(What's on) Mica's Mind
sábado, 23 de agosto de 2025
Ministry – Hopiumforthemasses [2024]
Monster Magnet – 25............TAB [1991]
Por Micael Machado
Existem certos discos que exigem uma "dedicação" maior de quem se dispõe a lhes escutar, pois a audição dos mesmos pode ser bastante "complicada" e "difícil" para este corajoso ouvinte. Metal Machine Music, de Lou Reed, e Arc, de Neil Young, se encaixariam nessa categoria, pois são, basicamente, ruídos de feedback e distorções de instrumentos reunidos em uma "canção" contínua composta, basicamente, apenas de "barulhos"... Certamente, há outros exemplos de álbuns com estas características, e um deles foi gravado pela banda norte-americana Monster Magnet em 1991, mas foi lançado no país de origem do grupo apenas em 1993...
Tendo lançado duas demos como um trio ainda no ano de sua fundação, em 1989, o Monster Magnet registrou um single de estreia para a gravadora Circuit Records no ano seguinte (já como quarteto), e um EP de seis faixas também em 1990 pela gravadora alemã Glitterhouse Records, antes de assinar com o selo Caroline Records (na época, estabelecido nos Estados Unidos), o qual lançou o single "Murder/Tractor" pela sua subsidiária Primo Scree também em 1990. Com a boa repercussão do single, a Caroline autorizou a banda a entrar no estúdio para gravar seu primeiro álbum, mas as três faixas resultantes (totalizando mais de 48 minutos) acabaram rejeitadas pela gravadora, fazendo com que o quarteto (formado, então, por Dave Wyndorf nas guitarras e vocais, John McBain na guitarra solo, Tim Cronin no baixo e Jon Kleiman na bateria) voltasse ao estúdio (não sem antes repor Cronin, que passou a cuidar da parte de luzes dos shows ao vivo, pelo baixista Joe Calandra) para gravar novas composições (além de regravar duas faixas de seu primeiro EP e registrar uma cover para "Sin's A Good Man's Brother", do Grand Funk Railroad) e lançar, já em 1991, seu álbum de estreia, chamado Spine of God. Uma turnê pelos EUA em suporte ao Soundgarden para divulgação do primeiro disco completo do Monster Magnet chamou a atenção da gravadora A&M Records, que assinaria com a banda em 1992 e lançaria seu segundo full lenght, chamado Superjudge, no começo de 1993.
A melhor divulgação da major A&M e a boa recepção do público ao segundo álbum do Monster Magnet acabaram levando o nome da banda a plateias maiores, fazendo o grupo ser considerado um "sucesso menor" nos EUA, e um dos precursores do Stoner Metal no país. Quando viu o quarteto em alta nas paradas, aparentemente, a gravadora Caroline "se lembrou" daquelas faixas rejeitadas de 1991, e decidiu lançar as mesmas nos Estados Unidos, no formato de um EP de três faixas chamado 25............TAB, naquele mesmo 1993. O mini-álbum já havia sido lançado na Alemanha pela citada Glitterhouse Records ainda em 1991, mas foi somente com a versão da Caroline (a qual, inclusive, conta com uma capa diferente da versão européia original) que a bolachinha acabou chegando de vez ao grande público.
Se você conhece o Monster Magnet pelos álbuns gravados após este EP, não espere encontrar aqui quase nada do que está acostumado. Se, após Spine of God, o Imã de Monstros se tornaria um dos pilares do Stoner Rock norte-americano, aqui o quarteto ainda era uma banda muito mais voltada a uma sonoridade "psicodélica" e "viajante". No encarte de uma das muitas reedições posteriores, Wyndorf escreveu nas "liner notes" que o grupo "estava ouvindo muito Hawkwind, Amon Duul II, Alice Cooper e Skullflower quando compomos este disco". Os pouco mais de quatro minutos de "Lord 13", a menor faixa do EP, são possivelmente a coisa mais "acessível" do álbum, embora passem longe do estilo que a banda adotaria depois (soando quase como algo das bandas psicodélicas de San Francisco do final dos anos 60, com sua percussão e sonoridade quase acústicas). Já os mais de doze minutos de "25/Longhair" são divididos em uma faixa rápida e mais focada na guitarra durante "25" (que ocupa aproximadamente os oito primeiros minutos da canção) e um pouco mais cadenciada em "Longhair", uma jam instrumental que talvez seja a música deste EP com o estilo mais próximo da sonoridade que o grupo iria adotar em seus lançamentos posteriores, e que, infelizmente, termina com um "fade out" que nos deixa com vontade de escutar mais desta canção.
Embora "25" tenha algumas "viagens lisérgicas" ali pelo meio, acredito que nada prepare o ouvinte para o que ele irá escutar nos mais de trinta e dois minutos da faixa de abertura, intitulada "Tab". Sobre uma sólida e repetitiva base formada pelo baixo e pela bateria, guitarras "viajantes" se misturam a efeitos eletrônicos e distorções diversas, além de vocalizações quase orientais e falas diversas (e distorcidas por efeitos sonoros variados, como ecos e repetições), formando uma das faixas mais abstratas e "psicodélicas" que eu já ouvi de uma banda (supostamente) de hard rock, e a qual é impossível descrever em detalhes aqui. No mesmo encarte citado antes, Wyndorf explica que " 'Tab' foi uma das primeiras coisas que fizemos como banda. Há uma versão realmente crua dela em nossa primeira demo, e (para a versão que saiu no EP) foi feita apenas uma mixagem dela, devida à sua duração e porque não tínhamos muito dinheiro para gravar". Ainda nessas "liner notes", o vocalista explica que o EP "foi a última coisa que Tim (Cronin) gravou antes de passar para a parte de iluminação", e que "não tocamos muita coisa desse álbum ao vivo (depois de gravá-lo), acho que fizemos '25' umas duas vezes, e foi só".
Track List:
1. Tab
2. 25 / Longhair
3. Lord 13
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Tralhas do Porão: The Immediate All-Stars, o supergrupo que nunca existiu
Você certamente já ouviu falar (e deve ter escutado muito) de grupos como Yardbirds, Cream, Led Zeppelin e Rolling Stones. Mas você já ouviu falar do The Immediate All-Stars, um "supergrupo" que reuniu músicos com passagens pelas bandas citadas, lançou algumas músicas na década de 1960, mas nunca fez nenhum show, ou sequer (no caso de uma das suas formações) se reuniu em uma sala de ensaios ou de gravações? Pois é da história desta curiosa formação que venho tratar neste texto. Sente-se confortavelmente em sua poltrona favorita, e vamos ao papo:
Tudo começa em meados de 1965, quando Jimmy Page, já então um reconhecido músico de estúdio na Inglaterra, foi contratado pelo empresário dos Stones, Andrew Loog Oldham, para atuar como produtor para o recém-formado selo Immediate Records, de propriedade de Oldham e do empresário Tony Calder. Dentre vários grupos que Page produziu para o selo, estavam os membros remanescentes da banda Cyril Davies And His Rhythm And Blues All Stars, um combo de blues que havia se "desintegrado" após a morte do guitarrista Cyril Davies em 1964, e que gravou algumas sessões para o selo Immediate naquele ano, ao que pude apurar, com o próprio Page como guitarrista substituindo o falecido Davies. Pouco tempo depois, Jimmy agendou outra sessão com estes músicos, desta vez tendo como guitarrista o genial Jeff Beck (amigo de longa data de Page, e indicado por ele para substituir Eric Clapton nos Yardbirds). Beck foi acompanhado nestas gravações por um trio formado pelo baterista Carlo Little, pelo baixista Cliff Barton e pelo pianista Nicky Hopkins (que depois viria a colaborar com grupos como Rolling Stones e The Who, dentre outros), todos eles ex-membros da All Stars original; porém, não posso afirmar serem estes os mesmos músicos da primeira sessão citada. Esta formação ficou conhecida como The Allstars Featuring Jeff Beck, e registrou cinco faixas instrumentais para o selo de Oldham e Calder, sendo que Page participa como guitarrista em pelo menos duas destas gravações (as "agitadas" "Down in the Boots", onde o baixo de Barton aparece com bastante destaque, e "LA Breakdown", com destaque total para o piano de Hopkins, sendo que Page tem uma participação bastante discreta no arranjo nas duas composições), com Hopkins assumindo o protagonismo em "Piano Shuffle" (que, como o nome deixa claro, é um agitado shuffle liderado pelo piano), e Beck sendo o solista em "Chuckles" (um blues mais "agitado" em que a rascante guitarra de Jeff divide atenção com o piano de Hopkins) e em "Steelin'" (um blues mais "tradicional" de 12 compassos, onde Hopkins novamente divide o destaque com Beck), a qual foi a primeira destas faixas a ser lançada, inicialmente como "lado B" de um compacto feito pela Immediate ainda em 1965 para tentar promover uma carreira musical para o fotógrafo de moda londrino David Anthony, e que foi creditada apenas a Anthony (que adotou o pseudônimo 'Charles Dickens' para estas sessões), sem citar os músicos envolvidos.
As sete faixas instrumentais registradas por Page e Clapton passam por estilos diferentes de Blues, estilo ao qual Clapton era radicalmente devoto à época (sendo que a inclinação para uma sonoridade mais "comercial" foi o principal motivo para sua saída dos Yardbirds no começo daquele 1965). Enquanto "Choker" é um agitado rhythm and blues (onde os dois guitarristas dividem os solos, embora não haja um "duelo" entre eles) que, infelizmente, termina em um "fade-out" com gosto de "quero mais", "Snake Drive" representa aquele tipo de blues mais "arrastado", sendo a mais lenta de todas estas gravações. As faixas "Draggin' My Tail" e "West Coast Idea" já são aquele tipo de blues mais "lento" (embora não tão "arrastado" quanto a anterior), sendo que Wyman parece tocar um contrabaixo acústico na segunda, enquanto Clapton e Page novamente dividem os solos na primeira (que, a meus ouvidos, é a única das sete a contar com a harmônica de Jagger).
"Freight Loader" também segue esta estrutura mais "lenta" do blues, e, curiosamente, não conta com o acompanhamento da banda de apoio, assim como "Tribute To Elmore" (que, acredito, seja dedicada a Elmore James, lendário bluesman norte-americano, e ídolo tanto de Page quanto de Clapton) e "Miles Road", duas faixas onde Page "segura" a base naquele andamento mais "tradicional" do blues de doze compassos para Clapton "debulhar" na guitarra solo, especialmente na segunda, que parece "clamar" por um acompanhamento da seção rítmica, algo que, infelizmente, não acontece - cabe ainda citar que esta formação da Allstar com Clapton/Page/Stewart/Wyman/Winters (ou Watts)/Jagger ficou conhecida como The Immediate All-Stars, para diferenciar da formação com Beck, e foi a tal "banda" que nunca se reuniu sequer em uma sala de ensaios antes de ter suas músicas lançadas, pois as gravações da seção rítmica foram feitas em sessões separadas daquelas com os dois solistas.
domingo, 27 de abril de 2025
R.E.M. - Green [1988]
Dez bandas em que os músicos que gravaram o disco de estreia já faleceram
Jimi Hendrix Experience - Los Angeles Forum - April 26, 1969 [2022]
Por Micael Machado
A família e o legado de Jimi Hendrix não param de "desencavar" tesouros do (aparentemente inesgotável) arquivo musical deixado pelo guitarrista. Quase todo ano sai um disco novo com o nome do músico, sendo que um dos mais recentes é o registro de um show do Experience original (com Jimi nas guitarras e vocais, Noel Redding no baixo e backing vocals, e Mitch Mitchell na bateria) em Los Angeles, a 26 de abril de 1969, que saiu (lá fora, não há edição nacional disponível, pelo menos enquanto escrevo) em vinil duplo e CD simples no final de 2022, além de disponibilizado nas plataformas digitais. Introduzidos ao palco por Jimmy Rabbitt (popular DJ da rádio AM local KRLA, que transmitiu o concerto), a apresentação inicia com Hendrix se dirigindo ao público (como faria várias vezes ao longo da noite, pelo que se ouve no disco) e "comunicando" a todos que estavam "em um igreja agora... finjam que há um céu acima de nós", e que o público esquecesse "sobre tudo o que ocorreu ontem, noite passada ou esta manhã... esqueça sobre tudo o que está ocorrendo lá fora, e vamos juntar nossos sentimentos agora", numa introdução que Billy Gibbons, guitarrista do ZZ Top que assina um dos textos do encarte na condição de testemunha "ocular e auditiva" daquela noite, como se descreve (Gibbons estava na plateia como um "simples" espectador, apesar de sua banda de então, o The Moving Sidewalks, já ter dividido o palco com o Experience anteriormente), chamou de "muito oportuna e psicodélica".
Hendrix então anuncia que irão iniciar "com uma pequena jam escrita por uma dupla de caras suecos, (Bo) Hannson e (Janne) Karlsson, chamada 'Tax Free', mas acho que vamos chamá-la apenas de 'jam'". O início calmo da faixa, até então inédita na discografia do guitarrista (uma versão de estúdio só iria aparecer em 1972, no álbum póstumo War Heroes) pode até confundir aos mais desavisados, mas não demora muito para o maior guitarrista que já passou pela Terra começar a mostrar seus truques. Ao longo dos mais de quinze minutos de duração da jam, o trio alterna entre variações do riff principal da canção com momentos de improviso que só o talento e a genialidade de Hendrix poderiam proporcionar, com Redding segurando bem a base para (o frequentemente subestimado) Mitchell também "voar baixo" com suas viradas e conduções (o baterista também tem direito a um longo momento "solo" em parte da música).
Dedicada "à namorada de alguém... não sabemos quem ela é neste momento, mas iremos descobrir depois do show, agora não sabemos sequer o seu nome...", "Foxey Lady" vem na sequência (com direito a alguns solos improvisados ali pelo meio), seguida de uma marcante redenção para "Red House" (que nunca foi uma das minhas favoritas pessoais na carreira do guitarrista, e que aqui aparece com partes um pouco mais rápidas do que em outras versões que conheço, além de diversos improvisos ao longo de seus mais de onze minutos de duração). A sequência do concerto se dá com uma surpreendente versão de quase doze minutos para "Spanish Castle Magic", também recheada de improvisos em sua porção central, a qual é seguida pela interpretação de Hendrix para "Star Spangled Banner", o hino dos Estados Unidos, isto quatro meses antes da "famosa" versão apresentada em Woodstock (e, talvez por isto, não tão marcante quanto aquela, afinal Jimi ainda vinha aprimorando sua "versão manifesto" desta música naquela noite), a qual é "emendada" a uma versão de quase sete minutos para "Purple Haze" (outra faixa que aparece cheia de improvisos ao longo de sua duração).
Uma correta redenção de "I Don't Live Today" (uma das minhas favoritas pessoais na discografia do guitarrista, e que já havia aparecido, com uma mixagem diferente, no box set The Jimi Hendrix Experience, de 2015) vem na sequência, naquela que é a faixa mais próxima de sua "versão de estúdio" apresentada ao longo da noite, que se encerra com uma interpretação de quase dezessete minutos para "Voodoo Child (Slight Return)", a qual é intercalada por uma versão instrumental de "Sunshine Of Your Love", do Cream, também recheada de improvisos, em uma apresentação que, nas palavras de Gibbons, "acendeu a casa inteira, para arrasá-la totalmente na sequência", em tradução livre (a frase original é "lit the house up and tore it right down", conforme presente no encarte).
Aquela seria uma das últimas performances do Experience original (o trio se separaria efetivamente em junho daquele ano), e, como escrito acima, foi transmitida ao vivo por uma rádio local, embora as gravações deste disco (que apresentam uma qualidade excelente para a idade que possuem e por terem ficado "armazenadas" tanto tempo) tenham vindo, alegadamente, das fitas originais em oito canais feitas por uma unidade móvel posicionada no local naquela noite, e mixadas especialmente para este lançamento por Eddie Kramer, histórico produtor ligado à carreira de Hendrix desde a década de 1960. Los Angeles Forum - April 26, 1969 é um belo acréscimo à (ainda crescente) discografia de Jimi Hendrix, sendo extremamente recomendável a seus inúmeros fãs ainda existentes! Confira!
Track List:
1. Introduction
2. Tax Free
3. Foxey Lady
4. Red House
5. Spanish Castle Magic
6. Star Spangled Banner
7. Purple Haze
8. I Don't Live Today
9. Voodoo Child (Slight Return) (first part)
10. Sunshine of Your Love
11. Voodoo Child (Slight Return) (second part)