terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Review Exclusivo: Planet Hemp (Porto Alegre, 04 e 05 de dezembro de 2013)


Por Micael Machado

O que era para ser apenas uma apresentação no circo voador (RJ) em 2012 virou uma excursão de onze datas aumentada para mais de vinte, ampliada pouco tempo depois, e que ainda parece longe de acabar. Desta forma, a "turnê de reunião" do Planet Hemp voltou a Porto Alegre pouco mais de um ano depois da lendária passagem pelo Pepsi on Stage naquele mesmo ano, para duas noites em celebração aos trinta anos do Bar Opinião, uma das casas de espetáculo mais importantes da capital gaúcha, as quais serviram como pré-lançamento da tour do DVD O Ritmo e a Raiva, gravado na cidade de  São Paulo em julho deste 2013, e com previsão de lançamento para abril de 2014. Apesar do repertório similar ao que conferimos ano passado, estes shows, a meu ver, foram bem diferentes daqueles.

A começar pelo cenário, mais parecido com os que o Planet utilizava antes do seu recesso no início dos anos 2000, sem o telão que chamava a atenção nos primeiros shows da excursão, mas com as cadeiras de praia de volta ao centro do palco (sendo que as mesmas foram bastante utilizadas pelo cantor Marcelo D2 nas duas noites, especialmente na metade final do show, onde elas serviam para o vocalista recuperar o fôlego, que pareceu ficar por um fio diversas vezes). Outra mudança importante foi a ausência do guitarrista Rafael, que, segundo BNegão (o outro cantor da banda), não teve condições de embarcar para Porto Alegre a tempo de fazer os shows, e acabou substituído pelo gaúcho Jackson, que já havia tocado anteriormente com os cariocas, e que, apesar do pouco tempo que teve para reaprender o repertório (pouco mais de vinte e quatro horas, ainda segundo Bê), deu conta do recado com sobras.


Visão do Opinião lotado na primeira noite, em foto retirada da página do facebook do grupo

Sem os vídeos de introdução apresentados nos primeiros shows, as duas apresentações iniciaram com o playback da canção "Erva Proibida", registrada pelo falecido sambista Bezerra da Silva, a qual serviu de intro para a primeira parte de "Não Compre Plante", seguida como de costume por "Legalize Já", que colocou o público em ebulição logo aos primeiros acordes. Com a formação completada pelo baixista Formigão e o baterista (também gaúcho) Pedrinho, o show continuou com "Dig Dig Dig (Hempa)", "Planet Hemp" e "Fazendo a Cabeça", seguindo uma sequência similar à do espetáculo de 2012, mas com o grupo parecendo mais solto no palco, especialmente na primeira noite, onde o clima geral parecia de uma grande jam session no palco.

Algo que ficou mais evidente quando D2 enalteceu a ligação do grupo com Porto Alegre, com o Opinião e com a cena musical da cidade, especialmente com o conjunto Defalla, segundo ele, uma das maiores influências do Planet. Era a senha para chamar ao palco o vocalista Edu K, cantor desta verdadeira lenda do rock gaúcho, que, junto ao quinteto, interpretou a sua "Repelente" com muita garra, a qual seguiu por improvisos e citações a clássicos do rap e do funk norte-americano, antes de acabar com Edu abraçando a todos no palco. O vocalista ainda continuou em cena para fazer os backing vocals de "Queimando Tudo", a qual, na primeira noite, também contou com a presença de Tonho Crocco (vocalista da Ultramen, outra banda importantíssima do rock gaúcho dos anos 1990, e também parceiros do grupo carioca) nos vocais.


Planet Hemp no palco do Opinião, na segunda noite de apresentações

"Quem Tem Seda" deu uma acalmada no pessoal, mas o bicho voltou a pegar com a "sessão hardcore" de "Seus Amigos". Na segunda noite, logo no início desta, D2 (que por algumas vezes reclamava de cansaço antes de cada música mais agitada, sem nenhuma conotação de brincadeira) pulou de forma espetacular no meio do público, demorando alguns minutos para voltar ao palco. Quem é que estava cansado então, hein? Este estilo mais "pegado" ainda seria representado por "100% Hardcore" e "Procedência CD", sendo que esta, já mais ao final do set list, quase foi abortada por D2 devido ao cansaço, mas, ainda assim, foi apresentada com garra por todos, e ovacionada pelo público presente ao bar.

Ainda mantendo a estrutura do espetáculo divida em três "atos" (uma para cada disco de estúdio do grupo), "Ex-quadrilha da Fumaça" deu início à parte ligada ao disco A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, a qual trouxe ainda "Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga", "Stab" e "Contexto", esta última, especialmente, com seu refrão e boa parte da letra cantada em uníssono por quase todos os presentes, apesar da falha no playback da introdução durante a segunda apresentação. "Samba Makossa" serviu como homenagem a Chico Science e Chorão, na primeira noite, e a Nelson Mandela na segunda, ele que havia falecido poucas horas antes do espetáculo, com "Mantenha o Respeito" encerrando tudo, como sempre, com Marcelo D2 anunciando que "não tem bis não" e o grupo ameaçando se retirar de cena logo em seguida.

Apesar de haver um bis planejado, na primeira noite pareceu improvisado quando BNegão impediu a saída dos músicos do palco e os reuniu para tocar "mais uma para o pessoal, que eles merecem". Assim, houve espaço para a repetição de "Dig Dig Dig" (com uma parte mais "malemolente" no início), que, na segunda noite, ainda foi seguida por "A Culpa É de Quem?", a qual, segundo BNegão, "os maconheiros esqueceram de tocar" no dia anterior, e que finalmente encerrou uma sequência de duas datas que, se não foram tão impactantes quanto a apresentação de 2012 (até porque, aquela, vinha precedida por um hiato de mais de dez anos), certamente não verão reclamações por parte de quem esteve presente agora.


Final da segunda noite, em foto retirada da página do facebook do grupo

Para encerrar, gostaria de colocar que o jogo de luzes desta parte da excursão chamou bastante a minha atenção, criando climas e desenhos bastante interessantes, quase suprindo a ausência do telão da primeira parte da turnê; que é sempre um prazer assistir a Formigão no palco, um dos melhores em seu instrumento na sua geração, apesar de ficar quase o tempo todo paradão lá no fundo e do estilo discreto de tocar (como quase todo bom baixista, diga-se de passagem); que Pedrinho segura tudo lá atrás, tanto nas partes mais "porradas" quanto nas mais calmas, mantendo o ritmo da banda sempre "em cima"; que BNegão e D2, apesar deste reclamar constantemente do cansaço (e do forte calor da primeira noite, o qual, segundo o vocalista, "parece o de Fortaleza" - estava muito quente mesmo!), são dois grandes frontmen, chamando para si as atenções do espetáculo e tendo o público nas mãos o tempo todo, além de aparentarem que as antigas rusgas entre eles ficaram de vez no passado. Cabe citar, ainda, que Jackson, apesar de ter feito um trabalho "de responsa" e de ter assumido a bronca e dado conta do recado com sobras, como exaltado por BNegão (sendo o principal responsável pelo show acontecer, segundo o vocalista), tem um estilo de tocar totalmente diferente do de Rafael, pois este usa e abusa de seus pedais de efeitos para criar uma verdadeira usina de sons ao longo das canções e de seus solos, e Jackson tem um estilo mais "simples", utilizando principalmente a distorção e o wah-wah como principais efeitos. Isto alterou bastante a estrutura das canções, embora a maioria do pessoal pareça não ter dado muita atenção a este fato. Realmente, nenhuma canção ficou descaracterizada (talvez apenas o início de "Phunky Buddha", que a mim soou completamente diferente), mas, para quem já assistiu ao grupo com o verdadeiro dono da guitarra da banda por trás das seis cordas, a diferença foi perceptível. Nada que atrapalhasse a festa, no entanto, a qual parece que, contrário às primeiras expectativas, não irá acabar tão cedo. Será que ano que vem teremos "a banda mais maconheira do Brasil" de volta à terras gaúchas? Tomara que sim!

"Quem é que joga fumaça pro alto, chega na cena e toma de assalto?"


Set list das duas apresentações

Set list:

Primeiro ato: o usuário e a luta pela legalização da maconha

1. Não Compre Plante (Intro)
2. Legalize já   
3. Dig Dig Dig (Hempa)
4. Planet Hemp 
5. Fazendo a Cabeça
6. Deisdazseis
7. Phunky Buddha
8. Mary Jane
9. Futuro do País

Segundo ato: os cães ladram mas a caravana não para

10. Zerovinteum / Repelente
11. Queimando Tudo
12. Quem Tem Seda?
13. Seus Amigos
14. Hip Hop Rio
15. Adoled (The Ocean)
16. 100% Hardcore 

Terceiro ato: a invasão do sagaz homem fumaça

17. Ex-quadrilha da Fumaça
18. Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga
19. Stab
20. Contexto
21. Procedência C.D.
22. Samba Makossa
23. Mantenha o Respeito

Bis

24. Dig Dig Dig (Hempa)
25. A Culpa É de Quem? (apenas no dia 05/12)

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