terça-feira, 5 de novembro de 2013

Review Exclusivo: Titãs (Porto Alegre, 01 de novembro de 2013)


Por Micael Machado

Passada a turnê comemorativa aos trinta anos de banda (da qual você pode ler uma resenha aqui), é hora dos Titãs seguirem em frente com sua carreira. Desta forma, na última sexta-feira, o agora quinteto realizou o show "Titãs Inédito" em Porto Alegre, no auditório Araújo Vianna. A proposta do espetáculo é apresentar dez composições ainda não registradas pelo grupo, e que podem vir a fazer parte de um novo disco de estúdio, prometido para o ano que vem, em uma espécie de "teste" das mesmas junto ao público dos paulistas.

Desta forma, com os tradicionais vinte minutos de atraso tão comuns no Brasil, Paulo Miklos (voz e guitarra), Branco Mello (voz e baixo), Sérgio Britto (voz, teclados e baixo), Tony Bellotto (guitarra) e Mário Fabre (bateria) adentraram o palco com "Eu Me Sinto Bem", um ska acelerado com guitarras um pouco mais pesadas que o normal em se tratando do grupo. Logo ao término desta, já se pode ouvir pedidos de "Polícia" e "Marvin", obrigando Sérgio a ir ao microfone e anunciar que, "como vocês sabem", a primeira parte seria composta de dez canções inéditas, mas "depois a gente toca tudo o que vocês pedirem". O show continuou com "Fala, Renata", que já havia sido apresentada na capital gaúcha em 2012, e seguiu desfilando as novas "crias" do quinteto, sendo a cada final educadamente aplaudidas pelo público (que não chegou a lotar o local, embora tenha comparecido em bom número), o qual, porém, parecia desconfortável por não estar conferindo os "sucessos", sendo que conversas e outros burburinhos podiam ser entreouvidos durante as execuções das músicas.

Quanto a estas, posso dizer que, apesar de novas, são canções típicas dos Titãs. A meu ver, são, compreensivelmente, inferiores à produção oitentista do grupo, mas estão em um patamar acima daquele alcançado com os dois últimos discos de estúdio (Como Estão Vocês, de 2003, e Sacos Plásticos, de 2009). Embora eu tenha gostado muito de "Mensageiro da Desgraça" (com letra "de protesto" cantada por Miklos) e "Terra À Vista" (outro ska agitado, cantada por Branco), é complicado afirmar que alguma delas pode se tornar um clássico da banda. Caso o disco seja mesmo composto por elas, diria que seria um álbum mediano na carreira dos Titãs, apesar de ser, possivelmente, o melhor lançamento do grupo desde Domingo, de 1995. Um fato que achei curioso foi que, quando Paulo anunciou "Flores Para Ela", a galera (perceptivelmente, estando em sua maioria em uma faixa de idade acima dos trinta e cinco anos, mostrando que o quinteto tem certas dificuldades para renovar o seu público) deve ter pensado que viria "Flores", e vibrou intensamente, se calando logo em seguida ao perceber seu equívoco, em um certo retrato do que foram os primeiros trinta minutos da apresentação....


Os Titãs no palco do Araújo Vianna

"Lugar Nenhum" iniciou a segunda parte da apresentação, sendo seguida por "Aluga-se", de Raul Seixas, onde o show começou "de verdade" para boa parte do pessoal, que levantou das cadeiras e cantou e agitou junto com o grupo. "AA UU" deu início então a uma sequência de hits que seguiria até "Comida", agradando em cheio aquela parcela do público que queria apenas ouvir suas músicas favoritas e "chacoalhar o esqueleto", como parecia ser o caso de uma tiazona à minha frente que, ao lado do marido barrigudo, balançava as pelancas e jogava as mãos para cima no maior clima "deixei as crianças em casa com a babá e vim aqui curtir um rock, baby!". "Desordem", segundo Britto "de 1989, mas que, por incrível que pareça, parece que foi escrita para os dias de hoje", foi o momento em que a tiazona e boa parte do pessoal aproveitou para tirar fotos, conferir o facebook ou transitar entre as fileiras de assentos para ir ao bar buscar uma bebida. "Vossa Excelência" foi dedicada aos políticos corruptos e "àqueles que não vestem a carapuça, mas na qual ela serve perfeitamente bem", precedida por um discurso sarcástico de Miklos onde ele parecia imitar a Presidente Dilma, e "Cabeça Dinossauro", outra que não teve a repercussão merecida por parte do pessoal, parecia antever que a banda enveredaria de vez pelos lados B de sua discografia, algo que já havia sido insinuado antes por Sérgio.

Mas aí, infelizmente, o mesmo Britto iniciou os acordes de "Epitáfio", que, compreensivelmente, teve ovação geral por parte da imensa maioria do público, tão "bunda mole" quanto esta canção cheia de sacarose. Foi o "momento romântico" da noite, sendo cantada em uníssono, com direito a mãozinhas "para lá e para cá" e tudo mais. "A Melhor Banda..." não conseguiu baixar a adrenalina do pessoal, que, em "Marvin", já estava amontoado à beira da grade de proteção do palco, jogando para o espaço os limites estabelecidos pelo auditório entre as diferentes seções de plateia. Recuperando um pouco a raiva da turnê anterior, a apresentação caminhou para o final com três músicas de Cabeça Dinossauro, as quais, hits que são, deixaram todos contentes, até a tiazona aquela do início do relato.

Após o tradicional "vai e volta" do palco, o grupo retornou com "Família" (surpreendentemente cantada por Britto), invertendo a ordem prevista para o bis. Branco assumiu a voz em "O Pulso", e Miklos encerrou tudo com "É Preciso Saber Viver" (outra canção feita sob encomenda para o tipo de público presente na noite, que, é claro, a recebeu com entusiasmo), música do rei Roberto Carlos, que o cantor chamou de "um dos nossos maiores ídolos", dizendo que estes não precisam se preocupar com "biografias não-autorizadas, pois elas não irão manchar aquilo que nosso coração sente por eles", em referência à polêmica que tomou conta das manchetes na semana que passou. Curioso é que o set list oficial contava com outras três músicas (sendo duas mais "desconhecidas" e "agressivas"), as quais a banda preferiu não tocar, por certo entendendo que o público "família" e "bunda mole" do local não se interessaria por elas. Talvez este não tenha sentido sua ausência, mas eu senti!

Flyer e Set List do show, do qual três músicas foram ignoradas

Ficou a sensação de ter presenciado uma banda lutando bravamente para continuar relevante, mas obrigada a viver das glórias de um passado remoto (à exceção das inéditas, apenas cinco músicas foram gravadas depois de 1989) para agradar um público que parece ter parado de escutar os discos novos do grupo ainda no século passado. Uma pena!

"Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?"

Set List:

1. Eu Me Sinto Bem
2. Fala, Renata
3. Terra À Vista
4. Senhor
6. Mensageiro da Desgraça
7. Quem São os Animais?
8. Não Pode
9. Flores Para Ela
10. República dos Bananas
11. Lugar Nenhum
12. Aluga-se
13. AA UU
14. Diversão
15. Flores
16. Soníera Ilha
17. Comida
18. Desordem
19. Vossa Excelência
20. Cabeça Dinossauro
21. Epitáfio
22. A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana
23. Marvin
24. Homem Primata
25. Polícia

Bis

27. Família
28. O Pulso
29. É Preciso Saber Viver

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