sábado, 2 de agosto de 2014

Review Exclusivo: Os Replicantes (Porto Alegre, 18 de julho de 2014)


Por Micael Machado

Apesar de já fazer oito anos que Júlia Barth assumiu os vocais d'Os Replicantes, eu ainda não havia conferido ao vivo o grupo com sua "nova" vocalista à frente. A oportunidade veio no recente dia 18 de julho, quando esta legendária agremiação do punk rock gaúcho se apresentou no Teatro do Sesc, em Porto Alegre, na última de três noites em comemoração ao dia mundial do rock (e que teve, a saber, apresentações da Rosa Tattooada no dia 16 e da Tequila Baby no dia 17).

Com os tradicionais quinze minutos de atraso em relação à hora marcada, os fundadores Cláudio Heinz (guitarras e backing vocals) e Heron Heinz (baixo e backing vocals), além do baterista Cléber Andrade (na banda desde 1989), entraram no palco para iniciar a apresentação. Júlia foi a última a surgir, e saudou o público (presente em bom número, quase lotando as dependências do teatro) com um "Boa noite a todos, é um prazer estar aqui, e vamos nos divertir!". Era a senha para uma noite de muito punk rock, abertos pela clássica "Hippie Punk Rajneesh", e que se estenderia por setenta e cinco minutos de muita intensidade musical.

Os Replicantes no palco do Teatro do Sesc

O que não faltam na carreira d'Os Replicantes são clássicos do punk nacional. Boa parte deles foi cunhada ainda quando Wander Wildner (hoje em carreira solo) comandava o microfone do grupo (em especial os editados nos LPs O Futuro É Vortex, de 1986, e Histórias de Sexo & Violência, do ano seguinte), e alguns outros na fase em que o ex-baterista Carlos Gerbase (também reconhecido cineasta) substituiu o dissidente Wander e passou a ser o vocalista da banda. À medida que a apresentação desta noite progredia, o experiente quarteto (que completou trinta anos de estrada em 2013) ia interpretando algumas destas marcantes canções, como "Nicotina", "Ele Quer Ser Punk", "Prá Ver Se Eu Conseguia", "Papel de Mau" (que dá nome ao terceiro disco, de 1989), "O Futuro É Vortex" e até a surpreendente (para mim) "África do Sul", que eu nunca havia assistido ao vivo com os cantores anteriores. Mas as canções do (até agora) único disco com os vocais de Júlia, Os Replicantes 2010, também não foram esquecidas, e apareceram na forma de "Rock Star", "Solo É Prá Minhoca", "Alguém Explica?" e "Sai Daqui", equilibrando muito bem as diversas fases pelas quais o grupo passou. Também houve espaço para a canção "O Inverno Está Chegando", lançada como single digital pelo quarteto em 2013 na sua página do soundcloud, a qual foi bem recebida pela galera que assistia ao show.

Como a configuração do local conta com confortáveis poltronas para o público, tanto Júlia quanto Heron fizeram menção ao fato do pessoal estar "sentado e comportadinho" em diferentes ocasiões ao longo do show. Mas bastaram os primeiros acordes do hino "Surfista Calhorda" para a situação se alterar completamente, com todos se levantando e cantando a letra inteira (mesmo aqueles que até ali haviam ficado calados), e com alguns até arriscando uns passos de pogo pelos corredores do local e à frente do palco! Ao final da perfeita execução desta que talvez seja a música mais conhecida da carreira do quarteto, a empolgação foi enorme, e foi preciso que Júlia pedisse ao pessoal para lembrarmos que estávamos em um teatro e voltarmos a nossos lugares para que a apresentação tivesse continuidade.

Momento da apresentação d'Os Replicantes

Júlia Barth, aliás, que foi, a meu ver, a grande estrela da noite. Com Cléber meio "escondido" no fundo do palco, e os irmãos Cláudio e Heron mais paradões em seus cantos (apesar de mandarem muito bem em seus respectivos instrumentos), as atenções se voltavam para a cantora, que, se fora do palco tem um jeito meigo e até meio frágil, se transforma quando em frente ao microfone, com uma poderosa voz em tons rasgados (a qual, infelizmente, ficou um pouco baixa em muitos momentos, prejudicando que o pessoal entendesse as letras que ela entoava) e um magnetismo pessoal que atrai todos os olhares para si, além de dançar e agitar muito em todos os momentos em que não está cantando. Achei curioso o fato de ela encarar numa boa cantar letras bastante "machistas" como as de "A Vida Começa Aos 30", "Motel da Esquina" ou "Eu Quero É Mucra", sem se importar com alguma questão "feminista" que o fato pudesse gerar. Houve, sim, canções como a citada "Papel de Mau" ou "Só Mais Uma Chance (Pin Up)" onde ela fez algumas alterações na letra para adequá-las à sua condição de cantora, mas, no geral, as músicas foram interpretadas com suas letras originais, as quais foram escritas para os antigos cantores (homens) do grupo.

Duas músicas de Os Replicantes 2010"De Sul A Norte" e "Maria Lacerda" (o grande hit deste lançamento), encaminharam o final da apresentação, que encerrou com "Festa Punk", outro hino que levantou o pessoal (e até animou alguns a cantar o seu refrão no microfone que Júlia oferecia à plateia), e cujo título traduziu bem o que havia sido a noite até ali. Como a galera não queria deixar a banda sair do palco, Júlia perguntou se ainda havia tempo para uma saideira, e, com a resposta positiva da produção do evento, os insistentes pedidos pela também clássica "Astronauta" determinaram qual seria a canção do bis (substituindo a planejada "Sandina", conforme o set list oficial). O quarteto ainda emendou "A Verdadeira Corrida Espacial" na "finaleira", terminando de vez com uma noite quase perfeita, que só não foi melhor por deixar um grande gosto de "quero mais" no público presente, pois o tempo disponibilizado ao grupo foi muito pouco para representar com justiça toda a sua vencedora trajetória na estrada do punk rock!

Os Replicantes em ação

Após a apresentação, os quatro ainda retornaram ao palco para atender quem queria um autógrafo, uma foto ou apenas um abraço e um rápido bate papo, demonstrando uma humildade e simpatia enormes, coisa que, infelizmente, não se encontra em muitos grupos com bem menos da metade da história e importância desta verdadeira lenda punk. Um final mais do que adequado para uma noite memorável!

"Não tem refrão nem verso forte, tem é muito punk rock pra tocar de sul a norte..."

Set List e ingresso do show

Set List:

1. Hippie Punk Rajneesh
2. Rock Star
3. Ele Quer Ser Punk
4. A Vida Começa Aos 30
5. Solo É Prá Minhoca
6. O Futuro É Vortex
7. Nicotina
8. Alguém Explica?
9. África do Sul
10. Papel de Mau
11. Sai Daqui
12. Surfista Calhorda
13. O Inverno Está Chegando
14. Motel da Esquina
15. Desculpa Meu Amor
16. Só Mais Uma Chance (Pin Up)
17. Eu Quero É Mucra
18. Prá Ver Se Eu Conseguia
19. De Sul A Norte
20. Maria Lacerda
21. Festa Punk

Bis:

22. Astronauta
23. A Verdadeira Corrida Espacial

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