sábado, 6 de setembro de 2014

Belgrado - Siglo XXI [2013]


Por Micael Machado

O estilo musical chamado de pós-punk tem algumas características próprias, como um certo tom de melancolia em suas composições (geralmente pendendo para uma sonoridade mais lúgubre), bateria seca e marcada e um andamento "arrastado" e até meio "modorrento". Mas mesmo os maiores ícones do estilo possuem faixas em suas discografias que fogem destas características, como, por exemplo, "Disorder", do Joy Division, "Grinding Halt", do The Cure, ou "Christine", do Siouxsie and the Banshees, para citar apenas três músicas de apenas três bandas. Nestas canções, o andamento é mais rápido, a bateria mais ágil, as linhas de baixo mais velozes, e a guitarra faz mais riffs (e até solos) do que o "padrão" do estilo, Pois é esta vertente mais animada (e quase "dançante") que o quarteto Belgrado adotou para sua carreira, com excelentes resultados.

Reunidos em 2010 na cidade espanhola de Barcelona, a cantora polonesa Patrycja (Pat, para os íntimos) e os músicos (venezuelanos, de acordo com o que apurei) Fergu (guitarra), Renzo (baixo) e Jonathan (bateria) lançaram seu primeiro álbum, auto intitulado, em 2011, pela gravadora independente espanhola Discos Enfermos. Após passarem para a também independente La Vida Es Un Mus, soltaram o compacto em 7" Panopticon / Vicious Circle, em 2012, e seu segundo álbum completo, Siglo XXI, em setembro do ano passado. Os três registros (disponíveis apenas em vinil, diga-se de passagem) são um oásis sonoro para os fãs da vertente citada no parágrafo anterior, levando o ouvinte direto para algum pub londrino do início dos anos 1980, época do auge do estilo pós-punk! Mas devo confessar que minha preferência recai sobre este último, o qual é objeto deste texto!

O quarteto Belgrado: Renzo (atrás), Fergu, Jonathan e Pat

Ao longo da audição de Siglo XXI, pode-se constatar que, mesmo Fergu usando e abusando de efeitos e licks de sua guitarra (como se fosse um Robert Smith, do The Cure, em início de carreira), Renzo "palhetando" seu baixo ao melhor estilo Peter Hook (baixista do citado Joy Division) e Jonathan conduzindo sua bateria de forma segura por entre as canções, não se poderá negar que o grande trunfo do grupo está na vocalista Pat. Espécie de Siouxsie Sioux loira (confira a performance da cantora em "Wake Up", por exemplo), a polonesa consegue ser o maior destaque do quarteto, inclusive no palco, onde chama a atenção com suas danças estranhas e seu magnetismo pessoal. Além disso, ela traz a "incomum" característica de cantar em sua língua natal, algo que dificilmente se encontra em discos "normais" por aí. Neste álbum, inclusive, as faixas em polonês acabam sendo as que mais se destacam, como "Jeszcze Raz" (que inclusive ganhou um vídeo clipe promocional), "Pałac Kultury" (de andamento mais veloz, marcado pelo baixo, que ganha até um curto momento solo no meio da faixa), "Nie" (que não faria feio no meio das faixas do primeiro disco do Joy Division) e "Iluzja" (desta, quase se pode afirmar tratar-se de uma sobra do disco de estreia do The Cure). Mas também há espaço para o espanhol, o catalão e o inglês nas músicas do quarteto, embora, neste registro, as duas primeiras línguas tenham ficado um pouco de lado.

Uma característica peculiar de Pat é uma "mania" de soltar alguns curtos gritinhos ("ha!", "ya!", "hey") no meio das faixas, algo que pode soar esquisito em uma primeira audição. Neste registro, esta característica aparece na citada "Pałac Kultury", em "Sombra De La Cruz" (com letra em inglês apesar do título), em "Świat Jest Nasz" (onde as intervenções de Pat compõem grande parte da "letra") e "The End" (estas duas um pouco mais lúgubres que as demais, apesar do andamento veloz). Quando conheci o grupo, este foi o único ponto negativo que pude perceber em sua música (especialmente quando conferi alguns vídeos ao vivo, onde o uso de ecos e reverbs acentua esta característica), mas, depois que me acostumei com as intervenções da cantora, estas não passaram mais a me incomodar (portanto, caso você se disponha a ouvir o disco, lhe dê mais de uma chance, que este possível "incômodo" inicial com certeza passará).

Vinil e encarte de Siglo XXI

A faixa título é uma curta vinheta com muitos efeitos na voz da polonesa, e o track list se completa com a "rapidinha" "Progress" e "Automatyczny Świat", outra que poderia facilmente figurar dentre os destaques do álbum. Os três registros do quarteto (que, inclusive, realizou uma turnê pela América do Sul durante o último agosto e o início deste mês, a qual, infelizmente, não pude conferir, pois os ingressos para a apresentação de Porto Alegre se esgotaram antes mesmo que eu tivesse conhecimento da data marcada) estão disponíveis no youtube, e os recomendo com entusiasmo para quem curte as bandas citadas lá no começo (especialmente em suas fases iniciais), ou mesmo outras que se encaixam na definição de "pós punk", como o Sisters of Mercy, o The Mission ou o Echo and the Bunnymen. Se esta for a sua praia, pode conferir sem medo. Garanto que não se arrependerá!

Contracapa de Siglo XXI

Track List:

01. Sombra De La Cruz

02. Pałac Kultury 

03. Jeszcze Raz 

04. Świat Jest Nasz 

05. Siglo XXI 

06. Nie 

07. Wake Up 

08. Iluzja

09. Progress

10. The End 

11. Automatyczny Świat 

Nenhum comentário:

Postar um comentário