segunda-feira, 13 de agosto de 2012

DVD: The Allman Brothers Band – Live At The Beacon Theatre [2003]



Por Micael Machado

Certas bandas são verdadeiras instituições do rock and roll. Em alguns estilos específicos, outras se tornam referência para todos os grupos que surgem após eles. Em se tratando de southern rock, aquele estilo que mistura num mesmo caldeirão blues, jazz, rock e country, sempre dando ênfase aos longos solos de guitarras, o Allman Brothers é Deus.

Surgido no final dos anos 60, o grupo lançou dois discos de estúdio (The Allman Brothers Band, em 1969, e Idlewild South, em 1970) e um fenomenal álbum ao vivo (At Fillmore East, de 1971, fortíssimo candidato a melhor disco ao vivo da história). Então seu guitarrista, Duane Allman, uma das maiores referências no instrumento em todos os tempos, faleceu em um trágico acidente de motocicleta em 29 de outubro de 1971. Se o grupo tivesse decidido parar por ali, apenas com estes três álbuns na carreira, já seria um dos nomes mais importantes da música mundial. Mas, para nossa sorte, o grupo seguiu em frente, entre muitos altos e poucos baixos.

Allman Brothers: formação clássica, com Duane Allman, Dickey Betts, Greg Allman, Jaimoe Johanson, Berry Oakley e Butch Trucks

Praticamente restringindo suas performances aos palcos dos Estados Unidos (e, mesmo ali, priorizando sempre a parte sul do país), o Allman Brothers conquistou a fama de ser um dos melhores live acts do mundo do rock, fato que poucos brasileiros tiveram a chance de conferir. Pois se não dá para se mandar para a Georgia ou para a Florida para assistir a uma apresentação in loco do grupo, pelo menos temos a chance de ver Live At The Beacon Theatre, excelente DVD gravado nos dias 25 e 26 de março de 2003 na cidade de Nova Iorque.

Warren Haynes
Em mais de duas horas e quarenta minutos, o que se vê é uma verdadeira aula de música, com todas as características que tornaram a banda reconhecida e aclamada. Pode-se conferir o guitarrista Warren Haynes regendo o grupo como um verdadeiro maestro (chegando a lembrar a atitude de Ritchie Blackmore em seus tempos de Deep Purple e Rainbow), indicando entradas e saídas de solos dos instrumentistas com precisão e autoridade, além de tocar muito em suas guitarras e soltar a voz com toda a competência em diversas canções.

Pode-se admirar Derek Trucks, o parceiro de Haynes nas seis cordas, dando um verdadeiro show de slide, não fazendo com que sintamos saudades de Duane em nenhum momento (até um vidrinho de remédio Trucks usa como slide, assim como o falecido guitarrista fazia), além de dar um verdadeiro show nos solos e nas bases das canções, hora completando os fraseados de Haynes, hora brilhando em voos solitários pelo palco. E tudo isso sem usar palheta, tirando altos sons de seu instrumento apenas com as unhas e os dedos percutindo as cordas da guitarra. Sensacional é pouco!


Greg Allman


Também se pode viajar ao som do teclado de Gregg Allman, fundador e chefe da bagaça toda (pelo menos na teoria), além de ser um excepcional vocalista de blues, que compensa aquilo que o tempo tomou de sua voz com muito carisma e experiência. Pode-se deixar o queixo cair com o trabalho dos dois bateristas fundadores, Jaimoe e Butch Trucks (tio de Derek), aqui auxiliados pelo percussionista Marc Quinones. E, por fim, babar com a habilidade e o talento do baixista Oteil Burbridge, então o “caçula” da turma, mas tocando como um verdadeiro mestre do instrumento.

Butch Trucks e Jaimoe

Apontar destaques numa apresentação tão boa é bastante complicado. Claro que as favoritas são sempre aquelas dos tempos de Duane, como a clássica “Statesboro Blues”, “Black Hearted Woman”, “Midnight Rider”, “Dreams” e a excepcional “Whipping Post”, aqui numa curta versão de “apenas” doze minutos (a de At Fillmore East tem mais de vinte e três!). Mas as canções pós Duane, como “Melissa”, “Ain’t Wastin’ Time No More”, “Rockin’ Horse”, “Woman Across The River” e a excelente “Instrumental Illness” (as três últimas do então mais recente disco do grupo, Hittin’ The Note) também não deixam a desejar, sempre com as guitarras se dividindo entre riffs e solos que só quem manja muito do riscado consegue fazer, além de ainda disputar espaço com o órgão de Gregg. Magistral é pouco!

A ausência mais sentida, pelo menos para mim, é de “In Memory Of Elizabeth Reed”, uma das melhores músicas instrumentais de todos os tempos. Mas nem ela, nem a falta de “Jessica”, conseguem diminuir a qualidade e a beleza deste DVD, as quais são ajudadas pela edição, sempre enfatizando os músicos com longos takes, fugindo daquela edição de imagens ultra rápida que frequentemente se encontra em outros DVDs, além, claro, da imagem cristalina e do som perfeitamente equalizado.

Haynes e Derek Trucks

No DVD bônus (é, amigo, para ficar quase perfeito o negócio ainda é duplo!), uma canção de encore (“One Way Out”, outra dos tempos de Duane), uma versão de “Old Friend” só com Warren Haynes e Derek Trucks nos violões (gravada no camarim do teatro), e mais de uma hora de entrevistas com os membros da banda sobre o passado, o presente (à época) e o futuro do Allman Brothers Band (infelizmente sem legendas), além de fotos e discografia. 

Se você gosta de rock, principalmente de solos de guitarras com alma e feeling de sobra, este é um DVD imperdível. Se for fã do grupo então, é obrigatório! Simples assim.

Allman Brothers: Derek Trucks, Warren Haynes, Butch Trucks, Greg Allman, Jaimoe, Marc Quinones e Oteil Burbridge 

Sometimes I feel like I’ve been tied to the whipping post...

Track List:

1.     "Ain't Wastin' Time No More"
2.     "Black Hearted Woman"
3.     "Statesboro Blues"
4.     "Woman Across the River"
5.     "A Change is Gonna Come"
6.     "Maydell"
7.     "Come and Go Blues"
8.     "Rockin' Horse"
9.     "Desdemona"
10. "Don't Keep Me Wondering"
11. "Midnight Rider"
12. "Soulshine"
13. "The High Cost of Low Living"
14. "Leave My Blues at Home"
15. "Old Before My Time"
16. "The Same Thing"
17. "Melissa"
18. "Instrumental Illness"
19. "Worried Down with the Blues"
20. "Dreams"
21. "Whipping Post"

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