domingo, 25 de novembro de 2012

Cinco discos para conhecer: Sharlee D'Angelo


Por Micael Machado

O baixista sueco Sharlee D"Angelo (nascido Charles Petter Andreason em 27 de Abril de 1973) tem uma carreira de mais de vinte anos no mundo do heavy metal. Embora nunca tenha sido um líder nos grupos por onde passou, colocou seus serviços á disposição de muitas bandas importantes e reconhecidas no cenário mundial. Conheça agora cinco delas, e os discos que recomendamos a vocês.

Mercyful Fate - Time [1994]

O segundo disco após a volta do Mercyful Fate com o álbum In The Shadows (1993) marcou a estreia de Sharlee no grupo, ao lado dos fundadores King Diamond (na banda solo de quem o baixista chegou a tocar entre 1990 e 1993, porém sem registrar nenhum disco) e da dupla de guitarristas Hank Shermann e Michael Denner (com Snowy Shaw na bateria). As faixas "Nightmare Be Thy Name" e "Witches' Dance" ganharam vídeos de divulgação (sendo a segunda a música que me apresentou ao grupo, através do saudoso programa Fúria Metal, da MTV), mas não se pode deixar de citar "Angel of Light", "Lady in Black", a variada "Castillo del Mortes" e a primeira parte de "The Mad Arab" (que ganharia uma continuação no disco seguinte, Into the Unknown, de 1996) dentre os destaques. Seguindo o estilo iniciado pelos clássicos discos da década de 80, porém sem o mesmo brilho e destaque daqueles, Time foi bem aceito pelos fãs de longa data do MF, e era o disco da turnê de divulgação que trouxe o grupo ao Brasil (ao lado da banda solo de King Diamond) pela primeira vez, em 1996, onde se apresentaram no festival Monsters Of Rock em São Paulo, além de realizarem outras quatro apresentações no país. Sharlee se apresenta como um baixista seguro, dando peso às composições, porém, como era esperado, tendo menos destaque que os três membros principais do grupo, mas conseguindo que seu instrumento apareça bem na mixagem final, com várias linhas interessantes, como em "My Demon" ou "The Preacher".

King Diamond (vocais, teclados); Hank Shermann (guitarra); Michael Denner (guitarra); Sharlee D'Angelo (baixo); Snowy Shaw (bateria).


1. Nightmare Be Thy Name

2. Angel of Light
3. Witches' Dance
4. The Mad Arab
5. My Demon
6. Time
7. The Preacher
8. Lady in Black
9. Mirror
10. The Afterlife
11. Castillo del Mortes

Sinergy - Beware the Heavens [1999] 

Contando com a cantora e tecladista Kimberly Goss (que havia excursionado com o Therion e o Dimmu Borgir anos antes), o guitarrista Jesper Strömblad (que depois assumiria o posto de baterista e guitarrista no In Flames e de baterista no Hammerfall) e o guitarrista Alexi Laiho (líder e frontman do Children Of Bodom, mas à época ainda bastante desconhecido), além de Sharlee e do baterista Ronny Milianowicz, este álbum de estreia do quinteto finlandês (com alguns músicos suecos) traz uma mistura de death metal melódico com gothic metal que deve agradar aos fãs de grupos como After Forever, Lacuna Coil ou Nightwish, além, é claro, dos fãs do COB, pois Laiho mantém aqui o mesmo estilo que adota em seu grupo principal, com riffs e solos inspiradíssimos, em melodias quase sempre velozes e grudantes, além das suas famosas "alavancadas" e do excelente entrosamento com Jesper Strömblad, outro grande guitarrista que também tem uma bela performance no álbum. Como seria de se esperar, os holofotes estão mais sobre Kimberly, Jesper e Alexi, mas Sharlee, apesar de trabalhar mais como um membro de apoio, consegue se destacar em canções como "The Fourth World", "The Warrior Princess" (baseada na série Xena, The Warrior Princess), "Swarmed" e na curta instrumental "Pulsation".

Kimberly Goss (vocais, teclados); Alexi Laiho (guitarra); Jesper Strömblad (guitarra); Sharlee D'Angelo (baixo); Ronny Milianowicz (bateria).

1. Venomous Vixens
2. The Fourth World
3. Born Unto Fire and Passion
4. The Warrior Princess
5. Beware the Heavens
6. Razorblade Salvation
7. Swarmed
8. Pulsation
9. Virtual Future

Witchery - Symphony for the Devil [2001]

Contando com três ex-membros do Satanic Slaughter (o vocalista Toxine, o guitarrista Patrik Jensen, também do The Haunted, e o baterista Martin “Axe” Axenrot, também do Opeth, que fez sua estreia neste registro), o Witchery se caracterizou por praticar um death metal com muitas pitadas de thrash, além de um toque de humor negro em suas letras. Este seu terceiro disco foi muito bem aceito pelos fãs, com excelentes composições como a instrumental "Bone Mill", a porrada "Wicked" e a cadenciada "Inquisition", onde Sharlee tem um destaque maior para seu instrumento. O baixista chegou inclusive a escrever (ao lado de Toxine) as letras para duas canções, "Enshrined" e "The One Within", justamente as que encerram o álbum (sendo que em algumas versões existem faixas bônus depois destas músicas). O grupo já lançou dois discos depois deste, sendo o mais recente o chamado Witchkrieg, de 2010, que marcou a estreia do vocalista Legion, ex-Marduk.

Toxine (vocais); Patrik Jensen (guitarra base); Rickard "Richard Corpse" Rimfält (guitarra solo); Sharlee D'Angelo (baixo); Martin “Axe” Axenrot (bateria).

1. The Storm
2. Unholy Wars
3. Inquisition
4. Omens
5. Bone Mill
6. None Buried Deeper
7. Wicked
8. Called For By Death
9. Hearse Of The Pharoahs
10. Shallow Grave
11. Enshrined
12. The One Within


Anthems of Rebellion - Arch Enemy [2003] 

O segundo álbum com Angela Gossow (quinto da carreira) acabou se tornando um dos favoritos dos fãs do Arch Enemy, em muito graças a petardos como a porradaria de "Silent Wars" e "Dead Eyes See No Future", ou às mais cadenciadas "We Will Rise" (com uma profusão de teclados incomum no som do grupo) ou "Instinct" (onde Sharlee tem um destaque maior para seu baixo). "Despicable Heroes" tem muito peso, e riffs que lembram a música "Sepulnation" do Sepultura, sendo que as guitarras em "Dehumanization" despejam riffs bastante técnicos, do tipo que só os irmãos Amott sabem fazer (aliás, é importante citar a técnica dos músicos em seus instrumentos, fazendo com que se destaquem coletivamente como um dos melhores grupos do metal atual - ao menos, na parte instrumental, pois sempre tive minhas restrições aos vocais de Angela). Uma curiosidade é que este é o único disco da banda a contar com algumas linhas de vocais limpos (executados por Christopher), na citada "Dehumanization" e na interessante "End of the Line". O grupo seguiria em uma escala ascendente, arrebanhando mais fãs a cada lançamento, e se tornando um dos grandes nomes do metal mundial, sempre com Sharlee segurando os graves com competência.

Angela Gossow (vocais); Michael Amott (guitarra); Christopher Amott (guitarra); Per Wiberg (teclados); Sharlee D'Angelo (baixo); Daniel Erlandsson (bateria)

1. Tear Down the Walls
2. Silent Wars
3. We Will Rise
4. Dead Eyes See No Future
5. Instinct
6. Leader of the Rats
7. Exist to Exit
8. Marching on a Dead End Road
9. Despicable Heroes
10. End of the Line
11. Dehumanization
12. Anthem
13. Saints and Sinners



Spiritual Beggars - Return to Zero [2010]

Este grupo sueco de stoner rock tem como líder o guitarrista Michael Amott, também "dono" do Arch Enemy. Sharlee passou a integrar a banda no disco anterior, Demons, mas este Return To Zero marca a excelente discografia do Spiritual Beggars por ser o primeiro registro com o vocalista Apollo Papathanasio (também do Firewind), e por um certo abandono das melodias baseadas em Black Sabbath e Deep Purple em favor de um hard rock mais parecido com o praticado pelo Rainbow ou o Uriah Heep setentistas. Para quem não conhece os anteriores, é um álbum que convence logo de cara, mas, para quem acompanhava o grupo há mais tempo (como é o meu caso), ficou uma sensação de estranhamento no ar, que o tempo se encarregou de desfazer. Os maiores destaques ficam com as faixas "We are Free", "Coming Home" e a abertura com "Lost in Yesterday", onde Sharlee tem um destaque maior, assim como em "Concrete Horizon" e "A New Dawn Rising", outra excelente composição. Um registro diferente dentro da discografia do baixista, mas um dos mais interessantes.

Apollo Papathanasio (vocais); Michael Amott (guitarra); Per Wiberg (teclados); Sharlee D'Angelo (baixo); Ludwig Witt (bateria).

1. Return to Zero (Intro)
2. Lost in Yesterday
3. Star Born
4. The Chaos of Rebirth
5. We are Free
6. Spirit of the Wind
7. Coming Home
8. Concrete Horizon
9. A New Dawn Rising
10. Believe in Me
11. Dead Weight
12. The Road Less Travelled
13. Time to Live


Sharlee também tocou com o IllWill, Dismember e The Night Flight Orchestra, e segue em turnês ao lado do Arch Enemy e do Spiritual Beggars, além de ainda ser considerado membro oficial do Mercyful Fate e do Witchery, embora as bandas estejam em recesso. Para conferir sua atuação ao vivo, os mais recomendáveis são os DVDs ao lado do Arch Enemy, onde sua insana performance pode ser apreciada com toda a qualidade dos vídeos atuais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Review Exclusivo: Slash (Porto Alegre, 09 de novembro de 2012)


Por Micael Machado
Fotos por Lú Ruzzarin Basso


Para que os caros leitores possam compreender a importância deste show para mim, é necessário que eu faça uma "introdução explicatória" antes de começar a falar dele. Foi lá por 1989 ou 1990 que a música "Patience" do Guns And Roses começou a tocar muito na rádio FM que eu escutava lá no interior do Rio Grande do Sul. Graças a um amigo de um amigo que possuía os vinis de Appetite for Destruction e Lies (internet naquela época era coisa de ficção), pude conhecer os dois álbuns e um pouco mais daquela banda e daquele som novos em minha vida (eu que na época achava que os Titãs faziam "música pesada", para terem ideia!).

Em 1991 comprei  minha primeira revista Bizz, com Axl Rose na capa e um dossiê do vindouro "disco triplo, talvez quádruplo" do Guns, que acabaria sendo os dois volumes de Use Your Illusion, lançados no mesmo ano. Em janeiro daquele ano, a banda já havia se apresentado no segundo Rock in Rio, onde pude "conhecer" pela televisão aos membros da banda, especialmente Axl e um guitarrista de cabelos na cara o tempo todo, óculos escuros e uma cartola enterrada na cabeça, chamado Slash. O grupo virou meu "preferido de todos os tempos", e quatro músicas então desconhecidas chamaram muito a minha atenção naquele show: "Double Talkin' Jive" (a qual ainda considero a melhor versão que já ouvi a apresentada naquele festival), o tema do filme "Poderoso Chefão", interpretado magistralmente por Slash, "Estranged" e "Civil War", duas canções poderosas e que até hoje me causam arrepios quando escuto!

O tempo passou, o Guns perdeu sua importância tanto na minha vida quanto em termos mercadológicos, e quase vinte anos depois, em 2010, Axl e seus novos asseclas se apresentaram em Porto Alegre, em show a que não assisti para poder ver o Dream Theater pela primeira vez. Em 2011, foi a vez do baixista Duff McKagan tocar na cidade com o seu grupo Loaded, em um show que resenhei aqui. E, em 2012, finalmente aquele marcante guitarrista veio se apresentar na capital gaúcha, para grande alegria de minha parte e de tantos fãs que aguardavam há tempos para assistir a um show dele. Finalmente, eu iria ver Slash tocando ao vivo a poucos metros de mim, como já fiz antes com tantos outros músicos menos marcantes em minha história do que ele.

Pois ver Slash foi o que eu menos fiz na noite de sexta feira no Pepsi On Stage (minto, o guitarrista base Frank Sidoris e o baixista Todd Kerns eu vi menos ainda). Graças à controversa "Pista Vip" (cujo ingresso custava três vezes mais do que a pista comum e era quase do mesmo tamanho da outra, apesar de ter menos pessoas), à superlotação do local e à maldita inclusão digital, pouco pude assistir de um espetáculo que aguardei por tanto tempo. A grade da pista VIP estava quase no meio do local, e, enquanto o pessoal lá dentro parecia curtir o show numa boa, no lado "comum" da pista a coisa estava de desafiar aquela lei da física que diz que "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço". A lotação e o calor estavam de tal tamanho (a temperatura na capital gaúcha durante o dia beirou os 35 graus, e à noite não ficou muito abaixo disso) que lembraram o trágico show do Iron Maiden em 2008. O Pepsi on Stage tem uma das melhores estruturas para espetáculos de Porto Alegre, mas desta vez a produção errou feio ao super lotar o local, e por pouco a coisa não ficou preta ali no meio, com muita gente passando mal e algumas meninas quase desmaiando, sendo retiradas da pista por outras pessoas em um estado lastimável (além de serem vítimas de roubos, como uma que reclamava de ter tido sua câmera furtada). Foi a primeira vez (e, espero, a última) que presenciei estes fatos neste local, e olha que já assisti antes no Pepsi a outros grupos que também esgotaram os ingressos do local (mas, nestes, não havia "Pista Vip", entendem?). 

Além disso, a multidão de máquinas fotográficas, celulares e diversos outros aparelhos eletrônicos jogados em meu campo de visão era uma coisa absurda. Não precisava nem ser um solo de Slash ou uma música mais conhecida do Guns And Roses para que eu e meu sobrinho Maurício Machado (em seu primeiro show de rock, aos dezesseis anos) enxergássemos mais mãos e aparelhos do que o grupo no palco, assim como muita gente perto de nós. Maldita inclusão digital, agravada por algumas meninas sem noção da pista VIP que subiram nos ombros de seus companheiros e, mesmo recebendo uma saraivada de latinhas e garrafas plásticas nas costas, não desciam dos mesmos nem deixavam ninguém ver nada, em um comportamento lamentável e indefensável.

Porn Queen na abertura (foto de Micael Machado)

Devido ao atraso do ônibus que trouxe meu sobrinho do interior do estado, acabamos perdendo o show de abertura da banda local Zerodoze, e entramos no Pepsi no começo da apresentação da Porn Queen, grupo brasileiro sediado em Luxemburgo (um pequeno país europeu) que acompanhou Slash nos shows do Brasil nesta turnê. A dificuldade para acharmos um local para ficarmos fez com que eu não prestasse muita atenção ao grupo, mas a cover de "Man In The Box", do Alice in Chains, foi muito bem recebida pelo pessoal, assim como outras músicas do repertório glam/sleaze interpretado pelo grupo. Foi interessante, mas não deu para me identificar muito.

Uns quinze minuitos antes da hora marcada (a famosa pontualidade britânica funcionou ao contrário nessa noite - para quem não sabe, Slash é nascido na Inglaterra, apesar de ter sua história ligada à cena de Los Angeles), uma introdução instrumental começou a rolar no som ambiente, e uma voz anunciou: "Porto Alegre, are you ready to rock and fuckin' roll?". Era a senha para Slash, o vocalista Miles Kennedy e o grupo The Conspirators (formado pelos citados Frank Sidoris e Todd Kerns, além do baterista Brent Fitz) entrarem no palco detonando "Halo", do disco Apocalyptic Love, cuja turnê servia de divulgação.


Miles Kennedy e Slash no palco do Pepsi On Stage

Em duas horas de muito suor e diversão (prejudicadas em muito pelos aspectos citados acima), Slash passeou por sua longa carreira (só em estúdio, são cinco discos com o Guns, dois com o Snakepit, dois com o Velvet Revolver e dois em carreira solo), desfilando clássicos como quem toca descontraidamente em um quartinho com um grupo de amigos. Claro que nem tudo foram flores, pois o contestado vocalista Miles Kennedy mostrou mais uma vez que é difícil compreender como um sujeito com o talento de Slash o escolheu para ser seu parceiro musical (o cara se torna irritante por vezes ao tentar atingir timbres mais altos do que sua gargante permite, e sua voz esganiçada por vezes fica no limite do suportável). Nas músicas do disco mais recente (e foram várias), a coisa não era tão ruim, por não termos comparação. Mas, quando a canção tinha outro vocalista na versão de estúdio (especialmente nas músicas do Guns, mas também em "Been There Lately", do Slash's Snakepit, ou "Slither", do Velvet Revolver), ficava difícil não lembrar da forma original e perceber que Miles não lhes acrescentava nada, bem ao contrário. Sei que muitos gostam de seu vocal, mas, sinceramente, não é o meu caso.


Slash nos backing vocals de "Doctor Alibi"

Tanto que, nas duas canções em que o baixista Todd Kerns assumiu o microfone ("Doctor Alibi", que tem os vocais de Lemmy Kilmister do Motörhead em sua versão de estúdio, e uma velocíssima "You're Crazy", originalmente gravada pelo Guns), ficou claro para mim que Slash tem a seu lado um grande vocalista, só que o deixa longe do microfone por algum motivo desconhecido. Apesar do estilo vocal ser bem diferente nas duas músicas, Todd deu conta das mesmas com facilidade, cantando com garra, presença de palco e imposição vocal, demonstrando até mais carisma que o vocalista principal do grupo (claro, levando-se em conta o pouco que pude assistir da apresentação). O show do Rio de Janeiro transmitido pelo canal Multishow já tinha sinalizado isso, e, ao vivo, tive certeza de que o baixista seria uma escolha melhor para o posto de vocalista do que o controverso Miles. Vá entender a cabeça de Slash!

Poucas músicas fora de Apocalyptic Love ou do repertório do Guns foram apresentadas. As citadas acima foram as únicas do Snakepit e do Velvet Revolver, e o próprio disco Slash, de 2010, teve, além de "Doctor Alibi", apenas as canções "Ghost", "Back from Cali" e "Starlight" (esta última já no bis, frustrando minhas expectativas de ouvir mais uma canção clássica do Guns, como Slash fez em outros shows desta turnê brasileira) interpretadas pela banda (e não é demais citar que as duas últimas são as que contam com a presença de Miles naquele disco). Eu tinha esperanças de ouvir "Beggars and Hangers On", do Snakepit, e "By The Sword", do primeiro disco solo do guitarrista (as duas chegaram a ser tocadas em outros shows no Brasil), mas acabei ficando só na vontade mesmo. Uma pena, pois considero as duas bem melhores que muitas das músicas selecionadas pelo guitarrista.

Slash em meio a mais um solo memorável

Uma das coisas que mais me chamou a atenção nos shows desta turnê brasileira foi que Slash assumiu de vez seu lado icônico, e se apresentou em todas as noites com aquela imagem que todo fã tem dele: calça de couro bem apertada (e, de acordo com  sua autobiografia, sem nada por baixo), óculos escuros, cabelão cobrindo o rosto e a indefectível cartola enterrada na cabeça, e durante todo o espetáculo, como há tempos ele não fazia. Além disso, resolveu dar ao povo muito daquilo que ele queria ouvir, ou seja, muitas canções do Guns And Roses. As sete músicas do disco novo presentes no repertório foram muito bem recebidas pelo pessoal (até porque o álbum é bom pacas), mas nada superava a empolgação e a histeria causadas por cada  música da antiga banda do guitarrista que era apresentada. "Nightrain" veio logo no início, e as outras seis músicas do grupo interpretadas ao longo da noite causaram todos os tipos de sentimento nas sete mil pessoas presentes ao local, menos indiferença. Nestas horas, ficava simplesmente impossível enxergar qualquer coisa que se passava sobre o palco, visto a quantidade enorme de aparelhos eletrônicos, mãos balançando, gente pulando, garotas sobre os ombros de seus companheiros e à histeria generalizada que as mesmas causavam no pessoal. Coisa de louco, e impressionante, apesar de ser frustrante você não poder curtir com calma às músicas que você mais esperava durante a noite. Para mim, o momento  mais marcante ocorreu em "Civil War", pois achava que esta canção estaria de fora do repertório, visto já ter sido apresentada em São Paulo nesta mesma turnê. Mas Slash a executou com perfeição, assim como ao também inesperado tema de "Poderoso Chefão", e estas duas músicas me levaram direto a 1991 e à sala de meus pais, de onde assisti àquelas apresentações no Rock In Rio que tanto me marcaram. Foi de arrepiar, sem sombras de dúvidas, e dois momentos que dificilmente irei esquecer em minha vida, assim como a versão para "Rocket Queen", que sempre foi a minha música favorita dentro do repertório do Guns, e que aqui recebeu um solo bem viajante na sua parte central.

"Sweet Child O' Mine" foi a que causou mais comoção e histeria, disputando este título pau a pau com "Paradise City", que fechou o espetáculo com muita empolgação, chuva de papel picado sobre o público e choros descontrolados por parte de muitas garotas presentes ao local. A noite encerrava em alta, e ficava a certeza de termos presenciado a um show marcante na história da cidade, infelizmente prejudicada pela produção do evento, que, ao favorecer a pequena porcentagem de pessoas que teve condições de pagar os abusivos preços da pista Vip, prejudicou a grande maioria do público presente ao local, o qual, mesmo assim, ainda vai ter muitas histórias para contar de uma noite memorável.


Final do show

"Don't you know that I feel alright doin' what I do?"

Setlist:

1. Halo
2. Nightrain
3. Ghost
4. Standing in the Sun
5. Back From Cali
6. Been There Lately
7. Civil War
8. Rocket Queen
9. Crazy Life
10. Not for Me
11. Doctor Alibi
12. You're Crazy
13. Hard & Fast
14. Guitar Solo / Godfather Theme
15. Anastasia
16. You're a Lie
17. Sweet Child O' Mine
18. Slither

Bis:

19. Starlight
20. Paradise City

domingo, 11 de novembro de 2012

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais: Kiss promete acabar com o pessoal que filma shows em celulares




Por Micael Machado

Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais é uma sessão da Consultoria do Rock onde apresentamos notícias fictícias, mas que poderiam se tornar reais em algum momento de nossas estadas aqui na Terra. A intenção não é gerar polêmicas ou controvérsias sobre determinados fatos, mas apenas incitar a discussão sobre o que ocorreria se o mesmo fato chegasse a acontecer.

Quem aqui já foi a um show e teve de aguentar o pessoal filmando e fotografando o tempo todo com celulares, câmeras e filmadoras, prejudicando a quem só quer assistir e curtir o espetáculo? Quase todo mundo, certo? Pois o Kiss (sempre eles) anunciou que vai resolver esse problema, através de uma forma simples: vendendo um DVD "bootleg oficial" de cada show para cada membro da audiência todas as noites!

A notícia foi dada na coletiva marcada para anunciar a turnê de promoção de seu aguardado novo álbum, Monster. Segundo o grupo, a cada noite, os fãs que comparecerem aos concertos (além do cruzeiro do Kiss no começo de novembro, datas na América do Sul já foram confirmadas para o mesmo mês) levarão para casa um DVD com as imagens do show daquela data, além de fotos exclusivas e um tour book digital, dentre outros itens.

A ideia surgiu a partir dos álbuns conhecidos como Instant Live, que viraram febre na América do Norte há alguns anos (esses álbuns eram gravados durante a apresentação e entregues aos fãs na saída do espetáculo). Segundo Gene Simmons (vocalista e baixista do grupo), "nos incomoda bastante o fato de prepararmos um espetáculo visual grandioso, com fogos, explosões, pessoas voando e outros atrativos, além do melhor rock and roll do mundo, aquele feito pelo Kiss, e as pessoas ficarem paradas filmando tudo com cara de abobadas, sem curtir o espetáculo. E para quê? Na maioria das vezes, essas filmagens ficam uma m**da, e a pessoa assiste apenas uma vez e nunca mais. Mas a sensação de estar em um show do Kiss é algo muito maior, e as pessoas perdem essa chance por um registro pífio ao qual não vão dar nenhuma atenção depois". Para resolver essa questão, o grupo decidiu "distribuir um DVD para cada um, com alta qualidade de gravação, assim eles não precisarão perder tempo gravando o show com seus aparelhinhos".

Gene Simmons durante a entrevista

Paul Stanley (vocalista e guitarrista) dá mais aspectos técnicos da novidade: "quando os álbuns Instant Live surgiram, achei a ideia interessante, mas, se fossemos fazer algo parecido no Kiss, teria de ser maior do que isso. Felizmente, a tecnologia evoluiu bastante, e hoje podemos gravar um DVD durante a apresentação, e não apenas o áudio de cada show". Segundo Stanley, o esquema funcionará da seguinte maneira: "em cada local onde nos apresentarmos, instalaremos uma câmera digital em uma posição onde todo o palco possa ser visto com qualidade. O áudio será captado em estéreo diretamente da mesa de som, e será jogado diretamente em um computador junto com a filmagem da câmera. Teremos uma pequena equipe envolvida com as imagens e o som, e, a cada final de uma música, eles já estarão trabalhando para sincronizar o áudio com a imagem daquela única câmera. Como não terão de escolher entre diferentes zooms e mudanças de quadro, o trabalho tende a ser rápido, e, como teremos um set list fixo, eles saberão com antecedência o que vai acontecer, sem muitos espaços para surpresas desagradáveis".

Paul dá mais detalhes: "após a última música do show, a plateia verá um vídeo pré-gravado da gente nos bastidores, simulando uma situação real de um ambiente pós-show, que terminará com um agradecimento ao público daquela noite. Esse vídeo também estará no DVD, podendo ser incluído antes da gravação inclusive. Deve durar entre cinco e oito minutos, que é o tempo necessário para gravar os DVDs para o pessoal. Temos um equipamento capaz de gravar até mil DVDs por minuto, então poderemos atender às plateias dos locais onde nos apresentaremos com bastante presteza. Depois, é só colocar em um envelope e entregar às pessoas que forem saindo. O disco ainda terá um arquivo para impressão com a capa do DVD, além de fotos exclusivas tiradas durante o show, um arquivo com o tour book da excursão, e outras coisas que ainda estamos definindo. Será um item exclusivo daquela noite, algo para os fãs guardarem para sempre".

Paul Stanley após o anúncio

Simmons diz que "sabemos que assistir ao show com apenas uma câmera não é o que os fãs esperam de um DVD do Kiss, nem o que gostaríamos de entregar para eles. Mas foi a maneira que conseguimos de colocar em prática a ideia. Além disso, você terá uma imagem de qualidade de todo o show, de todo o palco, e não uma coisa mal gravada e tremida feita pelo seu celular. O mesmo acontecerá com as fotos, que serão tiradas de cima do palco, e não da distância desde o público até nós. Com tudo isso, acreditamos que as pessoas não vão precisar perder tempo filmando ou fotografando o que está acontecendo, e poderão se concentrar em fazer aquilo para o que realmente compraram o ingresso, que é curtir a maior banda de rock and roll do mundo em ação, ali, na frente delas".

Claro que tudo isso não sairá de graça. Sempre dispostos a lucrar o máximo possível, o grupo terá um acréscimo no preço dos ingressos por causa do DVD. Stanley diz que, "dependendo do local, o acréscimo será de dez a quinze dólares sobre o preço do ingresso. Temos de pagar os responsáveis pelo DVD, além do equipamento e demais custos, por isso não podemos fazer de graça". Além disso, "não haverá opção de pagar mais barato se alguém não quiser o DVD. Todos que comprarem ingresso terão direito ao mesmo, o preço estará incluso em todas as modalidades que o local apresentar". Gene Simmons diz que "algumas pessoas podem até reclamar dos preços mais caros, mas acho que ninguém vai perder a oportunidade de ter um DVD exclusivo do Kiss em sua coleção, então, visto por este ângulo, é um preço pequeno a se pagar por um item como esse".

Público com celulares e câmeras durante o show: com os dias contados?

Após o anúncio, outros grupos como o Pearl Jam, o trio Crosby, Stills And Nash e o ex-vocaista do Black Crowes, Chris Robinson (em turnê com seu novo grupo, o Chris Robinson Brotherhood), que sempre apoiaram gravações de fãs feitas em seus shows, se manifestaram a favor da ideia, e dispostos a implantá-la em seus próprios espetáculos. Será que essa moda pega, e ficaremos livres dos chatos que insistem em jogar celulares e câmeras nas nossas caras nas partes mais interessantes dos shows de nossos artistas favoritos? Tomara que sim!

DVD: Neil Young & Crazy Horse - Live [2012]


Por Micael Machado

Se você, assim como eu, é fã de Neil Young e andava à procura de um DVD que fizesse jus à fama do canadense nos palcos quando acompanhado da Crazy Horse (a melhor banda de apoio de Neil durante sua longa trajetória musical), pode enfim comemorar. Ainda que através de um lançamento em forma de bootleg, a gravadora USA Records resolveu o seu problema, lançando no mercado o DVD Neil Young & Crazy Horse - Live.

Retirado de um especial para a TV nipônica, o show foi registrado em 28 de julho de 2001, no Fuji Rock Festival, na cidade de Mikuni, no Japão, e mostra Young e seus velhos chapas em ponto de bala. Se Live Rust já tem mais de trinta anos, Weld ainda não foi lançado em DVD (sendo sua versão em VHS uma raridade hoje em dia) e Year Of The Horse é pouco mais que um (excelente) documentário da turnê do disco Broken Arrow, sem trazer um show na íntegra, este Live é uma das melhores oportunidades de se conferir a força e a fúria de Neil e seu Cavalo Doido em cima de um palco.

Neil Young e o Crazy Horse

Acompanhando Neil nos vocais, guitarra e piano, temos os músicos Frank "Poncho" Sampedro nas guitarras, teclados e backing vocalsBilly Talbot no baixo e backing vocals e Ralph Molina na bateria backing vocals (a formação clássica do Crazy Horse), além da presença em algumas músicas de Pegi Young e Astrid Young (respectivamente esposa e irmã de Neil) reforçando os backings vocals. Na época sem se apresentar no Japão desde 1989 (e há mais de duas décadas desde a última apresentação no país ao lado do Cavalo Diodo), Neil e seus colegas iniciam o show com a forte "Don't Cry No Tears", e fazem um apanhado da carreira do canadense em pouco menos de duas horas e meia de muito prazer aos apreciadores de sua música.

Apesar de registrado menos de um ano após o DVD Road Rock Vol. 1 (onde Young tinha a companhia de outros músicos com quem já havia tocado anteriormente), esta apresentação é completamente diferente. Se naquele show o lado selvagem de Young era amansado por seus companheiros, aqui ele está totalmente livre, e transforma canções como "Piece Of Crap" e "Love And Only Love" em bombas incendiárias com alto poder de destruição. Ainda há espaço para o lado baladeiro do canadense, que interpreta "From Hank To Hendrix" e "The Needle And The Damage Done" no esquema "voz-violão-e-harmônica" que tanto se fez presente em sua carreira. 

Neil Young

"When I Hold You in My Arms" e "Gateway of Love", duas canções que só seriam registradas em estúdio para o disco seguinte de Neil, o fraco Are You Passionate? (de 2002, gravado ao lado dos lendários Booker T. & the M.G.'s, sendo que "Gateway" acabou sobrando do track list), surgem aqui em versões quase acabadas, mas tornadas bem mais palatáveis graças à sujeira e ao talento do Crazy Horse. "Goin' Home", outra que só sairia em ...Passionate?, naquele disco também conta com o Cavalo Doido, então não há tanta diferença assim entre as duas versões.

Mas são a fúria e a distorção dos instrumentos de Neil e seus asseclas quem comandam a noite. Neste sentido, a segunda metade do DVD (ou seja, as últimas sete músicas) é para fazer surgir um enorme sorriso no fã que assiste ao show, pois é formada apenas por clássicos da carreira do canadense, com destaque para a quebradeira (sonora e física) ao final de "Like A Hurricane", o hino "Rockin' In The Free World" (com direito a trecho do hino nacional americano), e o encerramento com "Tonight's The Night", onde Neil toca piano e guitarra quase simultaneamente (como também acontece em "When I Hold You in My Arms").


Capa e contracapa do DVD

É de se lamentar que este não seja um registro oficial, o que faz com que a imagem não seja lá essas coisas (parece que apenas passaram um antigo VHS para o DVD, sem nenhum tratamento digital), nem o áudio tenha todos os recursos que a tecnologia de hoje nos proporciona. Mesmo assim, é uma excelente pedida aos iniciados na obra de Neil Young, e altamente recomendável para quem se interessa em conhecê-lo!

Keep on Rockin' In The Free World!

Track List:

01. Don't Cry No Tears
02. I've Been Waiting For You
03. Love And Only Love
04. Piece Of Crap
05. Goin' Home
06. Hold You In My Arms
07. From Hank To Hendrix
08. Only Love Can Break Your Heart
09. The Needle And The Damage Done
10. Standing In The Light Of Love
11. Gateway Of Love
12. Hey Hey, My My
13. Sedan Delivery
14. Like A Hurricane

PRIMEIRO ENCORE:

15. Rockin' In The Free World
16. Powderfinger

SEGUNDO ENCORE:

17. Roll Another Number
18. Tonight's The Night