segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Datas Especiais: 25 anos sem Cliff Burton




Por Micael Machado

Já escrevi diversas vezes que sou um baixista frustrado, não por não saber tocar o instrumento, mas por não conseguir fazer nem metade do que meus ídolos no baixo fazem com suas quatro (ou mais) cordas. Lá no começo, quando eu estava aprendendo a ouvir música, esses ídolos foram Adam Clayton do U2, Paul Simonon do Clash, e Klaus Flouride do Dead Kennedys, os primeiros a chamar minha atenção para o poder e beleza que aquele som grave tem em uma canção. Depois, conheci Geddy Lee e Steve Harris, que ascenderam ao topo da minha admiração, encaixando suas linhas e melodias nas músicas de suas bandas de uma forma que até então eu não tinha ouvido ninguém fazer. Muitos outros músicos eu conheci depois, todos eles admiráveis e capazes. Mas posso afirmar que nenhum deles marcou tanto a minha formação quanto o saudoso Clifford Lee Burton, que há exatos vinte e cinco anos nos abandonava em um trágico acidente na Suécia.


Cliff nasceu em 10 de fevereiro de 1962, em Castro Valley, na California, EUA. Quando tinha apenas 13 anos, após a morte de seu irmão, ele começou a tocar baixo, e prometeu ser o melhor baixista do mundo, em homenagem ao irmão. Depois de tocar em algumas bandas amadoras, Cliff entrou para o Trauma, onde começou a ter seu nome reconhecido, e chegou a fazer algumas gravações.

Foi em um show do Trauma, em 1982, que James Hetfield e Lars Ulrich o viram tocando, e ficaram completamente malucos com aquele baixista com um enorme cabelo vermelho que simplesmente não parava de agitar e balançar para todos os lados, com um som de baixo cheio de distorções, tantas que o faziam soar como uma guitarra por vezes, e com uma atitude e talento impossíveis de não se notar. Certos de que Cliff era o elemento certo para sua então iniciante banda, chamada Metallica, os dois o convidam a juntar-se ao grupo, e o talentoso rapaz aceitou o convite, com a condição de que os músicos deixassem Los Angeles, onde moravam, e se mudassem para San Francisco, que era onde ficava o lar de Cliff. Condição aceita, o Metallica tinha um novo baixista, e, após a entrada do guitarrista Kirk Hammett no lugar de Dave Mustaine, estava pronto para dominar o mundo.

Cliff no palco, local onde reinava com seu talento!

O fato dos membros do Metallica terem deixado seus lares e aceitado se mudar para San Francisco apenas para poder ter Cliff em sua banda sempre me impressionou. Mostra tanto a forte personalidade do músico, quanto o seu enorme talento e capacidade, o que fez com que o trio restante fizesse um grande sacrifício pessoal para tê-lo ao seu lado. Mas não foi apenas isto que Cliff fez de importante.

Já no primeiro disco da banda, o aclamado Kill ‘Em All (1983), uma das canções era o solo de baixo que ele costumava executar ao vivo, chamado “Anesthesia (Pulling Teeth)”. A não ser o Manowar, não conheço nenhuma outra banda de heavy metal que tenha dado tal destaque a seu baixista em toda a história! Esse solo até hoje é o sonho e o pesadelo de quase todo baixista iniciante no mundo da música pesada, e o uso em sua execução de pedais de efeitos até então praticamente restritos à guitarra, como o wah-wah, de certa forma revolucionou o papel do instrumento no heavy metal.

Cliff foi um dos poucos baixistas a não se limitar a ficar “marcando o tempo” no baixo em sua época. Suas cordas traziam novas melodias para as composições, além daquelas criadas pelas guitarras, e suas linhas de baixo por vezes seguiam um caminho totalmente diferente daquele que as seis cordas estavam percorrendo. Isso ficou ainda mais evidente no segundo álbum do Metallica, Ride The Lightning (1984), onde Cliff mais uma vez brilhava em um solo, desta vez o da introdução de “For Whom The Bell Tolls”, repleto de efeitos e distorções incomuns ao seu instrumento. Mas suas linhas nas outras músicas do disco, especialmente na instrumental “TheCall Of Ktulu”, também serviram e muito para elevar seu nome aos primeiros lugares dentre os nomes dos baixistas favoritos dos fãs de heavy metal.

Com a carreira em ascensão, o Metallica lança Master of Puppets em 1986, um dos melhores discos de thrash metal da história (ao lado de Reign in Blood, do Slayer, lançado no mesmo ano), que, como o anterior, havia sido gravado na Dinamarca, país onde o baterista Lars havia nascido. Master é até hoje aclamado pelos headbangers do mundo inteiro, e um dos seus maiores destaques é a instrumental “Orion”, composta quase inteiramente por Cliff. Além disso, seu interesse pela literatura de H. P. Lovecraft (que encantou com seus textos muitos outros músicos pelo mundo) foi essencial para a letra de “The Thing That Should Not Be”. Se ainda resta alguma dúvida do talento e da genialidade de Cliff em seu instrumento, essas deixam de existir logo depois da primeira vez que você ouve Master of Puppets do começo ao fim, e constata como aquele baixista insano faz falta ao mundo da música atualmente.
A resposta ideal a quem se acha melhor que Cliff...


Foi na manhã de 27 de setembro de 1986 que o ônibus que levava o Metallica para mais um show derrapou em uma estrada da Suécia próxima à cidade de Ljungby. A causa exata do acidente nunca foi totalmente comprovada, mas oficialmente o ônibus derrapou em gelo na pista, o que fez com que o veículo tombasse de lado. Com isso, Cliff, que dormia em um beliche na parte de trás do mesmo, foi jogado pela janela para fora do ônibus, que, na seqüência, caiu por cima dele, retirando sua vida. Os demais ocupantes do veículo sofreram apenas ferimentos leves, e demoraram a acreditar que Cliff estava de fato morto, levando ainda um bom tempo até que a “ficha” caísse completamente sobre eles. O melhor baixista que o mundo do heavy metal havia conhecido estava morto aos 24 anos de idade, e não havia nada que pudesse ser feito para mudar este fato.

James Hetfield declarou à época que caminhou por algumas milhas procurando o tal gelo onde o ônibus teria derrapado, sem encontrá-lo, o que levantou suspeitas de que o motorista estivesse bêbado na hora do acidente, teoria que nunca foi comprovada. Kirk Hammett declarou que dormiu algumas noites com a luz aces após o acidente, devido ao trauma, que foi bastante sentido por ele, até por que a cama onde Cliff estava naquela data fatídica era a que Kirk costumava utilizar. O guitarrista só não dormia ali naquela noite porque Cliff havia ganho nas cartas o direito de escolher a cama onde queria dormir, tendo ficado com a de Hammett, que, supostamente, era a melhor. Justamente aquela mais próxima à janela do lado onde o ônibus tombou ....

A tragédia não afetou apenas ao mundo da música, mas aos membros da banda mais do que a qualquer um, como era de se esperar. Depois de muito diálogo, o trio restante decidiu continuar em frente, pois “Cliff iria chutar suas bundas se eles resolvessem desistir”, conforme declararam. Jason Newsted assumiu o baixo, e, após o EP The $5.98 E.P.: Garage Days Re-Revisited (1987), só com covers, o grupo lançou ...And Justice For All (1988), álbum que trazia a última composição de Cliff no Metallica, a magnífica “To Live Is To Die”, praticamente instrumental, e cujos poucos versos foram escritos pelo saudoso baixista. Antes do lançamento do álbum, ainda em 1987, foi lançado o home-video Cliff 'Em All, que contém vários vídeos gravados de forma não profissional (inclusive alguns feitos por fãs), cobrindo os anos em que Cliff esteve na banda e mostrando a quem ainda não conhecia sua marcante presença de palco.
Memorial colocado próximo ao acidente, na Suécia

Cliff Burton sempre foi descrito por todos como um sujeito educado, gentil e cortês, mas com uma forte personalidade e bastante determinado a conseguir o que queria. Seu corpo foi cremado, e as cinzas jogadas no Maxwell Ranch, na região de São Francisco. Em 2006, uma lápide foi colocada como um memorial próximo ao local do acidente que tirou sua vida. Seu nome é referência para qualquer iniciante na arte de tocar o baixo elétrico, ainda mais essencial se o estilo do calouro for o heavy metal ou suas vertentes. Steve Harris e Joey deMaio podem ter carreiras mais longas e terem seus nomes mais reconhecidos do que o dele (até por serem os líderes incontestes de suas bandas, o Iron Maiden e o Manowar, respectivamente). Mas é inegável que a importância e as inovações que Cliff trouxe para a sonoridade do instrumento no mundo do heavy metal (em apenas três discos de estúdio!) não podem nem devem ser ignoradas, sob pena de não se conhecer o que de melhor já foi gravado em apenas quatro cordas na história do estilo.

Rest In Peace, Man! We all miss you!

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