domingo, 25 de agosto de 2013

Discografias Comentadas: Transatlantic


Por Micael Machado


Formado em 1999 pelo tecladista e guitarrista Neal Morse (então membro do Spock's Beard) e pelo baterista Mike Portnoy (então integrante do Dream Theater), o supergrupo Transatlantic deveria ter em seu line up o guitarrista do Fates Warning, Jim Matheos, mas problemas com a agenda deste levaram a dupla ao guitarrista sueco Roine Stolt (do Flower Kings). Com a chegada do baixista Pete Trewavas (do Marillion), o quarteto partiu então para a gravação de seu primeiro álbum, e, a partir daí, firmar o seu nome como uma das maiores bandas do rock progressivo no século XXI, registrando até aqui três discos de qualidade indiscutível para os fãs do estilo!

Embarque conosco a partir de agora em uma viagem pela discografia comentada deste fenomenal Transatlântico!

STMPe [2000]

Com um título formado pelas iniciais de cada membro (além do "e" presente ao final do nome de todos), o primeiro registro do quarteto veio cercado de expectativas, e não decepcionou quem esperava por uma obra prima do estilo progressivo, sendo considerado por muita gente como um dos principais lançamentos do gênero após o seu auge na década de 1970. Com trinta e um minutos divididos em seis partes diferentes, a suíte "All Of The Above" inicia os trabalhos apresentando o que seria característico da obra do Transatlantic dali em diante: muitas variações rítmicas, virtuosismo, belos arranjos vocais (todos os músicos contribuem nos coros), além do equilíbrio no holofote para os quatro instrumentistas, sem um destaque maior para nenhum deles. O movimento inicial, chamado "Full Moon Rising" (que se repete ao final) talvez seja um dos mais aclamados pelos fãs na carreira do grupo, enquanto "Undying Love" é mais emotivo, e a parte intitulada "October Winds" se encarrega de demonstrar as habilidades de cada músico. A outra suíte do disco (com pouco mais de dezesseis minutos) é "My New World", outra que se tornou clássica perante os fãs, com seu início épico, os vocais principais a cargo de Stolt, um refrão grudento e, claro, muitas mudanças de andamento e virtuosismo por parte de todos, com destaque para o trecho instrumental que começa próximo aos dez minutos, e dura pouco mais de noventa segundos. As outras duas faixas são mais "comuns" em termos de duração (embora ambas ultrapassem os seis minutos), sendo elas a linda e emotiva balada "We All Need Some Light" (levada ao violão por Stolt, com os vocais perfeitos de Morse, e que talvez seja uma das faixas da discografia do grupo que menos explora o virtuosismo dos músicos, conseguindo, mesmo assim - ou talvez justamente por isso - tornar-se uma das favoritas dos fãs nos concertos futuros), e "Mystery Train", que, apesar de agitada e empolgante, é a faixa que menos me agrada neste lançamento. O track list se encerra com a cover para "In Held (Twas) In I", original do Procol Harum, que, com seus mais de dezessete minutos, pode não superar a versão dos ingleses, mas encerra com perfeição o primeiro registro desta super banda. Uma edição limitada também foi lançada, contendo um segundo disco com versões alternativas para "We All Need Some Light" e "My New World" (que também tem uma versão demo, chamada "My Cruel World") e covers para "Honky Tonk Women", dos Rolling Stones, e "Oh! Darling", dos Beatles. Há também uma rara edição chamada STMPe: The Roine Stolt Mixes, com o mesmo track list, porém em novas mixagens. A turnê de promoção ao álbum pelos EUA resultou no lançamento de Live in Americaem 2001, ao vivo que saiu em CD duplo e em DVD.

Bridge Across Forever [2001] 


Após a grande repercussão da estreia, o Transatlantic não podia deixar a qualidade cair, e voltou com um álbum ainda mais progressivo, apresentando apenas quatro faixas em quase setenta e sete minutos. Beirando os vinte e sete minutos, a suíte "Duel with the Devil" (dividida em cinco partes) abre os trabalhos, e é um dos destaques da carreira do grupo, com seu começo épico, uma parte bastante empolgante lá pelos dez minutos (com um show de Morse nos teclados), além de, perto dos quinze minutos, contar com o saxofone do músico convidado Keith Mears (a faixa também conta com o convidado Chris Carmichael na viola e violino). O movimento intitulado "You're Not Alone" conta com Stolt nos vocais, e é mais calmo e viajante, enquanto o movimento final ("Almost Home") retoma a melodia inicial, além de apresentar os backing vocals do coral The "Elite" Choir. Um clássico do quarteto, rivalizando com a outra suíte do álbum, "Stranger in Your Soul", com trinta minutos divididos em seis partes, iniciando mais lenta e calma com "Sleeping Wide Awake", passando depois para "Hanging in the Balance", uma das mais pesadas composições do grupo, chegando a lembrar o lado heavy metal do Dream Theater. No outro extremo, o movimento "Awakening the Stranger" apresenta um prog mais sinfônico, propício a uma bela viagem, que deságua em "Slide" (outra que lembra o Dream Theater, desta feita pelas variações e seu caráter essencialmente progressivo) e no movimento que dá título à faixa, que retoma trechos das partes anteriores. Após um trecho de silêncio, os últimos dois minutos e meio desta magnífica composição são dedicados a uma jam, que na verdade é a continuação do fade out aplicado ao final da segunda música do álbum, intitulada "Suite Charlotte Pike". Esta, com quase quinze minutos e dividida em cinco partes, tem um início também em forma de jammantendo esta característica ao longo de todo o primeiro movimento, alternando depois para uma composição mais progressiva, apesar de incluir toques de rockabilly (graças ao piano de Morse) e até um groove funkeado entregue pela cozinha em certa parte. Cabe notar que o quarto movimento desta suíte, "Motherless Children/If She Runs (Reprise)", retoma a melodia do início de "Duel with the Devil", embora menos imponente, e que o movimento "Lost and Found Pt. 1" tem sua segunda parte no meio de "Stranger in Your Soul", caracterizando uma intencional interligação entre as composições do disco. "Bridge Across Forever", a faixa que dá título ao play, é a mais curta (pouco mais de cinco minutos e meio), consistindo em uma tocante balada levada pelo piano de Morse. A edição limitada conta com um segundo disco com as demos para "Dance with the Devil" e "Roine's Demo Bits", além de um "Studio Chat" e covers para "Shine On You Crazy Diamond", do Pink Floyd, "Smoke on the Water", do Deep Purple, e "And I Love Her", dos Beatles. A turnê de divulgação contou com Daniel Gildenlöw (Pain of Salvation) como um quinto membro, nos teclados, guitarras, percussão e vocais, e gerou o álbum ao vivo Live in Europe, lançado em CD duplo e DVD. Em outubro de 2002, Neal Morse deixou tanto o Transatlantic quanto o Spock's Beard, iniciando uma carreira solo com músicas de cunho religioso, e decretando o final do supergrupo, pois, segundo Portnoy, "seria impossível continuar sem Neal". Felizmente, o último capítulo do quarteto ainda não estava escrito, e, em 2009, foi anunciada oficialmente uma reunião, e planos para um terceiro trabalho de estúdio.

Neal Morse, Pete Trewavas, Roine Stolt e Mike Portnoy

The Whirlwind [2009]

Oito anos depois, o supergrupo estava de volta, e ainda mais megalomaníaco! Com apenas uma faixa totalizando 77 minutos e 56 segundos, The Whirlind é
exagerado e longo mesmo para os padrões do progressivo, o que não significa que sua qualidade não seja enorme! Dividida em doze movimentos, a suíte leva o estilo apresentado nos álbuns anteriores ao extremo, tendo trechos pomposos ("Overture"), sinfônicos (partes de "Is It Really Happening?" e "Dancing With Eternal Glory"), pesados (partes de "On The Prowl" e "Lay Down Your Life"), coisas próximas do pop (partes de "A Man Can Feel" e "Out Of The Night"), baladas sentimentais ("Rose Colored Glasses" e partes da citada "Is It Really Happening?") e muito virtuosismo (como em partes de "Evermore" e da instrumental "Pieces Of Heaven"), sendo um perfeito resumo da proposta musical do quarteto. Para melhorar, ainda há a edição especial dupla, onde o segundo disco apresenta quatro músicas inéditas, com destaque para os quase dez minutos de "Spinning", que possui um longo trecho instrumental bastante progressivo, apesar da levada mais pop da parte cantada, e para os quase nove minutos de "Lending A Hand", com uma melodia que parece saída diretamente da psicodelia inglesa dos anos 60, sendo as outras duas a bela balada "For Such A Time" e a "esquisita" "Lenny Johnson", que nunca me agradou muito, além de covers para "The Return of the Giant Hogweed", do Genesis, "A Salty Dog", do Procol Harum, "Soul Sacrifice", da Santana Band, e um medley de "I Need You", do America, com a canção dos Beatles também intitulada "I Need You". Há ainda uma outra edição que acrescenta ao pacote um DVD com um documentário de quase duas horas, registrando o processo de gravação do álbum! A turnê de divulgação (que mais uma vez teve Daniel Gildenlöw como músico convidado) gerou dois lançamentos, Whirld Tour 2010: Live in London (2010), que saiu em CD triplo e DVD duplo, e o box More Never Is Enough: Live In Manchester & Tilburg 2010 (2011), que apresenta um CD triplo (com o show de Manchester) e um DVD duplo (com a apresentação de Tilburg e alguns extras) - detalhe: nos três shows registrados nestes álbuns, o disco The Whirlind é executado na íntegra, sendo creditado como uma faixa única, sem a indicação da divisão em partes, como ocorre no CD de estúdio.

Transatlantic ao vivo com Daniel Gildenlöw (ao fundo)

Embora creditado a Neal Morse como artista solo, também foi lançado (em 2003) um álbum chamado Transatlantic Demos, com faixas registradas apenas por Morse entre 1992 e 2000, e que, retrabalhadas junto aos demais membros, viriam a aparecer nos dois primeiros discos do grupo.

Em março deste ano, o site oficial anunciou que o quarteto se reuniria em maio para as gravações do quarto disco de estúdio, o qual, segundo suposições, terá cinco faixas (sendo duas suítes), além de uma edição especial com covers diversos. A previsão é de que ele seja lançado apenas em 2014, então, só nos resta aguardar o que estes mestres do progressivo atual têm a nos apresentar neste novo trabalho! Mas de uma coisa podemos ter certeza: no que depender da capacidade destes quatro instrumentistas, será mais um clássico do estilo!

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