempo, e vira uma legítima surf music dos anos 50, com andamentos e licks de guitarra característicos do estilo, além de outro refrão marcante, que a coloca como uma das melhores coisas que o sexteto já registrou. "Body and Blood" também difere do que se esperaria, soando quase pop em seu andamento marcado, característica que também aparece em "Idolatrine", outro destaque do track list, que se encerra com "Monstrance Clock", de ritmo mais lento, mas com outro refrão que gruda no ouvido mesmo depois de poucas audições.

Contracapa do CD

A produção de Nick Raskulinecz (que já trabalhou com grupos como Rush, Foo Fighters e Alice in Chains, dentre outros) é superior à do álbum anterior, e os teclados estão, sem dúvidas, mais evidentes aqui do que no primeiro Opus do Ghost. Mas, apesar das mudanças de trajetória da banda (ou, talvez, por causa delas), Infestissumam não consegue superar a estreia dos suecos, um dos lançamentos mais inesperados e inspirados dos últimos tempos. Mesmo assim, é um belo disco, e deve aparecer na lista de melhores do ano de muita gente por aí (inclusive na minha)!

Welcome Year Zero!

Track List:

1. "Infestissumam"
2. "Per Aspera ad Inferi"
3. "Secular Haze"
4. "Jigolo Har Megiddo"
5. "Ghuleh/Zombie Queen"
6. "Year Zero"
7. "Idolatrine"
8. "Body and Blood"
9. "Depth of Satan's Eyes"
10. "Monstrance Clock"