Por Micael Machado
Notícias Fícticias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmcias ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.
Quando Joe Strummer, vocalista e guitarrista do The Clash, faleceu em dezembro de 2002, sua esposa, Lucinda Tait, ficou de posse das diversas fitas K7 com gravações do grupo encontradas em sua casa quando o casal se preparava para uma mudança. Do conteúdo destas fitas foi lançado o álbum ao vivo Live At Shea Stadium em 2008. Mas ainda havia muito mais nos arquivos.
Pois agora, para comemorar os 35 anos do grupo inglês, a gravadora Epic anuncia o lançamento de dois box sets com gravações recuperadas destas fitas, após um acordo financeiro com Lucinda, além de acréscimos provenientes dos arquivos pessoais de Mick Jones (guitarrista e vocalista) e Paul Simonon (baixo e vocais), dois outros membros desta verdadeira instituição do punk rock, e que também se envolveram nas negociações e na criação dos itens (Topper Headon e Terry Chimes, os bateristas “clássicos” do grupo, não foram consultados).
Terry Chimes, Mick Jones, Joe Strummer e Paul Simonon |
O Box Set chamado The Demo Series trará, como o nome indica, demos gravadas pelo Clash ao longo de sua trajetória. Com quatro CDs, a caixa cobrirá praticamente toda a carreira do grupo, que durou de 1976 a 1986, e deixou discos importantíssimos não só para o Punk Rock, mas para o rock em geral.
No primeiro CD, teremos demos dos dois primeiros discos do grupo (The Clash, de 1977, e Give ‘Em Enough Rope, de 1978). A maioria destas gravações provém das fitas que estavam em poder da viúva de Strummer, sendo que sua gravação foi restaurada utilizando modernas técnicas digitais para tal fim. Segundo a gravadora, elas mostram o grupo quase como uma banda de garagem, com um som ainda cru, mas que, como os próprios álbuns com as versões oficiais demonstram, viria a ser um dos mais importantes e melhores registros do início da era punk.
No segundo e terceiro CDs, demos do álbum triplo Sandinista, de 1980. Estas demos são dos arquivos dos três membros citados, e já mostram o grupo com um som mais elaborado, aproximando-se do reggae, do dub, do jazz e até do rap, sem deixar o espírito punk de lado. Assim como no álbum, o espectro de estilos musicais cobertos pelo Clash é bastante amplo nestas demos, e, segundo a Epic, mesmo em suas versões embrionárias, as músicas de Sandinista já se mostram fortes e marcantes.
A ausência de demos do disco London Calling, de 1979, para muitos o melhor álbum do Clash, deve-se, segundo a gravadora, ao fato do lançamento do disco The Vanilla Tapes, parte da edição tripla de vigésimo quinto aniversário de London Calling lançada em 2004. Sendo assim, as demos disponíveis já teriam sido lançadas, não fazendo sentido incluí-las neste pacote.
Caixa de Singles do The Clash |
O CD três é completado com as faixas do conhecido bootleg Rat Patrol from Fort Bragg, que seria um álbum duplo não lançado pela banda (cujas faixas foram depois compiladas no que viria a ser o disco simples Combat Rock, lançado em 1982), as quais finalmente ganham suas versões oficiais, com a mixagem original feita por Mick Jones na época, e que ele mantinha em seu poder desde então. Apesar de bastante divulgadas na internet, estas faixas também receberam um tratamento digital que melhorou muito o seu som em relação aos arquivos de áudio disponíveis na rede mundial, o que torna seu lançamento bastante atraente, pois a maior parte delas nunca apareceu em nenhum lançamento oficial sob o nome do grupo.
O quarto disco traz as gravações de Cut The Crap, último álbum do Clash e o único que não conta com os serviços de Mick Jones. Segundo a gravadora, estas seriam as versões que Joe Strummer gostaria de ter lançado, sendo que as faixas gravadas pelo grupo sofreram muitas modificações e acréscimos posteriores feitos em estúdio pelo empresário Bernie Rhodes, que assumiu a produção do disco depois que se desentendeu com Strummer, o que levou o músico a abandonar o processo de produção do seu próprio álbum! Bernie finalizou o processo de acordo com o seu próprio desejo, lançando um disco que os próprios membros do grupo viriam a rejeitar, além de ser amplamente considerado o pior lançamento da história do Clash. Ao que foi divulgado, as gravações constantes em The Demo Series seriam a versão original do álbum, conforme o conceito de Strummer, e que seria bastante diferente da versão oficial que viríamos a conhecer.
Este CD é completado por canções fornecidas por Mick Jones, versões de músicas nas quais ele trabalhava para o futuro álbum do Clash quando saiu da banda, ainda nos primeiros ensaios para o sucessor de Combat Rock. Estas gravações permaneceram em poder de Jones todo este tempo, sendo que algumas músicas, segundo anunciado, seriam depois retrabalhadas e apareceriam em This is Big Audio Dynamite, primeiro lançamento do Big Audio Dynamite, grupo que Jones fundou após deixar o Clash.
Joe Strummer |
Assim, temos demos de praticamente todos os álbuns de estúdio lançados pela banda. Segundo a Epic, com exceção das faixas de Rat Patrol from Fort Bragg e das versões depois lançadas pelo Big Audio Dynamite, não há músicas inéditas no Box, apenas versões diferentes de faixas já conhecidas do público. Mesmo assim, a caixa é tentadora aos fãs do Clash, que terão acesso a um verdadeiro tesouro guardado nos baús dos membros do grupo.
O segundo Box Set será chamado The Live Series, e trará quatro CDs cobrindo a trajetória do grupo nos palcos. Reconhecidamente dono de uma poderosa apresentação on stage, o Clash tem em seu catálogo oficial apenas o já citado Live At Shea Stadium e a compilação From Here To Eternity como discos ao vivo. Sendo assim, esta caixa torna-se obrigatória para quem quer conhecer o poder de fogo dos shows da banda sem ter de recorrer aos arquivos disponíveis na internet.
O primeiro disco deste Box trará apresentações entre 1976 e 1978, retiradas dos arquivos dos três membros do Clash. Contendo diversos clássicos dos dois primeiros álbuns, gravados em apresentações principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, as gravações mostram, de acordo com a gravadora, como o Clash já estava à frente de seus comparsas punks em termos de composição e execução de seus temas quando de suas apresentações. Promete ser imperdível.
O segundo CD trará uma apresentação do grupo na Jamaica em 1982, onde o repertório, segundo o noticiado, é focado nas canções mais reggae da carreira do grupo inglês. Este show pode ser parcialmente encontrado na internet, mas as gravações contidas nas fitas disponibilizadas pela viúva de Strummer trazem a apresentação na íntegra, além do áudio trabalhado digitalmente em estúdio, o que resultou em um expressivo ganho de qualidade.
Famosa caixa do The Clash |
O terceiro e o quarto discos trarão a íntegra de um dos dezessete shows feitos pelo Clash no Bonds Casino, em Nova York, entre maio e junho de 1981, em plena tour de divulgação de Sandinista, além de faixas bônus retiradas dos outros shows da maratona. A data exata da apresentação não foi divulgada, provavelmente porque diversos shows destas apresentações estão disponíveis na internet. Mesmo assim, para quem conhece os bootlegs, é mais um disco que promete ser interessantíssimo, trazendo uma banda sem medo de ampliar seu espectro sonoro e com muito gás para queimar quando subia no palco.
Além dos quatro CDs, a caixa também trará um DVD com diversos momentos do grupo ao vivo retirados dos arquivos dos três músicos do Clash. As gravações, feitas de forma amadora, também receberam um tratamento especial, e servem como uma demonstração do poder e da qualidade das apresentações do quarteto.
The Demo Series e The Live Series têm lançamento anunciado para outubro de 2011, e já são ansiosamente aguardados pelos fãs desta verdadeira instituição do rock mundial. A música ainda precisa da fúria e do talento do The Clash.
Nenhum comentário:
Postar um comentário