domingo, 10 de março de 2019

Nëcro - Adiante [2016]


Por Micael Machado 

Em uma certa quinta feira no final do ano de 2016, fui até um bar de Porto Alegre conferir a estreia na cidade do trio islandês The Vintage Caravan, pela qual nutria grande expectativa. Na abertura do show, além da banda local Wolftrucker, um outro trio também fazia sua primeira performance em um palco da cidade. Os Alagoanos da Nëcro fizeram um show matador com duração de pouco menos de cinquenta minutos (que, inclusive, pode ser conferido na íntegra aqui), me empolgando tanto que logo comprei, das mãos dos próprios músicos, o CD autointitulado que vendiam no local, e que o trio, meio embaraçado e surpreso pelo "assédio", não se furtou de autografar para mim. O que eu não sabia então é que este já era o segundo lançamento do grupo (que iniciou suas atividades em 2009, ainda sob o nome Necronomicon), e que, à época, eles já estavam com um terceiro disco pronto para ser lançado no mercado, o que ocorreria em dezembro daquele ano, sob o epíteto de Adiante.

Thiago Alef (bateria), Lillian Lessa (baixo e voz) e Pedro Ivo Salvador (guitarras, violão, teclados e voz) - estes dois últimos, curiosamente, em funções invertidas em relação ao álbum anterior - tem uma sonoridade totalmente ligada à década de 1970, com bastante influência da psicodelia (como já entrega a própria capa, em uma bela arte assinada por Cristiano Suarez), mas também incorporando passagens do hard rock do início daqueles anos, e muito da sonoridade do rock brasileiro do final daquele período, como atestam as faixas "Orbes" (abertura do disco e um de seus maiores destaques), "Viajor" (escolhida como segundo single de divulgação) e "Entropia", que lembram os melhores momentos de grupos como Casa das Máquinas, O Terço, Tutti-Frutti ou as faixas mais aceleradas do Som Nosso de Cada Dia, por exemplo. Mas o trio não se furta de "pesar" a mão quando preciso, como acontece em "Azul Profundo", cujo início lembra bandas como Buffalo, Mountain ou Dust, inclusive com excelentes passagens de Hammond para ajudar na viagem para décadas atrás, e que, com mais de sete minutos, é a faixa mais longa e "viajante" do disco, além de contar com um dos melhores solos de Pedro Ivo em todo o registro. Já em "Espelhos e Sombras", um pouco mais lenta que suas colegas de track list, o peso (nem tão pesado assim) chega a lembrar (de longe) as músicas mais doom do Black Sabbath, além de ser a única a contar com trechos na letra que não são em português (sendo estes em espanhol, e não no inglês que o grupo utilizou em algumas faixas de seus discos anteriores).

Nëcro em ação no citado show de Porto Alegre, em foto retirada da página do facebook da banda: Lillian Lessa, Thiago Alef e Pedro Ivo Salvador

A faixa título tem uma surpreendente guitarra slide e tons de ritmos nordestinos no arranjo, além de uma parte mais psicodélica onde as seis cordas lembram as faixas mais "viajantes" do disco de estreia da Jimi hendrix Experience, e o encerramento do álbum se dá com a excelente "Deuses Suicidas", hard rock pesado e rápido que se configura no melhor momento do álbum, sendo, acertadamente (na minha opinião), escolhida como primeiro single de divulgação para Adiante.

Em pouco mais de 36 minutos, o Nëcro registrou um dos melhores discos do rock brasileiro nesta segunda metade da década, o qual, para alegria dos que apreciam o formato, foi lançado em vinil pelo selo Abraxas no começo deste 2018, em uma bela edição cuja pré-venda dava direito a "brindes" como pôsteres e camisetas do trio, um nome ao qual se deve prestar bastante atenção no cenário atual do rock nacional, e do qual espero pérolas ainda melhores no futuro. Aguardemos!

Contracapa de Adiante

Track List:

1. Orbes
2. Adiante
3. Azul Profundo
4. Viajor
5. Entropia
6. Espelhos e Sombras
7. Deuses Suicidas

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