(Crédito: Fábio Codevilla) |
Por Micael Machado
Marcelo Camelo surgiu para o mundo da música como vocalista e guitarrista do grupo Los Hermanos. Com uma carreira que compreende quatro discos de estúdio ao longo da primeira década deste século (ok, o primeiro é de 1999, eu sei), o quarteto conquistou uma legião de fãs absolutamente devotados à sua música de difícil categorização, misturando rock, samba, MPB, pop e ritmos regionais, sempre com muita qualidade.
Após a banda decidir "dar um tempo" em 2008, Camelo se lançou em carreira solo com o álbum Sou, no mesmo ano; lançou o DVD MTV ao Vivo em 2010, e, agora em 2011, lançou o disco Toque Dela, cuja turnê o trouxe mais uma vez a Porto Alegre na última quinta feira (12), para uma apresentação no Bar Opinião.
Toque Dela, novo álbum de Marcelo Camelo |
O show de abertura da banda gaúcha Apanhador Só (cujo trabalho eu não conhecia, mas que já conta com dois discos lançados) começou pouco antes das 23 horas, horário marcado no ingresso, Com uma música de difícil assimilação no início, o grupo mostrou ao longo de meia hora um som que tem algumas similaridades com o do Los Hermanos, mas que se mostra mais próximo do que se convencionou chamar de rock alternativo aqui no Brasil. Alguns momentos me chamaram a atenção, mas não é um grupo que tenha conseguido conquistar a minha devoção, ao contrário de alguns fãs que cantavam junto vários dos temas apresentados pelo quarteto.
Após a abertura, a equipe de produção começou a preparação do palco para a atração principal. Pessoalmente, eu tinha curiosidade de saber como o elevado número de instrumentistas (nove, além de Camelo) se arrumaria no pequeno palco do Opinião. A dúvida ficou maior quando cinco samambaias (!) foram distribuídas sobre caixas de som, pelo chão, pelos cantos, diminuindo ainda mais o já reduzido espaço disponível.
Apanhador Só (Crédito: Paulo Capiotti) |
Pouco antes da meia-noite, Camelo adentrou o palco, junto dos membros do Hurtmold (grupo instrumental que lhe acompanha desde o início da carreira solo) e de um trio de metais onde se destaca o trompetista Bubu (que também tocava com o Los Hermanos). Os músicos de apoio colocaram-se alinhados atrás de Camelo, em um arco que atravessava o palco de um lado ao outro, com o vocalista um pouco à frente, ao centro do espetáculo. A iluminação sóbria, criando um ambiente com muitas sombras e pouca claridade, dificultava um pouco a visão do que estava acontecendo no palco (como se já não bastassem as samambaias...), mas não impedia o público que praticamente lotava o local de cantar junto com o carioca a música “Ô Ô”, do disco novo, a primeira da noite a ser apresentada.
Continuando com duas músicas de Toque Dela (que eu, aliás, ainda não tinha ouvido), dava para perceber uma característica que acompanha Marcelo desde o tempo de Los Hermanos: a galera cantava as letras a plenos pulmões, por vezes obscurecendo a voz do artista, que se mostrava descontraído e contente com a reação do público, convidando o povo para “pegar um no outro e chacoalhar o cabelo”, simulando uma dancinha desconjuntada em cima do palco.
“Menina Bordada” foi a primeira música de Sou apresentada, levantando ainda mais a plateia. A partir daí, o repertório seguiu misturando músicas dos dois discos, abrindo exceção para a dupla “A Outra” e “Morena”, duas das três canções do grupo anterior de Camelo tocadas nesta noite, em uma sequência que, se não serviu para saciar de vez a vontade dos fãs, pelo menos aliviou um pouco a saudade do quarteto carioca. Outro momento alheio ao repertório solo de Marcelo foi um tema instrumental de quase dez minutos apresentado apenas pelo Hurtmold, o qual, suponho, seja de autoria deles, e que destoou do clima da noite (apesar da qualidade), ao apresentar uma melodia intrincada e quebrada, que deixa claro o potencial desde pessoal que, de certa forma, “se esconde” atrás das melodias e do carisma de Marcelo, quando merecia voos mais altos, pelo que mostrou.
Marcelo Camelo ao violão. (Crédito: Fábio Codevilla) |
Em “Janta”, Camelo assumiu sozinho os vocais, que no estúdio são divididos com a namorada, Mallu Magalhães. A doce e frágil voz da adolescente fez falta (além da sua sempre bem vinda presença no palco), mas Marcelo deu conta do recado com sobras, contando claro com a presença do público para lhe ajudar. Presença esta que foi marcante em “Doce Solidão”, onde o vocalista deixou para a galera as vozes da primeira parte, ficando restrito apenas ao seu violão, deixando transparecer a alegria pela recepção e o carinho do público porto-alegrense.
A certa altura do espetáculo, ocorreu uma das situações mais surreais que já presenciei nesses quase vinte anos assistindo a shows: Marcelo anunciou as samambaias (como se anunciasse um membro da banda), elogiou sua beleza, e disse que, devido ao tamanho, elas eram difíceis de transportar de uma cidade para outra, além de exigirem cuidados que eram difíceis de atender durante a turnê. Foi então que ele perguntou se alguém da plateia se responsabilizava por “tratar direitinho” delas para ele, e claro que várias pessoas se manifestaram positivamente. Camelo então desceu do palco, e os membros da banda foram lhe passando, uma a uma, as plantas, para que ele as entregasse às pessoas do público. Só que ele não se limitava a entregar para a primeira pessoa que estivesse ao seu lado, mas atravessava a plateia de um lado a outro até encontrar aqueles a quem queria "presentear". Respeitosamente, o público abria espaço para o músico, sem alvoroços nem tumultos, que ia de lá para cá na pista do Opinião distribuindo os "presentes" a seus satisfeitos fãs. Finda a distribuição, Marcelo voltou ao palco e retomou o show normalmente, como se o que tivesse ocorrido fosse a coisa mais normal do show business mundial.
“Copacabana” encerrou a primeira parte do espetáculo, após pouco mais de uma hora e meia de muita vibração e agitação por parte dos fãs de Marcelo. Mas é claro que o pessoal não lhes deixaria ir embora assim tão facilmente. A trupe voltou ao palco, e, após “Despedida”, Camelo executou sozinho ao violão “Santa Chuva”, muito pedida pelos fãs e que parecia não estar relacionada para a noite, tendo sido anunciada como “feita de improviso” pelo cantor. “Pois É”, outra do Los Hermanos, encerrou a noite em clima de comunhão entre quem estava no palco e quem lotava as dependências do bar, deixando claro que Marcelo Camelo pode não ter mais a divulgação que já obteve com o Los Hermanos, mas ainda tem o seu público fiel e devoto à disposição para lhe apoiar e reverenciar. Merecidamente, que seja dito.
“E isso lá é bom?”
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