Por Micael Machado
A noite de domingo reservou um daqueles raros momentos na vida de um amante da música, em especial do heavy metal. Afinal, em que outro show você poderia ouvir no mesmo palco clássicos de Iron Maiden, Metallica, Pink Floyd, Led Zeppelin, Nirvana e Jimi Hendrix, e ainda por cima interpretados na viola caipira, um instrumento tão ligado à música regional do sertão brasileiro?
Pois foi isso o que presenciei com grande satisfação no espetáculo da dupla Moda de Rock, composta pelos violeiros Ricardo Vignini e Zé Helder. Músicos de grande habilidade em seus instrumentos, os dois professores de viola tiveram a brilhante ideia de adaptar as músicas que ouviam na adolescência para os instrumentos nos quais se tornaram profissionais. O resultado, mais do que curioso, é excepcional, mesclando a tradicional sonoridade do instrumento às melodias compostas pelos grandes ídolos do rock mundial.
Em pouco mais de uma hora de espetáculo (por determinação da administração do Santander Cultural, local do show, segundo Zé Helder falou após a apresentação, durante uma animada sessão de autógrafos/bate papo com os presentes), os músicos interpretaram algumas canções constantes em seu disco Viola Extrema, temas próprios, uma canção de Tião Carreiro (da qual infelizmente não sei o título) e até um trecho da quinta sinfonia de Beethoven, sempre com muita categoria e precisão, além de demonstrarem um enorme bom humor nas histórias contadas entre as músicas. Ricardo, por exemplo, anunciou “Master of Puppets” como uma música que, quando ele ouviu pela primeira vez, definiu que era aquilo o que ele queria fazer na vida. Só não sabia que seria na viola. Já a sinfonia de Beethoven foi anunciada como uma música de um roqueiro que tocava “tão alto, mas tão alto, que acabou ficando surdo”.
Capa do álbum Viola Extrema |
Foi uma oportunidade também para ouvirmos a cabacítara, curiosa viola feita de cabaça especialmente para Ricardo, a qual soa como uma cítara quando tocada (e que, segundo o instrumentista, “nunca havia enfrentado tanto frio na vida”, justificando o fato de ter de afiná-la antes de utilizá-la). Como ela se parece com o violão Ovation, Ricardo disse que poderíamos chamar o instrumento de “cabaceition” que estava tudo bem.
Segundo os dois, o objetivo do projeto é tentar atrair uma nova geração para a prática da viola, mostrando que o instrumento não serve apenas para a música regional, mas se adapta a qualquer ritmo. Ricardo disse que vários adolescentes passaram a frequentar as aulas que eles ministram querendo aprender a tocar as músicas do álbum, mas que os dois fazem questão de ensinar a eles primeiro as raízes do instrumento (como a música de Tião Carreiro), para depois ensinar os rocks que tocam no projeto.
De diferente do disco, algumas pequenas alterações em alguns arranjos, principalmente no encerramento de algumas canções, e a presença da muito bem vinda “Going to California”, do Led Zeppelin, cantada por Zé Helder e ausente do disco. Curioso foi que, quando reclamei da não inclusão de “Hangar 18”, do Megadeth, no repertório da noite, os músicos riram, dizendo que todo show alguém reclama da ausência da música, mas que ela é mesmo muito difícil de ser executada, tendo por isso sido retirada das apresentações.
Zé Helder, Micael Machado e Ricardo Vignini |
Set List:
1. Aces High (Iron Maiden)
2. Master of Puppets (Metallica)
4. Smells Like Teen Spirit (Nirvana)
5. Mr. Crowley (Ozzy Osbourne)
6. Going to California (Led Zeppelin)
7. Kashmir (Led Zeppelin)
8. Alvorada (Ricardo Vignini)
9. Assombração (Zé Helder)
10. Pout-pourri: "Nove, Nove" (Tião Carreiro)/"A coisa Tá Feia" (Tião Carreiro)/"Viola Marruda" (Índio Cachoeira)/"Pau Brasil" (Gedeão da Viola)
11. Quinta Sinfonia (Beethoven)/Aqualung (Jethro Tull)
12. May This Be Love (Jimi Hendrix)
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