domingo, 21 de abril de 2013

Sound City, o documentário dirigido por Dave Grohl [2013]


Por Micael Machado

Fleetwodd Mac, Rick Springfield, Johnny Cash, Neil Young, Billy Joel, Tom Petty, Cheap Trick, REO Speedwagon, Fear, Dio, Rob Halford, Ratt, Guns And Roses, Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Frank Black and the Catholics, Nine Inch Nails, Queens of the Stone Age, Rage Against the Machine... O que todos estes grupos e artistas têm em comum?

Uma das respostas possíveis é que todos tiveram algum disco registrado no estúdio Sound City. Situado na cidade de Los Angeles, o local funcionou desde o final dos anos 1960 até 2011, quando não aguentou a concorrência gerada pelos modernos equipamentos eletrônicos (que permitem até que você faça um álbum dentro de seu próprio quarto), e acabou fechando definitivamente.


O estúdio Sound City

O líder do Foo Fighters, o cantor e guitarrista Dave Grohl, também gravou no Sound City. Como baterista do Nirvana, Dave registrou lá o mítico Nevermind (1991), álbum que mudaria não só a vida do músico, mas do próprio rock alternativo, e daria uma sobrevida ao já então deficitário e antiquado estúdio. Após adquirir alguns dos itens originais do lugar, dentre eles a mesa de controle analógica que era o "coração" do local (um modelo Neve 8028 feito à mão por seu criador, e cuja eficiência e habilidades são exaltadas por todos os que se envolveram com ela em algum momento), Grohl decidiu fazer um documentário contando a história do estúdio, em uma espécie de tributo ao legado que o Sound City deixou para o mundo da música.

Através do depoimento dos artistas e membros dos grupos citados acima, bem como o de produtores que passaram pelo local (como Joe Barresi, Butch Vig, Jim Scott, Nick Raskulinecz, Rick Rubin, Keith Olsen e Ross Robinson), e de antigos administradores e funcionários do estúdio, as memórias do lugar vão surgindo em ordem cronológica na tela, quase sempre com um compreensivo tom saudosista e até mesmo melancólico. Do começo modesto aos "tempos de glória" após o sucesso de Rumours (disco do Fleetwood Mac de 1977) e Working Class Dog (de 1981, lançado por Rick Springfield), passando por muitas bandas locais famosas na segunda metade dos anos 1980, pelo início das dificuldades com a chegada do CD no final daquela década, indo a um segundo auge após o estouro de Nevermind e finalmente chegando ao fim após a popularização do Pro Tools (programa de computador que permite recursos de gravação digital nem de longe sonhados até então na indústria musical, sendo que o Sound City sempre foi um estúdio baseado na gravação analógica em fitas de rolo), casos interessantes e curiosos, aspectos técnicos, lembranças engraçadas e um pouco da história da música nos mais de quarenta anos em que o local esteve na ativa são contados por aqueles que as viveram, sem papas na língua ou falsos moralismos.


Dave Grohl, em cena do documentário


Do músico que se casou com a assistente do estúdio àquele que praticamente morou no local por um tempo, passando pelo produtor famoso que iniciou como faxineiro do lugar e chegando ao que só alcançou a fama após gravar por lá (para não mencionar os que nem eram músicos, mas tiveram seus discos registrados no Sound City, como os atores Telly Savalas e Vincent Price), o documentário escrito por Mark Monroe e dirigido pelo próprio Dave Grohl (em sua estreia neste papel) traz uma visão humana e tocante de um período em que aquele local significava muito na vida de todos os que participam do filme.  Alguns chegam próximo do choro ao contar os fatos que viveram por lá, e outros demonstram sorrisos saudosos ao relembrar de tudo que passaram por ali. Os depoimentos são bastante honestos, e nada parece ensaiado ou forçado ao longo da película.

Completando o tributo, Grohl utilizou os equipamentos que comprou no local (e que instalou em seu próprio estúdio, o 606 Studios), e registrou um álbum reunindo grande parte dos músicos que por lá passaram e que aparecem no vídeo. As sessões de gravação para o disco, chamado Sound City: Real to Reel, e lançado junto com o documentário, ocupam a parte final do filme, com imenso destaque para o reencontro em estúdio da cozinha do Nirvana, o próprio Dave Grohl e Krist Novoselic (baixo), os quais, ao lado de Pat Smear (guitarra, também ex-Nirvana) e de nada mais nada menos que Sir Paul McCartney (ele mesmo, nos vocais e guitarras), criaram "Cut Me Some Slack", a qual foi apresentada ao vivo pela primeira vez no show beneficente às vítimas do furacão Sandy em 12 dezembro de 2012 (com McCartney usando a mesma estranha guitarra quadrada com que aparece no documentário), com enorme e merecido estardalhaço junto à mídia especializada.


Krist Novoselic, Paul McCartney e Dave Grohl durante a criação de "Cut Me Some Slack"

Sound City é um documentário que vai agradar aqueles que se interessam pelos bastidores do showbizz, por aquilo que acontece "fora dos palcos" no mundo da música e, obviamente, aos fãs dos artistas citados, os quais dão declarações muitas vezes inéditas ao longo do filme. Mas, principalmente é um registro da memória de um local importantíssimo para a música dos últimos quarenta anos, embora, na maior parte do tempo, tenha ficado relegado a um segundo ou terceiro plano na hora de receber reconhecimento. Pelo menos, até agora!

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