segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Review Exclusivo: Dream Theater (Porto Alegre, 24 de agosto de 2012)



Por Micael Machado
Fotos por Lú Ruzzarin Basso

A expectativa para assistir ao Dream Theater sem Mike Portnoy era enorme de minha parte. Sua bateria técnica e intrincada foi um dos motivos que fizeram com que me apaixonasse pelo grupo, e no show que assisti em 2010, no mesmo Pepsi On Stage, sua presença foi fundamental. Seu substituto, o "novato" Mike Mangini, mandou muito bem em estúdio (no álbum mais recente da banda, A Dramatic Turn of Events, de 2011), e, pelos bootlegs que tive a oportunidade de ouvir já com ele nas baquetas, tudo prometia correr bem. Mas, e quanto à presença de palco da nova formação? Seria a mesma coisa?

Antes do espetáculo principal, o guitarrista Magnus Wichmann e o baixista Gustavo Strapazon, ambos do grupo gaúcho Scelerata, fizeram uma curta apresentação de quinze minutos onde, com o auxílio de uma bateria pré-gravada, interpretaram duas canções instrumentais (as quais infelizmente não reconheci) e um medley com grandes sucessos de bandas como Rush, Pink Floyd, Deep Purple e Queen. Principalmente este último conseguiu uma excelente resposta por parte do público, e a técnica da dupla chamou bastante a atenção e serviu muito bem como um aperitivo para a atração maior da noite.

Uma das coisas que o Dream Theater perdeu com a saída de Portnoy foi a capacidade de variar o set list noite após noite. Para esta turnê sul-americana (que passou por Colômbia, Argentina - onde gravaram dois shows para um futuro DVD - e Chile, com outras quatro datas marcadas no Brasil além desta), o grupo preparou dois repertórios diferentes, um excelente e outro apenas mediano (na minha opinião, é claro). Pela ordem de alternância, Porto Alegre seria brindada com o segundo, mas sempre restava uma esperança de mudança.

O quarteto de instrumentistas do Dream Theater

Com um atraso de apenas dez minutos, a intro "Dream is Collapsing" (acompanhada de um vídeo com uma animação onde os membros do grupo eram os personagens principais) começou a rolar no sistema de som, e "Bridges in the Sky" iniciou os trabalhos, como nos outros shows da turnê. Logo ficava claro que não era a mesma banda que eu havia visto dois anos atrás. Como o novo baterista não chama os holofotes para si (o que ocorria com Portnoy), estes acabam indo para o vocalista James LaBrie, que assume bem a função de realizar a conexão entre a banda e o público, mas continua a se ausentar do palco nos trechos instrumentiais mais longos, como sempre fez em sua carreira. Nestes momentos, com o baixista John Myung e o guitarrista John Petrucci parados como estátuas, Mangini concentrado em sua enorme e impressionante bateria, e Jordan Rudess girando seu teclado para lá e para cá, a parte de performance do grupo cai muito, coisa que antes era compensada pela intensa presença de palco do antigo baterista. Apesar da diferença estar em apenas um membro do grupo, esta é notável, e chega a causar um certo incômodo. Além disso, o grupo parecia menos espontâneo em cena, mais preocupado em tocar do que em 'agitar".

Mesmo com a maldita "inclusão digital", que quase não me deixa ver o palco devido ao enorme número de celulares e máquinas filmadoras jogados na minha frente, percebi que o público os recebeu com empolgação, e a noite prometia. Mas "These Walls" comprovou que o set list "mediano" havia sido o selecionado para a data, e, com o perdão da expressão, ao constatar tal fato eu simplesmente broxei, perdi o pique e o tesão de participar do show, e acabei virando um mero espectador. A música foi recebida com empolgação, e até agitei bastante, mas a opção à ela era "6:00", que me agradaria muito mais.

Outra música do disco novo, "Build Me Up, Break Me Down", foi seguida pela clássica "Caught in a Web", outra música importantíssima, mas cuja opção era "The Root of All Evil", parte da chamada "Twelve Steps Suite". E, bem, eu gosto muito de "Web", mas nunca presenciei ao vivo nenhuma parte da suíte (uma das melhores coisas que o DT já gravou). Sendo assim, não foi nesta canção que o grupo conseguiu restaurar minha animação, e a escolha da linda balada "This is the Life" como sequência não ajudou muito, pois seus quase oito minutos, logo no início do show, não eram bem do que eu precisava, nem a continuação com "Lost Not Forgotten", mais uma música nova.

Jordan Rudess, James LaBrie e Mike Mangini

Com palavras muito elogiosas proferidas por LaBrie, foi anunciado o solo de Mike Mangini, que durou mais de oito minutos. O cara toca muito, mostrou uma técnica absurda, e não nos deixou sentir muitas saudades de seu antecessor em termos musicais aurante toda a noite. Mas ele não é um entertainer como Portnoy, e, apesar de fazer algumas caretas divertidas e sorrir como se fosse muito fácil tocar tudo aquilo, falta um componente que o antigo baterista tinha de sobre: carisma! Sua simples presença na bateria chamava a atenção do público para si, coisa que Mangini ainda não consegue. Ele é um excelente baterista para uma banda de rock comum, mas o Dream Theater é muito mais do que isso.

Mas o meu bode com o solo passou logo nos primeiros acordes de "A Fortune in Lies", para mim o primeiro "momento" da noite. A música, pinçada do disco de estreia do grupo (When Dream and Day Unite, de 1989), é para mim um dos maiores destaques daquele álbum, e parecia que grande parte do público não a conhecia, o que fez com que eu pudesse curti-la sem ter de dividir a audição com os gritos e os celulares. Além disso, eu tinha em mente que ela pertencia ao outro set list (o que não era verdade), o que me fez ter esperanças de que a ordem das músicas pudesse sofrer uma alteração dali em diante. Ledo engano.

O solo de Rudess que veio na sequência foi muito mais simples do que o de 2010. Desta vez, este excepcional músico (que passou a ser o meu favorito da banda após a partida de Portnoy) não tocou Ipod, não duelou com o seu avatar no telão nem demonstrou sua destreza e habilidade em solos velozes e distorcidos como fez dois anos atrás. Apenas limitou-se a um curto e emotivo tema com o efeito "piano" do teclado, o qual foi seguido por "Wait for Sleep", uma inusitada e incomum escolha (gravada originalmente no essencial Images and Words), interpretada apenas pelo piano de Jordan e a voz de LaBrie. Com a adição de Myung, "Far From Heaven" também foi interpretada neste esquema intimista, sendo muito bem recebida pela calorosa plateia, mas não chegou a me emocionar o suficiente.

James LaBrie e seu chapeuzinho

A nova "Outcry" e outro curto solo ao piano feito por Rudess precederam mais um grande momento do show, na forma da bela "Surrounded", onde LaBrie até usou um chapeuzinho igual ao do personagem da capa do disco novo. Na sequência veio "On the Backs of Angels", que foi a primeira faixa de A Dramatic Turn of Events que ouvi, e ainda é a minha favorita deste disco, soando muito bem ao vivo e tendo uma calorosa recepção por parte do público.

Tinha muita expectativa para saber como soariam ao vivo "War Inside My Head" e "The Test that Stumped Them All" fora do contexto da suíte "Six Degrees of Inner Turbulence". As duas foram destaques nesta noite, principalmente a segunda, com seu começo extremamente técnico, executado com perfeição pelos músicos. Estava curioso para saber como seriam feitos os backing vocals presentes na versão de estúdio desta canção, e a solução encontrada pela banda foi usarem uma decepcionante gravação (assim como ocorreu em outras partes do show). O que não chegou a prejudicar a audição nem a diminuir a empolgação do pessoal.

James LaBrie, Mike Mangini e John Petrucci

Se "The Test..." trouxe o peso ao primeiro plano, sua sequência foi pura emoção. "The Spirit Carries On" é uma das minhas composições favoritas do Dream Theater, e não sei explicar porque ela "bate" tão forte em mim. Precedida por um longo e emotivo solo de Petrucci, além de um belo discurso de LaBrie, foi possivelmente o ponto alto da noite. Eu havia chorado ao assistir esta música em 2010, e agora, dois anos depois, chorei de novo. Não há como resistir a esta melodia e a esta letra, então, melhor nem tentar.

O encerramento do show veio com "Breaking All Illusions", a faixa mais longa do novo álbum, mas longe de ser uma das melhores. Sem a mesma qualidade de outras músicas usadas para encerramento em turnês anteriores, seus mais de doze minutos demoraram a passar, embora muita gente tenha se divertido durante sua execução.

Jordan Rudess, John Myung, John Petrucci e Mike Mangini

O quinteto deixou o palco, mas todos sabiam que voltariam para o bis. E mais uma decepção veio na forma de "Pull Me Under", a selecionada para encerrar os trabalhos. Está certo que esta foi a primeira música do grupo a que eu ouvi, que ela é uma das minhas favoritas, e que é um dos maiores clássicos do repertório da banda. Mas a opção era "Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper", e esta é simplesmente a "Smoke On The Water" do Dream Theater na minha opinião. Queria muito tê-la assistido na íntegra pela primeira vez (em 2010, apenas sua parte final foi tocada, em um medley com a própria "Pull Me Under"), mas, infelizmente, não foi desta vez. Claro que todo o público recebeu a escolhida muito bem, e todos (eu inclusive) agitaram e muito. Mas eu preferia ter curtido "Metropolis", fazer o quê?

No geral, foi um bom show, a meu ver prejudicado pelo repertório escolhido, com muitas canções do disco novo (oito no total), que são interessantes e tal, mas ainda são muito "novas", sem o mesmo apelo e importância que outras músicas do repertório do grupo (mesmo de discos mais recentes, como Systematic Chaos ou Black Clouds & Silver Linings, dois dos meus favoritos). Para mim, a única justificativa para incluir tantas canções de A Dramatic Turn of Events é fazer com que  Mike  Mangini se sinta à vontade em sua primeira turnê mundial com o grupo, tocando músicas que já interpretou em estúdio e que, na teoria, conhece melhor do que o repertório antigo da banda. Além disso, me parece que o grupo que ainda busca um entrosamento maior com seu novo baterista, e, quando este vier (o que só o tempo trará), e a banda puder ter mais opções para montar seu repertório ao vivo, o Dream Theater poderá voltar a ser o gigante que já foi um dia. Mas, por enquanto, é apenas um interessante live act. O que, para um grupo como este, é muito pouco.

Final da apresentação

Set-list:

01. Dream Is Collapsing (Intro)

02. Bridges in the Sky 
03. These Walls 
04. Build Me Up, Break Me Down 
05. Caught in a Web 
06. This is the Life 
07. Lost Not Forgotten 
08. Solo de Mike Mangini
09. A Fortune in Lies 
10. Solo de Jordan Rudess / Wait for Sleep 
11. Far from Heaven 
12. Outcry 
13. Intro por Jordan Rudess / Surrounded 
14. On the Backs of Angels 
15. War Inside My Head 
16. The Test that Stumped Them All 
17. Solo de John Petrucci
18. The Spirit Carries On 
19. Breaking All Illusions 

Encore:

20. Pull Me Under


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Apocalyptica - Inquisition Symphony [1998]



Por Micael Machado

Para muita gente, o grupo finlandês Apocalyptica talvez seja apenas aquela curiosa banda que gravou há dezesseis anos um álbum apenas com músicas do Metallica interpretadas por um inusitado quarteto de violoncelos (o excelente - e, por que não, curioso - Plays Metallica by Four Cellos, de 1996). Para outros, talvez seja o grupo que se transformou em um expoente do rock/metal com toques góticos, que atrai um bom público (principalmente feminino, como se pode conferir na recente passagem do quarteto por São Paulo) com suas composições hora pesadas, hora emotivas. Como um atrativo a mais, traz um trio de violoncelistas acompanhados de um baterista e de um ocasional vocalista, ao invés do usual baixo/guitarra/bateria/vocais do mundo do rock. 

Apesar destas facetas serem verdadeiras, o melhor momento do grupo é exatamente o ponto de transição entre um grupo de amigos (formados em música clássica) que resolveram gravar um disco homenageando seus heróis no mundo do metal e aquele que alcançou fama com suas composições inovadoras e criativas. Conseguiram se estabelecer além da pura curiosidade despertada pelos instrumentos que utilizam. 

Eicca Toppinen, Max Lilja, Antero Manninen e Paavo Lötjönen

Eicca Toppinen, Paavo Lötjönen, Max Lilja e Antero Manninen estudaram juntos na Sibelius Academy de Helsinki e se reuniram para tocar covers do Metallica em 1993, lançando sua já citada estreia três anos depois. O inusitado álbum chamou a atenção da mídia, vendendo cerca de 800.000 cópias. O destaque obtido os levou a gravar um segundo disco dois anos depois, Inquisition Symphony, o qual é o assunto deste texto. 

O grupo continuou a gravar composições do Metalica, registrando mais quatro temas: "Nothing Else Matters" e "Fade to Black"  (tão belas que podem levar os mais sensíveis às lágrimas), "For Whom the Bell Tolls" (com muito peso dado pelos instrumentos) e uma abreviada, e ainda assim excelente, "One". No entanto, ampliou seu espectro musical. Além das músicas do quarteto de thrash metal da bay area de San Francisco, aparecem também composições dos grupos Faith No More (a conhecida "From Out of Nowhere"), Pantera ("Domination") e Sepultura ("Refuse/Resist", com violoncelos muito graves emulando o vocal gutural de Max Cavalera, e a faixa que daria título ao álbum. Esta, logo se tornaria um dos maiores destaques do repertório do Apocalyptica). 

Pela primeira vez o grupo se arriscava a registrar composições próprias, incluindo três temas escritos por Eicca Toppinen. As atraentes "Harmageddon", "M.B." e "Toreador" (que não tem nada a ver com a famosa peça da ópera Carmem, de Bizet) abriram o caminho que o grupo passaria a percorrer a partir do álbum seguinte (o também recomendável Cult). Com o tempo, as covers seriam minoria, se tornando quase inexistentes. 

O Apocalyptica ao vivo em 1997

O Apocalyptica seguiria sua trajetória musical, mesmo perdendo Antero Manninen (substituído pelo carismático Perttu Kivilaakso) e Max Lilja, transformando-se em um trio e incorporando bateria em várias de suas músicas. Esta, em pelo menos dois discos, tocada pelo "monstro" Dave Lombardo (Slayer). Vez por outra, contaram com vocais executados por cantores convidados como Max Cavalera (Soulfly), Nina Hagen, Ville Valo (HIM), Corey Taylor (Slipknot), Cristina Scabbia (Lacuna Coil) e Till Lindemann (Rammstein). Conseguiram um relativo sucesso no mundo do heavy metal, embora sem nunca abandonar a pecha de ser "o grupo que tocava Metallica em violoncelos". Continuam firme e forte na ativa, encontrando-se atualmente em turnê de divulgação de seu sétimo álbum: "7th Symphony".

Talvez esta história tivesse sido diferente se o grupo não tivesse resolvido abrir espaço para composições de outros grupos, e para as próprias ideias, logo em seu segundo registro. Para mim, o ponto alto de sua discografia. Alguém me acompanha em um air cello aí? 

Track List: 

1. Harmageddon 
2. From Out of Nowhere 
3. For Whom the Bell Tolls 
4. Nothing Else Matters 
5. Refuse/Resist 
6. M.B. 
7. Inquisition Symphony 
8. Fade to Black 
9. Domination 
10. Toreador 
11. One

Livro: Pra Ser Sincero: 123 Variações Sobre um Mesmo Tema - Humberto Gessinger [2009]



Por Micael Machado

Sou fã dos Engenheiros do Hawaii desde a primeira vez que ouvi "Toda Forma de Poder" na trilha sonora da novela Hipertensão no distante 1986. Tenho todos os discos e DVDs da banda, além dos lançamentos dos trabalhos paralelos de Humberto Gessinger, líder e "dono da bola" do grupo (Humberto Gessinger Trio e Pouca Vogal). 

Ao contrário de muitos que acham Humberto pretensioso, metido a fazer frases intelectualóides e falsamente inteligentes, sempre curti as letras do principal compositor dos Engenheiros. Não que o considere um "poeta maior" da língua portuguesa (coisa que muitos fãs afirmam com paixão), mas o acho um grande frasista com várias sacadas inteligentes e interessantes espalhadas em seus quase trinta anos de carreira musical. 

Por isso, quando tive a oportunidade de adquirir Pra Ser Sincero: 123 Variações Sobre um Mesmo Tema, segundo livro do portoalegrense (o primeiro é Meu Pequeno Gremista, de 2008), o fiz com satisfação. Esperava encontrar no Humberto escritor, o mesmo talento do cantor, multiinstrumentista e compositor cujas composições me acompanham há tanto tempo. Não foi bem assim... 

A contracapa anuncia: "Humberto Gessinger lança neste livro um olhar sobre sua trajetória e revela curiosidades sobre sua carreira. Com fotografias inéditas, informações sobre cada um dos discos e letras comentadas". Tudo isso está lá, mas a propaganda é muito melhor do que o produto. Dividido em três partes, o livro deixa uma sensação de desperdício de espaço e não atende às expectativas geradas.

Contracapa do livro

Começando pelo "olhar sobre sua trajetória". Humberto repassa sua carreira desde sua infância até o trabalho ao lado de Duca Leindecker no Pouca Vocal, passando inevitavelmente pela trajetória dos Engenheiros do Hawaii. O texto é muito bem escrito, fácil de ler e recheado daqueles trocadilhos tão caros à Gessinger que seus fãs (eu incluso) parecem adorar. As páginas são recheadas de fotos, muitas delas exclusivas. No entanto, tudo é muito superficial, muito rápido. Nada é tão detalhado quanto esperava o ávido fã-leitor. Embora alguns aspectos "de bastidores" sejam revelados pela primeira vez, fica a sensação de que muito mais poderia ter sido dito. Muitas coisas, que gostaríamos de saber, ficam sem ver a luz. A conturbada saída de Augusto Licks do grupo (o guitarrista deixou os Engenheiros com várias discussões pela imprensa, um rompimento que gerou até processos) é tratada assim por Humberto: "Augustinho saiu da banda. Brigamos sem brigar, cada um foi ficando no seu canto. A culpa deve ter sido minha". Muito simples para explicar tudo o que ocorreu. Assim como a descrição de vários outros pontos da trajetória dos gaúchos. 

O período de cada disco é marcado por, ao menos, duas páginas dedicados ao mesmo com capas e contracapas de cada álbum, relação das músicas e seus compositores, além de um breve comentário de Humberto sobre algum fato relevante do período. Há também indicações das participações especiais que o líder dos Engenheiros fez em outros projetos, um resumo bastante interessante de sua trajetória. 

Após duas páginas com diversas capas de cadernos culturais estampadas pelos projetos de Gessinger ao longo dos anos, chegamos à segunda parte do livro: as "letras comentadas". Cento e vinte e três letras (uma quantidade escolhida, segundo o autor, porque ele "encasquetou com o número") são reproduzidas em ordem cronológica. Muitas delas inéditas e algumas merecendo um breve comentário de Humberto sobre seu significado, o motivo de sua composição ou sobre outros aspectos que interessam à Humberto e, possivelmente, a seus fãs. Interessantes nesta parte são as gravuras representando as diversas fases do líder dos Engenheiros. A maioria de autoria da dupla Andrews & Bola.



A terceira e última parte, apesar de ser a mais curta, é a mais desgastante. Nela, o respeitado escritor gaúcho Luís Augusto Fischer faz uma espécie de síntese da trajetória de Humberto Gessinger e de seu significado, tanto para si como para a música brasileira. Pelo menos, foi o que consegui entender deste trecho, pois a linguagem extremamente rebuscada e cheia de metáforas utilizada por Fischer (quem acha os escritos do vocalista complicados precisa com urgência ler esta parte para mudar de ideia) torna a leitura cansativa, de difícil compreensão, fazendo com que voltemos ao mesmo trecho duas ou três vezes para conseguirmos assimilar o que está escrito. O que poderia ser uma bela homenagem (e acho que foi esta a intenção) acabou se transformando em algo pretensioso, desnecessário e que destoa bastante do clima e do ritmo dos trechos escritos por Humberto.  

Em resumo... Não é um livro que agradará a todos os fãs dos Engenheiros e, certamente, não conseguirá cativar aqueles que nunca gostaram da obra de Humberto Gessinger. Tem vários pontos de interesse, mas não consegue ser um livro essencial para sua estante. Uma pena! 

Pra quem gosta de nós é um prato cheio... Nem tanto!

O autor e sua obra

DVD: Eric Clapton – This Song For George



Por Micael Machado



Com os avanços tecnológicos dos últimos anos, começaram a surgir no mercado títulos em DVD de origem desconhecida, os quais, mesmo sendo itens bootlegs (não-oficiais), muitas vezes trazem apresentações interessantíssimas aos fãs de determinados artistas, os quais por vezes não tem muita opção de conferir seus ídolos ao vivo com boa qualidade de imagem.

Um destes títulos é This Song for George - Japan Tour 2001 Budokan, de Eric Clapton, lançado no Brasil pela gravadora Radar Records. Gravado a partir de um especial para a televisão japonesa acontecido em Tóquio a 04 de dezembro de 2001 (apenas quatro dias depois da morte de George Harrison, grande amigo de Clapton, e com quem ele disputou o amor de Pattie Boyd, grande paixão da vida dos dois guitarristas), é um belo exemplo de um show que ficaria perdido nas fitas de alguma emissora de TV nipônica, mas foi resgatado pela tecnologia para nosso prazer.

Andy Fairweather-Low, Eric Clapton, Greg Phillinganes e Nathan East
Foto retirada do site www.geetarz.org/reviews/clapton/budokan-2001-dvd.htm

Clapton inicia o show sozinho no palco, tocando ao violão “Key To The Highway”, do excepcional Layla and Other Assorted Love Songs (1970). A excelente banda, composta por Andy Fairweather-Low (guitarras e vocais, Roger Waters, The Who), Nathan East (baixo e vocais, Michael Jackson, Stevie Wonder), Steve Gadd (bateria, Paul Simon, Return to Forever), Greg Phillinganes (teclados, Bee Gees, Paul McCartney) e David Sancious (teclados, Tone, Peter Gabriel) entra em cena em “Reptile”, espécie de jazz-rock a la Santana que dá nome ao disco que o músico divulgava na época (nessa música, assim como em outras, Sancious usa um artefato na boca que, ao ser soprado, faz o teclado soar como um saxofone. Juro que nunca tinha visto/ouvido algo parecido!). O clima acústico (com Eric ao violão e os músicos sentados) é mantido na primeira meia hora do DVD, onde são interpretados os "bluesões" “Got You On My Mind” e “Bell Bottom Blues” (em uma versão emocionante e maravilhosa), além de uma “Layla” mais lenta e comportada em relação à original, e dois dos maiores sucessos da carreira solo de Clapton, “Tears In Heaven” e a chatinha “Change The World”, com o guitarrista tocando empolgadíssimo, quase dançando sobre seu banquinho. A bela “River of Tears”, de Pilgrim (1998), dá início à parte elétrica (com o primeiro grande solo de Eric à guitarra na noite, em um instrumento pintado com cores psicodélicas que ele usará durante praticamente toda a apresentação daí em diante).

Seguimos com o clássico do blues “Going Down Slow”, também presente em Pilgrim. A agitada “She’s Gone” e a arrastada “I Want a Little Girl” não chegam a empolgar, mas “Badge”, dedicada ao falecido amigo (que tocou na versão original presente no álbum Goodbye, do Cream, lançado em 1969, sendo tirado dessa dedicatória o título do DVD), retoma a empolgação. Interpretada em uma versão mais relaxada na sua primeira parte, a canção parece que irá decepcionar, mas, a partir do verso “Yes, I told you that the light goes up and down”, a música “pega fogo”, bem como o próprio show, que entra em uma torrente de clássicos que segue em um fluxo quase ininterrupto até o final.

Clapton e sua guitarra "psicodélica"
Foto retirada do site www.geetarz.org/reviews/clapton/budokan-2001-dvd.htm

Assim, os blues “Hoochie Coochie Man” (de Willie Dixon) e “Five Long Years” (de Eddie Boyd) nos mostram a origem da sonoridade de Clapton. “Cocaine” arrasa quarteirões (com um verso extra no refrão: “that dirty cocaine”), e “Wonderful Tonight” traz aos holofotes o lado pop e romântico do guitarrista inglês.

A versão elétrica de “Layla” (com Sancious na terceira guitarra) vem colocar um enorme sorriso em nossas faces (ofuscando completamente o brilho da versão acústica apresentada antes), e “Sunshine of Your Love” nos lembra mais uma vez que pouquíssimas bandas surgidas antes de 1967 conseguiram superar a qualidade e o talento do Cream.

Visão geral do palco
Foto retirada do site www.geetarz.org/reviews/clapton/budokan-2001-dvd.htm

Com todos novamente sentados e “comportados”, “Somewhere Over The Rainbow” (do filme “O Mágico de Oz”) encerra um DVD excelente, que pode não ser a melhor coisa que Eric Clapton já gravou na vida, mas (apesar da qualidade da imagem e do som não serem lá tudo isso, e de umas legendas em japonês surgirem de vez em quando para atrapalhar) garante duas horas de muita diversão. Pode conferir sem medo.

Vale citar que o mesmo show foi lançado em outra versão chamada apenas Live At Budokan, porém com menos músicas que a resenhada aqui. Se tiver interesse no DVD, não caia na armadilha, e escolha a versão com o show completo.

Versão alternativa e incompleta do DVD

Track List:

1. Key To The Highway
2. Reptile
3. Got you On My Mind
4. Tears In Heaven
5. Layla
6. Bell Bottom Blues
7. Change The World
8. River Of Tears
9. Going Down Slow
10. She's Gone
11. I Want A Little Girl
12. Badge
13. Hoochie Coochie Man
14. Five Long Years
15. Cocaine
16. Wonderful Tonight
17. Layla
18. Sunshine Of Your Love
19. Somewhere Over The Rainbow

War Room: The Mushroom River Band - Simsalabim [2002]



Por Micael Machado (Mica)
Convidados: Daniel Sicchierolli (DS), Fernando Bueno (FB) e Mairon Machado (MM)

Caros leitores, mais uma edição do War Room. Nesse episódio, ouviremos juntos o segundo lançamento da banda sueca de stoner rock The Mushroom River Band, intitulado Simsalabim!

Formado por Spice nos vocais, Anders Linusson na guitarra, Alexander "Saso" Sekulovski no baixo e Andreas Grafenauer na bateria, o grupo conseguiu respeito no underground com seu álbum de estreia, Music for the World Beyond (2000). O quarteto chamou a atenção pela sua qualidade e por contar com Spice, à época vocalista do Spiritual Beggars (grupo que deixou para se dedicar exclusivamente ao The Mushroom River Band). Este segundo disco, de 2002, ampliou a fama dos suecos, e os rapazes, inclusive, chegaram a ser banda de abertura para o Iron Maiden em uma turnê européia. Mas... Infelizmente, acabou sendo o canto do cisne deste excelente grupo.

Com vocês, a “Banda do Rio de Cogumelos”!

1. Simsalabim

DS: Música pesada. Começo interessante. Vocal rasgadão e bem dosado. Guitarras com solos dobrados. Tudo muito bem gravado. Música curta e direta!!!

Mica: A faixa já começa a toda velocidade mostrando o que o The Mushroom River Band tem a oferecer.

MM: Pesada. Com um riff simples e um solo curto que serve somente como ponte. Como início, não gostei do vocal, mas o instrumental parece ser bom.

FB: Com poucos segundos de música já me surpreendi. Com esse nome esperava algo totalmente viajante, progressivo ou psicodélico. Mas o que temos é uma porrada. Se eu tivesse lido a introdução antes teria uma pequena ideia do direcionamento musical do grupo. Com o vocal do Spiritual Beggars era de se esperar um stoner rock.

2. Bugs

Mica: A música é bem direta. Parece que a banda já quis dizer a que veio logo de cara. Muito bom e empolgante! O Spice está cantando diferente do que fazia no Spiritual Beggars. Está mais rasgado.

DS: A segunda vai na mesma linha. Gostei, realmente gostei. Não é nada do que eu esperava. Se o disco ficar inteiro nessa linha, talvez torne-se repetitivo. Mas até agora tudo muito bom. Me lembrou o novo projeto do Adrian Smith.

Mica: Daniel, não é tudo igual, não.

MM: Esperava outra coisa, mais na linha setentista. Velocidade, riffs simples demais e esse vocal que realmente não me agrada. Ainda estou tentando me adaptar ao som. O que consegui tirar de bom é alguma semelhança (muito pouca) com riffs do Black Sabbath. Esse vocal é muito ruim!

Mica: Essa semelhança com Black Sabbath toda banda stoner tem!

FB: Mantém a energia da primeira. Guitarra bem pesada. Baixo e bateria dando peso. Essa música está me lembrando uma do Wolfmother que não sei o nome. Gostei mesmo.

3. Make it Happen

DS: Continua com a pegada das primeiras. Se colocassem algo um pouco mais melódico, uma voz limpa intercalada, mais solos duplos eu iria elogiar mais. É muito bom, mas já estou começando a achar que será igual até o fim.

MM: As músicas são muito curtas. Não é ruim (tirando o vocal). Bem simples e sem atrativos maiores. Passa desapercebido por enquanto. Concordo com o Daniel. Está ficando repetitivo!

Mica: Acho esse som tipicamente stoner. Um dos estilos que eu mais curto! Daniel, isso que você pede não se adapta muito à linha da banda. Ou seja, não vai rolar!

FB: Não acho tão Black Sabbath. Os riffs são um pouco diferentes. Sei lá, não é uma música direcionada por riffs como o Sabbath era. São legais essas adições de frases de guitarras no meio das estrofes para não tornar monótono. Solo curto, mas eficiente. A voz é do tipo que praticamente todas as bandas de Stoner estão acostumadas a entregar.

4. Change It

Mica: Depois de três músicas bem diretas, a banda dá uma mudada no direcionamento, até para não ficar tudo igual! Acho essa mais trabalhada que as anteriores!

DS: Discordo! Até agora... tudo igual! Nada mudou. O vocal rasgado o tempo todo me cansa. Vocês falam do Black Sabbath e não vejo nada disso. NADA! Boa faixa, mas nada demais.

MM: Começo muito bom, depois vira a farinha do mesmo saco. Gostei do trecho com violões e do solo de guitarra. Definitivamente não é para mim. Apesar de eu gostar de um disco de stoner chamado Sucking the 70's que inclusive fiz resenha aqui. E que vocal bem chato!

Mica: Esse trecho com violões é completamente diferente do que vinha antes!

FB: As músicas são curtas e coladas uma às outras. Seria difícil de distinguir uma faixa da outra se você não estiver prestando atenção, como estamos fazendo agora. Bem... Para quem falava que era tudo igual está aí uma passagem com guitarras acústicas. Só para dar um molho especial antes da entrada do solo, que é curto como os outros. Não gostei dessa voz no fim da música.

Mica: Mais rasgadaça e desesperada!

5. My Vote is Bank

DS: Voltou para a segunda faixa? Vou dar um copy/paste. É mais fácil.

Mica: Essa eu já acho mais Sabbath que as outras! E tem menos velocidade!

MM: Essa é a que tem mais variações até agora. O baterista toca bem. Não consigo ouvir o baixo e o vocal encheu o saco. Salvo o solo da guitarra dobrada e a bateria. É uma música regular. Se ouve, mas nada demais.

FB: Até agora a música mais variada do álbum. Nesse caso acho que uma voz mais limpa, como disse o Daniel, encaixaria mais com esse andamento mais lento. Muito pesado esse riff de passagem entre as estrofes. Fico imaginando isso em um show com um som potente e cristalino. Seria uma porrada! O solo mais melódico do disco até agora também.

Mica: Mais lenta, mas muito boa! A mais variada e a melhor até agora! Curto essas paradinhas mais para o fim!

6. Tree of No Hope

Mica: O refrão dessa é matador.

DS: Mais pesada, mais rasgada e mais do mesmo. O que começou legal agora se torna repetitivo. Reforço que não achei ruim, mas não compraria o CD. Refrão? Que refrão?

MM: Descobri por que não estou gostando dos vocais. Está me lembrando aquelas bandas "punks" dos anos 90 (Green Day, Linkin´ Park, ...). O baixo aparece melhor. A guitarra sola legal. Boa música para agitar, principalmente no riffzão da ponte. Mas esse vocal é um saco!. "I hate you, you hate me", esse é o refrão.

FB: Se eu ouvisse essa música de cara acharia que era uma banda de hardcore mais melódica, dessas americanas que fizeram bastante sucesso há um tempo atrás. Dá para notar efeito na voz.

MM: É... É bem isso Bueno. Captaste meu pensamento. Não soube explicar.

Mica: O curioso é que no Spiritual Beggars ele canta diferente, menos rasgado. Não sei porque ele fez essa interpretação aqui. Talvez para diferenciar as bandas!

7. Proud of Being Cool

Mica: A maior do disco, mas não necessariamente a melhor! Passagem pesada boa para um pula-pula!

MM: Não por que é a maior do disco, mas é definitivamente a melhor. Riff trabalhado, variações musicais e o vocal não tão rasgado. Essa eu gostei. Só podiam ter colocado mais solos, um wah-wahzão fervendo. O baterista não precisava inventar tanto. Mas gostei do solo.

DS: Repetitivo demais. Às vezes mais rápido, às vezes um pouco mais solado, mas é tudo igual. Uma quebrada no ritmo no meio, um solo legal, mas ainda não empolgou.

Mica: Essa parte mais cadenciada no refrão me lembra várias coisas do Sabbath! Solo bem melódico, diferente dos anteriores!

FB: Caramba!!! Agora não consigo dissociar a banda das hardcore que falei antes. Porém os riffs característicos de stoner voltaram, principalmente no refrão, que é mais arrastado que as estrofes. O fraseado do solo é bem interessante. Acho que um efeito menos carregado o tornaria mais agradável. Faltou no álbum uma variação na voz. Isso enriqueceria o disco como um todo.

Mica: E eu me perguntando a quais bandas de hardcore vocês se referem!

FB: Micael, não está vindo nenhum nome à minha cabeça agora.

8. Time-Laps

MM: Se o vocal estava ruim, conseguiram estragar com esses efeitos. Apesar das variações, está difícil. A parte final da música é um pouco melhor, mas não salva a mesma.

DS: IGUAL, não muda nada. Na verdade muda, é a pior até agora. Talvez seja a repetição, não sei. Não gostei!

FB: Não achei nada. Filler. Nem eles devem gostar dessa. Os efeitos no fim é para tentar torná-la diferente.

Mica: Essa tem umas variações, umas paradinhas. Não é TUDO sempre igual! Vocês estão malucos! 

9. The Big Sick Machine

DS: Pula!

Mica: Acho o Spice mais baixista que esse baixista. Pelo menos o trabalho dele no Beggars é melhor! Mas aqui o cara só quer cantar. E ainda o faz pior que no Beggars! 

MM: Instrumental bom pacas, perfeita para pular e fechar a roda punk. O vocal nesta soa melhor, apesar do refrãozinho sem graça e com pouca criatividade. O trecho central, que leva ao solo, é muito bom.

Mica: Ah... para! Essas paradinhas, vocês não acham legais?

MM: Bah, baita solo, muito legal o duelo com a harmônica. Essa valeu a pena.

FB: Melhorou. Voltou para as músicas mais legais do começo do álbum. Outra que ao vivo ficaria muito legal. Isso é um solo de gaita? Legal, surpreendeu.

Mica: Sabia que a harmônica ia surpreender vocês! É algo totalmente fora do esperado! Ainda mais em uma banda stoner.

DS: Harmônica é um alien?

10. Run, Run, Run

Mica: Não se assustem com o tempo. Essa música não tem doze minutos, mas sim um espaço em branco de uns oito minutos para uma "faixa escondida". Na verdade, uma brincadeira de estúdio!

DS: Eu parei de prestar atenção no meio do disco. Um solinho dobrado que chama a atenção e só.

Mica: Nem as gaitas da anterior você curtiu, Daniel?

DS: Sinceramente? Nem percebi!

MM: Esse início é bem interessante. Principalmente pelo riff da guitarra e pelo seu solo, mas é só.

Mica: Essa volta a velocidade do começo, meio que fechando o disco com uma afirmação "é isso o que somos, e gostamos!"

FB: Tão porrada quanto a primeira faixa e isso se deve à marcação da bateria. A voz dele nessa música, principalmente no refrão, sem muito drive quanto nas outras, mostra que se ele tivesse usado essa linha nas outras músicas ficaria bom. Fechou o álbum de forma melhor do que se tivesse fechado com algumas das músicas intermediárias do do disco. E o Daniel nem sabe o que é gaita.

MM: O final desta é bem setentista. Wah wah pegando firme. Mas sinceramente, não compraria o disco.

Mica: Esse final é muito bom mesmo!

Hidden Track

FB: Nunca pensei que teria que comentar ronco (risos). Oito minutos de silêncio para isso. Não sei a intenção de fazer isso, mas sei lá.

Mica: Não sei quem é esse dormindo e roncando pacas, mas ganhou de mim! E olha que não é fácil! Acho que, ou era para fazer uma brincadeira, ou era para deixar todo mundo muito puto! Nunca entendi essa também! Mas acho engraçado!

MM: Desperdício de mídia. Sinceramente!

DS: Esse ronco seria o meu comentário sobre um disco do YES.

Comentários Finais

DS: Começou bem, na verdade. Esperava algo totalmente diferente, mas não gostei do disco. Como disse durante toda a audição... É um disco pesado, vocal rasgado e repetitivo ao extremo. Jamais compraria algo assim!

MM: Não é meu estilo. O vocal não agrada e poucos são os momentos que eu realmente curti. Se mudassem o estilo da voz, a mixagem da bateria, talvez soasse melhor. Não compraria o disco.

FB: Bem, valeu pela surpresa. Como disse esperava algo totalmente diferente de uma banda chamada Banda do Rio de Cogumelos. De stoner conheço outros exemplo muitos melhores. O próprio Spiritual Beggars é uma banda muito superior. Ele saiu da banda para se dedicar à ela. Sugiro que se dedique um pouco mais. 

Mica: Acredito que vocês não estejam muito acostumados com stoner. O estilo é mais direto assim mesmo! Eu curto bastante, por isso já não espero tantas variações! Acho este um dos melhores álbuns do estilo que já ouvi. Uma das melhores bandas ao lado do Spiritual Beggars, do Orange Goblin e do Monster Magnet! Pelo menos não o esculacharam como fizeram com o pobre do UFO 2! E Bueno, ele se deu mal. O grupo acabou logo na sequência e o Spiritual Beggars explodiu depois.

FB: Só agora que vi que o álbum é de 2002. Então o cara saiu do Spiritual Beggars e se ferrou.

Mica: Depois teve outra banda. Agora está em carreira solo. E o Beggars arrebentando!

MM: Bom gurizada... É isso! Até uma próxima. Valeu pelo disco Micael. Mais um aprendizado para nós.

Mica: Até mais! Abraços!

FB: Valeu pessoal. Até a próxima.

DS: Abrasssssssss

Review Exclusivo: Viper (Porto Alegre, 21 de julho de 2012)



Por Mairon Machado

A primeira parte da turnê comemorando os 25 anos do grupo paulistano Viper foi encerrada na noite do último sábado, 21 de julho, com um espetáculo emocionante no pequeno Teatro do CIEE, em Porto Alegre. Em uma apresentação de quase três horas - Andre Matos (voz, teclados), Pit Passarell (baixo, voz), Felipe Machado (guitarra, voz), Hugo Mariutti (guitarra) e Guilherme Martin (bateria) - resgataram a alegria de se ouvir Power Metal bem tocado, apresentando na íntegra os seus dois primeiros álbuns: Soldiers of Sunrise (1987) e Theatre of Fate (1989).

Mas o show não foi somente isso. Foi um festival de lágrimas, risadas, saudosismo. Uma contagiante performance que sacudiu as estruturas do CIEE. Além de um respeito mútuo entre banda e fãs, que deixou muita gente espantada pelo vigor imposto pelo grupo em cima do palco, mesmo separados por 22 anos.

Phornax

A noite começou com a curta, mas muito boa, apresentação do grupo Phornax. Formado por Cristiano Poschi (voz), Thiago Prandini (guitarra, voz), Maurício Dariva (bateria) e Uesti Papeé (baixo, voz), o quarteto apresentou uma perfomance sólida que agradou ao pequeno público que o assistiu. Apresentando as quatro canções que compoem o EP Silent War (lançado de forma independente nesse ano), demonstraram que, com pequenos ajustes, vão dar o que falar na cena nacional. Um bom show, que animou bastante para a sequência da noite. O grupo possui muito carisma, distribuiu uma canção via Bluetooth aos presentes, além de apresentar ao público uma linda dançarina chamada Aline que fez uma sensual dança do ventre durante uma das canções.

Após uma pequena espera, entrou em cena o aclamado Scelerata. Um dos maiores nomes do metal gaúcho na atualidade. Confesso que achei o show bem chatinho. Apesar da inclusão de "Run to the Hills" (única que levantou o público, que agora já concentrava-se em maior número), o estilo pareceu não agradar a maioria do Teatro que começou a se acomodar nas poltronas do CIEE esperando o show acabar. Não sei como essa banda faz sucesso. Não entendo como Andi Deris e Paul DiAnno já pagaram pau para eles. Enfim, destaca-se pelo menos o trabalho dos guitarristas.

Viper ao vivo

Passada a fraca apresentação do Scelerata, as cortinas do Teatro se fecharam e a movimentação começou para a grande atração da noite. Com um pequeno atraso, depois de uma longa introdução pré-gravada, o quinteto subiu ao palco detonando "Knights of Destruction", abrindo o Lado A de Soldiers of Sunrise

Detalhar as canções uma por uma é desnecessário, pois a performance é quase perfeita. Por outro lado, os fatos inusitados que ocorreram no show precisam ser trazidos ao nobre leitor. Andre fala muito, conversa bastante e detalha histórias antigas da formação do Viper de forma descontraída, assim como todos os membros da banda que estão muito a vontade tocando seus velhos clássicos.

Logo na primeira conversa, com o teatro lotado, Andre viu Micael e eu segurando a capa dos vinis de Soldiers of Sunrise e Theatre of Fate (respectivamente). Não é que ele vem na nossa direção, pega as capas dos vinis e leva para o palco para dizer que vão apresentar os dois? Ainda diz: "Depois a gente vai autografar esses aqui para vocês!".

Felipe Machado

Cara, ali foi a primeira alegria extra-música, mas ainda tinha mais... Pit, que parece estar com algum problema de saúde e muito acima do estoque alcoólico recomendado para um ser humano foi ao microfone e falou: "Quando estávamos vindo para cá eu vi vocês, com os vinis. Me deu vontade de descer da van e autografar ali mesmo". Cara, um dos principais nomes do metal nacional (se não o maior) viu a gente e ainda se lembrou da gente, isso não tem preço. Mas ainda tinha mais ...

Voltam para seguir as canções de Soldiers of Sunrise. "Nightmares", "The Whipper", "Wings of the Evil" e "Signs of the Night" são apresentadas uma a uma fugindo da sequência natural do LP. Apesar da visível queda na voz de Andre, o cara ainda manda muito bem. Felipe parece um menino que está fazendo seu primeiro show, e, por diversas vezes, passa a guitarra para os fãs tocarem nela, sendo que eu tive a oportunidade de fazer uma pestana para ele tocar (a pedido do mesmo!). Hugo, substituindo Yves Passarell (guitarrista original da banda) faz muito bem as suas partes, talvez até melhor. Sua técnica é perfeita! Martin executa seu conjunto com velocidade e muita técnica e Pit é a atração maior.

Pit Passarell
Apesar de realmente parecer não estar no seu melhor estado de saúde (tomara eu que esteja errado), o baixista é um ídolo para os fãs e também para seus colegas de banda. Por diversas vezes, o grito "Pit! Pit! Pit!" foi pedido para ser entoado por Andre ou por Felipe. O baixista, sempre altamente emocionado, dirigia-se a plateia com muita atenção e carinho. 

Soldiers é encerrado com êxito e, sob muitos aplausos e urros da plateia, o quinteto deixa o palco para dar espaço a apresentação de um engraçado vídeo contando a história da banda desde seu início com várias fotos e imagens raras. Destaca-se a apresentação incendiária (literalmente) no primeiro show de divulgação de Soldiers of Sunrise, no qual um roadie do grupo acabou incendiando as cortinas da escola em que a banda se apresentava de forma totalmente inusitada. 

O vídeo acaba ao som de "Illusions", faixa instrumental que abre Theatre of Fate. Os integrantes voltam ao palco para apresentar este que é um dos melhores discos do rock nacional. "At Least a Chance" e "To Live Again" sacudiram as estruturas do CIEE. A sequência "A Cry from the Edge" / "Living for the Night"  fez muitos presentes perderem a voz tentando cantar os agudos inatingíveis de Andre (que nem ele consegue atingir mais, infelizmente). 

Andre Matos à frente do Viper
Andre comanda as ações, saindo e entrando do palco por diversas vezes, não querendo ser o centro das atenções como muitos pensam por aí. Em uma de suas saídas, volta indignado dizendo que os donos do Teatro pediram para agilizar e tocar as canções de uma vez, pois tinham que fechar o mesmo. Como que em um ataque de rebeldia, mandam uma versão de mais de dezesseis minutos para "Living for the Night". Durante ela, Andre pegou duas baquetas, foi para o lado de Guilherme e deu espaço para Pit apresentar a banda. Com uma voz muito fraca, Pit apresentou um a um, chamando Andre de "Melhor Vocalista do Mundo".

Para agradecer, Andre apresentou Pit contando sua história, dizendo que ele era o responsável por mostrar o som pesado para eles (já que era o mais velho) quando ainda eram garotos, que compôs Power Metal antes mesmo do Helloween e deixou Pit mais emocionado do que já estava. Ainda deu tempo de Andre fazer um belo manifesto, sentando o ferro naqueles que dizem que o grupo voltou apenas para fazer uma turnê comercial dando um direto para uns e outros pseudo-jornalistas metidos a besta, com certa reputação no centro do país, que falam que a cena metálica no Brasil é decadente. Se fosse, todos os shows da To Live Again Tour não teriam sido concluídos com todos os ingressos vendidos. 

Passada a loucura de "Living for the Night" veio a faixa-título. Todos ficaram em silêncio para acompanhar "Moonlight". A performance de Andre não é idêntica a do vinil, mas é invejável ver que ele ainda consegue cantar essa canção. O show encerrou-se com "Prelude to Oblivion" (outra mudança na ordem original). Assim, saem novamente de cena.

Aos gritos de "Viper! Viper! Viper!", retornam meio sem saber o que fazer, visivelmente emocionados. Pit, carregando várias palhetas, anuncia: "Tenho palhetas para vender". Quando vai começar a distribuir as palhetas, olha em direção aonde está o Micael e fala no microfone: "Eu vi você com os discos cara, tá aqui, eu vi você!", dando a palheta para meu irmão. Bah, se o Micael tenta tocar baixo muito é por causa do Pit. Ver ele recebendo a palheta de um de seus maiores ídolos foi mais uma grande alegria.

Fã-bolha e seu ídolo

Pit diz que vão tentar interpretar algumas canções do álbum Evolution. Eu, que estava com a capa do vinil nas mãos, vejo Pit vir na minha direção, pedir a capa do vinil, levar a mesma para o palco e depois vir agradecer por ter o mesmo. Baita parceria, humildade e valorização de um fã, que já brilhava os olhos mais do que as meninas que não paravam de olhar para o Andre, mas no meu caso era de emoção.

Tentam (por que não vão até o fim) interpretar "Evolution", fazem uma estranha versão para "The Spreading Soul" (com Pit e Andre dividindo os vocais), mandam ver em "Rebel Maniac" e encerraram o show com a cover veloz de "We Will Rock You" (gravada originalmente pelo Queen no excepcional Live Killers, de 1979), encerrando o show com muitos agradecimentos, apertos de mãos com os fãs e uma alegria incontrolável de cada um.

Eu, que estava de queixo caído, ainda fui surpreendido por Felipe, que veio direto a mim para dar a sua palheta. E por Hugo, que também se dirigiu a mim e jogou a palheta exatamente sobre as capas dos meus vinis. A guitarra de Felipe foi uma das minhas maiores inspirações para mergulhar no metal há 20 anos. Receber a palheta direto das mãos dele, depois de ter feito uma pestana na sua guitarra e por diversas vezes ter tido a oportunidade de tocar na mesma, alargou ainda mais o sorriso na minha boca. Mas ainda tinha mais ...

Saída do show. É a vez de receber o prometido (em cima do palco) autógrafo. Altamente bem receptivos, um a um os vinis e CDs levados para o quinteto foram sendo autografados entre fotos e conversas descontraídas. Pit era o mais emocionado de todos. Ter abraçado e conversado com esse verdadeiro mestre da música nacional colocou finalmente minha boca nas orelhas, tamanha a alegria que o baixista emana por estar tocando, assim como Felipe, Hugo e Guilherme. Até mesmo Andre foi muito gentil atendendo aos fãs.
Recordações do show: LPs (acima);palhetas, camiseta, set list e baqueta (abaixo)

Saí carregando várias lembranças físicas (palhetas, a baqueta de Guilherme, uma garrafa de água que dividi com Guilherme, o set list do show...), mas as lembranças emocionais de ter visto um grandioso show, acompanhado por aquele que me ensinou a ouvir Viper (no caso, meu irmão Micael) e ter conversado com meus ídolos nacionais do metal valem muito mais do que as lembranças físicas. Impagável é pouco para definir o que aconteceu. Eu diria que, verdadeiramente, é inesquecível!

Obrigado Andre, Felipe, Hugo, Guilherme e Pit por terem realizado o sonho de um garoto de nove anos, que estava no corpo de um homem de vinte e nove anos, revendo e ouvindo seus vinis com a curiosidade e a alegria de um menino que acabou de aprender a andar de bicicleta. Jamais esquecerei isto!!


Por Micael Machado

Bem, depois do emocionante relato do Mairon aí em cima, o que mais posso acrescentar para descrever esta fantástica noite? Talvez pouca coisa... ou não!

Foi lá por 1991, 1992. Minha irmã ou meu irmão (provavelmente ele) estava assistindo ao programa da Mariane no SBT em uma manhã preguiçosa de inverno, em busca de alguns desenhos infantis para se divertir. Algumas bandas costumavam aparecer nesse programa para fazer playbacks de suas canções como forma de divulgação de seus lançamentos. Naquele dia específico, apareceu por lá um quarteto paulista denominado Viper, do qual eu nunca havia ouvido falar. Entre uma pergunta sem noção e outra da apresentadora, os caras tocaram “Living for the Night” e “A Cry From The Edge”, do disco Theatre of Fate (1989). Meu queixo simplesmente caiu com a qualidade das músicas. Começava ali um caso de amor com o grupo, que me levou a conhecer a história daqueles garotos e saber que aquela não era a formação que havia registrado aquele disco. O vocalista Andre Matos havia saído da banda antes dessa apresentação na televisão. Vê-los no Programa Livre do mesmo SBT (então apresentado por um Serginho Groisman totalmente identificado com a juventude brasileira, algo que ele tenta fazer até hoje), dessa vez tocando “ao vivo” músicas de Evolution (1992), seu disco mais recente então, me fez comprar todos os seus discos (já lançados e futuros), me associar ao fã-clube oficial (única banda com a qual fiz isso) e pensar até hoje que não há disco de heavy metal melódico já gravado no Brasil que supere o citado Theatre.

Tive a oportunidade de vê-los ao vivo apenas uma vez, na turnê de Tem Prá Todo Mundo (de 1996). Inexperiente no mundo dos shows, em uma época pré-internet, pensei que iriam tocar apenas músicas daquele disco e não fui à apresentação. Me arrependo até hoje, pois depois disso o grupo se separou e só foi voltar a gravar dez anos depois, lançando o muito bom All My Life (2007) e fazendo uma turnê que, se passou por Porto Alegre eu não fiquei sabendo ou não tive condições de acompanhar.

Até que, no começo deste ano, totalmente do nada surgiu a notícia de que Pit Passarell (baixo e vocais) e Felipe Machado (guitarras) haviam se reunido a Guilherme Martin (bateria) e Andre Matos (voz) para uma turnê comemorativa aos 25 anos do grupo. Yves Passarell, o guitarrista e irmão de Pit, não estaria presente, mas seria substituído por Hugo Mariutti (Ex-Shaaman, atual membro da banda solo de Andre), o que significava que a qualidade seria mantida. A ideia era interpretar na íntegra os dois discos gravados com Andre - os clássicos Soldiers Of Sunrise e Theatre of Fate - além de outras “surpresas”. Quase a realização do que havíamos imaginado em um texto da nossa coluna "Notícias Fictícias que Gostaríamos que Fossem Reais" de maio de 2011. E uma data foi marcada para Porto Alegre, em 21 de julho de 2012. É claro que desta vez eu não iria desperdiçar a oportunidade.

Eu e meu irmão chegamos ao teatro do CIEE com grande expectativa para a noite. Passamos pelo bom show da Phornax (fazia tempos que uma banda de abertura não me impressionava tanto). Ao final, corri para a "lojinha" do lado de fora da sala de espetáculos (administrada pela atenciosa e simpática Ticiane) para adquirir o EP que estavam divulgando, o já citado Silent War. Que eu lembre, apenas o grupo Poços e Nuvens, na abertura do show do Focus em 2003, havia me atingido de tal forma a ponto de comprar o seu disco baseado em um opening act para um grupo de maior expressão. Se mantiverem a qualidade das músicas do EP, esses caras (com quem tive a oportunidade de bater um papo após a apresentação deles, ao lado do Mairon) ainda vão longe.

Phornax e a dançarina
Veio a apresentação da Scelerata. Foram quarenta e cinco minutos que não me agradaram muito. O estilo não é ruim, nem a banda toca mal, mas as composições não caíram no meu gosto. A melhor coisa do show foi o cover para "Run to the Hills" (do Iron Maiden), o que deve significar alguma coisa. Talento eles têm, mas não foi a melhor apresentação de abertura da noite.

Scelerata no palco do teatro do Ciee 

Mais meia hora de espera... Chegava, enfim, a hora da atração principal. Se nos outros shows o teatro estava ainda com lugares vazios, na hora do Viper estava totalmente lotado. E ninguém queria ficar sentado em seus lugares. Muitos, como eu e meu irmão, se mandaram para a frente do palco, o que nos propiciou todos os fatos interessantes que ele relatou.



Nas duas primeiras músicas, fiquei como um tiete louco agitando as capas dos vinis de Soldiers e Theatre para o grupo. Felipe, bem à minha frente, foi o primeiro a perceber, depois Pit e finalmente Andre que, como o Mairon disse, veio até nós e "apresentou" os discos ao público. Nunca algo nem próximo disso havia me acontecido em todos esses anos de idas a shows. Agora, ouvir Pit dizer que havia nos visto com os discos embaixo do braço na chegada ao teatro e que se emocionou a ponto de querer parar e assiná-los ali mesmo foi muito bom.



O show continuou com a categoria de sempre. Felipe agitando muito, sempre carinhoso com o público. Diversas vezes se ajoelhava ou deitava no palco, pertinho de quem estava ali na "zona do gargarejo", colocando sua guitarra perto o suficiente para que os fãs pudessem tocá-la. Lembro dele fazendo um solo olhando diretamente para três garotas da primeira fila e, ao final do mesmo, tocar rapidamente na cabeça de cada uma (como que as abençoando). Um momento que pode ter passado batido para muitos, mas que com certeza significou muito para elas.


Viper ao vivo

Por várias vezes o público clamou o nome de Pit, não apenas quando Andre incentivava, mas também de forma espontânea e natural. O cara é uma figura com sua fala desajeitada e jeito desengonçado (também me passou a impressão de ter algum problema de saúde, mas, sinceramente, espero estar errado). Felipe comentou ao final, na conversa comigo e meu irmão, que Pit ainda tem "trejeitos de front-man". Ele foi o vocalista principal por muitos anos e todos eles foram apresentados nessa noite. Dentre histórias divertidas e íntimas do círculo do grupo (em certo ponto, ao contar da época de adolescente dos membros do Viper e lembrar do começo da banda, ele pareceu envergonhado de dizer que tocavam com instrumentos sem qualidade e que ele, baterista, tinha um tanque do Falcon e dois lápis para fingir de bateria. Feita a revelação, se denominou um man-in-black, e fez um gesto com a mão como se segurasse a caneta que os personagens do filme usam para fazer as testemunhas de um evento esquecerem o que viram. Nos mandando "olhar para a luz", perguntou se tinha funcionado ou se ainda lembrávamos da história, rindo bastante ao ouvir a resposta que ainda lembrávamos de tudo). Foi a grande figura da noite, o centro das atenções e, segundo Andre, o responsável por tudo aquilo estar acontecendo. Salve, salve, grande Pit Passarell!



Andre Matos dispensa comentários. Os anos de estrada o transformaram em um dos maiores front-man do rock mundial, assim como uma das melhores vozes do metal. Ainda que alguns teimem em dizer que seu alcance vocal não é mais o mesmo, ele ainda detona no microfone, como demonstrou ao longo de toda a noite. Além disso, é dono de um carisma e simpatia enormes, o que faz com que todos se rendam à sua performance de palco. Discursou em favor do metal nacional, dizendo que o teatro lotado era a prova de que o público ainda apoia o estilo, ao contrário do que alguns apregoam. Agradeceu por diversas vezes aos presentes e ainda nos fez cantar o Hino Rio-grandense inteiro "para que os outros membros do Viper vissem o quanto os gaúchos se orgulham de seu estado", segundo suas palavras. Reclamou por ainda não ter tomado chimarrão naquela noite e elogiou o vinho produzido em Bento Gonçalves. Um perfeito entertainer que conquistou a todos os presentes!


Andre Matos ao teclado

Guilherme Martin, que curiosamente nunca gravou material oficial com o grupo, apesar de estar presente em vários momentos importantes de sua história, manda muito bem em seu kit de bateria. Assim como o "novato" Hugo Mariutti que, sendo um músico mais técnico que Yves Passarell, o substituiu a contento, apesar de sua postura tímida e retraída no canto do palco como se não se sentisse à vontade na banda. Bobagem... O cara parece nascido para tocar no grupo! Apesar de algumas falhas no som de sua guitarra ao longo da apresentação (por vezes não se conseguia ouvir o instrumento com clareza), mandou muito bem!



Ainda houve tempo para eu receber uma palheta diretamente das mãos de Pit, um dos músicos que me fez optar por tocar baixo, e de cumprimentar Felipe e Andre ainda no palco em uma noite que, se tivesse terminado ali, seria perfeita. Mas ainda havia mais.



Na volta para o bis, Felipe disse que tinha visto uma faixa pedindo a música "Evolution" e que a mostrássemos para Pit (que ainda não tinha voltado ao palco) para tentar convencê-lo a tocá-la. Quando o baixista voltou, a faixa foi passada às suas mãos e, após alguma enrolação, ele tocou e cantou toda a introdução com potentes linhas de baixo e a interpretação da letra até a parte "I will bring you back home, dead or alive, I don't know". Andre então disse que o grupo não havia ensaiado o resto. Pit anunciou que tocariam outra daquele disco, vindo até o Mairon e pegando a capa do mesmo para mostrar ao público. "The Spreading Soul", que nunca foi das minhas favoritas deste vinil, teve uma bela versão com os vocais divididos entre Pit e Andre. O teatro incendiou mesmo com "Rebel Maniac" (cantada por Andre, com a presença dos músicos da Sceleratta e membros da equipe técnica nos backing vocals) e a versão rápida de "We Will Rock You" - que algum imbecil da revista Bizz certa vez chamou de "sacrilégio com a versão lenta original", sem se aperceber que o próprio Queen a tocava desta forma em seus concertos. Certos jornalistas musicais, hein, vou lhes contar...



O show terminou e a noite não parecia poder ficar melhor. Mas ficou! Encontramos os membros da banda para autógrafos e bate papo, sendo que primeiro me dirigi a Hugo (que parecia meio isolado pelos fãs, um pouco escondido mais ao fundo) com meus CDs do Shaaman e de Andre solo para ele autografar. Depois, foi a vez de Guilherme, que assinou o encarte de Theatre. Quando eu e o Mairon lhe falamos que tínhamos ganhado palhetas dos outros membros, ele pediu para alguém trazer uma baqueta, entregando-a ao Mairon com a frase "não é justo você ter uma lembrança dos outros e não ter nenhuma minha". Puxa... Quando eu esperaria que um músico reconhecido fizesse algo assim tão humilde e, ao mesmo tempo, tão grandioso para com um simples fã? Foi de emocionar!



Pit finalmente apareceu e foi a ele que me dirigi. Conversei bastante, contei algumas histórias da minha relação com a banda e ele parecia honestamente feliz e emocionado ao ouvir o relato de um simples fã como eu. Pediu para tirar várias fotos e foi de uma atenção enorme para comigo e o Mairon. Não tenho palavras para descrever este momento, o qual, sozinho, já valeu a noite!


Fã-bolha e seu ídolo

Felipe foi o próximo e uma brincadeira que eu e o Mairon temos há anos não poderia deixar de ser feita. Após lhe apresentarmos nossas identidades para que ele não tivesse dúvidas quanto à coincidência, lhe chamamos de "primo" devido a termos o mesmo sobrenome. Ele achou legal e tentou achar relações entre sua família (paulista) e a nossa (gaúcha), sem sucesso, é claro. Mesmo assim, foi com a frase "um autógrafo do primo Felipe Machado" que assinou os discos, em mais uma demonstração de como esses caras são gente boa pacas!



Um segurança tentava tirar os fãs que ainda restavam para fora do teatro, que tinha de ser entregue, mas ainda faltava falar com Andre. Sentado em uma das poltronas, nos recebeu com simpatia e autografou a tudo e conversou com todos com uma humildade que muitos músicos de menor expressão não possuem. Apesar de rápido, foi outro momento marcante e fomos delicadamente "colocados para fora" pelo segurança para que o teatro pudesse ser fechado.



Voltamos para casa comentando os vários fatos marcantes de uma noite inesquecível. Foi só ao chegar que percebi que não tinha pego sequer um autógrafo de Pit, tendo ficado "perdido" no agradável bate papo e na improvisada "sessão de fotos" que fizemos. Sendo assim, Pit, se vier a ler estas linhas, saiba que tens a obrigação de voltar a tocar em Porto Alegre e autografar adequadamente os meus discos, além de fazer um show tão bom ou ainda melhor que este (se é que isto é possível). Vou ficar esperando!


Set list

Set list

Parte 1: Soldiers of Sunrise

1. Intro
2. Knights of Destruction
3. Nightmares
4. The Whipper
5. Wings of the Evil
6. Signs of the Night
7. Killera (Princess of Hell)
8. Soldiers of Sunrise
9. Law of the Sword
10. H. R.

Parte 2 - Theatre of Fate

1. Illusions
2. At Least a Chance
3. To Live Again
4. A Cry from the Edge
5. Living for the Night
6. Theatre of Fate
7. Moonlight
8. Prelude to Oblivion

Bis

9. Evolution (Excerpt)
10. The Spreading Soul
11. Rebel Maniac
12. We Will Rock You