Por Micael Machado
Quando pensamos em hard rock ou heavy metal, normalmente os instrumentos que nos vêm a mente são os famosos baixo/guitarra/bateria, além de um cantor que desafie os limites da voz humana. Se alguém pensar, além dos itens citados, em um teclado com distorções ou em um belo e sonoro órgão Hammond, em muito esta lembrança se deve ao trabalho do músico Jon Lord, falecido nesta data em Londres, na London Clinic, conforme anunciou o site oficial do músico.
Jonathan Douglas Lord começou a trabalhar como músico profissional ainda no começo dos anos 1960, inicialmente no Bill Ashton Combo, passando depois ao Artwoods, ao The Flower Pot Men e vindo a fundar o Roundabout, grupo que mudaria o nome para Deep Purple, tornando-se um dos pilares sagrados do hard rock e do heavy metal (segundo alguns, integrante da “Santíssima Trindade” do estilo, ao lado do Black Sabbath e do Led Zeppelin). Lord permaneceu no Purple desde a fundação, em 1967, até a primeira dissolução em 1976. Tendo também uma carreira solo mais voltada à música clássica, após deixar o Púrpura Profundo trabalhou com o Paice, Ashton e Lord e com o Whitesnake (ao lado dos também ex-Deep Purple David Coverdale e Ian Paice), antes de reagrupar-se à formação conhecida como Mark II do seu antigo grupo, em 1984. Desde então, permaneceu firme e forte comandando as teclas do grupo até decidir aposentar-se em 2002, deixando o posto para o conhecido Don Airey, e seguindo em atividade com concertos voltados à música clássica e também com espetáculos de outros estilos, como os registrados nos discos do The Hoochie Coochie Men, grupo mais voltado ao blues do qual participou.
Lord em 1969, durante o Concerto For Group And Orchestra, uma de suas peças clássicas mais conhecidas |
Em 2011, anunciou estar com câncer no pâncreas, e iniciou um tratamento contra a doença. Não parou de trabalhar, e tinha várias apresentações marcadas para o segundo semestre deste ano, conforme o site oficial. Infelizmente, a doença o impediu de realizar mais estes espetáculos, e o tirou de nós nesta manhã.
Lord foi um dos primeiros tecladistas que ouvi e que me chamaram a atenção. Meu universo musical antes de conhecer o Deep Purple (através do disco In Rock, de 1970, até hoje o meu favorito) era limitado a algumas bandas punks e outras poucas de heavy metal. Teclado era algo ligado à música pop que eu ouvia no rádio, um instrumento ao qual não dedicava muita atenção. Mas o trabalho do músico inglês no disco citado (e também no ao vivo Made In Europe, de 1975, que conheci logo em seqüência) mudou minha visão sobre o instrumento, e quando, anos depois, passei a ouvir os grandes mestres do rock progressivo (estilo onde o teclado é instrumento principal), pude apreciar melhor a sonoridade das teclas graças ao aprendizado proporcionado por este músico que, sem dúvidas, deixa uma lacuna enorme no mundo da música, a qual não será preenchida tão cedo.
Lord em 1985, com o Purple em Knebworth |
Felizmente, tive a oportunidade de assisti-lo ao vivo em 1997, quando o Deep Purple veio a Porto Alegre na turnê de Purpendicular, fazendo um dos melhores shows a que já estive presente. Depois disso, cheguei a ver o grupo mais duas vezes com Don Airey comandando os teclados, mas, sinceramente, não era a mesma coisa que assistir ao maestro Lord, com seu estilo único e emocionante de tirar de seu instrumento notas mágicas, belas e emocionantes, ao mesmo tempo em que nos levavam a uma viagem a outros mundos e dimensões.
O mundo da música com certeza está mais triste hoje, e aquela famosa banda de talentosos músicos que existe no céu acaba de receber o seu tecladista oficial, que fará muita falta aqui em baixo!
Já nos anos 2000, depois da aposentadoria |
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