Surgido no início dos anos 1980 na cidade de São Paulo, o Ultraje A Rigor conquistou o público brasileiro logo na sua estreia em vinil, com o compacto Inútil/Mim Quer Tocar, de 1983, pela gravadora WEA. Tendo na formação inicial Roger Moreira (voz, guitarra, flauta), Leôspa (bateria), Sílvio (baixo, logo substituído por Maurício Defendi) e Edgard Scandurra (guitarra solo), o grupo logo partiu para a gravação de seu LP de estreia (não sem antes ver a partida de Scandurra, que optou por continuar apenas com o Ira!, sendo substituído por Carlinhos, e gravar um segundo compacto, Eu Me Amo/Rebelde Sem Causa), considerado um dos maiores clássicos do rock nacional.
Mantendo-se constantemente na ativa ao longo destes mais de trinta anos (o single de estreia completa esta idade agora em outubro), embora com longas ausências dos estúdios durante sua trajetória, a banda conquistou o respeito e a admiração de milhares de fãs por todo o Brasil, sempre capitaneada pelo incansável Roger, único membro constante em todas as formações! Com vocês, nossa análise das obras desta verdadeira instituição do rock nacional!
Se algum disco do rock nacional merecer o status de "Clássico" (com C maiúsculo e tudo), a estreia do Ultraje deverá ser o escolhido. De suas onze faixas, nove tocaram (e muito) nas rádios, sendo lembradas e incensadas até hoje pelos fãs nos shows do quarteto. Único LP a contar com Carlinhos na guitarra solo, Nós Vamos Invadir sua Praia é daqueles álbuns que parecem uma coletânea de tão bons. Músicas como "Rebelde sem Causa", "Ciúme", "Inútil" (que chegou a ser interpretada pelos Paralamas do Sucesso no palco do primeiro Rock In Rio como forma de protesto ao então agonizante regime militar), "Marylou", "Eu Me Amo", a faixa título e "Independente Futebol Clube" (aqui em uma versão gravada ao vivo) são clássicos facilmente reconhecíveis em todo o país, e mesmo "Zoraide" e "Mim Quer Tocar", que tocaram um pouco menos que as demais, também são obrigatórias nas apresentações até hoje. "Jesse Go" (com os vocais principais feitos por Maurício) e "Se Você Sabia" tiveram menos exposição, mas também possuem grande qualidade. Este foi o primeiro LP de rock no Brasil a ganhar Disco de Ouro e Disco de Platina, e a banda conheceu um sucesso enorme, quebrando recordes de público em diferentes locais em todo o país. A edição em CD de 2011 trouxe as duas faixas do compacto de estreia, outras duas presentes no EP Liberdade Para Marylou, de 1986, além de uma versão inédita para "Ricota", que só sairia oficialmente no terceiro LP. Nós Vamos Invadir sua Praia é uma excelente estreia, no melhor momento de toda a discografia do Ultraje!
Apesar do sucesso da estreia, Carlinhos decidiu sair do grupo, mudando-se para Los Angeles, abrindo espaço para a chegada de Sérgio Serra (Serginho, guitarra solo), que participou das gravações do que viria a ser o segundo disco do Ultraje. Embora possua hits do porte de "Eu Gosto de Mulher", "Terceiro", "Pelado" (que foi incluída na trilha sonora da telenovela Brega e Chique, da Rede Globo, constando na abertura da mesma) e a faixa título, é inegável que Sexo!! tem uma qualidade inferior ao ao disco anterior, algo facilmente compreensível devido ao elevado padrão atingido pelo grupo naquele álbum. Se "A Festa" tem um tom meio anos 50, "Prisioneiro" (cantada por Maurício) é praticamente um heavy metal, e "Maximillian Sheldon" e a quase instrumental "Will Robinson e Seus Robots" já apontam um pouco os rumos experimentais do LP seguinte. "Dênis, o Que Você Quer Ser Quando Crescer?" e "Ponto de Ônibus" completam o track list do disco, que também teve um grande reconhecimento por parte do público, chegando ao disco de platina pela venda de 250 mil cópias no ano de 1994.
A formação clássica do Ultraje: Roger, Serginho, Leôspa (ao fundo) e Maurício
Na minha visão, um dos álbuns mais experimentais já lançados sob o rótulo de "rock brasileiro" (leia mais sobre ele aqui, em texto da série sobre os sete pecados do rock nacional), Crescendo (cujo rótulo do vinil possuía uma espiral que causava um efeito de vertigem ao ouvinte) acabou marcando um ponto de virada na carreira da banda. Ainda que "Volta Comigo", "Filha da Puta" (que apareceu nas rádios em uma "versão família" com uma buzina sobre o palavrão do título) e "O Chiclete" (composta ainda na época em que Edgard Scandurra fazia parte do quarteto, assim como "Ricota" e "Ice Bucket") tenham tido boa execução nas rádios (levando o LP a ganhar o certificado de disco de ouro), a faixa título (com um interessante jogo de palavras na letra), "Secretários Eletrônicos", a citada "Ice Bucket", "Maquininha" e "Os Cães Ladram (Mas Não Mordem) e a Caravana Passa" mostravam o grupo trilhando novos caminhos, inclusive utilizando instrumentos "diferentes", como o artefato que dá nome à penúltima. "Laços de Família" e "Querida Mamãe" têm os vocais a cargo de Serginho, e "Crescendo II - A Missão (Santa Inocência)", apesar de lançada em single, é o ponto baixo do disco (e um dos mais baixos da carreira do Ultraje), servindo como um desabafo de Roger contra uma falsa acusação de estupro de uma menor, que teria ocorrido na cidade de Chapecó, em Santa Catarina. Repetitiva, longa e pouco inspirada, nunca me agradou, embora as rádios tenham abertos generosos espaços para sua execução. "Coragem" e "A Constituinte" (pouco mais de trinta segundos onde a letra é a mesma da canção infantil "Atirei o Pau no Gato", em uma demonstração do inteligentíssimo senso de humor dos textos do grupo, algo constante em toda a sua carreira) completam o track list da versão em vinil, que no CD ainda possuía a instrumental "Beer". Não fosse pela "segunda parte" da faixa título, diria que este disco é melhor que o anterior, embora poucos irão concordar comigo!
Apesar de ser um disco de versões para músicas de outros artistas (resgatando a época em que o Ultraje era uma banda cover, no seu início), este talvez seja o último grande álbum lançado pelo quarteto. Registrado em um período turbulento, que viu a saída de Maurício durante as gravações (ele que casou com uma americana, mudou para Miami e formou o Emerald Steel, grupo de heavy metal que lançou um excelente LP em 1990, mas teve curta duração), o disco contou com a presença de Liminha (diretor artístico do registro), Andria Busic (depois do Dr. Sin, ao lado de seu irmão Ivan, que também participa do LP nos vocais de apoio) e do "desistente" Maurício no baixo ao longo de suas dezessete faixas, onde, dentre músicas registradas por grupos como Rolling Stones, Beatles, Roberto e Erasmo Carlos, Eduardo Araújo, uma divertida "El Cumbanchero" e até o tema do seriado "Os Monstros", os maiores destaques são, para mim, as covers para "Nobody But Me", do The Human Beinz, "Runaway", de Del Shannon, "You Wondering Now", do The Specials, "I Found that Essence Rare", do Gang of Four, e "Mauro Bundinha", única de autoria do Ultraje e que, segundo o encarte, teria sido a primeira composição de Roger em parceria com Leôspa. Cabe citar que, no encarte, todas as músicas apareciam com as respectivas cifras sobre suas letras, segundo o grupo, para incentivar as bandas que estavam começando a poderem tocar estas composições, e que o início e o final do LP apresentavam "chiados" como se o disco estivesse arranhado, consistindo em uma "brincadeira, não um defeito", como aponta o encarte.
Andria Busic chegou a ser efetivado no lugar de Maurício, mas logo depois cedeu seu posto para Osvaldo Fagnani. Mas esta formação não conseguiu se estabilizar, e logo Serginho (que anos depois seria até mesmo músico de apoio da Legião Urbana) e Osvaldo partiriam para outros projetos, com Leôspa os seguindo não muito mais tarde. Roger remontou o Ultraje com Flávio Suete na bateria, Serginho Petroni no baixo e Heraldo Paarmann na guitarra, e a nova encarnação da banda estreou com duas faixas inéditas registradas para a coletânea O Mundo Encantado de Ultraje a Rigor, de 1992: a divertida "Vamos Virar Japonês", comparticipação da dupla caipira Tonico e Tinoco, e uma versão de "Rock das Aranha", de Raul Seixas. Mas a gravadora não acreditou no potencial desta formação, e acabou colocando o quarteto em uma espécie de "geladeira", sem planos futuros. Para comprovar o erro do selo, o Ultraje gravou de forma independente a música "Ah, Se Eu Fosse Homem", cuja fita foi distribuída para diversas estações de rádio pela própria banda. A repercussão da mesma acabou levando a WEA a permitir, finalmente, a gravação do quinto registro do grupo!
Ó! [1993]
Gravado em apenas dois meses e com um orçamento limitado (por exigência da WEA), este é o álbum mais irregular da carreira do Ultraje. Quando o grupo acerta o alvo, como nas faixas "Ah, Se Eu Fosse Homem..." (uma música que caberia perfeitamente em um disco como Sexo!!), "O Fusquinha do Itamar" (cujo começo é uma paródia de "O Calhambeque" do rei Roberto Carlos, e depois vira um rock típico dos anos 50, com letra muito divertida baseada na reedição do Fusca durante o governo do Presidente Itamar Franco), "Tuaregue" (instrumental com ritmo meio fusion, bem diferente do estilo do grupo, mas muito interessante), "Oração" (rockabilly com letra bem sacada), "Êta Sonzinho Fuleiro" (muito divertida, com influências de reggae e ritmos caribenhos) e "Fuck The World!" (a melhor do play, tão pesada e rápida que soa quase como uma mistura de hardcore com death metal, com vocais guturais e tudo), tudo corre bem, mas canções como a chata "O Seu Universozinho" (forte candidata a pior música que o Ultraje já gravou), a versão bossa nova de "Inútil" (que pode até ser interessante dentro do senso de humor divertido do grupo, mas, musicalmente, é constrangedora, mesmo com Roger voltando a utilizar a flauta em uma canção, algo que não fazia há tempos), "A Inveja é Uma Merda" (com baterias eletrônicas e ritmo sequenciado em um arranjo equivocado, apesar dos bons solos de guitarra) e "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (Política)" (reggae com letra em clima de protesto contra a gravadora, que estava abandonando o grupo) ajudam a fazer deste um disco nada memorável, cujo fracasso foi auxiliado pelo descaso da gravadora em promovê-lo. "(Acontece Toda Vez Que Eu Fico) Apaixonado" teve clipe e tudo, mas, com uma parte quase brega lá pelo meio e uma produção que não lhe ajuda em nada, não me chama a atenção, mesmo com sua letra divertida com referências a "uma parte da anatomia masculina que os médicos chamam de corpo cavernoso", sendo que o rock não muito atraente de "Teimoso" e uma interessante versão rockabilly para "Oh, Carol", de Neil Sedaka, completam o track list, que, na versão em CD, ainda tem como bônus a faixa "This Boy", com letra em inglês e que parece uma continuação de "A Festa", do segundo disco. O disco vendeu pouco, e a banda acabou dispensada da WEA, que lançou na sequência várias coletâneas para capitalizar em cima do passado do grupo.
Foi apenas em 1999, já com Mingau (ex-Inocentes e 365) no baixo, substituindo Serginho Petroni, que o Ultraje voltaria a lançar um álbum agora pela Deckdisc/Abril Music. 18 Anos sem Tirar! foi gravado em 1996 em Curitiba (Paraná), com a mesma formação de Ó!, e inclui, além de uma versão ao vivo para a tradicional "My Bonnie", quatro canções inéditas de estúdio, sendo o maior destaque "Nada a Declarar", que reclamava do marasmo da juventude da época, e se tornou um clássico no repertório do grupo. Completam a parte de estúdio a rápida "O Monstro de Duas Cabeças" (outra cuja letra trata daquele "corpo cavernoso" citado acima), o ska "Preguiça" e a divertida "Giselda", que parece uma sobra do disco de estreia. A excelente repercussão levou a gravadora a investir em um novo álbum de inéditas para o Ultraje!
Os Invisíveis [2002]
Nove anos depois de Ó!, com o retorno de Sérgio Serra à guitarra solo no lugar de Heraldo e a estreia do baterista Bacalhau (ex-Little Quail and the Mad Birds) no lugar de Flávio, o Ultraje conseguia finalmente lançar um novo álbum de inéditas, com várias músicas mais voltadas à surf music (estilo praticamente inexistente nos primeiros lançamentos do grupo). Faixas como as instrumentais "O Velho Surfista" e "Onda", além de "Domingo Eu Vou pra Praia", grande hit do disco, e "Me Dá um Olá" (com letra que retoma, de certa forma, o tema de "Volta Comigo", do disco Sexo!!, e é precedida pela curta vinheta "Me Dá") mostram bem esta nova tendência do som do quarteto, sendo que o ambiente "praieiro" também se reflete no reggae de "I'm Sorry". Para mim, a melhor faixa é a agitada "Agora é Tarde" (que até hoje não entendo como não é o tema do programa televisivo de mesmo nome do qual a banda faria parte anos depois), seguida de perto por "A Gente é Tudo Igual", um pouco mais agressiva, e que conta com excelentes solos por parte de Serginho (apesar da letra meio bobinha). A letra de "Esta Canção" faz um divertido protesto contra a (falta de) qualidade das músicas da época, e inclui até um solo de violino em seu arranjo, sendo que o track list se completa com a animada "Todo Mundo Gosta de Mim" (de letra divertida e sarcástica, na melhor tradição do quarteto) e o rock menos interessante de "Miss Simpatia". Apesar de superior ao anterior, este é, até aqui, o último álbum completo de estúdio do grupo, que, no entanto, nunca saiu de cena, mantendo-se constantemente na ativa.
Em 2005, o grupo gravou o seu Acústico MTV, que também saiu em DVD (o primeiro da carreira da banda). Para este show, diversos músicos apareceram como convidados, dentre eles o saudoso Manito (ex-Incríveis e Som Nosso de Cada Dia) nos sopros, Osvaldinho Fagnani nos teclados e Ricardinho nos violões e vocais. Apesar do sucesso do álbum, Sérgio Serra deixou novamente o Ultraje em 2009, mesmo ano em que o grupo lançou o EP digital Música Esquisita a Troco de Nada! (com três faixas inéditas), que teve a participação de Edgard Scandurra nas guitarras solos, e está disponível para download gratuito no myspace da banda. Ainda neste ano, Marcos Kleine (ex-Exhort) é oficializado como o novo guitarrista solo do grupo, que segue em sua intensa rotina de apresentações. Em 2011, foi lançada a biografia "Nós Vamos Invadir sua Praia", pela Editora Belas Letras, e no mesmo ano o grupo se tornou banda fixa do programa "Agora é Tarde", exibido pela Rede Bandeirantes e apresentado pelo humorista Danilo Gentili, onde permanece até hoje, embora a agenda de shows não tenha diminuído (sendo que os mesmos dificilmente acontecem fora da região Sudeste do país, devido ao medo de avião de Roger). Ainda em 2013, houve o lançamento (pela Deckdisc) de O Embate do Século: Ultraje a Rigor vs. Raimundos, onde as duas bandas gravaram versões de músicas uma da outra, com um bom resultado nas versões do Ultraje, mas onde os Raimundos saíram-se melhor que os paulistas, até porque o ritmo mais agressivo dos brasilienses não se encaixa muito bem no estilo do quarteto de São Paulo.
A história do Ultraje ainda está longe de acabar, e nada impede que o grupo apareça com novos lançamentos em algum momento. Por enquanto, resta-nos curtir sua qualificada discografia, e apreciá-los na televisão nas noites durante a semana, além de torcer para que Roger enfrente o seu medo de voar e leve o quarteto a áreas mais "remotas" de um Brasil que deu ao grupo o status de ser um dos maiores sucessos do rock nacional em todos os tempos! Muito merecidamente, diga-se de passagem!
A formação que gravaria Ó!: Heraldo, Serginho Petroni, Flávio Suete e Roger
Andria Busic chegou a ser efetivado no lugar de Maurício, mas logo depois cedeu seu posto para Osvaldo Fagnani. Mas esta formação não conseguiu se estabilizar, e logo Serginho (que anos depois seria até mesmo músico de apoio da Legião Urbana) e Osvaldo partiriam para outros projetos, com Leôspa os seguindo não muito mais tarde. Roger remontou o Ultraje com Flávio Suete na bateria, Serginho Petroni no baixo e Heraldo Paarmann na guitarra, e a nova encarnação da banda estreou com duas faixas inéditas registradas para a coletânea O Mundo Encantado de Ultraje a Rigor, de 1992: a divertida "Vamos Virar Japonês", comparticipação da dupla caipira Tonico e Tinoco, e uma versão de "Rock das Aranha", de Raul Seixas. Mas a gravadora não acreditou no potencial desta formação, e acabou colocando o quarteto em uma espécie de "geladeira", sem planos futuros. Para comprovar o erro do selo, o Ultraje gravou de forma independente a música "Ah, Se Eu Fosse Homem", cuja fita foi distribuída para diversas estações de rádio pela própria banda. A repercussão da mesma acabou levando a WEA a permitir, finalmente, a gravação do quinto registro do grupo!
Ó! [1993]
Gravado em apenas dois meses e com um orçamento limitado (por exigência da WEA), este é o álbum mais irregular da carreira do Ultraje. Quando o grupo acerta o alvo, como nas faixas "Ah, Se Eu Fosse Homem..." (uma música que caberia perfeitamente em um disco como Sexo!!), "O Fusquinha do Itamar" (cujo começo é uma paródia de "O Calhambeque" do rei Roberto Carlos, e depois vira um rock típico dos anos 50, com letra muito divertida baseada na reedição do Fusca durante o governo do Presidente Itamar Franco), "Tuaregue" (instrumental com ritmo meio fusion, bem diferente do estilo do grupo, mas muito interessante), "Oração" (rockabilly com letra bem sacada), "Êta Sonzinho Fuleiro" (muito divertida, com influências de reggae e ritmos caribenhos) e "Fuck The World!" (a melhor do play, tão pesada e rápida que soa quase como uma mistura de hardcore com death metal, com vocais guturais e tudo), tudo corre bem, mas canções como a chata "O Seu Universozinho" (forte candidata a pior música que o Ultraje já gravou), a versão bossa nova de "Inútil" (que pode até ser interessante dentro do senso de humor divertido do grupo, mas, musicalmente, é constrangedora, mesmo com Roger voltando a utilizar a flauta em uma canção, algo que não fazia há tempos), "A Inveja é Uma Merda" (com baterias eletrônicas e ritmo sequenciado em um arranjo equivocado, apesar dos bons solos de guitarra) e "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (Política)" (reggae com letra em clima de protesto contra a gravadora, que estava abandonando o grupo) ajudam a fazer deste um disco nada memorável, cujo fracasso foi auxiliado pelo descaso da gravadora em promovê-lo. "(Acontece Toda Vez Que Eu Fico) Apaixonado" teve clipe e tudo, mas, com uma parte quase brega lá pelo meio e uma produção que não lhe ajuda em nada, não me chama a atenção, mesmo com sua letra divertida com referências a "uma parte da anatomia masculina que os médicos chamam de corpo cavernoso", sendo que o rock não muito atraente de "Teimoso" e uma interessante versão rockabilly para "Oh, Carol", de Neil Sedaka, completam o track list, que, na versão em CD, ainda tem como bônus a faixa "This Boy", com letra em inglês e que parece uma continuação de "A Festa", do segundo disco. O disco vendeu pouco, e a banda acabou dispensada da WEA, que lançou na sequência várias coletâneas para capitalizar em cima do passado do grupo.
Formação de 18 Anos sem Tirar!: Mingau, Flávio, Roger e Heraldo
Foi apenas em 1999, já com Mingau (ex-Inocentes e 365) no baixo, substituindo Serginho Petroni, que o Ultraje voltaria a lançar um álbum agora pela Deckdisc/Abril Music. 18 Anos sem Tirar! foi gravado em 1996 em Curitiba (Paraná), com a mesma formação de Ó!, e inclui, além de uma versão ao vivo para a tradicional "My Bonnie", quatro canções inéditas de estúdio, sendo o maior destaque "Nada a Declarar", que reclamava do marasmo da juventude da época, e se tornou um clássico no repertório do grupo. Completam a parte de estúdio a rápida "O Monstro de Duas Cabeças" (outra cuja letra trata daquele "corpo cavernoso" citado acima), o ska "Preguiça" e a divertida "Giselda", que parece uma sobra do disco de estreia. A excelente repercussão levou a gravadora a investir em um novo álbum de inéditas para o Ultraje!
Os Invisíveis [2002]
Nove anos depois de Ó!, com o retorno de Sérgio Serra à guitarra solo no lugar de Heraldo e a estreia do baterista Bacalhau (ex-Little Quail and the Mad Birds) no lugar de Flávio, o Ultraje conseguia finalmente lançar um novo álbum de inéditas, com várias músicas mais voltadas à surf music (estilo praticamente inexistente nos primeiros lançamentos do grupo). Faixas como as instrumentais "O Velho Surfista" e "Onda", além de "Domingo Eu Vou pra Praia", grande hit do disco, e "Me Dá um Olá" (com letra que retoma, de certa forma, o tema de "Volta Comigo", do disco Sexo!!, e é precedida pela curta vinheta "Me Dá") mostram bem esta nova tendência do som do quarteto, sendo que o ambiente "praieiro" também se reflete no reggae de "I'm Sorry". Para mim, a melhor faixa é a agitada "Agora é Tarde" (que até hoje não entendo como não é o tema do programa televisivo de mesmo nome do qual a banda faria parte anos depois), seguida de perto por "A Gente é Tudo Igual", um pouco mais agressiva, e que conta com excelentes solos por parte de Serginho (apesar da letra meio bobinha). A letra de "Esta Canção" faz um divertido protesto contra a (falta de) qualidade das músicas da época, e inclui até um solo de violino em seu arranjo, sendo que o track list se completa com a animada "Todo Mundo Gosta de Mim" (de letra divertida e sarcástica, na melhor tradição do quarteto) e o rock menos interessante de "Miss Simpatia". Apesar de superior ao anterior, este é, até aqui, o último álbum completo de estúdio do grupo, que, no entanto, nunca saiu de cena, mantendo-se constantemente na ativa.
Acústico MTV: Mingau, Bacalhau, Serginho e Roger
Em 2005, o grupo gravou o seu Acústico MTV, que também saiu em DVD (o primeiro da carreira da banda). Para este show, diversos músicos apareceram como convidados, dentre eles o saudoso Manito (ex-Incríveis e Som Nosso de Cada Dia) nos sopros, Osvaldinho Fagnani nos teclados e Ricardinho nos violões e vocais. Apesar do sucesso do álbum, Sérgio Serra deixou novamente o Ultraje em 2009, mesmo ano em que o grupo lançou o EP digital Música Esquisita a Troco de Nada! (com três faixas inéditas), que teve a participação de Edgard Scandurra nas guitarras solos, e está disponível para download gratuito no myspace da banda. Ainda neste ano, Marcos Kleine (ex-Exhort) é oficializado como o novo guitarrista solo do grupo, que segue em sua intensa rotina de apresentações. Em 2011, foi lançada a biografia "Nós Vamos Invadir sua Praia", pela Editora Belas Letras, e no mesmo ano o grupo se tornou banda fixa do programa "Agora é Tarde", exibido pela Rede Bandeirantes e apresentado pelo humorista Danilo Gentili, onde permanece até hoje, embora a agenda de shows não tenha diminuído (sendo que os mesmos dificilmente acontecem fora da região Sudeste do país, devido ao medo de avião de Roger). Ainda em 2013, houve o lançamento (pela Deckdisc) de O Embate do Século: Ultraje a Rigor vs. Raimundos, onde as duas bandas gravaram versões de músicas uma da outra, com um bom resultado nas versões do Ultraje, mas onde os Raimundos saíram-se melhor que os paulistas, até porque o ritmo mais agressivo dos brasilienses não se encaixa muito bem no estilo do quarteto de São Paulo.
A formação atual: Roger, Mingau, Bacalhau e Marcos Kleine
A história do Ultraje ainda está longe de acabar, e nada impede que o grupo apareça com novos lançamentos em algum momento. Por enquanto, resta-nos curtir sua qualificada discografia, e apreciá-los na televisão nas noites durante a semana, além de torcer para que Roger enfrente o seu medo de voar e leve o quarteto a áreas mais "remotas" de um Brasil que deu ao grupo o status de ser um dos maiores sucessos do rock nacional em todos os tempos! Muito merecidamente, diga-se de passagem!
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