domingo, 25 de agosto de 2013

Deep Purple - Now What?! [2013]



Por Micael Machado

Em um ano onde todos estão falando do retorno aos estúdios do Black Sabbath, outro membro da Santíssima Trindade do rock pesado também resolveu lançar material novo na praça. Trata-se do Deep Purple, que coloca no mercado seu décimo-nono álbum de estúdio, intitulado Now What?!. A própria existência do disco é uma grande surpresa, pois a banda havia anunciado várias vezes durante a quase interminável turnê de divulgação para Rapture of the Deep (o mais recente álbum de estúdio antes deste, lançado em 2005) que não tinha intenção nem interesse de lançar um novo produto neste formato. Felizmente, os músicos mudaram de ideia, e nos apresentam um dos melhores trabalhos registrados desde a entrada do guitarrista Steve Morse no line up do jurássico agrupamento britânico.


Se o baterista Ian Paice e o baixista Roger Glover (que desta vez abriu mão de seu papel de produtor, tarefa que ficou a cargo do reconhecido Bob Ezrin) continuam com a musicalidade e o talento de sempre, Morse aparece bem mais contido, com menos evidências nos solos (que viram os teclados de Don Airey saltar para primeiro plano) e algumas poucas linhas realmente marcantes. Já Ian Gillan, que muitos acusam de não conseguir mais cantar as músicas do Purple ao vivo, pelo menos em estúdio encontrou um registro adequado à sua combalida voz, e apresenta um trabalho digno e interessante, embora longe daquilo que ele fazia nos anos setenta (algo que, convenhamos, seria bastante difícil para um senhor de 68 anos). Conhecendo os limites de suas cordas vocais, Gillan não faz feio em nenhum momento, e consegue até mesmo abrir mão dos registros "dobrados" que marcaram alguns discos no passado, soando desta forma bastante natural e agradável.


Steve Morse, Ian Gillan, Ian Paice, Don Airey e Roger Glover, em foto presente no encarte

Mas, sem dúvidas, o grande destaque deste novo álbum é o tecladista Don Airey, que parece ter finalmente encontrado seu lugar na banda em seu terceiro registro com ela. Com linhas marcantes e solos excepcionais, como os da suingada "A Simple Song" (cujo começo engana ao parecer uma simples balada), o da agitada "Hell to Pay" (lembrando os executados pelo saudoso Jon Lord nos discos dos anos setenta), música presente no primeiro single do álbum ao lado da balada emocional "All the Time in the World", que se equipara a muitas outras da fase Morse, ou mesmo o da quase enfadonha "Blood from a Stone", balada com um toque jazzy onde Morse também executa um belo solo. Além disso, as dobras guitarra/teclado voltaram a aparecer, mais notadamente na balançante "Bodyline", de letra sacana e que também traz de volta a fórmula de ter um solo de um dos instrumentos colado ao solo do outro, algo que também ocorre em "Weirdistan", onde o de Airey é um dos mais estranhos que já o vi executar.



A balançada "Vincent Price" (que traz alguns efeitos na voz de Gillan, assim como a citada "Weirdistan") apresenta linhas mais "macabras" de teclado, além da presença destacada da steel guitar do músico convidado Mike Johnson (que também aparece em "All The Time In The World", sendo que outros três músicos fazem participações em outras faixas, além dos estudantes da Nimbus School of Recording Arts, que fazem o coral em "Hell to Pay"). Com toda a justiça, "Vincent Price" foi escolhida como segundo single do álbum, cujo lado B apresenta a inédita "First Sign of Madness", sobra das sessões do álbum anterior. Mas o grande destaque de Now What?! é "Uncommon Man", faixa com tons épicos inspirada parcialmente em "Fanfare for the Common Man", obra talvez mais conhecida pela versão gravada pelo grupo Emerson, Lake and Palmer, e que apresenta mais uma vez um trabalho excepcional da parte de Airey.


Cena extraída do DVD da edição especial

O track list é completado pelas medianas "Out of Hand" (com uma bela intro a cargo de Airey) e "Après Vous" (bastante agitada, mas que não sai do lugar comum), sendo que a edição dupla especial ainda apresenta a faixa bônus "It'll Be Me" (um cover para a canção escrita pelo compositor americano Jack Clement, e lançada pela primeira vez em um compacto de 1957 de Jerry Lee Lewis, o próprio "Killer", lenda do rock mundial), além de um DVD com pouco mais de vinte minutos de uma interessante entrevista com o grupo, falando sobre o processo de composição e gravação do álbum, além de outros aspectos da carreira, junto a uma versão alternativa para "All the Time In The World" (que nem soa tão diferente assim da oficial) e duas faixas gravadas ao vivo em local e data não especificados no encarte, sendo estas uma versão de "Perfect Strangers" que não se sobressai ante outras live versions da música lançadas antes, e outra para "Rapture of the Deep", a qual soa muito bem, possivelmente por não ser uma canção à qual estejamos ainda acostumados a encontrar em lançamentos oficiais.



Now What?! mantém a trajetória ascendente desta formação, iniciada no álbum Bananas, de 2003, e que vem apresentando um registro melhor que o outro desde então. Da fase com Steve Morse, só não consegue superar o imbatível Purpendicular, mas este contava com a presença do insuperável mestre Jon Lord, a quem, aliás, este disco novo é dedicado. Se Lord deixa cada vez mais saudades a nós, fãs de seu trabalho, o Púrpura Profundo mostra que está vivo e bem, com muita lenha ainda para queimar, e disposto a não parar tão cedo! Que assim seja!


Contracapa da edição dupla

"Time does not matter. Time is all we have!"


Track List:

1. A Simple Song
2. Weirdistan
3. Out of Hand
4. Hell to Pay
5. Bodyline
6. Above and Beyond
7. Blood from a Stone
8. Uncommon Man
9. Après Vous
10. All the Time in the World
11. Vincent Price

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