domingo, 2 de novembro de 2014

Lugh - Quando os Canecos Batem [2014]


Por Micael Machado

O estilo conhecido como Celtic Punk (mistura do punk rock com sonoridades tradicionais de países como Irlanda, Escócia e País de Gales) tem alguns representantes fortes no estrangeiro, como Flogging Molly, Dropkick Murphys, Fiddlers Green e The Real McKenzies, mas, aqui no Brasil, eu tinha dificuldades em indicar um grupo do gênero. Isto até conhecer a música dos gaúchos da Lugh, que lançaram em março deste ano seu álbum de estreia, intitulado Quando os Canecos Batem, de forma totalmente independente.

Naturais da cidade de Santa Maria, o quinteto formado por Rafael Miranda (voz,violão,violino), Leonardo Nasr (gaita ponto), Lucas "Bala" Odorizzi (baixo,voz), Daniel Jardim (guitarra,mandolim,voz) e George Sá (bateria) já havia lançado um EP em 2010 (com três faixas e intitulado Coisas, Músicas, Ceva ... Vida) e, ao invés de abordar questões políticas ou de desigualdades sociais, como muitas outras aglomerações punk por aí, calca suas letras na velha combinação "diversão-bebedeira-festas", enaltecendo o valor da amizade e de um bom caneco de cerveja gelada como o único motivo para um proveitoso final de semana, ou uma bela maneira de esquecer dos problemas da rotina estressante do dia-a-dia de trabalho, tudo regado a músicas divertidas e dançantes, com peso na medida certa e aqueles backing vocals contagiantes que te convidam a cantar junto com eles após umas poucas audições. São assim "Grito Na Noite" (cuja introdução, levada pela gaita e pelo violão, dá a impressão de que vai descambar em uma canção tradicionalista do Rio Grande do Sul, algo que se mostra completamente ao contrário quando os demais instrumentos aparecem), "O Que Eu Preciso" (com uma interessante introdução a cargo do mandolim, e que mereceu um vídeo clipe), "Sexta-Feira" (regravação do tema presente no EP anterior), "Dias Atuais" ou "Tudo Que Há Para Viver", que chega a lembrar o som dos Inocentes, e é um dos destaques do disco.

A Lugh em seu ambiente natural: George Sá, Rafael Miranda, Lucas Bala, Daniel Jardim e Leonardo Nasr

O grande diferencial da Lugh é a presença da gaita ponto, que se destaca nos arranjos, assumindo inclusive, em muitas passagens, o papel de condutor da melodia, algo que, geralmente, fica a cargo da guitarra, e que traz às músicas do grupo uma sonoridade diferenciada em relação a outras formações nacionais. É este instrumento, por exemplo, que dá ares de polca a canções como "Sete Mares" (primeiro single divulgado, que também ganhou um vídeo clipe, e tem letra tratando de piratas e viagens pelo mar)  ou "Jack", em uma mistura inusitada, mas que soa muito agradável. É a gaita também quem dá um tom um tanto melancólico a "Vida Seca", uma das poucas cuja temática é mais "séria", abordando os problemas de um relacionamento (ou uma lição de vida a ser adotada, dependendo da interpretação), e descambando em um dos melhores refrões do registro. A letra de  "Chinaski" é inspirada pelo personagem de mesmo nome (um anti-herói misantropo e desajustado) criado pelo escritor Charles Bukowski , e a de "Do Outro Lado do Mar" (uma das que eu mais gostei) fala dos amigos que foram "pro outro lado do mar com muitos sonhos prá realizar", e que, quando a saudade bate, tem apenas "o rock prá tocar e a cerveja para acompanhar", tudo embalado por uma das melhores linhas de gaita do registro.

O início da faixa título lembra bastante o Charlie Brown Jr., mas, quando entra uma melodia conduzida pela gaita e pelo violino, tudo muda, e a atmosfera de pub irlandês volta a reinar, em mais um destaque do track list, que se completa com "Nosso Clã", uma das mais longas do disco (sem chegar a três minutos e meio), a qual também vai agradar em cheio aos fãs do rock nacional dos anos 1990. O álbum (cuja duração total mal ultrapassa os trinta minutos) está disponível para download neste link, e também pode ser ouvido na íntegra no canal oficial da  banda no youtube (acompanhado inclusive de uma interessante animação com a temática da capa), onde há vários vídeos retirados de apresentações ao vivo da Lugh, inclusive uma apresentação acústica bastante interessante e alguns covers para algumas das bandas que serviram de inspiração para o quinteto.

Ilustração com uma espécie de "mascote" do grupo, presente nos produtos de merchandise

A arte do encarte (a cargo de Daniel Malako, com ilustrações de Mateus de Castro) ficou muito legal, e a produção (assinada por Ray Z, com engenharia de Gilberto Jr.) está bem mais que aceitável levando-se em conta ser o primeiro registro completo do quinteto. Alguns arranjos poderiam ser melhor trabalhados (como o final de certas canções, que acabam de forma meio "abrupta"), mas isto é algo que a experiência e a estrada, certamente, trarão aos gaúchos, e não chega a denegrir de forma alguma o trabalho do grupo. Se este texto lhe chamou a atenção de alguma forma, dê uma chance para a música dos rapazes, e seja mais um a, como diz a letra de "Nosso Clã", "gritar em coro curtindo o som da Lugh, que a vida vai melhorar". Eu já estou fazendo a minha parte!

Track List:

1. Grito Na Noite
2. Sete Mares
3. O Que Eu Preciso
4. Dias Atuais
5. Chinaski 
6. Sexta-Feira
7. Quando os Canecos Batem
8. Nosso Clã
9. Vida Seca
10. Do Outro Lado do Mar
11. Tudo Que Há Para Viver
12. Jack

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