terça-feira, 6 de agosto de 2013

Review Exclusivo: Angra (Porto Alegre, 01 de agosto de 2013)


Por Micael Machado

Em maio de 2012, foi confirmada a saída do vocalista Edu Falaschi da banda Angra, algo que já vinha sendo cogitado por algumas pessoas desde a participação do grupo no Rock In Rio, no mês de setembro do ano anterior. Sem anunciar um substituto oficial, o grupo convidou o italiano Fabio Lione (Rhapsody of Fire, Vision Divine, Labyrinth) para uma participação especial no cruzeiro 70000 Tons Of Metal no começo deste ano, e para outra no festival Live 'N' Louder em abril. A partir daí, o quinteto anunciou uma turnê comemorativa dos vinte anos de Angel's Cry, álbum de estreia dos paulistas, da qual a apresentação na capital gaúcha na noite desta quinta feira (com produção das empresas Abstratti e Urânio, a quem agradeço a dedicação e atenção) foi a segunda parada, para um bom público reunido no tradicional Bar Opinião, um dos melhores locais da cidade para eventos deste tipo.

Sastras, uma das bandas de abertura

Antes da apresentação principal, tivemos a presença dos grupos gaúchos Sastras e Datavenia, sendo o primeiro um quinteto da cidade de Butiá, interior do estado, que apresentou composições próprias consistindo em um metal pesado com boas doses de melodia, com letras em português tratando de lendas e "causos" da história do Rio Grande do Sul, as quais infelizmente ficaram um pouco prejudicadas pelo ajuste do som, que não permitia que as mesmas fossem compreendidas claramente em meio ao volume dos instrumentos, dentre os quais a guitarra de Eduardo Martinez, do Hangar, que participou como convidado ao longo de toda a apresentação. Já o segundo é um quarteto de Frederico Westphalen, cidade ao norte do RS, que apresentou composições próprias de um thrash pesado com toques de death metal, além de covers para músicas de grupos como Metallica, Pantera (seguramente uma das maiores influências dos rapazes), Black Label Society e Megadeth, cuja "A Tout Le Monde" levantou a galera que já estava presente no local. As duas bandas demonstraram bastante competência, podendo ser indicadas como boas promessas do novo metal gaúcho.

O grupo Datavenia na abertura para o Angra

Com pouco mais de meia hora de atraso em relação ao horário indicado, uma versão para o hino britânico "Jerusalem" (que já foi gravado por vários artistas, como por exemplo o cantor Bruce Dickinson) começou a rolar no PA, para logo a atração principal entrar em cena detonando com "Angels Cry" e "Nothing to Say", duas composições consagradas pelo público. Em épocas de informação instantânea na internet, aqueles que haviam tido a oportunidade de assistir aos vídeos gravados no show do Rio de Janeiro poucos dias antes não se surpreenderam com a alta qualidade da apresentação de Fabio, mas, para muitos, era nítida a surpresa com a performance do italiano. Mas, sobre ele, falaremos mais adiante.

Angra no palco do Opinião

Entre as duas, Fabio disse que iria falar "um pouquito de espanhol, um pouco de português, inglês e italiano", línguas que misturou ao longo de toda a noite, seja para apresentar as canções, seja para elogiar ao público e à própria banda, a qual considerou como uma das maiores do mundo, além de uma das mais importantes da América Latina, algo no qual está coberto de razão. O show continuou mesclando músicas já consagradas (como "Lisbon", "Millenium Sun" - onde o guitarrista Kiko Loureiro executou algumas linhas de teclado, fato que iria se repetir em "Winds of Destination", sendo que, nas demais composições, o mesmo foi executado em playback, algo que tirou um pouco a espontaneidade da apresentação, mas não chegou a atrapalhar a mesma - ou "Rage of Waters", que contou com Rafael Bittencourt nos vocais principais - Fabio disse que não conhece bem o álbum Aqua, no qual a faixa está presente, e que por isso o guitarrista era quem deveria cantá-la, tarefa na qual até se saiu bem, embora seu alcance seja um tanto limitado) com gratas surpresas, como "Time" (há tempos ausente do set list, e que seguramente voltou por causa das comemorações ao álbum de estreia), "Gentle Change" ou "Waiting Silence".

Após "Wings of Reality", o palco foi preparado para a parte acústica do show, tendo apenas Rafael e Kiko em cena, além de uma menina que saiu da pista para ficar sentada entre os dois. Bittencourt explicou que as músicas da banda normalmente são compostas primeiro ao violão, e que eles gostariam de mostrar alguns desses arranjos para o público. Como na apresentação feita na capital carioca citada antes, tocaram então "Reaching Horizons" (com Rafael nos vocais), "Late Redemption" (com os vocais divididos entre a dupla) e "Make Believe", com Kiko Loureiro assumindo o microfone. O único acréscimo em relação ao primeiro show da turnê foi a presença de "Queen Of The Night" encerrando esta parte, sendo que, segundo Bittencourt (que assumiu os vocais também nesta), a canção foi ensaiada apenas umas poucas vezes, o que não foi impeditivo para que a versão soasse perfeita. Além disso, os dois guitarristas aproveitaram esta parte para agradecer a todos os músicos que já passaram pelo Angra, citando-os nominalmente, e dizendo que "todos agregaram seus valores à banda, e que ter trabalhado com eles lhes dá muito orgulho", em uma atitude bastante louvável.

Momento acústico do show

De volta ao palco, a mais que competente cozinha formada pelo baterista Ricardo Confessori e pelo baixista Felipe Andreoli (que foram precisos mas até um pouco discretos ao longo da noite), além de Lione, executou junto à dupla das guitarras a também surpreendente "No Pain for the Dead", para encerrar a apresentação principal com "Evil Warning", faixa também presente na estreia, e outra "novidade" no set list, que, sabiamente, "passeou" por todos os álbuns da banda. Mas claro que o público não os deixaria partir tão facilmente, então o quinteto retornou para detonar de vez com o que restara das forças dos presentes (que cantaram e agitaram muito em praticamente todas as músicas apresentadas) com as clássicas "Nova Era" (precedida pela intro "In Excelsis"), "Rebirth" e "Carry On" (que teve os vocais divididos entre Lione e Bittencourt), encerrando de vez a apresentação e mandando todos ali de volta para casa ostentando um enorme sorriso.

Se a competência de todos os instrumentistas é mais que conhecida, ficou a comprovação do talento do italiano Fabio Lione, para mim e grande estrela da noite. Com enorme carisma, simpatia e educação, o cantor se encaixou perfeitamente ao grupo paulista, executando com facilidade aparentemente extrema as linhas vocais das músicas registradas em estúdio por Andre Matos (cujos tons originais sempre foram, reconhecidamente, um incômodo para Edu Falaschi), além de superar por vezes os registros do segundo vocalista do quinteto, como na introdução de "Silence and Distance", onde demonstrou um pouco de seu enorme talento sozinho no palco, apenas com o playback do piano ao fundo. Se Rafael e Kiko tiveram algumas oportunidades de tomarem conta do microfone (deixando claro que, apesar de não fazerem feio, não tem a habilidade suficiente para serem os vocalistas principais da banda, algo que talvez nem desejem), Fabio dominou completamente o palco, com uma performance digna de um grande frontman, e mostrando que, se fosse efetivado no posto, seria um ganho enorme para o Angra. Vamos aguardar o que o destino trará para a grupo, sendo que Lione deixou um pouco de esperança em todos os presentes, ao anunciar a certa altura que "na próxima volta falo mais português", deixando aberta a possibilidade de uma nova turnê com o grupo. Que assim seja.

Momento do show

Por enquanto, assista a um dos demais shows desta turnê (que segue agora com datas no restante do Brasil e na América Latina), pois, com certeza, não irá se arrepender.

"So carry on, it's time to forget the remains from the past, to carry on" 

Set List

1. Intro
2. Angels Cry
3. Nothing to Say
4. Waiting Silence 
5. Time 
6. Lisbon 
7. Millennium Sun 
8. Winds of Destination
9. Gentle Change 
10. The Rage of the Waters 
11. Silence and Distance
12. Wings of Reality 
13. Reaching Horizons (acoustic)
14. Late Redemption (acoustic)
15. Make Believe (acoustic)
16. Queen Of The Night (acoustic)
17. No Pain for the Dead 
18. Evil Warning 

Encore:

19. In Excelsis 
20. Nova Era 
21. Rebirth 
22. Carry On 

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