sábado, 26 de outubro de 2013

Datas Especiais: 20 anos de Counterparts


Por Micael Machado

O álbum Signals, de 1982, marcou uma mudança de direcionamento musical para o trio canadense Rush (formado desde 1974 por Geddy Lee no baixo, teclados e voz, Alex Lifeson nas guitarras e Neil Peart na bateria e percussão), com o acréscimo cada vez maior de teclados e sintetizadores às composições do grupo. Esta tendência teve um crescendo exponencial durante os álbuns seguintes, durando até 1989 com o lançamento de Presto. Durante este período, os fãs da fase setentista da banda meio que se afastaram do trio, ao mesmo tempo que muitos outros se viram atraídos pela sonoridade mais acessível que estes registros apresentavam.

Assim como boa parte de seus admiradores, quem também estava descontente com o excesso de teclados no som do Rush era Lifeson, que viu seu papel na música dos canadenses perder espaço para os sons eletrônicos de seu colega. A gravadora Atlantic, que havia adquirido o "passe" do grupo junto à Mercury alguns anos antes, também estava cobrando uma explicação pela redução nos números de vendas, o que ajudou a dar força aos argumentos de Alex, que desejava um "retorno ao básico" no som do grupo. Roll The Bones, de 1991, foi uma espécie de "ensaio" para isto, com uma sensível diminuição das teclas em relação aos discos anteriores. Mas a volta à uma sonoridade mais direcionada ao formato "baixo/guitarra/bateria" se daria de vez com Counterparts, que completou vinte anos no último dia 19 de outubro.


Lee, Peart e Lifeson em foto promocional da época de Counterparts

Gravado entre abril e junho de 1993, com produção de Peter Collins (que já havia trabalhado com o grupo anteriormente, e que aqui teve como assistente o depois renomado Kevin Shirley), o disco abre com o baterista Neil Peart fazendo uma contagem, para então sua bateria explodir na introdução de "Animate", faixa que traz na letra o conceito do título do registro (algo como o "oposto que nos completa"), e que mostra em seu arranjo que esta história de deixar os teclados totalmente de lado não era bem assim, embora aqui eles fiquem mais ao fundo, sem se expor muito aos holofotes! Marcada por um brilhante trabalho de Lee e Peart, além de um belo solo de Lifeson, a canção rapidamente ganhou a aprovação dos fãs (mesmo aqueles mais antigos), bem como a faixa seguinte, "Stick It Out", uma das coisas mais pesadas que o Rush já gravou, e que ganhou um vídeo de divulgação, da mesma forma que "Nodoby's Hero", que fala de pessoas comuns que praticam atos rotineiros, mas que acabam sendo marcantes na vida de quem convive com elas. Como há insinuações de que um dos personagens do texto teria morrido de AIDS, logo surgiram rumores de que Neil (autor da imensa maioria das letras do trio) estaria contaminado pelo vírus, algo que se provou apenas boataria com o passar do tempo.

"Cut To The Chase", apesar de pouco lembrada pelos fãs e pela própria banda (sendo que acredito que ela nunca tenha sido executada ao vivo), é uma das minhas favoritas do disco, assim como "Double Agent" e "Cold Fire", duas composições que, até onde sei, só foram incluídas nos set lists da turnê de divulgação do álbum (onde a primeira contava com vocais pré-gravados onde a voz de Lee apresenta alguns efeitos que a tornam grave e distorcida). Quem não teve a mesma oportunidade foram "Alien Shore" e "The Speed of Love", duas músicas mais melódicas, mas que não chegam a se configurar em baladas (sendo a segunda um pouco longa e repetitiva demais, em um dos poucos pontos baixos do play).

"Between Sun & Moon" retoma a parceria do trio com o poeta Pye Dubois, que já havia colaborado nas letras do grupo em anos anteriores. O belo poema de Pye foi combinado com uma agradável composição, que acabou ficando meio esquecida na memória dos fãs com o passar do tempo. Algo que já não aconteceu com a magnífica instrumental "Leave That Thing Alone", espécie de continuação de "Where's My Thing?", do álbum anterior, e que volta e meia é interpretada no shows do grupo, como ficou registrado no DVD Rush In Rio"Leave That Thing Alone" chegou a ser indicada ao grammy na categoria "Best Rock Instrumental Performance", mas perdeu para "Marooned", do Pink Floyd.


Parte do encarte de Counterparts

Encerrando com a cadenciada "Everyday Glory" (outra de fraca lembrança junto aos seguidores dos canadenses, apesar do belo refrão), Counterparts se tornou o álbum do Rush a alcançar a mais alta colocação na parada dos Estados Unidos na carreira do trio, chegando à segunda colocação da Billboard (o primeiro lugar ficou para Vs, do Pearl Jam), sendo certificado como disco de ouro nos EUA e disco de platina no Canadá, e é, em minha opinião, o melhor trabalho do grupo desde o citado Signals, não tendo sido superado desde então na discografia dos canadenses até o momento.

A turnê de promoção foi muito bem recebida, sendo que um dos shows (ocorrido no Palace, em Auburn Hills, Michigan, em 22 de março de 1994) seria transmitido pela televisão, sendo facilmente encontrado no youtube hoje em dia. Este mesmo registro ganhou há pouco uma edição em DVD (bootleg), lançada no Brasil pela gravadora USA Records, da qual recomendo que os apreciadores do grupo se afastem, devido à baixa qualidade tanto de imagem quanto de áudio, bem como a diversas falhas na hora de "montar" o menu do mesmo, alem da edição deplorável de algumas partes do show, como a exclusão das falas de Lee entre as músicas. Algo que a banda nunca aprovaria, em uma falta de respeito e preocupação com os fãs do Rush que os canadenses certamente não tiveram quando lançaram Counterparts, este sim, totalmente recomendável.


Contracapa da versão em CD

"My counterpart - my foolish heart; a man must learn to gently dominate"

Track List:

1. "Animate"
2. "Stick It Out"
3. "Cut to the Chase"
4. "Nobody's Hero"
5. "Between Sun and Moon"
6. "Alien Shore"
7. "The Speed of Love"
8. "Double Agent"
9. "Leave That Thing Alone"
10. "Cold Fire"
11. "Everyday Glory"

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