sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ghost - Infestissumam [2013]


Por Micael Machado


O segundo disco da banda sueca Ghost (agora também conhecido como Ghost B.C., por motivos legais relativos ao território norte-americano) veio precedido de enorme expectativa, em muito devido ao falatório em torno de seu álbum de estreia, Opus Eponymous, que agradou a um grande séquito de ouvintes e ofendeu a alguns poucos. Mas a primeira faixa liberada, "Secular Haze", causou espanto com o seu ritmo próximo ao de uma valsa, coisa que o clipe tosco não ajudou a melhorar, apesar do excelente refrão e do lado B do single contar com uma cover para a nada óbvia "I'm a Marionette", dos conterrâneos do ABBA, e que nesta versão tem na bateria o americano Dave Grohl (Foo Fighters, ex-Nirvana), em uma participação até discreta, mas muito superior à executada pelo baterista oficial do sexteto, um dos cinco "Nameless Ghouls", que agora são acompanhados pelo vocalista Papa Emeritus II, que "sucedeu" ao Papa anterior, embora ambos sejam interpretados pela mesma pessoa, que muitos julgam ser Tobias Forge, que já tocou com bandas como o Subdivision, o Repugnant e o Crashdïet.

A segunda faixa lançada, "Year Zero", tem um andamento que me lembra algo da disco music dos anos 70, mas seu refrão (novamente excelente) e seu interessante clipe (com algumas cenas de nudez, e que dá uma "pista" de quem seriam os instrumentistas do grupo) ajudaram a atrair meu interesse (o single da mesma apresenta no lado B uma ideia interessantíssima e original, a faixa "Orez Raey", nada mais nada menos que a própria "Year Zero" na íntegra, mas rodada ao contrário, em algo que infelizmente resultou aquém do que eu julgava possível). Mas, pensava eu, estas duas composições deixavam claro que a banda parecia estar se afastando a passos rápidos da mistura de Mercyful Fate com Blue Öyster Cult e black metal oitentista de seu primeiro disco. Não é bem assim.

Papa Emeritus II e os "Nameless Ghouls"

"Infestissumam", a faixa título (pouco mais que uma vinheta introdutória), abre o álbum com cantos gregorianos satânicos e um ritmo interessante, com a característica bateria marcada presente nas músicas do grupo, e um trabalho de teclados mais destacado do que o presente no lançamento anterior. "Per Aspera Ad Inferi", a segunda faixa, também se encaixa no que se esperaria da sonoridade dos suecos, com um marcante riff de guitarra em destaque, e outro refrão forte, algo que, aliás, é constante ao longo da audição. "Depth of Satan's Eyes" também não se afasta muito do estilo adotado na estreia do sexteto, e "Jigolo Har Megiddo" é, possivelmente, a composição que mais escancara a influência do BÖC no som do Ghost, podendo estar presente facilmente em qualquer disco dos americanos lançados na segunda metade dos anos 70. 

As letras continuam sendo um ponto forte na mística do grupo, e permanecem satânicas e blasfemas, embora pareçam mais amadurecidas do que as quase caricatas frases de Opus Eponymous (e foi uma grande bola fora da gravadora não incluir um encarte com as mesmas, algo que, aparentemente, só está disponível lá fora em uma edição "deluxe", que conta também com a inédita "La Manta Mori" e a citada cover do ABBA, além do clipe para "Secular Haze"). Mas, apesar disso, há, sim, algumas mudanças na sonoridade do Ghost, como as que aparecem em "Ghuleh/Zombie Queen". Dividida em duas partes, na primeira soa como uma balada gótica em tons funéreos, apresentando algumas linhas de teclados saídas diretamente da California psicodélica dos anos 60. Na segunda metade, a música volta ainda mais no tempo, e vira uma legítima surf music dos anos 50, com andamentos e licks de guitarra característicos do estilo, além de outro refrão marcante, que a coloca como uma das melhores coisas que o sexteto já registrou. "Body and Blood" também difere do que se esperaria, soando quase pop em seu andamento marcado, característica que também aparece em "Idolatrine", outro destaque do track list, que se encerra com "Monstrance Clock", de ritmo mais lento, mas com outro refrão que gruda no ouvido mesmo depois de poucas audições.

Contracapa do CD

A produção de Nick Raskulinecz (que já trabalhou com grupos como Rush, Foo Fighters e Alice in Chains, dentre outros) é superior à do álbum anterior, e os teclados estão, sem dúvidas, mais evidentes aqui do que no primeiro Opus do Ghost. Mas, apesar das mudanças de trajetória da banda (ou, talvez, por causa delas), Infestissumam não consegue superar a estreia dos suecos, um dos lançamentos mais inesperados e inspirados dos últimos tempos. Mesmo assim, é um belo disco, e deve aparecer na lista de melhores do ano de muita gente por aí (inclusive na minha)!

Welcome Year Zero!

Track List:

1. "Infestissumam"
2. "Per Aspera ad Inferi"
3. "Secular Haze"
4. "Jigolo Har Megiddo"
5. "Ghuleh/Zombie Queen"
6. "Year Zero"
7. "Idolatrine"
8. "Body and Blood"
9. "Depth of Satan's Eyes"
10. "Monstrance Clock"  

Nenhum comentário:

Postar um comentário