Dois discos gravados há mais de trinta anos foram o suficiente para escrever eternamente o nome do inglês Paul Di'Anno na história do Heavy Metal. Responsável pelas vozes nos primeiros discos do Iron Maiden (a estreia auto-intitulada de 1980, e Killers, de 1981), o cantou deixou a banda em 1981 para seguir uma turbulenta carreira sempre ligada ao estilo que lhe consagrou, seja com os reconhecidos grupos Battlezone e Killers, seja em outros projetos de menor expressão e até com alguns discos que levam apenas seu nome.
Sofrendo com alguns problemas de saúde já há algum tempo (como relatado aqui mesmo no site em resenhas de apresentações em 2007 e 2011), o vocalista voltou ao Brasil para sua despedida dos palcos com a excursão The Last Tour, em doze apresentações pelo país tendo como apoio os gaúchos da Scelerata. Na sexta feira, 19 de abril, foi a vez de Porto Alegre dar o seu adeus ao lendário "original Iron Man", como ele já foi chamado algumas vezes!
Divulgando seu mais recente lançamento, o disco The Sniper (eleito pelos leitores da revista Roadie Crew como o segundo melhor álbum nacional de 2012), a Scelerata entrou no palco pouco antes das 24h para fazer o show de abertura, o qual seria registrado para seu primeiro DVD. Apesar das composições do grupo não serem muito do meu agrado, é inegável o talento dos músicos, especialmente o baterista Francis Cassol e os guitarristas Magnus Wichmann e Vinicius Guazelli, este, recém integrado ao line up, e que já demonstrou ser um dos melhores guitarristas do metal gaúcho da atualidade. O vocalista Fabio Juan parece evoluir ainda mais a cada show, e Gustavo Strapazon tem uma presença de palco marcante, com muita movimentação e entusiasmo, além de tocar muito em seu baixo. Os parcos quarenta minutos em que estiveram em cena contagiaram a galera presente em bom número no bar Opinião, especialmente quando interpretaram uma fidelíssima versão para "Master of Puppets", do Metallica, e foram um belo aquecimento enquanto esperávamos a atração principal da noite, cujo show também seria registrado para um DVD!
Quase uma hora de espera e as luzes se apagaram para dar início à intro instrumental escolhida para dar início ao show de Paul Di'Anno. Em pé ao fundo do palco, e cercado pelos instrumentistas da Scelerata, Paul começou sua apresentação com "Sanctuary", música cuja versão de estúdio originalmente consta apenas em singles lançados por sua ex-banda, mas que era conhecida por todos os presentes, que nessa hora já superlotavam todas as dependências do bar. Sem dar muito tempo ao público para respirar, o vocalista agradeceu ao pessoal pela presença, soltou o primeiro de muitos "are you ready?" da noite, e emendou "Purgatory", do segundo disco da Donzela de Ferro, e minha favorita naquele lançamento. Esquecida por seus intérpretes originais ao longo dos anos, nunca pensei em escutar este clássico ao vivo, ainda mais na presença do cantor original da mesma (eu ia dizer "da voz original", mas esta já foi para o espaço há muito tempo). Inesquecível, com certeza! Paul disse algumas vezes nesse início de apresentação que, apesar de já ter tocado em muitos lugares, estava bastante nervoso por tocar na cidade natal da Scelerata para um público tão grande, e declarou em certo ponto que não era nenhuma menininha chorona, mas que naquela noite ele gostaria de correr para sua mamãe, em uma afirmação que soou bastante engraçada no momento!
A turnê de 2011 citada acima era anunciada como a última em que Di'Anno cantaria músicas do Iron Maiden, mas é quase impossível pensar em um show do cantor sem os clássicos de sua ex-banda. Ciente disso, Paul parece ter repensado sua decisão, e boa parte dos dois discos de que participou seria interpretada ao longo da noite, para delírio de todos os fãs que ali estiveram! "Wratchild" e "Prowler" deram sequência ao massacre sonoro, seguidas da primeira música da carreira subsequente do inglês, a pesada "Marshall Lockjaw", de sua época com a banda Killers.
Após esta, Di'Anno se dirigiu aos fãs explicando que aquela seria sua turnê de despedida, devido ao seu joelho estar "totally fucked", necessitando de uma operação (em certo ponto ele chegou a falar em amputação, algo que, espero sinceramente, seja apenas uma brincadeira). A partir daí, seria visível o desconforto do cantor com a dor em seu joelho, à qual ele se referiu diversas vezes antes do final do show, dizendo não poder sequer caminhar naquela noite ("no samba for me tonight", declarou ele a certo ponto), tendo de ficar parado no fundo do palco e por vezes cantar sentado no praticável da bateria ("o que vai ficar ótimo no DVD", como citou). "Não posso andar, mas ainda posso cantar", disse Paul em outro momento, e era visível sua frustração por ter de ficar restrito ao fundo do palco. "Ás vezes eu tenho de me sentar, mas isso não afeta minha voz", falou mais no final do show, e, podem estar certos, a falta de uma "agitação" maior por parte do cantor não foi nenhum problema nesta noite!
Outra música "esquecida" pelo Iron Maiden, a marcante "Murders in the Rue Morgue", foi seguida por "The Beast Arises", durante a qual o microfone de Di'Anno falhou pela primeira vez (ele também deixaria o cantor na mão durante a instrumental "Gengis Khan", em um momento onde ele tentou puxar um "ôôô", sendo traído pelo instrumento, e fazendo com que ele soltasse um sonoro "filha da puta" em alto e bom português mesmo). Apesar de rapidamente substituído, o fato deixou Paul bastante irritado ("a gente tenta fazer um DVD legal e a porra do microfone pifa! O que se pode fazer?"), mas não impediu que a noite continuasse com outra música de sua carreira pós-Iron Maiden, "Children of Madness". É interessante citar a competência dos músicos da Scelerata na execução de todas as canções, que, apesar de clássicas, exigem bem menos técnica do que o material autoral dos gaúchos, sendo que o destaque neste set ficou com o guitarrista Magnus, responsável pela maior parte dos solos durante a apresentação da atração principal, e, como sempre, esbanjando competência.
A maravilhosa "Remember Tomorrow" foi dedicada ao recém falecido Clive Burr, baterista do Iron na época em que Paul estava à frente da banda (e no primeiro disco sem ele), a quem o cantor chamou de "meu irmão" e "o melhor baterista do mundo". Já a canção seguinte foi anunciada como uma música "sobre uma mulher que lhe ensina tudo o que você precisa saber sobre sexo, Charlotte, a putana", em uma engraçada tentativa de Paul se comunicar em português. "Killers" veio em seguida, e "Phantom Of The Opera" encerrou a primeira parte da apresentação, com Di'Anno deixando o palco demonstrando enormes dificuldades para caminhar, apoiado em uma bengala e nas costas de um prestativo roadie, dando passos curtinhos em uma situação muito triste, onde realmente senti pena desta verdadeira lenda viva, que declarou a certa altura do show: "eu dei tudo o que tinha ao heavy metal, e, por tocar tanto e com tanta intensidade, fodi minha perna, e agora não poderei mais me apresentar, algo que sempre adorei. Nunca foi pelo dinheiro que toquei, mas sim pela paixão pela música, algo que não poderei mais fazer". Triste, com toda a certeza!
O problema no joelho deve ter sido a razão para a exclusão de "Iron Maiden" do set (assim como também foram limadas "A Song For You" e "Faith Healer", que chegaram a ser apresentadas em outros shows desta turnê), pois a Scelerata voltou ao palco para interpretar a instrumental "Transylvania". Lá pelo meio dela, Paul retornou ao seu lugar á frente da bateria, novamente apoiado na bengala e no roadie, para apresentar os músicos, agradecer aos fãs uma última vez, explicar denovo que seu joelho estava "finito", e detonar "Running Free", não sem antes se despedir de seus fãs e renegar os gritos de "Paul, Paul, Paul" que a plateia lhe dirigia (segundo ele, era muito bonito, mas esse tipo de coisa deveria ser guardada para verdadeiros rock stars, não para ele). A canção foi dedicada aos "motoqueiros Hells Angels" de Porto Alegre e do mundo, e até o responsável pela produtora Abstratti (que organizou o espetáculo, e a quem agradeço pela atenção dedicada ao pessoal da Consultoria do Rock, tanto no cadastramento quanto no acesso ao local) subiu ao palco para fazer os backing vocals deste clássico! Era o final de uma apresentação memorável, que, com certeza, ficará na lembrança de todos os presentes ali por muito tempo! Após o show, a festa continuou até de manhã, com a apresentação de bandas covers de Ramones, Led Zeppelin e Foo Fighters, mas, como eu tinha de acordar cedo na manhã seguinte, para mim ela terminou quando Paul saiu do palco!
Fica a torcida para que Di'Anno se recupere e consiga um dia voltar aos palcos, visto que esta não é a primeira vez que ele anuncia aposentadoria. Mesmo paradão, demonstrando sentir muita dor a cada final de música, com a voz longe do que era nos áureos tempos e sem poder agitar muito, o carisma e a presença de palco de alguém como ele não podem ficar ausentes do showbizz atual, dominado por tantos artistas criados em laboratório e mais interessados na fama e no dinheiro do que em seus fãs. Podem estar certos de que este não é o caso de Paul Di'Anno, um artista marcante que, se tiver de se ausentar permanentemente dos holofotes, com certeza fará muita falta! Quem pode assisti-lo ao vivo pelo menos uma vez, há de concordar comigo!
"I'm running free, I'm running free"...
Set List:
1. Sanctuary
2. Purgatory
3. Wrathchild
4. Prowler
5. Marshall Lockjaw
6. Murders in the Rue Morgue
7. The Beast Arises
8. Children of Madness
9. Genghis Khan
10. Remember Tomorrow
11. Charlotte the Harlot
12. Killers
13. Phantom of the Opera
Encore
14.Transylvania
15. Running Free
A turnê de 2011 citada acima era anunciada como a última em que Di'Anno cantaria músicas do Iron Maiden, mas é quase impossível pensar em um show do cantor sem os clássicos de sua ex-banda. Ciente disso, Paul parece ter repensado sua decisão, e boa parte dos dois discos de que participou seria interpretada ao longo da noite, para delírio de todos os fãs que ali estiveram! "Wratchild" e "Prowler" deram sequência ao massacre sonoro, seguidas da primeira música da carreira subsequente do inglês, a pesada "Marshall Lockjaw", de sua época com a banda Killers.
Após esta, Di'Anno se dirigiu aos fãs explicando que aquela seria sua turnê de despedida, devido ao seu joelho estar "totally fucked", necessitando de uma operação (em certo ponto ele chegou a falar em amputação, algo que, espero sinceramente, seja apenas uma brincadeira). A partir daí, seria visível o desconforto do cantor com a dor em seu joelho, à qual ele se referiu diversas vezes antes do final do show, dizendo não poder sequer caminhar naquela noite ("no samba for me tonight", declarou ele a certo ponto), tendo de ficar parado no fundo do palco e por vezes cantar sentado no praticável da bateria ("o que vai ficar ótimo no DVD", como citou). "Não posso andar, mas ainda posso cantar", disse Paul em outro momento, e era visível sua frustração por ter de ficar restrito ao fundo do palco. "Ás vezes eu tenho de me sentar, mas isso não afeta minha voz", falou mais no final do show, e, podem estar certos, a falta de uma "agitação" maior por parte do cantor não foi nenhum problema nesta noite!
Paul e Scelerata em Porto Alegre
Outra música "esquecida" pelo Iron Maiden, a marcante "Murders in the Rue Morgue", foi seguida por "The Beast Arises", durante a qual o microfone de Di'Anno falhou pela primeira vez (ele também deixaria o cantor na mão durante a instrumental "Gengis Khan", em um momento onde ele tentou puxar um "ôôô", sendo traído pelo instrumento, e fazendo com que ele soltasse um sonoro "filha da puta" em alto e bom português mesmo). Apesar de rapidamente substituído, o fato deixou Paul bastante irritado ("a gente tenta fazer um DVD legal e a porra do microfone pifa! O que se pode fazer?"), mas não impediu que a noite continuasse com outra música de sua carreira pós-Iron Maiden, "Children of Madness". É interessante citar a competência dos músicos da Scelerata na execução de todas as canções, que, apesar de clássicas, exigem bem menos técnica do que o material autoral dos gaúchos, sendo que o destaque neste set ficou com o guitarrista Magnus, responsável pela maior parte dos solos durante a apresentação da atração principal, e, como sempre, esbanjando competência.
A maravilhosa "Remember Tomorrow" foi dedicada ao recém falecido Clive Burr, baterista do Iron na época em que Paul estava à frente da banda (e no primeiro disco sem ele), a quem o cantor chamou de "meu irmão" e "o melhor baterista do mundo". Já a canção seguinte foi anunciada como uma música "sobre uma mulher que lhe ensina tudo o que você precisa saber sobre sexo, Charlotte, a putana", em uma engraçada tentativa de Paul se comunicar em português. "Killers" veio em seguida, e "Phantom Of The Opera" encerrou a primeira parte da apresentação, com Di'Anno deixando o palco demonstrando enormes dificuldades para caminhar, apoiado em uma bengala e nas costas de um prestativo roadie, dando passos curtinhos em uma situação muito triste, onde realmente senti pena desta verdadeira lenda viva, que declarou a certa altura do show: "eu dei tudo o que tinha ao heavy metal, e, por tocar tanto e com tanta intensidade, fodi minha perna, e agora não poderei mais me apresentar, algo que sempre adorei. Nunca foi pelo dinheiro que toquei, mas sim pela paixão pela música, algo que não poderei mais fazer". Triste, com toda a certeza!
O problema no joelho deve ter sido a razão para a exclusão de "Iron Maiden" do set (assim como também foram limadas "A Song For You" e "Faith Healer", que chegaram a ser apresentadas em outros shows desta turnê), pois a Scelerata voltou ao palco para interpretar a instrumental "Transylvania". Lá pelo meio dela, Paul retornou ao seu lugar á frente da bateria, novamente apoiado na bengala e no roadie, para apresentar os músicos, agradecer aos fãs uma última vez, explicar denovo que seu joelho estava "finito", e detonar "Running Free", não sem antes se despedir de seus fãs e renegar os gritos de "Paul, Paul, Paul" que a plateia lhe dirigia (segundo ele, era muito bonito, mas esse tipo de coisa deveria ser guardada para verdadeiros rock stars, não para ele). A canção foi dedicada aos "motoqueiros Hells Angels" de Porto Alegre e do mundo, e até o responsável pela produtora Abstratti (que organizou o espetáculo, e a quem agradeço pela atenção dedicada ao pessoal da Consultoria do Rock, tanto no cadastramento quanto no acesso ao local) subiu ao palco para fazer os backing vocals deste clássico! Era o final de uma apresentação memorável, que, com certeza, ficará na lembrança de todos os presentes ali por muito tempo! Após o show, a festa continuou até de manhã, com a apresentação de bandas covers de Ramones, Led Zeppelin e Foo Fighters, mas, como eu tinha de acordar cedo na manhã seguinte, para mim ela terminou quando Paul saiu do palco!
Paul no Opinião
Foto por Aline Jechow, disponível na página do facebook da Opinião Produtora
Fica a torcida para que Di'Anno se recupere e consiga um dia voltar aos palcos, visto que esta não é a primeira vez que ele anuncia aposentadoria. Mesmo paradão, demonstrando sentir muita dor a cada final de música, com a voz longe do que era nos áureos tempos e sem poder agitar muito, o carisma e a presença de palco de alguém como ele não podem ficar ausentes do showbizz atual, dominado por tantos artistas criados em laboratório e mais interessados na fama e no dinheiro do que em seus fãs. Podem estar certos de que este não é o caso de Paul Di'Anno, um artista marcante que, se tiver de se ausentar permanentemente dos holofotes, com certeza fará muita falta! Quem pode assisti-lo ao vivo pelo menos uma vez, há de concordar comigo!
"I'm running free, I'm running free"...
Set List:
1. Sanctuary
2. Purgatory
3. Wrathchild
4. Prowler
5. Marshall Lockjaw
6. Murders in the Rue Morgue
7. The Beast Arises
8. Children of Madness
9. Genghis Khan
10. Remember Tomorrow
11. Charlotte the Harlot
12. Killers
13. Phantom of the Opera
Encore
14.Transylvania
15. Running Free
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