domingo, 26 de outubro de 2025
Mountain - Climbing! [1970]
domingo, 12 de outubro de 2025
The Completers – The Completers [2025]
Os Replicantes – Os Replicantes 40 Anos [2025]
Por Micael Machado
No ano de 2024, o grupo de punk rock gaúcho Os Replicantes completou quatro décadas de atividades sobre os palcos. Para celebrar a ocasião, um show da banda foi marcado para o dia 16 de maio daquele ano no Bar Opinião, em Porto Alegre, exatamente quarenta anos depois da primeira apresentação "oficial" da turma, ocorrida em 16 de maio de 1984 no seminal Bar Ocidente, na capital gaúcha. Infelizmente, a tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul no começo daquele maio de 2024 (causando, dentre outras tragédias, a maior enchente da história do Estado) fez com que a apresentação fosse postergada, com a "festa punk" ocorrendo somente no dia 15 de agosto daquele ano, em um Opinião completamente lotado para celebrar junto à banda este aniversário tão marcante. Parte da apresentação d'Os Replicantes naquela noite foi lançada oficialmente agora em julho de 2025 no disco Os Replicantes 40 Anos, através de uma parceria dos selos independentes E-Discos.net e Made In Soul Records. Com edição apenas em vinil (numa belíssima versão na cor preta esfumaçada, com capa gatefold e um encarte repleto de fotos e com a ficha técnica completa do show, tendo produção, mixagem e masterização a cargo de Lucas Hanke, da produtora Marquise 51), a bolachona traz alguns dos maiores clássicos da banda, além de algumas "surpresas" para os fãs de longa data.
Para esta apresentação especial, a banda reuniu, pela primeira sobre um palco, todos os integrantes que já passaram por seus diferentes "line ups" (eu mesmo já cheguei a assistir shows do grupo com as presenças de alguns músicos de formações anteriores em participações em ocasiões especiais, mas não com a totalidade dos oito membros e ex-integrantes da turma sobre o mesmo palco, na mesma noite). Desta forma, o disco (e a apresentação) começa com os integrantes da formação atual Cláudio Heinz (guitarras), seu irmão Heron Heinz (baixo) - ambos membros fundadores dos "Repli" - e a vocalista Julia Barth (no grupo desde 2006) junto ao baterista original Carlos Gerbase, que segurou as baquetas do quarteto desde sua fundação até 1989. Logo na segunda música, Julia cede lugar ao cantor original da turma, o "punk brega" Wander Wildner, que comanda o microfone nas próximas duas músicas, marcando a reunião da formação inicial dos Replicantes em uma apresentação ao vivo sei lá eu quantos anos depois da última vez de Wander, Cláudio, Heron e Carlos juntos sobre um palco em suas funções originais (talvez desde 1989?), antes do cantor passar o posto de "front man" para Gerbase, como já havia ocorrido antes na história do grupo, quando Carlos saiu de trás da bateria para se tornar a voz principal do grupo. Assim como ocorreu no passado, junto à troca de funções de Gerbase também chegam ao palco (e, metaforicamente, à própria banda) o baterista Cleber Andrade e a tecladista e cantora de apoio Luciana Tomasi (neste show, restrita apenas ao microfone). Neste disco, Gerbase permanece no posto por três canções, tendo, em uma delas, a companhia do saxofonista Ricardo "King Jim" Cordeiro, ex-integrante dos Garotos da Rua (outra importantíssima banda gaúcha no cenário do rock and roll), e que chegou a integrar os "Repli" na formação que gravou e divulgou o disco Andróides Sonham com Guitarras Elétricas, de 1990. Com a saída de Gerbase, Luciana e King Jim do palco (e, como ocorreu no passado, da própria banda), Wander volta ao microfone para cantar "Astronauta", representando sua segunda passagem pelo grupo, ocorrida entre 2002 e 2006, antes de sair novamente (do palco e da banda), dando lugar a Julia, que assume o microfone nas cinco primeiras músicas do Lado B, onde temos então a presença apenas da formação atual do quarteto (Julia, Cláudio, Heron e Cleber), com o LP terminando com as duas faixas do bis daquela noite, as clássicas "Surfista Calhorda" e "Festa Punk", onde os versos são divididos pelos três vocalistas que já ocuparam esta função na banda, além das presenças de Luciana e King Jim nos backings.
A gravação do show, mesmo feita de forma independente, ficou muito acima da média (só achei a guitarra meio "magrinha" em certos momentos, mas nada que estrague a experiência), e o repertório escolhido para o disco, mesmo que não traga a íntegra do que aconteceu no Opinião naquela noite (um vídeo amador, facilmente encontrável no Youtube no momento em que escrevo, mostra um repertório de vinte e cinco músicas interpretadas na ocasião, contra as quatorze que constam da bolachona), serve como uma excelente representação dos momentos mais importantes da carreira dos Replicantes, ainda que muito focado nos dois primeiros discos (na minha opinião, os melhores e mais importantes da trajetória dos Repli), sendo que a faixa mais "lado B" seja, possivelmente, "Tom & Jerry", que não costuma aparecer com muita frequência nos set lists da banda (e que sempre foi uma das minhas favoritas dentre a carreira da turma), ainda que o repertório completo da noite tenha contado com várias outras canções mais "obscuras" dentro da discografia do grupo.
Em certo ponto do disco, em uma das poucas interações entre banda e plateia mantidas na versão final do vinil (no citado vídeo, elas acontecem com frequência bem maior), Julia anuncia que a apresentação estava sendo filmada. Resta aguardar que estas imagens sejam liberadas oficialmente algum dia, bem como o restante das músicas interpretadas naquela marcante noite de agosto de 2024, talvez em um "volume dois" deste disco que já é, desde seu lançamento, um marco histórico do movimento punk no Rio Grande do Sul. Afinal, quarenta anos não são quarenta dias, e os Replicantes não são uma banda qualquer no cenário gaúcho! Que muitos anos mais ainda venham a manter o grupo sobre os palcos e pelos estúdios, nos presenteando com mais "festas punks" como a registrada neste vinil. Obrigatório!
Track List
Lado A
1. Nicotina
2. Sandina
3 O Futuro É Vortex
4. Boy Do Subterrâneo
5. Hippie Punk Rajneesh
6. Só Mais Uma Chance (Pin Up)
7. Astronauta
Lado B
1. Tom & Jerry
2. Motel Da Esquina
3. Punk De Boutique
4. Libertá
5. Maria Lacerda
6. Surfista Calhorda
7. Festa Punk
sábado, 23 de agosto de 2025
Ministry – Hopiumforthemasses [2024]
Monster Magnet – 25............TAB [1991]
Por Micael Machado
Existem certos discos que exigem uma "dedicação" maior de quem se dispõe a lhes escutar, pois a audição dos mesmos pode ser bastante "complicada" e "difícil" para este corajoso ouvinte. Metal Machine Music, de Lou Reed, e Arc, de Neil Young, se encaixariam nessa categoria, pois são, basicamente, ruídos de feedback e distorções de instrumentos reunidos em uma "canção" contínua composta, basicamente, apenas de "barulhos"... Certamente, há outros exemplos de álbuns com estas características, e um deles foi gravado pela banda norte-americana Monster Magnet em 1991, mas foi lançado no país de origem do grupo apenas em 1993...
Tendo lançado duas demos como um trio ainda no ano de sua fundação, em 1989, o Monster Magnet registrou um single de estreia para a gravadora Circuit Records no ano seguinte (já como quarteto), e um EP de seis faixas também em 1990 pela gravadora alemã Glitterhouse Records, antes de assinar com o selo Caroline Records (na época, estabelecido nos Estados Unidos), o qual lançou o single "Murder/Tractor" pela sua subsidiária Primo Scree também em 1990. Com a boa repercussão do single, a Caroline autorizou a banda a entrar no estúdio para gravar seu primeiro álbum, mas as três faixas resultantes (totalizando mais de 48 minutos) acabaram rejeitadas pela gravadora, fazendo com que o quarteto (formado, então, por Dave Wyndorf nas guitarras e vocais, John McBain na guitarra solo, Tim Cronin no baixo e Jon Kleiman na bateria) voltasse ao estúdio (não sem antes repor Cronin, que passou a cuidar da parte de luzes dos shows ao vivo, pelo baixista Joe Calandra) para gravar novas composições (além de regravar duas faixas de seu primeiro EP e registrar uma cover para "Sin's A Good Man's Brother", do Grand Funk Railroad) e lançar, já em 1991, seu álbum de estreia, chamado Spine of God. Uma turnê pelos EUA em suporte ao Soundgarden para divulgação do primeiro disco completo do Monster Magnet chamou a atenção da gravadora A&M Records, que assinaria com a banda em 1992 e lançaria seu segundo full lenght, chamado Superjudge, no começo de 1993.
A melhor divulgação da major A&M e a boa recepção do público ao segundo álbum do Monster Magnet acabaram levando o nome da banda a plateias maiores, fazendo o grupo ser considerado um "sucesso menor" nos EUA, e um dos precursores do Stoner Metal no país. Quando viu o quarteto em alta nas paradas, aparentemente, a gravadora Caroline "se lembrou" daquelas faixas rejeitadas de 1991, e decidiu lançar as mesmas nos Estados Unidos, no formato de um EP de três faixas chamado 25............TAB, naquele mesmo 1993. O mini-álbum já havia sido lançado na Alemanha pela citada Glitterhouse Records ainda em 1991, mas foi somente com a versão da Caroline (a qual, inclusive, conta com uma capa diferente da versão européia original) que a bolachinha acabou chegando de vez ao grande público.
Se você conhece o Monster Magnet pelos álbuns gravados após este EP, não espere encontrar aqui quase nada do que está acostumado. Se, após Spine of God, o Imã de Monstros se tornaria um dos pilares do Stoner Rock norte-americano, aqui o quarteto ainda era uma banda muito mais voltada a uma sonoridade "psicodélica" e "viajante". No encarte de uma das muitas reedições posteriores, Wyndorf escreveu nas "liner notes" que o grupo "estava ouvindo muito Hawkwind, Amon Duul II, Alice Cooper e Skullflower quando compomos este disco". Os pouco mais de quatro minutos de "Lord 13", a menor faixa do EP, são possivelmente a coisa mais "acessível" do álbum, embora passem longe do estilo que a banda adotaria depois (soando quase como algo das bandas psicodélicas de San Francisco do final dos anos 60, com sua percussão e sonoridade quase acústicas). Já os mais de doze minutos de "25/Longhair" são divididos em uma faixa rápida e mais focada na guitarra durante "25" (que ocupa aproximadamente os oito primeiros minutos da canção) e um pouco mais cadenciada em "Longhair", uma jam instrumental que talvez seja a música deste EP com o estilo mais próximo da sonoridade que o grupo iria adotar em seus lançamentos posteriores, e que, infelizmente, termina com um "fade out" que nos deixa com vontade de escutar mais desta canção.
Embora "25" tenha algumas "viagens lisérgicas" ali pelo meio, acredito que nada prepare o ouvinte para o que ele irá escutar nos mais de trinta e dois minutos da faixa de abertura, intitulada "Tab". Sobre uma sólida e repetitiva base formada pelo baixo e pela bateria, guitarras "viajantes" se misturam a efeitos eletrônicos e distorções diversas, além de vocalizações quase orientais e falas diversas (e distorcidas por efeitos sonoros variados, como ecos e repetições), formando uma das faixas mais abstratas e "psicodélicas" que eu já ouvi de uma banda (supostamente) de hard rock, e a qual é impossível descrever em detalhes aqui. No mesmo encarte citado antes, Wyndorf explica que " 'Tab' foi uma das primeiras coisas que fizemos como banda. Há uma versão realmente crua dela em nossa primeira demo, e (para a versão que saiu no EP) foi feita apenas uma mixagem dela, devida à sua duração e porque não tínhamos muito dinheiro para gravar". Ainda nessas "liner notes", o vocalista explica que o EP "foi a última coisa que Tim (Cronin) gravou antes de passar para a parte de iluminação", e que "não tocamos muita coisa desse álbum ao vivo (depois de gravá-lo), acho que fizemos '25' umas duas vezes, e foi só".
Track List:
1. Tab
2. 25 / Longhair
3. Lord 13
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Tralhas do Porão: The Immediate All-Stars, o supergrupo que nunca existiu
Você certamente já ouviu falar (e deve ter escutado muito) de grupos como Yardbirds, Cream, Led Zeppelin e Rolling Stones. Mas você já ouviu falar do The Immediate All-Stars, um "supergrupo" que reuniu músicos com passagens pelas bandas citadas, lançou algumas músicas na década de 1960, mas nunca fez nenhum show, ou sequer (no caso de uma das suas formações) se reuniu em uma sala de ensaios ou de gravações? Pois é da história desta curiosa formação que venho tratar neste texto. Sente-se confortavelmente em sua poltrona favorita, e vamos ao papo:
Tudo começa em meados de 1965, quando Jimmy Page, já então um reconhecido músico de estúdio na Inglaterra, foi contratado pelo empresário dos Stones, Andrew Loog Oldham, para atuar como produtor para o recém-formado selo Immediate Records, de propriedade de Oldham e do empresário Tony Calder. Dentre vários grupos que Page produziu para o selo, estavam os membros remanescentes da banda Cyril Davies And His Rhythm And Blues All Stars, um combo de blues que havia se "desintegrado" após a morte do guitarrista Cyril Davies em 1964, e que gravou algumas sessões para o selo Immediate naquele ano, ao que pude apurar, com o próprio Page como guitarrista substituindo o falecido Davies. Pouco tempo depois, Jimmy agendou outra sessão com estes músicos, desta vez tendo como guitarrista o genial Jeff Beck (amigo de longa data de Page, e indicado por ele para substituir Eric Clapton nos Yardbirds). Beck foi acompanhado nestas gravações por um trio formado pelo baterista Carlo Little, pelo baixista Cliff Barton e pelo pianista Nicky Hopkins (que depois viria a colaborar com grupos como Rolling Stones e The Who, dentre outros), todos eles ex-membros da All Stars original; porém, não posso afirmar serem estes os mesmos músicos da primeira sessão citada. Esta formação ficou conhecida como The Allstars Featuring Jeff Beck, e registrou cinco faixas instrumentais para o selo de Oldham e Calder, sendo que Page participa como guitarrista em pelo menos duas destas gravações (as "agitadas" "Down in the Boots", onde o baixo de Barton aparece com bastante destaque, e "LA Breakdown", com destaque total para o piano de Hopkins, sendo que Page tem uma participação bastante discreta no arranjo nas duas composições), com Hopkins assumindo o protagonismo em "Piano Shuffle" (que, como o nome deixa claro, é um agitado shuffle liderado pelo piano), e Beck sendo o solista em "Chuckles" (um blues mais "agitado" em que a rascante guitarra de Jeff divide atenção com o piano de Hopkins) e em "Steelin'" (um blues mais "tradicional" de 12 compassos, onde Hopkins novamente divide o destaque com Beck), a qual foi a primeira destas faixas a ser lançada, inicialmente como "lado B" de um compacto feito pela Immediate ainda em 1965 para tentar promover uma carreira musical para o fotógrafo de moda londrino David Anthony, e que foi creditada apenas a Anthony (que adotou o pseudônimo 'Charles Dickens' para estas sessões), sem citar os músicos envolvidos.
As sete faixas instrumentais registradas por Page e Clapton passam por estilos diferentes de Blues, estilo ao qual Clapton era radicalmente devoto à época (sendo que a inclinação para uma sonoridade mais "comercial" foi o principal motivo para sua saída dos Yardbirds no começo daquele 1965). Enquanto "Choker" é um agitado rhythm and blues (onde os dois guitarristas dividem os solos, embora não haja um "duelo" entre eles) que, infelizmente, termina em um "fade-out" com gosto de "quero mais", "Snake Drive" representa aquele tipo de blues mais "arrastado", sendo a mais lenta de todas estas gravações. As faixas "Draggin' My Tail" e "West Coast Idea" já são aquele tipo de blues mais "lento" (embora não tão "arrastado" quanto a anterior), sendo que Wyman parece tocar um contrabaixo acústico na segunda, enquanto Clapton e Page novamente dividem os solos na primeira (que, a meus ouvidos, é a única das sete a contar com a harmônica de Jagger).
"Freight Loader" também segue esta estrutura mais "lenta" do blues, e, curiosamente, não conta com o acompanhamento da banda de apoio, assim como "Tribute To Elmore" (que, acredito, seja dedicada a Elmore James, lendário bluesman norte-americano, e ídolo tanto de Page quanto de Clapton) e "Miles Road", duas faixas onde Page "segura" a base naquele andamento mais "tradicional" do blues de doze compassos para Clapton "debulhar" na guitarra solo, especialmente na segunda, que parece "clamar" por um acompanhamento da seção rítmica, algo que, infelizmente, não acontece - cabe ainda citar que esta formação da Allstar com Clapton/Page/Stewart/Wyman/Winters (ou Watts)/Jagger ficou conhecida como The Immediate All-Stars, para diferenciar da formação com Beck, e foi a tal "banda" que nunca se reuniu sequer em uma sala de ensaios antes de ter suas músicas lançadas, pois as gravações da seção rítmica foram feitas em sessões separadas daquelas com os dois solistas.



















