domingo, 2 de abril de 2017

Plebe Rude - Nação Daltônica [2014]


Por Micael Machado

Depois de oito anos sem apresentar um registro de inéditas, a Plebe Rude lançou em 2014 seu sexto disco, Nação Daltônica, uma mostra da relevância e da importância do quarteto originado em Brasília para o rock nacional. Os fundadores Philippe Seabra (guitarra e vocais) e André X (baixo e vocais) se fizeram acompanhar pelo guitarrista e vocalista Clemente Nascimento (também membro dos Inocentes, na banda desde 2004) e pelo estreante baterista Marcelo Capucci (que se uniu ao grupo em 2011), e gravaram um disco que reafirma a essência do som da Plebe.

Considerada uma das primeiras formações punk do país (ao lado do Aborto Elétrico), a música do quarteto sempre foi mais do que o estilo delimita, incorporando elementos do pós-punk, do pop rock e do folk ao longo de sua trajetória. Nação Daltônica traz um pouco de tudo isso em suas dez faixas (que perfazem pouco menos de trinta e seis minutos), mostrando a integridade de Philippe, o principal compositor da banda. Até mesmo a capa, que intencionalmente remete a Nunca Fomos Tão Brasileiros (segundo disco do grupo, de 1987), parece querer reafirmar que, mesmo passados tantos anos, a Plebe ainda é a mesma, desde o som até a temática contestadora das letras, como se percebe em "Anos de Luta", que critica a apatia da atual geração de "roqueiros" do país, onde a música não é o mais importante, mas sim a fama e o sucesso instantâneo, ainda que para isso seja preciso aceitar as "regras do jogo" impostas pela TV e pelas rádios, e onde tudo vira apenas "entretenimento no final" (em uma mensagem parecida com a de "Minha Renda", do EP de estreia do grupo).

A Plebe Rude atual: Clemente Nascimento, André X, Philippe Seabra e Marcelo Capucci

Com o baixo guiando a melodia, a agitada "Que Te Fez Você" é um dos destaques do track list, ao lado de "Mais Um Ano Você" (versão em português para "Will You Stay Tonight?", da banda inglesa de The Comsat Angels, e que, ao expurgar os chatos teclados eletrônicos da versão original, acabou ficando bem mais interessante do que esta), da legitimamente pós-punk "Rude Resiliência" e de "Tudo Que Poderia Ser", composição que traz em seu arranjo todas as características típicas da Plebe Rude, e que ganha aqui sua versão "oficial" de estúdio, visto já ter aparecido antes no ao vivo Rachando Concreto, de 2011.

Se a semi-balada "(Go Ahead) Without Me" (com letras em inglês) teve todos os instrumentos tocados exclusivamente por Philippe, a linda "Sua História" contou com a participação da Orquestra Filarmônica de Praga, enriquecendo ainda mais o arranjo de uma das melhores faixas do disco. "Retaliação", a faixa de abertura, tem um ritmo mais cadenciado, quase marcial, enquanto "Quem Pode Culpá-lo?" lembra algumas bandas da cena "alternativa" atual (e poderia facilmente marcar presença nas rádios, caso estas se interessassem em tocar música de qualidade em sua programação) e "Três Passos", que fecha o trabalho, é a única deste registro a contar com os vocais de Clemente em dueto com Seabra.

Contracapa de Nação Daltônica

Nação Daltônica nos faz lembrar de um tempo onde o rock brasileiro era contestador, instigante e relevante, e não dominado por aglomerações "indie" com tendências "modernosas" e sonoridade derivativa e enfadonha! Que saudades!

Track List:

01. Retaliação
02. Anos de Luta
03. Mais Um Ano Você
04. Que Te Fez Você
05. Sua História
06. Rude Resiliência
07. Quem Pode Culpá-lo?
08. Tudo Que Poderia Ser
09. (Go Ahead) Without Me
10. Três Passos

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