domingo, 27 de abril de 2014

Review Exclusivo: Focus (Porto Alegre, 18 de abril de 2014)


Por Micael Machado
Fotos por Mairon Machado *

Sexta-feira Santa. Para os cristãos, dia de meditação e reflexão sobre o sacrifício que Jesus Cristo fez pela humanidade. Para os fãs de rock progressivo do Rio Grande do Sul, dia de se dirigir ao excelente Teatro do CIEE, na capital gaúcha, para conferir a apresentação do grupo Focus, a melhor e mais importante banda do estilo já surgida na Holanda (que me perdoem os apreciadores do Golden Earring). Pela terceira vez em Porto Alegre (trazidos pela Abstratti Produtora), o quarteto atualmente formado por Thijs van Leer (teclados, flauta, vocalizações), Pierre van der Linden (bateria), Bobby Jacobs (baixo) e o novato Menno Gootjes (guitarra) vinha apresentar as músicas de seu mais recente disco, Focus X (um dos melhores lançamentos de 2012, na opinião deste que vos escreve), além daquelas composições clássicas acumuladas ao longo de quase quarenta e cinco anos de carreira. Este foi o sétimo de oito shows programados para a turnê brasileira deste ano, sendo que o grupo já vinha de outras apresentações na América do Sul, realizadas na Argentina e no Chile.

O grupo holandês Focus no Teatro do CIEE

Passados pouco mais de cinco minutos das dez horas da noite (horário estipulado para o início do espetáculo), as cortinas do teatro se abriram e a apresentação começou com "Focus I", do álbum de estreia, Focus Plays Focus (também conhecido como In and Out of Focus), onde van Leer fez uma mistura das versões instrumental e vocal deste clássico. Ao final, o quarteto emendou um pequeno trecho de “Anonymous”, do mesmo disco, e ali, com menos de cinco minutos de show, já ficava claro que a grande estrela da noite seria Pierre van der Linden, com sua técnica absurda e uma "mão esquerda" fenomenal. Nos pequenos solos entre frases desta canção, e em outros momentos de destaque ao longo da noite, o ex-baterista do Trace (presente na fase clássica do Focus nos anos 1970, e que retornou ao grupo em 2004) demonstrou que idade não é documento quando se tem um talento tão grande quanto o deste monstro das baquetas!

A animada "House Of The King" foi a primeira canção a agitar o pessoal em suas cadeiras, tendo seu ritmo acompanhado com palmas por parte do público. "Aya-Yuppie-Hippie-Yee", uma das poucas composições registradas já no século XXI escolhidas para integrar o set list (e que aqui recebeu diversos improvisos ao longo de sua duração, o que a tornou muito mais longa que a versão de estúdio), serviu para demonstrar que Menno Gootjes é digno de honrar as seis cordas do Focus, caso Focus X ainda não tenha convencido os fãs do grupo. Seu timbre e estilo são um pouco mais pesados que o dos guitarristas anteriores do conjunto (especialmente Jan Dumée e o inigualável Jan Akkerman, para muitos, até hoje, o único músico digno do posto), mas ele sabe muito bem colocar coração e melodia nas faixas onde isto se faz necessário, mostrando-se uma boa escolha para o posto. 

Menno Gootjes, Pierre van der Linden e Bobby Jacobs

A inesperada "Focus V" foi seguida pela clássica e variada "Eruption", que se estendeu por vinte e um minutos embasbacantes, onde todos os músicos tiveram oportunidade de demonstrar sua enorme técnica, e na qual van Leer pode, pela primeira vez na noite, fazer um solo mais longo em sua flauta (um momento sempre emocionante para qualquer fã de rock progressivo, especialmente pela forma peculiar de tocar deste gênio holandês, um dos poucos flautistas do "mundo do rock" facilmente reconhecível logo aos primeiros acordes), além de realizar uma brincadeira vocal com os espectadores, onde ele cantava um trecho e pedia para a audiência repetir, e que, é claro, terminou com Thijs cantando algumas frases no tradicional estilo yodel, característica que lhe acompanha há tempos. A apresentação então teve sequência com outro momento de empolgação para o público, a popular "Sylvia", um dos grandes hits da carreira dos holandeses, precedida por uma espécie de "improviso" por parte dos músicos que não foi nenhuma surpresa para quem acompanha as apresentações ao vivo do Focus nestes últimos anos (onde, felizmente, os holandeses costumam vir com frequência ao nosso país).

Chegava então a hora de "apresentar" o disco novo aos gaúchos, e "Birds Come Fly Over (Le Tango)" (onde a voz de Ivan Lins foi substituída por trechos instrumentais tocados por van Leer na escaleta) e "All Hens on Deck" (na qual Gootjes foi obrigado a tocar mais da metade da composição sem uma das cordas da guitarra, quebrada logo após o primeiro solo) foram dignas representantes de Focus XThijs então improvisou um solo de teclado enquanto Menno consertava a corda quebrada, e continuou com uma linda e longa versão para "La Cathedrale de Strasbourg", a qual, pessoalmente, achei inferior à apresentada no mesmo local em 2010. Esta foi emendada a outra composição do disco Hamburger Concerto (de 1974), a agitada "Harem Scarem", que também recebeu uma injeção de improvisos (inclusive um longo solo de baixo, onde Jacobs também se mostrou digno de ocupar o posto de baixista desta lendária instituição holandesa, algo que aqueles que não pararam no tempo e continuam acompanhando o Focus já sabem há tempos) que fez com que a faixa chegasse aos dez minutos de duração. Maravilhoso!

Thijs van Leer e Pierre van der Linden, os membros remanescentes dos anos 1970

Os músicos então se retiraram do palco, deixando apenas Thijs van Leer sob os holofotes, que nos presenteou com um longo solo de flauta, onde passeou pelo palco, cumprimentando os presentes sem, em nenhum momento, parar de tocar. Quem já viu alguma apresentação anterior do grupo sabia que, logo após, chegaria um dos ápices da noite, e a aguardada "Hocus Pocus" foi então iniciada pelo tecladista. Há tempos que van Leer não consegue mais alcançar os altíssimos agudos da versão de estúdio, deixado os mesmos para a guitarra e o público, mas isso não impediu ninguém de se divertir neste que é o clássico maior da discografia dos holandeses. Inesperadamente, não houve a tradicional apresentação dos músicos no último verso, e a canção acabou de forma até um pouco abrupta, com os músicos se reunindo no centro do palco para agradecer ao bom número de presentes que compareceram para lhes prestigiar.

A noite estava chegando ao final, mas, após pouco mais de uma hora e quarenta e cinco minutos, ainda houve tempo para um único bis, que se constituiu em uma linda versão de "Focus III", a qual, enfim, encerrou uma apresentação que, embora não tão marcante quanto as duas anteriores em Porto Alegre (pelo menos no meu entender), compensou plenamente quem decidiu adiar a saída para o feriadão visando escutar belas composições de rock progressivo em um local perfeitamente adaptado para tal. O objetivo destes foi, graças ao Focus, plenamente atingido, ainda mais para aqueles que se dispuseram a esperar alguns minutos depois do final do show, os quais tiveram a oportunidade de encontrar com os músicos para uma sessão de autógrafos no hall do teatro! Se for para nos prestigiar com mais músicas deste naipe, e com a simpatia de Van Leer e seus comparsas, que voltem logo ao Brasil, e à Porto Alegre, mais uma vez!

"Oy-ororôe-ororôe-ororôe-ororôe-ororôe-ororô-pó-pó"

Momento da apresentação do Focus no Teatro do CIEE

Set list:

1. Focus I / Anonymous (trecho)
2. House Of The King
3. Aya-Yuppie-Hippie-Yee
4. Focus V
5. Eruption
6. Sylvia
7. Birds Come Fly Over (Le Tango)
8. All Hens on Deck
9. La Cathedrale de Strasbourg
10. Harem Scarem 
11. Flute Solo
12. Hocus Pocus 

Bis

13. Focus III

* Com agradecimentos ao pessoal da Abstratti pela atenção e cadastramento para a apresentação!

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