segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Alice in Chains - MTV Unplugged [1996]




Por Micael Machado

Sabe aqueles dias em que você chega cansado em casa, com a sensação de que nada deu certo e louco para tomar um banho e cair na cama, sem ter vontade para mais nada? Em dias assim, eu pelo menos não consigo ouvir nada muito agitado, nem músicas “ambiente” para me distrair. A única coisa que “desce redondo” pelos ouvidos é uma sonoridade mais depressiva, lenta, às vezes até um pouco mórbida. The Cure, Type O Negative, Sisters Of Mercy e Joy Division são exemplos de bandas que pintam na vitrola ou no CD player nessas horas.

Outro exemplo é o MTV Unplugged, do Alice in Chains, um disco que não é muito lembrado nem mesmo pelos fãs da banda, quem dirá pelos ouvintes em geral.

A “Alice Acorrentada” é cria da geração grunge de Seattle, e só isto já é motivo suficiente para afastar muita gente preconceituosa com o estilo. Junte isso ao fato de ser um acústico produzido pela MTV, e já estão aí os motivos para muita gente odiar o disco sem nem ouvir! Um dos maiores destaques do estilo, a banda costuma ser mais lembrada pelos hits elétricos que teve, como “Man in the Box”, “We Die Young”, “Them Bones”, “Angry Chair” e “Would?”, mas também possui um lado acústico e delicado, que já havia aflorado nos EPs SAP e Jar of Flies.


Momentos da apresentação no MTV Unplugged

Quando a banda foi convidada a gravar o seu Unplugged para a MTV em 1996 (numa época em que parecia que todos estavam fazendo isso), ela já estava distante dos palcos havia dois anos e meio. Inclusive Layne Staley chega a brincar com o fato durante o programa, dizendo que "este é o melhor show que a banda faz em mais de dois anos”, ao que Sean Kinney responde “claro, é o único!”. Mesmo assim, foi até o Brooklyn Academy of Music's Majestic Theatre em Nova Iorque para performar um espetáculo memorável, com um repertório excepcional. À época, o Alice tinha Layne Staley nos vocais, Jerry Cantrell na guitarra, Mike Inez no baixo e Sean Kinney na bateria. Neste show, a banda se apresentou pela primeira vez como um quinteto, com Scott Olson fazendo as bases ao violão para Cantrell solar.

“Nutshell” abre os trabalhos, já levando o clima para baixo logo no início, mostrando que não seria uma noite de sorrisos e piadinhas. “Brother” é outra que segue a linha mais depressiva, sem perder a beleza, no entanto.

“No Excuses” é a mais conhecida até então, e possivelmente a mais “animada” da noite. “Sludge Factory” traz de volta o clima mais sombrio, que deságua na belíssima “Down in a Hole”, minha faixa favorita da banda. Ouvir esta música numa versão ainda mais “orgânica” que a de estúdio é de chorar... No bom sentido, claro!

Alice in Chains

“Angry Chair” é outra famosa, mas não se saiu tão bem no formato acústico. “Rooster”, por outro lado, consegue passar bem a mensagem de perda e desolamento que carrega (a música foi feita por Cantrell para seu pai, ex-combatente do Vietnã, que nunca superou os traumas que a guerra lhe trouxe). “Got Me Wrong” até tem umas partes mais “animadinhas”, e o clima segue alto em “Heaven Beside You”, outra bastante conhecida, mas que aqui soa renovada em sua versão voz e violão.

Chega então a hora de “Would?”. Como bom baixista frustrado que sou, me apaixonei pela introdução desta música desde a primeira vez que a ouvi, lá nos anos 90. A versão deste disco pode perder ao não ter a guitarra elétrica de Cantrell, mas ganha em intensidade e emoção. “Frogs” é outra onde o clima não é nada alegre, e “Over Now” encerra o show em um clima menos pesado o que o resto do show. No bis, a inédita “The Killer Is Me” é outra onde a tristeza, a solidão e o desencantamento aparecem.

A linha de frente do Alice in Chains: Layne Staley e Jerry Cantrell

Além do CD, o show foi também lançado em DVD. Se você tem tendências suicidas ou sofre de depressão profunda, não assista a este vídeo. As imagens que acompanham a trilha sonora têm tudo para levá-lo para o fundo do poço, desde o cenário escolhido até a performance de Staley, que aparenta estar completamente chapado, “viajando” geral em boa parte do tempo, inclusive deixando partes dos vocais a cargo de Cantrell em determinados momentos (será que por não se lembrar das letras?). Se este não for o seu caso, não deixe de conferir, pois o vídeo é tão imperdível quanto o áudio.

Este foi um dos últimos shows da banda com Staley, que morreria de overdose em 2002. Após muito tempo parada, a banda voltaria a se reunir em 2005, com William DuVall nos vocais e guitarra base, lançando o excelente Black Gives Way to Blue. Mas, pelo menos para mim, o grande disco da banda já havia sido registrado, e é este excelente MTV Unplugged.

Track List:

1. Nutshell (Cantrell/Inez/Kinney/Staley) – 4:58
2. Brother (Cantrell) – 5:27
3. No Excuses (Cantrell) – 4:57
4. Sludge Factory (Cantrell/Kinney/Staley) – 4:36
5. Down in a Hole (Cantrell) – 5:46
6. Angry Chair (Staley) – 4:36
7. Rooster (Cantrell) – 6:41
8. Got Me Wrong (Cantrell) – 4:59
9. Heaven Beside You (Cantrell/Inez) – 5:38
10. Would? (Cantrell) – 3:43
11. Frogs (Cantrell/Inez/Kinney/Staley) – 7:30
12. Over Now (Cantrell/Kinney) – 7:12
13. Killer Is Me (Cantrell) – 5:23

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