domingo, 8 de fevereiro de 2015

Machinaria - Sacred Revolutions / Profane Revelations [2014]


Por Micael Machado

O interior do Rio Grande do Sul já revelou diversas bandas importantes para o cenário da música nacional de diversos estilos, sendo que, no heavy metal em particular, o maior exemplo com certeza é o Krisiun, que saiu da cidade de Ijuí para conquistar os palcos do mundo inteiro. Pois o Machinaria, surgido na localidade de Bagé, na campanha gaúcha, é mais uma formação que começa a traçar sua caminhada em relação a um reconhecimento maior por parte de quem gosta do estilo, através de seu debut, intitulado Sacred Revolutions / Profane Revelations, disponibilizado no mercado de forma independente em 2014.

Com três singles lançados desde seu surgimento em 2011, o quinteto, formado atualmente por Luciano Ferraz (vocal), Matheus Leal (guitarra solo), Alan Quintana (guitarra base), Luiz Mário Moraes (Baixo) e Bruno "Porta" Dachi (Bateria), estreia com um álbum conceitual com pouco mais de quarenta e sete minutos de um thrash metal moderno, que não se restringe apenas à velocidade em suas composições, apresentando também bastante "groove" e partes mais cadenciadas ao longo das faixas, além de algumas melodias que remetem a um heavy mais "tradicional". O disco é conceitual, e a temática das letras (todas a cargo do vocalista Luciano Ferraz) trata, de forma bastante interessante, do período da Inquisição Católica durante a idade média, e, embora sem contar uma história com começo, meio e fim, utiliza os textos para criticar as incongruências e exageros do período, bem como a postura da religião desde aqueles tempos até os dias atuais.

Machinaria: Luiz Mário Moraes (Baixo), Alan Quintana (guitarra base), Luciano Ferraz (vocal), Bruno "Porta" Dachi (Bateria) e Matheus Leal (guitarra solo)

Assim como as composições não se limitam a uma única fórmula pré definida (há muitas variações mesmo dentro de cada faixa, indo desde momentos mais velozes como os apresentados em "Scapegoat", "Act Of Justice" e "New Eyes, Old Lies", passando por aquele "thrashão" tradicional, que pode ser ouvido em "Shallow Grave", e chegando até partes bastante cadenciadas como as de "Holy Office", que tem um trecho bem lento no meio e foi escolhida, com todos os méritos, para ser o primeiro vídeo clipe oficial do conjunto), também os vocais de Ferraz se mostram bastante variados, indo desde um gutural a la John Tardy (vocalista do Obituary) na faixa de abertura (intitulada "Iconoclast", um dos destaques do álbum) até uma agradável voz limpa (na faixa título, uma das que apresentam mais melodia, especialmente em seu início), passando por um "rasgado" que lembra Phil Anselmo (do Down, ex-Pantera) em "Pictures Of The Dark" e até alguns agudos bem executados (e sem exageros) vez por outra. O tamanho das músicas também se mostra adequado, variando entre os quatro e os seis minutos de duração, sem aquela "encheção de linguiça" que por vezes encontramos em outros álbuns do estilo. Tudo isso ajuda a não tornar o álbum cansativo, e as oito faixas do track list regular se deixam ouvir facilmente, tendo tudo para agradar aos fãs do estilo.

Gravado no estúdio PortaHousemetal, na cidade natal do grupo, e com mixagem e masterização a cargo do baterista Bruno Dachi, a produção (executada pelo próprio quinteto) acabou ficando muito boa, deixando todos os instrumentos bem audíveis (até mesmo o baixo, normalmente mais "sumido" em produções do estilo, e que aqui chega a conseguir o "papel principal" sob os holofotes em músicas como as citadas "Act Of Justice" ou "Sacred Revolutions / Profane Revelations", onde tem direito até mesmo a um solo!), pecando apenas no timbre da guitarra de Matheus Leal em seus solos, o qual soa muito "magro" em relação ao peso dos demais componentes da sonoridade da banda, sendo este apenas um quesito "menor" no trabalho, sem chegar a comprometer o resultado final da audição.

Detalhe do CD

Como bônus, completa o disco a faixa "Burning My Soul", retirada do primeiro single do conjunto (que tinha o mesmo nome, e foi lançado em 2013), a qual apresenta algumas partes de uma entrevista com o famoso assassino Charles Manson realizada em 1987, e que ajuda a compor um interessante registro de estreia de uma banda que tem tudo para trilhar um caminho de sucesso no mundo do heavy metal nacional, assim como seus conterrâneos de estado citados lá no início desde texto. Potencial para isto, com certeza, o Machinaria possui.

Track List:

1. Iconoclast
2. Scapegoat
3. Act Of Justice
4. Holy Office
5. Pictures Of The Dark
6. Sacred Revolutions, Profane Revelations
7. New Eyes, Old Lies
8. Shallow Grave
9. Burning My Soul (Bonus Track)

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